Dentro da muralha

Como sempre os comentários chegavam antes do portão se abrir. Agora Levi andava ao lado do cavalo a mão encostada no dorso dele.

–Só voltarem esses... – alguém falava

–Como sempre...

De todas as vozes, aquela era a última que Levi queria escutar.

–Levi!

Ele preferia ter sido sua imaginação. Preferia ter achado que estava louco. Ele com certeza fica depois de tudo isso.

–Levi! – a voz chegou mais perto – Sei que deve estar cansado, mas acho que preciso falar com você.

“Eles... como vou contar a eles” pensou Levi “Como vou contar a Ralph?”

O pai de Petra continuava a falar, mas uma palavra chamou a atenção de Levi.

–Cartas... – ele achou ter dito baixo, mas o pai dela escutou

–É cartas, ela escrevia pra mim sabe, e mandava dinheiro também. Bem a ultima carta me assustou um pouco não sabia que vocês estavam noivos.

Levi parou de andar.

Todo a tropa foi passando por ele, e a multidão se dispersando enquanto ele ainda estava parado.

–Acho que ela é muito nova... mas bem acho que ela sabe o que quer da vida.

Ele nunca iriam cumprir a promessa...

Ele nunca casaria com ela.

Nunca a beijaria de novo.

Nunca mais veria os olhos cor de âmbar.

–Acho que é uma coisa que converso com vocês dois depois.

–Sinto muito. – Levi finalmente disse.

–Não é nada Levi, sabe pai tem dessas coisas de se preocupar. Um dia você será e vai saber...

–Não, não vou ser...

Então o pai de Petra finalmente parou de falar. Olhando em volta de si mesmo.

Já era pra Petra ter aparecido pulando nela como sempre, pedindo pra parar de encher o Levi com aqueles assuntos.

Não. Não podia ser.

– Levi... Cadê minha filha?

– Eu sinto muito... - ele estava prestes a chorar quando o pai dela o pegou pelo colarinho da blusa.

–Cadê ela?!! Não me diga que... – a voz dele começou a falhar – Levi pro favor... – ele começou a soltar a blusa dele devagar – Por favor...

Ele pegou nas mãos do pai dela soltando da camisa dele.

–Eu realmente... Realmente queria... Queria dizer que ela vai vir correndo daqui a pouco. Realmente queria, senhor...

O pai dela se virou saindo amolecido deixando Levi ali parado no meio da rua.

Ele começara a se sentir sozinho naquela hora. Ninguém estava ali mais.

Passara anos acostumado com a solidão, Petra viera como um furacão varrendo tudo isso, arrumando,colocando tudo no lugar. Cada coisa no seu lugar... E agora tudo começava a se desarrumar de novo... Mais uma vez.

Levi sentiu dois braços altos o abraçarem pelo pescoço. Estavam quentes e macios. Só alguém era alto para aquilo.

Ele colocou as mãos envolta da cintura de Hanji encostando a cabeça em seu ombro. Ela o abraçou mais forte e ele começou a soluçar chorando.

–De novo Hanji... Eu não consegui de novo

–Ei. – a voz dela era firme, mas calma – Nós não conseguimos.

Ele se assustou.

Depois de tudo o que ele esperava que todos dissessem foi que a culpa não era dele. Mas Hanji não...

–Não fique assim. Eu também... Também não consegui Levi. Sabe, não se pode ser a dupla mais forte da humanidade sempre...

Não, não se podia.

–Você não pode ser forte sempre, Levi Arckeman. – ela olhou nos olhos dele – Pode gritar,chorar. Nós somos humanos...

E foi o que ele fez.

Na madrugada uma fogueira foi acessa em homenagem a todos que não puderam ser enterrados.

Levi ficara quase uma hora no banho, resolvera sair agora e se trocar.

Lá fora, no pátio. Hanji estava abraçando os joelhos aos pés de Erwin. Mikasa estava em pé ao lado de Armin. E Eren como as mãos nos olhos chorando.

Ele pensou seriamente em não se aproximar. Em não... Não sofrer mais. Porém era algo que ele precisaria fazer até o fim.

Sofrer.

Superar.

Aceitar.

Até que tudo virasse recordações boas.

Ele foi até Erwin ficando do lado dele de braços cruzados.

–Eu sempre soube Levi.

Ele sorriu. Erwin não precisa especificar para Levi saber o que era.

–Você é inteligente, sabia que perceberia.

–E você? É inteligente pra perceber?

Claro que era. Erwin também gostava de Petra. Sempre.

Levi sabia, por mais que não aceitasse. Ele sabia.

– Claro... Estamos na mesma agora...

– De novo. – Erwin teve de sorrir – Vou perguntar de novo. Quer me matar?

Os dois se olharam. Levi nunca se preocupara com sua altura. Mas sempre ficar cara a cara com Erwin o deixava irritado. Era alto demais, e Levi baixo demais.

A mesma pergunta de anos atrás... A mesma situação. Só ele sobrara...De novo. Porém perder amigos nunca fora culpa de Erwin. Levi aprendeu isso.

–Não... não quero,de novo.

Os dois apertaram as mãos e se aproximaram encostando os ombros.

