Rose suspirou enquanto fechava o grosso diário em suas mãos. Olhou para a capa marrom com sua marca entalhada nele. Suas memórias. Um registro que ela imaginava um dia estar nas mãos de Steven.

Falando em Steven, ele já estava chegando. Ela podia sentir cada vez mais.

Abraçou o diário fortemente, fazendo mexer seus ombros e logo seus cachos cor de rosa dançaram por seu rosto. Suspirou outra vez enquanto se levantava da poltrona onde estava, e quando fez isso esta desapareceu com um sonoro "puf". Caminhou pelas nuvens que preenchiam seu quarto até o bau que estava ali à sua frente.

O baú é claro, não era real, mas as coisas que continha eram. Ela o abriu e observou os objetos que estavam ali. Uma fita cassete, uma fotografia sua com Greg e a blusa que ele lhe dera no dia em que se conheceram.

Jogou a blusa por cima de seus ombros e empilhou a fita e a fotografia em cima de seu diário. O baú desapareceu enquanto ela se virava e fazia a porta do quarto aparecer. Ao passar por ela pôde ver a praia escura à sua frente. Como ela adorava aquele som das ondas batendo na areia. Poderia ficar ouvindo por horas, mas ainda tinha coisas para fazer, logo Greg chegaria e as outras sairiam do templo.

Subiu no transportador e logo estava no deserto. Mal desceu da estrutura e seu leão chegou correndo, veloz como sempre. Passou a mão por sua cabeça enquanto ele fechava os olhos, e segurando firmemente os itens que trazia, pulou na juba do felino.

Abriu devagar os olhos para observar aquele espaço. Steven com toda certeza adoraria aquilo quando visse. Rose sorriu quando percebeu que estava novamente pensando nele. Para ela era um pouco engraçado, não seria uma mãe como as outras, ela de certo modo desapareceria, devia se preocupar em como suas companheira e Greg ficariam, mas só pensava em checar seus próprios segredos que esperava que um dia seu filho descobrisse um por um.

Andou até a árvore acima da colina, checou mais uma vez se sua bandeira estava firme naquela posição ao vento e sentou-se no chão. Posicionou a foto onde queria que ficasse, e com a caneta que terminara de escrever seu diário, escreveu na lateral da fita cassete Para Steven e a colocou no chão também. Ficando de pé pendurou a blusa em um galho da árvore e depois se afastou para admirar sua obra.

Por fim, deu um leve salto (pelo menos para uma Gem) e subiu em um dos galhos da árvore e escondeu seu livro marrom ali, entre folhas e galhos.

– Tomara que você seja um curioso aventureiro. - comentou em voz alta fazendo carinho em sua grande barriga, lembrando como ficou surpresa ao saber que estava "grávida".

Sem se demorar demais, saiu da juba e fitou seu grande gato. Ele sempre parecia ter uma feição neutra ou zangada como a de Garnet, mas incrivelmente pareceu triste e isso a fez amá-lo ainda mais. Num gesto de despedida, o abraçou com todas as forças.

Era aquela Rose que queria que seu filho conhecesse, seu modo de ser, seus sentimentos... Não a Rose líder das Crystal Gem ou a que quase destruiu a Terra e depois a salvou, só a simples e descalça Rose Quartz que era capaz de amar e ver beleza em tudo e todos.

Deu um beijo na cabeça do leão e subiu no transportador acenando para seu amigo de quatro patas que fez alguns sons, como se pudesse falar, em resposta.

Logo, estava novamente no templo, mas agora Garnet estava ali

– Séria como sempre. - comentou Rose se aproximando da amiga, que não a respondeu de imediato. - O que houve?

– Tem certeza que eu devo ser a líder? - respondeu a mulher alta cor de chocolate ajeitando seus óculos. - Você sabe... Pérola é muito mais inteligente do que eu.

– Sim, ela é uma grande sabe-tudo. - concordou a de cabelos róseos. - Mas eu escolhi você por uma razão Garnet. Pérola é racional demais às vezes, você consegue pesar o coração e à mente. - a outra franziu os lábios em resposta. - Uma mistura de doce e amargo que dá muito certo. - Rose sorriu para sua amiga.

– Obrigada, Rose. - respondeu finalmente, ainda um pouco insegura. - Sabe que significa muito vindo de você.
Depois disso se estabeleceu um silêncio confortável entre elas, em que ali, no templo de pedra, admiravam as ondas.

– Tenho que lhe pedir algo. - disse Rose enfim quebrando o silêncio. - Quero... Que me deixe vê-lo. - disse olhando carinhosamente para sua barriga. Garnet olhou para onde ela olhava e enfim compreendeu o que a grávida pedira.

– Por que me pede isso? - perguntou cruzando os braços, mas ambas eram da mesma altura então sua tentativa de intimidar a de branco não surtiu efeito.

– Preciso ver como será o futuro dele... - disse tristemente. - Já que não vou estar aqui para ver. De certo modo pelo menos...

