Corações Perdidos escrita por Syrah


Capítulo 10
10. Esperança ou frustração?


Notas iniciais do capítulo

Ei, hunters! ♥

Como prometido, novo capítulo ainda nessa semana u_u O capítulo tem um pouquinho do mistério de sempre e serve pra implantar algumas ideias pra teorias (ou confusões, ahsu) nas cabecinhas de vocês, além de abordar um pouco a amizade entre a Emma e o Sam, que eu amo demais ♥ Espero que gostem.

Tem alguns comentários que ainda não respondi, mas apenas porque estou atolada nas drabbles do desafio e quase não entro no computador (sério, tá bem tenso ultimamente). Assim que aliviar um pouco eu prometo que respondo tudinho, haha.

Sem mais atrasos, boa leitura a todos! ♥



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O CENÁRIO NA montanha não mudara praticamente nada desde aquele dia.

Bom, exceto, talvez, pelo fato de que a paisagem parecia bem menos interessante e, agora que eu prestava mais atenção, percebia que não havia visto nenhum animal no caminho até ali.

A caminhada fora bem tranquila e havia sido a única coisa até ali que atingira esse quesito. Sam e eu trocávamos algumas palavras e piadas, ríamos das besteiras um do outro e eu até consegui descobrir um ou dois segredos sobre Dean que poderiam ser julgados como consideravelmente constrangedores. Mas naquele lugar, próximo de onde havíamos caído, a atmosfera descontraída tinha se desfeito, dando lugar a um silêncio e tensão crescentes que se instalavam entre nós.

Sam caminhava de um lado a outro, examinando tudo — até mesmo algumas pedras e troncos que eu julgaria insignificantes numa busca como essa —, seu rosto exibia uma expressão frustrada.

— Então — eu disse enquanto chutava uma pedra para fora do meu caminho —, pelo quê, exatamente, nós estamos procurando?

Ele demorou alguns segundos para responder, absorto na tarefa de observar um dos arbustos dispostos desordenadamente à nossa volta. Seu olhar era longínquo, mas eu sabia o quanto ele estava atento — principalmente considerando onde estávamos.

— Pistas — respondeu finalmente. — Qualquer coisa que pareça estar fora do lugar, ou algo que seja artificial ou novo demais pra estar aqui.

Olhei em volta — nada parecia fora do lugar, novo demais, ou muito artificial. Na verdade, tudo aparentava ser bem antigo e eu não duvidaria se alguém me dissesse que a árvore mais nova daquele lugar tinha uns cem anos.

— Isso vai ser complicado — comentei me agachando para examinar um galho qualquer. — Isso é suspeito? — ergui o galho para Sam, que deu de ombros, entediado.

— Não, a menos que tenha um botão que dispare laiseres.

Esbocei um sorriso.

— Então é melhor eu tomar cuidado com essa belezinha — disse colocando o galho de volta no chão com uma cautela exageradamente teatral. — Acha que Dean e Cas estão se saindo melhores do que nós?

— Castiel é um anjo — Sam se apoiou em uma aspen e encarou o céu, envolto pela beleza do cinza-azulado que cobria o mesmo. — E não digo isso metaforicamente, se é que me entende. — Ele sorriu. — Eu diria que sim, estão se dando muito bem, melhores do que nós.

— Talvez estejam se pegando — eu ri ao me lembrar do episódio da planta-sonífero.

Sam riu também, desviando seu olhar do céu e me encarando. Sua expressão era serena, diferente de minutos atrás.

— Nós vamos achar alguma coisa, não se preocupe — ele me consolou, seu tom tinha um quê de promessa que me surtiu um efeito quase instantâneo.

Não consegui evitar outro sorriso.

— Sei que vamos — me levantei e espanei algumas folhas do jeans. — É só que... — parei. De repente, percebi que realmente havia algo fora do lugar naquela floresta.

— Só que...? — Sam arqueou uma sobrancelha.

— Aquela pedra — apontei para uma rocha enorme que se encontrava alguns metros depois da aspen em que Sam estava apoiado. A rocha era bem grande, facilmente do meu tamanho, talvez maior. — Não estava ali antes.

Sam revirou os olhos, parecendo irritado.

— Quando eu disse pra observar qualquer coisa suspeita, quis dizer...

