Relatos de 11 de Setembro escrita por Kikonsam


Capítulo 30
Henry - 4


Notas iniciais do capítulo

Desculpa por não ter postado esses dias, mas aí está!



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Nunca pensei que algum dia iria passar por um momento como esse, de estar aqui, no meio de um cemitério, passando por lápides e mais lápides rachadas em caminho da cova do meu pai. Realmente, não foi encontrado corpo. Mas acho que um enterro simbólico e me sentir culpado é o mínimo que eu posso fazer pela alma dele, já que me despedi de seu corpo físico da pior forma possível. Com Diana do meu lado, minha tia do outro, e vendo alguns amigos do trabalho do meu pai chegando aos poucos, consigo ver que ele era sim uma pessoa querida, e não o "mercenário" que eu o chamei. Por que, afinal, mercenários não recebem ninguém em seu enterro.
– Henry - fala minha tia, se virando para mim. - Você vai querer dar algumas palavras?
Penso um pouco. Passar vergonha na frente de pessoas desconhecidas falando sobre meu pai morto o qual eu nunca reconheci seu sacrifício para me criar sem minha mãe por perto? Realmente seria horrível, se minha culpa não em levasse a dar a resposta:
– Sim, tia. - falo - Gostaria.
– Então vamos chegar mais perto. - fala ela.
– A Diana pode chegar perto do pastor conosco? - pergunto, enquanto aperto a mão de Diana.
– Não, Henry, eu posso esperar... - fala ela.
– Eu não quero te deixar sozinha - falo.
– Ela pode ir - fala tia Mandy, interrompendo antes que Diana fale qualquer coisa.
Vejo nos olhos de Diana que ela está emocionada com o que eu falei. Imagino que pelo fato de ter pouca família ela nunca tenha tido tantas demonstrações de carinho.
– Ok - fala ela.
Passamos pela lápide, e nos postamos os três ao lado do pastor que está em pé, começando a falar:
– Pode-se dizer que em meio a tempos como esse, que cada discurso de funeral é igual. Pode-se dizer que este será só mais um com um caixão simbólico, sem significado algum. Mas eu posso dizer: em todos os funerais que eu fui, cada um era único. Cada um carregava uma boa alma, uma boa alma que foi embora tão cedo pela vontade de Deus. Mas eu também posso dizer: a vontade de Deus é suprema, e é por isso que em tempos como esse, pessoas de bem, como o filho do grande homem que Richard Port foi, serão recompensadas. A vontade de Deus foi que Richard fosse embora, mas com esta sua ida, se vão anos de trabalho duro, boas ações e devoção ao senhor, que serão lembradas eternamente...
O discurso do pastor é de dar sono. Sei que posso ser uma pessoa horrível por pensar nisso. Mas não sou, por que eu posso dizer que meu pai era católico, mas nunca foi tão devoto a Jesus. Richard Port era um cabeça dura, mas pelo menos o pastor fez um discurso bonitinho antes de minha tia começar o dela.
– Eu me lembro... - fala ela. - Como se fosse ontem, mamãe e papai vieram para mim, e disseram "Minha querida Mandy, você terá um irmão." E me lembro que na hora eu pensei "poxa, que saco! Agora acabou a paparicação da filha única, vou ter que dividir tudo com um pirralho!". - neste momento consigo ouvir alguns risos - Mas acontece que meu irmão acabou se tornando um de meus melhores amigos, uma das pessoas que mais me apoiou e mais me fez feliz. Me ajudou em muitas situações que eu pensei que não teria ajuda alguma, e até onde pôde, me visitava semanalmente. Faça chuva ou faça sol, lá estava ele, - consigo perceber lágrimas escorrendo do rosto da minha tia. - Desculpem, mas eu não posso continuar.
– Tudo bem, Mandy. - fala o pastor. - Henry , você quer vir falar alguma coisa?
Não dou uma palavra, apenas solto a mão de Diana e me dirijo ao lugar onde minha tia estava. Nunca fiz algo como isso antes, e nunca pensei que aos 16 anos fosse precisar fazer isso. Isso me deixa triste. Mas eu tenho que ser forte, tenho que tentar passar por cima disso. Tenho que mostrar respeito pelo espírito do meu pai.
– Eu não teria muita coisa para dizer aqui. - digo. - E acho que meu pai não iria querer que eu enrolasse muito falando aqui, por que eu tenho certeza que, se fosse ele aqui, já estaria irritado e iria querer ir embora. Mas o mínimo que posso fazer é honrar um pouco da memória dele. Tenho 16 anos e provavelmente não terei tanta facilidade para dar um discurso desse. O que eu tenho a dizer é que meu pai realmente era ótimo com sua família. Bom pai, irmão, filho, e marido. Me lembro, mesmo que pouco, de quando ele e minha mãe me levavam para passear no Central Park e eles ficavam lá, brincando comigo, e aguentando cada segundo com uma criança pequena com um sorriso no rosto. Apensar de todas as dificuldades da vida, ele conseguiu se reerguer e tentar criar seu filho rebelde que não dava valor para nada que ele fazia. Eu sei que é tarde demais, mas pai, se tiver me escutando, me desculpe. Me desculpe por lhe contrariar querendo ir parar festas tarde da noite enquanto você queria que eu ficasse para lhe fazer companhia. Me desculpe por pegar dinheiro de sua carteira para comprar cigarro e bebida. Me desculpe por lhe chamar de mercenário todos os dias. Me desculpe por tudo. É depois que você se foi que eu comecei a valorizar tudo o que você fazia. E é isso que é horrível na vida, não é? Você nunca sabe o que está por acontecer, nunca sabe maneirar para que você não se arrependa de suas ações no futuro. Mas isso que acontece, e é isso que aconteceu. E teve que acontecer isso tudo para eu cair na real que eu amava este homem, eu o amava mais do que qualquer coisa no mundo. E sempre amarei.
Percebo que meu rosto está molhado. Neste meio tempo deixei as lágrimas escorrerem do meu rosto. Apenas saio daquele lugar, e me junto á Diana, enquanto vejo o caixão descer terra abaixo.


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Notas finais do capítulo

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