– Sabe que não posso ver muito além, consegui ver que é um menino pois está próximo de nascer. Aliais, provavelmente...

– Eu sei. - antecipou a futura mãe. - Ele vai chegar hoje. - e suspirou antes de prosseguir. - Mas Garnet, eu tenho poder acumulado o suficiente para ver num futuro muito além, só preciso que me empreste seus poderes... Por alguns instantes... Por favor... - a de vermelho hesitou, encarando Rose, que a fitava com um olhar suplicamente.

– Não consigo dizer não pra essa carinha. - disse finalmente, fazendo a outra ficar radiante.

– Obrigada, muito obrigada!

– De nada. Mas é melhor se sentar. - as duas andaram juntas até o transportador, onde Rose sentou-se enquanto Garnet agachava-se à frente dela. - Pronta? - perguntou segurando a amiga pelos ombros.

– Sim. - a de óculos então a puxou, dando um beijo em sua testa enquanto ela passou a mão por sua pedra, liberando toda a energia que tinha acumulado.

Os olhos da rosada se arregalaram, se adaptando as visões do futuro que passavam por seus olhos. Suas feições passaram por alegria, satisfação, incerteza, medo, emoção, preocupação e quando começou a chorar com o olhar mais brilhante e feliz que já dera, Pérola saiu do templo junto com Ametista e Greg chegou vindo pela praia.

– O que elas estão fazendo? - perguntou Ametista ao ver Rose chorando enquanto Garnet lhe dava um beijo na testa.

– Eu... Não tenho certeza. - respondeu Pérola enquanto se aproximavam.

– Rose! - gritou Greg correndo para sua amada. - Tá tudo bem? Você tá machucada? - perguntou ficando de joelhos aos pés dela, que desfez o beijo de Garnet e colocou as mãos no rosto do barbado.

– Tudo ótimo. - falou abrindo um sorriso. - Nosso filho Greg...

– O-o que tem ele?

– Ele vai ser um herói. - o homem sorriu limpando as lágrimas da grávida que estampava um sorriso adorável.

– E você duvidava disso? - Rose o abraçou forte. Como podia tê-lo encontrado? Aquele homem era incrível, dentre tantas pessoas na Terra, como podia os dois terem se encontrado?

– Que momento lindo. - disse Garnet em seu habitual tom neutro.

– É! - concordou Ametista.

– Suponho que seja. - disse Pérola, levemente desconfortável.

– Valeu pessoal. - disse Greg desfazendo o abraço. - Mas por que me pediu pra vir aqui tão tarde da noite Rose? - ela fungou antes de responder.

– Foi porque... - mas antes que pudesse terminar a frase, Rose se encolheu, com as mãos em sua barriga, com um leve arquejo de dor.

– O que foi isso? - os olhos de barbado se arregalaram.

– O bebê... - a rosada sussurrou com um olhar sério.

– O QUE? - exclamou ele levando as mãos à cabeça. - Minha nossa! Precisamos ir pra um hospital! - completou se levantando segurando a mão de Rose.

– Hospital? - indagou Ametista.

– Por que ela precisaria disso?! - disse Pérola com um pouco de raiva. Será que ele não entendia a seriedade da situação? Ela levara meses encarando o fato de que Rose iria embora e em um momento como esse ele pensava em ir para um hospital?

– Porque o bebê vai nascer! - explicou desesperado. - Olha, pode ser estranho pra vocês, mas é assim que humanos fazem! Depois de um parto a mãe e o filho precisam de cuidados especiais!

– Ele não sabe... - disse Garnet deixando transparecer um pouco de emoção.

– Não contou pra ele Rose? - disse Ametista se dirigindo a amiga, que estava estática desde que sentira a contração.

– Contar o que? - perguntou Greg. - Contar o que Rose? - ele voltou a ficar de joelhos no chão, já que ela permanecia sentada no transportador. - Meu amor...? - por mais que ele chamasse, ela não respondia.

A Gem de branco pensou que estivesse preparada para esse momento, mas agora que chegara, ela não sabia como reagir, nem o que dizer. Quando finalmente saiu do transe, ela levantou a cabeça para olhar diretamente nos olhos de seu amado.

– Eu e Steven... - disse devagar. - Não podemos existir ao mesmo tempo.

– O que?

– Eu vou ter que abrir mão do meu corpo físico, para ele.

– Você... você vai morrer? - perguntou ele começando a ter lágrimas nos olhos.

– Não, não meu querido. - disse ela colocando o rosto dele em suas mãos. - Eu vou de certo modo me tornar ele... Ele vai assumir meu lugar...

– Mas... Mas eu não posso perder você...

– Greg...

– Você é tudo que eu tenho Rose... - agora ele realmente chorava.

– Você não vai me perder Greg, vai ter sempre um pedacinho de mim com você...

– Mas... Por que?