— Não estou brincando, não estava ali antes! — insisti.

— Emma — ele disse meu nome cautelosamente, como se temesse que eu fosse surtar de vez ao ouvi-lo. — Está vendo o tamanho daquela coisa? É maior que você! — exclamou, provavelmente achando que eu havia chegado ao meu ápice de loucura. — Deve estar ali há décadas.

— Acha que eu não iria reparar se uma pedra de mais de dois metros estivesse ali quando passei correndo? — bufei indignada. — Estou dizendo, não estava ali antes. Foi por aqui que passamos quando estávamos correndo, antes de cairmos naquele buraco escuro e imundo.

Sam se virou na direção da rocha e estreitou os olhos. Quando tornou a falar, sua voz era um murmúrio quase ininteligível:

— Talvez você tenha razão — cedeu. — Realmente não me lembro daquela pedra, mesmo que isso seja algo meio louco de se dizer. — Ele pigarreou. — Mas, se o que diz é verídico, como me explica alguém ter conseguido locomover uma coisa daquele tamanho?

Pensei por alguns segundos. O que ele dizia fazia todo o sentido. Ninguém, nem mesmo um animal de grande porte, teria força o suficiente para carregar uma rocha imensa como aquela.

Ninguém que fosse humano, certo? Sussurrou uma vozinha no fundo da minha mente.

— Ninguém humano — repeti involuntariamente.

— O quê? — Sam me encarou com aqueles olhos verdes e penetrantes.

— Nada seria capaz de mover aquela rocha — eu disse outra vez e ele balançou a cabeça afirmativamente. — Ninguém humano poderia fazer isso. Mas...

Sam arregalou os olhos, compreendendo.

— Se fosse algo com uma força sobre-humana, seria moleza. — Completou.

Concordei com um breve aceno, sentindo-me repentinamente tonta. Sam parecia confuso e ao mesmo tempo intrigado.

— Um Wendigo é forte, mas não tão forte — comentou. — Então, com o que estamos lidando? — perguntou.

Seu olhar indicava que ele estava à espera de um palpite meu.

— Conhece algum monstro que tenha esse tipo de força? — eu o encarei esperançosamente. O que estava pensando não faz sentindo. Não podia fazer.

Ele pensou por alguns instantes antes de responder:

— Nenhum. Talvez o superman — brincou —, mas tenho quase certeza de que ele prefere Smallville.

Me aproximei em passos rápidos da pedra, examinando sua superfície com o olhar. Depois passei os dedos por sua extremidade e os esfreguei, tentando formular alguma teoria plausível.

— O quê exatamente, você espera encontrar? — Sam estava a alguns metros de mim. Seus braços estavam cruzados e sua expressão era séria.

— Sinceramente, não sei. — Caminhei ao redor da pedra, por vezes dando fortes pisadas na folhagem ao redor, que continham um tom amarelado, como as folhas das árvores no outono.

E então um lampejo de memória surgiu em minha mente. Foi curto, rápido, mas o suficiente para que eu me lembrasse.

— Foi aqui que caímos — falei sabendo que Sam estava atento ao que eu dizia.

— Como você sabe? — a pergunta não continha sarcasmo algum, apenas curiosidade.

— Antes de você cair, eu estava atenta ao cenário. Você afundou em um monte de folhas amareladas, juntas demais para parecer algo natural. Naquela hora, eu soube que era uma armadilha, tentei frear, mas não pude. — As palavras jorravam como em uma represa rompida. — Antes que ficássemos submersos na escuridão, vi algo sendo empurrado sobre o buraco — gesticulei para a pedra. — Só pode ser isso.

— OK, mas não entendo — Sam parecia mais confuso ainda. — O que isso tem a ver?

— Não percebe? — eu o encarei, me esforçando ao máximo para expressar toda a minha linha de raciocínio de maneira clara. — Acha que o Wendigo chegaria até nós exatamente depois de termos caído, se tivesse acabado de empurrar algo desse tamanho por sobre nossas cabeças?

Ele pareceu finalmente compreender o que eu estava dizendo.

— Isso quer dizer que...

— Já sabemos que não foi obra de nenhum Wendigo termos sido capturados, estávamos apenas no lugar errado na maldita hora errada — disse. — Essa é apenas mais uma prova disso.

