Runaway escrita por Grace


Capítulo 2
Long Day


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada a todos que estão acompanhando! Amo vocês!



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Tris

Abri meus olhos com dificuldade. Eu não queria ter que levantar, queria ficar ali, deitada pra sempre. O meu corpo todo doía, mas eu estava confortável ali. Prestei mais atenção. Eu estava deitada sob um edredom. Olhei para frente, só para dar de cara com um par de olhos azuis, que me encaravam.

_Bom dia - Quatro disse, dando um sorriso. Ele estava sentado na beirada da cama, me olhando como um médico olha seu paciente. Acho que eu devia agradecê-lo ao fato de ainda estar viva.

_Bom dia - tentei mexer meu braço. Ai. Meu corpo todo doía. Reprimi um suspiro.

_Como você está, Tris? - ele perguntou, coçando atrás da orelha.

_Como se um dos caminhões da fazenda da Amizade tivesse passado por cima de mim - eu resmunguei, fazendo uma careta.

Luta nunca tinha sido meu ponto forte, mas eu não costumava apanhar muito, como tinha apanhado ontem. A última vez que isso tinha acontecido, havia sido na iniciação, quando eu havia apanhado, e muito, de Peter.

Ele riu. A risada foi curta, mas reconfortante. Fazia tempo que eu não ouvia essa risada. Percebi que eu sentia falta dele, de estar com ele. Ele era um bom amigo, mas infelizmente, nós não nos víamos muito. Ocasionalmente, quando eu precisava da ajuda dele com computadores ou algo assim. Nós sempre tínhamos muito assunto e sempre nos dávamos bem.

_Eu imagino - ele respondeu, dando uma olhada no corte da minha perna.

_Você acha que eles já... encontraram o corpo? - eu perguntei, reprimindo outro suspiro. Eu não sabia o que eu estava sentindo. Se era medo, frustação, raiva, peso na consciência…

_Provavelmente - ele respondeu, erguendo uma das sobrancelhas.

Eu suspirei dessa vez.

_Eu devo estar muito ferrada - eu resmunguei, já esperando Max ou algum outro líder mandar me procurarem por toda a Audácia.

_Acho que não.

Balancei a cabeça de leve. Eles iam saber que fui eu. O meu sangue estava em todo o lugar lá. Lá e no caminho para o quarto de Quatro. Não bastava eu me ferrar, ainda tinha que levar ele junto. Eu me amaldiçoei internamente.

_Como não? Numa hora dessas, devem estar me procurando, com a justificativa de assassinato de um membro da Audácia sem motivo aparente. Meu sangue está espelhado lá, e até a porta do seu quarto.

_Eles não estão te procurando, tenho certeza disso. Ontem, depois que você apagou, e eu consegui estabilizar e estancar seus sangramentos, fui lá onde você me falou. Limpei a bagunça. Nenhum dos vestígios levam a você. Joguei o corpo no rio.

_Você o quê? - eu perguntei, achando que não tinha escutado direito.

_Joguei o corpo no rio - ele repetiu - Nem se eles quisessem podem acusar você. O cara tem três vezes do seu tamanho. Você nunca teria conseguido jogar ele da ponte, nem nos seus melhores dias.

Fiquei sem palavras por alguns segundos. Quatro tinha acabado de livrar minha pele. Ele tinha acabado de salvar a minha vida. De novo.

_Quatro... eu nem sei como agradecer.

_Não precisa. Só melhora logo. Quero te ver bem - ele deu um sorriso, se levantando da cama.

Pelos meus cálculos ainda faltava um mês para a chegada dos iniciados e o início dos treinamentos, o que significava que ele ainda estava no seu trabalho com computadores.

_Vou tomar um banho, fique a vontade - ele bagunçou meu cabelo de leve e foi para o banheiro, me deixando sozinha com meus pensamentos e machucados.

Respirei fundo, toquei meus machucados. Quatro havia dado pontos na minha coxa, e agora, uma faixa a cobria. O corte na barriga doía mais, mas também estava com pontos.

Eu não conseguia entender como. Quem poderia saber? Quem poderia desconfiar? Eu estava começando a ficar assustada. O peso de ser Divergente estava caindo sobre mim fortemente.