– É complicado demais... O importante é que nenhum de vocês vai perder nada.

– Meu amor... - mas a fala dele foi interrompida por outra contração de Rose.

– Ele está chegando. - disse estendendo a mão livre para as outras Gems, que a seguraram olhando para sua líder. - Garnet, você vai ser uma excelente líder, é só fazer o que achar certo, afinal você é feita de amor. - com lágrimas nos olhos, a nova líder da equipe ajeitou seus óculos. - Pérola, eu sei que sem mim aqui você talvez perca uma das razões de ficar neste planeta, mas o Steven vai precisar de todas vocês. - fungando, a pálida assentiu. - E Ametista, não se esqueça de quem é, por favor, algumas vezes tenho medo de que você pense demais no passado e acabe ficando confusa. - a mais nova esfregou o braço no rosto enquanto murmurava um leve "Tá bem".

– Você... Precisa mesmo ir? - Greg pronunciou atraindo a atenção para si.

– Sim... - murmurou Rose. - Cuide do nosso filho. Ele vai precisar de você. Já falei com as meninas e elas vão treiná-lo para ser um bom Gem, mas ele também será um humano. Elas já me prometeram tirar a cerca, agora quero que você prometa que vai contruir uma casa para ele.

– Uma casa..? - ela assentiu.

– Ele não pode ficar longe do templo nem de você, mas vai precisar de um lar enquanto for crescendo. Faça um lar para o nosso filho.

– Eu vou fazer... - o barbado fungou antes de terminar a resposta. - Eu prometo.

Sorrindo, Rose puxou o rosto dele e lhe deu um beijo. Um beijo doce e longo, que para Greg teria sido muito melhor se não fosse uma despedida e só foi interrompido quando a rosada deu vários arquejos seguidos.

– Está vindo... Steven está chegando... - ela murmurou.

– O que... o que eu faço?

– Melhor nos afastarmos. - disse Garnet puxando Greg pela barriga, sendo seguida pelas outras Gems e a rosada lançou um último olhar apaixonado para o Senhor Universo enquanto suas mãos deixaram de tocar o rosto dele quando foi puxado bruscamente.

Os quatro agora estavam na praia, o mais afastado que podiam estar do transportador sem perderem sua queriada rosa de vista. A pedra de Rose começou a emitir um brilho forte. Ela pôs suas mãos em cima da mesma e fechou os olhos.

– Seja bem-vindo, Steven. - sussurrou somente para ela e seu bebê.

A de branco então começou a flutuar, sua pedra brilhando cada vez mais forte. Logo, ela parecia somente uma silhueta feita de brilho rosa praticamente transparente. Abrindo os olhos, ela lançou um olhar terno para seu amado e suas amigas, antes de voltar a fechá-los.

Ela então começou a se desfazer em pétalas de rosa, também feitas da mesma anergia quase transparente, mas sua pedra flutuava no mesmo lugar. Quando o corpo inteiro de Rose era somente pétalas, estas se reuniram ao redor de sua pedra e começaram a rodopiar em um espiral cada vez mais veloz até que foram todas em direção à pedra, e a luz emitida foi tão forte que todos, até mesmo as Gems tiveram que desviar o rosto.

Quando puderam olhar novamente, viram uma forma flutuando no lugar da pedra. Pequeno e encolhido, um bebê caia oscilante, como se fosse uma folha de papel ou uma pétala de flor.

Pérola se precipitou querendo pegar a criança, mas Garnet pôs seu braço à frente dela como um claro sinal para que ela ficasse ali. Greg então correu para o templo novamente e subiu no transportador para ficar mais alto. Estendeu seus braços e os balanço no mesmo ritmo em que seu filho caia, tentando antecipar onde eles se tocariam, até que o bebê caiu perfeitamente em seus braços e ele o trouxe mais para perto.

Greg imaginava que seu filho fosse ter seus cabelos castanhos, ou mesmo os cor-de-rosa da mãe, ou quem sabe até uma mistura dos dois, mas os cabelos dele eram completamente pretos. Não se deu ao trabalho de estranhar que a criança já tivesse uma quantidade razoável de cabelo, seu olhar foi para a pedra de Rose que agora estava bem onde deveria estar o umbigo do bebê.

As Gems se aproximara, nenhuma delas havia visto um bebê humano tão de perto antes. Steven estava encolhido, fechando os olhos com força e deu um leve gemido, como se estivesse desconfortável ou mesmo com frio. Greg então o aconchegou melhor em seus braços e o apertou um pouco mais, isso pareceu agradá-lo.

Steven abriu devagar os olhos e olhou diretamente para os de seu pai, e este pode ver claramente o brilho nos olhos da mulher por quem se apaixonara, agora ali, naquele lindo e adorável bebezinho que sorriu, encantadoramente.

– Oi garoto. - sussurrou o barbado também sorrindo, mas todas puderam ouvir. - Seja bem-vindo, Steven Universo.