— O que significa — concluiu Sam — que seja lá quem for a pessoa... — e se corrigiu: — a coisa que empurrou essa pedra, só pode ser o nosso vilão.

— Exato — sorri feliz por ele finalmente ter entendido, mas ao mesmo tempo triste porque aquilo nos levava novamente à estaca zero.

— Mas pra quê tudo isso? — ele indagou. — Por que nos capturar?

Seriam muitos os motivos, pensei comigo mesma. Esta manhã Dean havia me explicado a história de sua família, começando do ponto onde seu pai havia morrido. Era por isso que eu havia achado aquele sobrenome tão familiar; todos os caçadores mais experientes sabem quem são os Winchester.

Foi interessante saber das coisas que ele e Sam tinham feito e das pessoas que haviam conhecido. Foi impossível esconder minha surpresa. Ainda assim, nada tirava minha certeza de que o motivo só podia ser outra coisa.

— Distração — afirmei.

— Hum?

— Estávamos atrás de alguém e, agora, não estamos mais — eu disse como se fosse a coisa mais óbvia do universo. — Distração — repeti.

— Seu pai?! — ele perguntou incrédulo, após raciocinar um pouco. — Por que alguém iria querer te impedir de achá-lo?

Cruzei os braços, irritada. Era tudo muito frustrante.

— Não sei — admiti. — Mas de uma coisa eu tenho certeza — caminhei de volta até a aspen e peguei minha mochila, continuando: — Castiel disse que havia alguém tentando nos matar, mas não é verdade — suspirei. — Alguma coisa está tentando nos impedir de achar meu pai. Precisamos saber por quê.

Sam concordou com um gesto de cabeça.

— Só tem uma maneira de comprovar isso — disse e um lampejo de sorriso passou pelo meu rosto ao imaginar o que ele diria em seguida. — Vamos até a montanha, talvez tenha alguma pista.

***

A trilha que seguimos foi monótona na maior parte do tempo, ficando mais densa à medida que nos aproximávamos do topo. Tropecei algumas vezes, me equilibrando por pouco nos troncos dispostos à minha volta.

Sam e eu não nos falamos muito durante a caminhada e isso me deu tempo para pensar. Não sabia o que iria encontrar quando chegasse lá; talvez eu achasse restos de um acampamento em desuso — era o que eu esperava, na verdade —, ou talvez eu não achasse nada, e era avassalador pensar nessa possibilidade.


Sam parecia sentir o quanto estava ansiosa, porque sempre me lançava um sorriso solidário antes de empurrar para o lado outro galho. E então estávamos em nosso destino final: a base da montanha, novamente.

— Mas que merda é... — começou Sam, mas não terminou a frase.

Eu esperava por qualquer coisa, exceto aquilo.

Quando se está em uma busca frenética pelo seu pai e se descobre que ele fugiu para uma montanha sangrando ao invés de correr para o hospital mais próximo, você espera encontrar algo que te ajude a entender o porquê de tudo isso. Em vez disso, a cena com a qual eu me deparei era mais confusa ainda, senão completamente macabra.

Havia corpos para tudo que era lado e o cheiro de podridão era praticamente palpável. Não eram corpos de humanos, como eu pensei que seriam vendo à distância; eram animais, de todos os tipos e espécies.

Micos, lebres, macacos e até mesmo um urso, todos com suas carcaças estiradas sobre o solo e o peito esfolado, com os órgãos à mostra, como em uma feira bizarra de anatomia.

— O que é isso? — minha voz subiu duas oitavas.

Sam se aproximou dos corpos, tapando o nariz com a manga da camiseta, seu olhar para mim era de pura desolação.

— Eles... — ele hesitou por alguns instantes, olhando as carcaças mais de perto e depois prosseguiu: — eles estão sem coração, Emma.

A frase pairou no ar por alguns instantes, enquanto eu absorvia seu impacto. Senti como se alguém houvesse jogado um balde de agua fria em mim e depois outro com café fumegante.

— Isso quer dizer que... — respirei fundo. Não queria acreditar no que meus pensamentos estavam gritando. — Um lobisomem esteve aqui? — era mais uma afirmação do que uma pergunta. — Ele o seguiu — sussurrei, incrédula.