Fazia tempo que eu não pensava sobe isso. Fazia tempo que eu não me sentia ameaçada por isso. Eu sabia que não teria sossego mais. Teria que tomar cuidado 24 horas por dia. Era como se eu estivesse de volta a dois anos atrás.

Suspirei. Eu bem que queria ficar jogada ali, na cama de Quatro o dia todo. Mas se eu não aparecesse hoje, causaria suspeitas. Agir normalmente, é o que eu preciso fazer. Ir tomar café da manhã, ir trabalhar.

Eu tenho até um velório pra ir. O velório do cara que eu matei. Se eu não aparecesse, e se eu estivesse certa sobre a ordem do ataque ter vindo de alguém do alto escalão, eles desconfiariam de mim, eu tinha certeza, mesmo sabendo que eu não teria força o suficiente para jogar um cara três vezes maior do que eu por cima da grade.

Respirei junto e comecei a me movimentar. Doía. E Muito. Quanto mais eu mexia, mais queria ficar quieta e esperar a dor passar. Eu tentava me convencer de que quanto antes eu saísse da cama, mais rápido eu me recuperaria.

Eu usava um moletom de Quatro. Ele devia ter colocado em mim enquanto eu estava inconsciente. Notei minhas roupas jogadas do outro lado do quarto. Ruborizei. O moletom era grande pra mim, mas eu vestia apenas roupas intimas por baixo.

Suspirei, pensando que era melhor ignorar esse tipo de pensamento e voltei a tentar sair da cama.

_Ei, ei... Tris, o que você está fazendo? - Quatro perguntou, ao sair do banheiro e e me ver tentando me levantar.

_Quatro, eu preciso me levantar - eu disse.

_Você precisa descansar - ele argumentou.

_Se eu não aparecer hoje, alguém vai desconfiar, e o que eu menos preciso agora é chamar a atenção.

Ele então me pegou da cama e me colocou de pé. Ele sabia que eu estava certa. Uma dor lancinante me fez perdeu o foco por um instante.

_Você vai comigo até o refeitório, e depois vai direto pra cama, estamos entendidos? - ele falou sério. Eu concordei. Eu teria que pensar em alguma desculpa. Eu sabia que não ia conseguir trabalhar. Eu mal conseguia me mover.

_Sim, sim... eu só preciso de uma roupa. - Ruborizei novamente e ele riu - Você poderia buscar no meu quarto pra mim?

_Claro. Tome um banho enquanto isso - ele pegou a chave que estava em cima da mesinha. Provavelmente ele a tinha tirado do bolso da minha calça ontem.

Quatro saiu do quarto e eu fui pro banheiro com muita dificuldade. Eu teria que praticar a andar normalmente com essa dor. O que eu achava que seria impossível.

A água quente era reconfortante em minha pele. O principal agora era não entrar em pânico e continuar agindo normalmente. Eu tinha que fingir. Coisa que eu fiz muito bem a dois anos atrás. Eu tinha que achar uma maneira de provar pra eles que eu era Audácia. Apenas Audácia.

Desliguei o chuveiro. Peguei uma toalha no pequeno armário. Me enrolei nela e sai do banheiro. Quatro estava jogado na cama, com minhas roupas ao lado. Pensei em pedir pra ele me joga-las, mas eu provavelmente deixaria cair e teria que pega-las no chão. O que seria mil vezes pior.

Quatro assoviou quando me viu, brincando comigo. Ele sabia que eu era tímida com essas coisas, e insistia em me envergonhar. Eu comecei a rir. Peguei minhas roupas e voltei para o banheiro.

Me troquei o mais rápido que pude, e olha que demorou bastante, depois voltei para o quarto, e pedi para Quatro me ajudar com o coturno. Tentar me abaixar doía mais ainda.

_Tris, é sério. Você tem que descansar. Seus machucados foram muito feios, tá? E eu não roubei a enfermaria atoa - ele disse, enquanto amarrava o cadarço do meu coturno.

_Pode deixar doutor Quatro - eu disse, dando um sorriso pra ele.

Saímos do quarto. Eu me apoiava em Quatro. Na verdade, ele praticamente me carregava. Andar doía muito. Minha perna latejava muito. Fomos para o refeitório tomar o café da manhã.

Eu sabia que teria um longo dia pela frente ainda.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!!



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