Sam assentiu, parecendo desconfortável. Ele caminhou por entre as carcaças por mais alguns segundos antes de retornar até mim, o semblante impassível.

Ficou óbvio para mim o que aconteceu aqui. O lobisomem que lutara com meu pai o havia seguido. O que significava que só existiam duas alternativas para o que aconteceu:

— Ou ele o matou, ou chegou tarde demais — completei meu raciocínio em voz alta.

Aquilo não estava acontecendo, definitivamente não estava.

— Não tem nenhum corpo aqui que seja... hum, humano — comentou Sam.

— O que não significa que meu pai esteja vivo — senti as lágrimas brotando em meus olhos e as reprimi com toda a força que tinha. — Ele pode ter escondido o corpo.

— E deixado toda essa bagunça aqui? Não acredito nisso — Sam balançou a cabeça. — Tenho certeza de que essa criatura chegou tarde demais e foi obrigada a se alimentar do coração de um animal. Provavelmente achou que seu pai voltaria e ficou aqui por mais um tempo, se alimentando dessas outras... Desses outros animais. — Completou.

Eu sentia que ele estava tentando convencer mais a si mesmo que a mim. Respirei fundo — e desabei em lágrimas.

Senti braços me rodearem de mansinho. Sam me abraçou sem dizer uma palavra e assim ficamos por um bom tempo; eu chorando feito uma idiota e ele me consolando com seu silêncio.

— Me desculpe — murmurei com a voz rouca, me afastando. — Ah, que inferno, eu sinto muito.

Ele balançou a cabeça.

— Está se desculpando por chorar?

Dei de ombros.

— Emma, pare com isso.

Suspirei e limpei os olhos e bochechas com a manga da blusa, avaliando o cenário brevemente com o intuito de sair dali o mais rápido possível. Então eu o vi.

Um pequeno ponto brilhante, refletido pelo sol. Caminhei até o local, me agachando para ver melhor: um pingente; o pingente do meu pai, idêntico ao que ele tinha me dado no meu aniversário de doze anos, quando eu tinha matado meu primeiro vampiro sem precisar de ajuda.

— Ele realmente esteve aqui — sussurrei, quase exclamando. Aquilo havia me surpreendido.


Uma dor lancinante tomou conta de mim ao segurar o objeto, ao mesmo tempo que uma fagulha de esperança quis me dominar. Meu pai nunca o tirava, para nada. Entretanto, se ele o havia feito de propósito, aquilo significava uma pista — significava que ele queria ser achado.

Mas por que todo esse mistério, afinal?

— Meu pai está vivo — afirmei me levantando e enxugando mais algumas lágrimas teimosas que escorriam pelo meu rosto. — Ele está vivo, e eu vou acha-lo — naquele momento, me dei conta de que aquilo não era mais uma promessa. Era mais que isso, muito mais.

Eu precisava encontrá-lo, necessitava disso. E não mediria esforços para tal.

— É assim que se fala garota — Sam sorriu.

Ri fracamente, ajeitando a mochila sobre os ombros.

— Mas isso não resolve o caso da rocha — rebati. — Um licantrope teria força o suficiente para carregá-la?

— Não sei, não tenho muita experiência com esses casos. Talvez — ele franziu o cenho. Respirei aliviada ao ver que meu pensamento havia sido descartado. Pelo menos por enquanto.

O sol já estava alto no céu, algumas nuvens coloriam o azul-claro infinito. Senti uma pontada no estômago.

— Já terminamos por aqui? — perguntei, sentindo-me repentinamente faminta. — Estou morrendo de fome.

Sam riu.

— Acho que sim, melhor irmos. Dean ainda não ligou, então vamos para alguma lanchonete enquanto aguardamos.

— Apoiado — sorri. Enfiei o pingente discretamente no bolso e caminhei para fora da floresta, sendo seguida por meu novo parceiro de investigação. — Não vão estranhar dois adultos saindo do meio da floresta com mochilas e tudo o mais?

— Não. — Ele revirou os olhos. — Agora vamos, conheço um lugar onde vendem o melhor X-Tudo da cidade.

— Aposto que sim — murmurei dando-lhe um pequeno empurrão. Então saímos em direção ao carro.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Sintam-se a vontade para expressar as vossas opiniões nos comentários :3 beijos da Fiction pra todo mundo