–Fico feliz de poder ter aproveitado o que eu tive medo de fazer Levi... – ele sussurrou – Fico mesmo.

–Eu também...

Todos começavam a ir embora. Mikasa chamava Eren, mas ele se recusava a sair de perto da fogueira. Levi sabia que ele queria falar conversar com ele...

Ele se abaixou ao lado de Eren. Depois colocou sua mão na cabeça dele.

– Eu tinha um leve ciúmes de você dois... – ele confessou

– Eu também tinha, gostava de conversar com ela,mas você sempre estava perto.

Levi lhe deu um croque fazendo-o cair de lado.

–Ela olhava pra você diferente. – Eren disse – Eu a olhava como uma amiga, ela é uma boa pessoa... Ficou comigo até o fim. Mesmo que eu quisesse ajudar...

–Ela nunca deixaria.

–Não... Eu não precisei de muito tempo pra perceber o jeito dela.

–Não foi em vão... Afinal você está aqui não?Ela cumpriu a missão...

–Ela me disse pra cuidar de você.

Levi arregalou os olhos.

–Ela parecia saber o que ia acontecer. Ela escolheu a pessoa errada, com certeza é mais fácil você proteger a mim. Eu não consegui fazer muito afinal...

– Sabe Eren... Eu também não, e não é a primeira vez. Acho que devemos nos permitir errar, é um erro grotesco... mais do que um erro, é triste... Mas nós tentamos, todos os dias, e vamos morrer tentando cuidar uns dos outros.

– Acha ... Acha que se eu tivesse me transformado... Ela estaria aqui?Eles estariam?

Era isso. Isso incomodava Eren desde a hora que ele vira o corpo de Petra jogado na arvore. Fora o motivo dele ter estourado e se transformado na hora.

–Nós nunca sabemos como vai ser o resultado de uma missão Eren... Nunca saberemos o resultado de você ter se transformado, já foi... Mas se uma resposta concreta te conforta... Acho que Petra teria cortado você por ter desobedecido ela.

Eren não conseguiu não rir alto daquilo. Levi não iria responder seriamente, ele...ele não queria deixar o garoto culpado,mas ele sabia, no fundo,que Eren podia ter evitado... Talvez...

–Eu acho que sou o culpado... Devia ter seguido meus instintos, devia ter me transformado, pegado ela dali...

–A titã te pegaria depois... e o que faria com Petra?

–Verdade, não pensei nisso...

–A verdade Eren é que, eu é que não devia ter saído dali. Deveria ter sido eu sabe? Eu não tenho ninguém com que se preocupe comigo, Petra tinha uma família, uma criança... Eu tinha só ela. E agora...

Levi percebeu que chorava.

– Você tem todos nós Levi. Hanji,Erwin, Mikasa mesmo ela sendo um pé no saco as vezes,todos os soldados confiam em você. Eu também estou, lógico não espere que eu vá te beijar.

Levi gargalhou secando as lágrimas.

–Vamos cuidar uns dos outros como você disse... Juntos.

–Juntos. – então Levi ergueu a mão direita e a mordeu – Realmente, isso dói...

E os dois apertaram as mãos mordidas.

Fora a pior noite de Levi.

Ele acordara cada vez mais de um pesadelo pior que o outro. Acordava no susto, chorando e suando.

Porque ela... Porque. Ele nunca iria aceitar isso.

Se levantou da cama indo até a cozinha. Tudo que ele queria era um café. Mesmo ela não estando mais ali para faze-lo. Assim que abriu o bule, percebeu que tinha café,de de manhã. Ele esquentara mesmo sabendo que não teria o mesmo gosto do que ela fizera cedo,mas seria bom. Encheu a caneca e bebeu. Seria estranho ele pensar aquilo, mas podia sentir o cheiro dela no café.

Alguém abriu a porta da cozinha. Hanji entrou enrolado num cobertor, e se sentou na cadeira perto do balcão. Levi encheu outra caneca com restinho que tinha e colocou na frente dela.

–Pesadelos... – afirmou tomando um gole.

Hanji levantou a cabeça. Levi ergueu as sobrancelhas era a primeira vez que ele a via sem os óculos e ainda por cima de cabelo solto. Ela era tão bonita que ele sorriu, tomando outro gole.

–É... Pesadelos...

–Como... – ele gaguejou ao perguntar – como está se sentindo com todos sabe.

Ela riu coçando a cabeça.

– Petra era minha única amiga aqui dentro. Posso dizer que ela é a minha melhor amiga... Ela confiava em mim o bastante pra falar de você. – ela deu uma piscadela – O bastante pra me pedir pra abrir a janela pra ela... Eu confiava o bastante pra falar sobre ele... – ela mordeu o lábio inferior, deixando duas lágrimas caírem.

– Gunter era meu melhor amigo também desde o dia que brigamos... Eu confiei nele de olhos fechados quando me acidentei numa missão e ele me carregou até um lugar seguro. Ele sempre me falou de você ... – ela sorriu – eu que não falei sobre a Petra antes,eu ... – ele parou refletindo – Nossa , acho que eu tinha medo.

–Medo?

–Medo de falar sobre ela pra alguém, medo de ficar com ela.

–Você tinha medo era de se apaixonar. Ainda tem.

–Agora sempre vou ter, talvez eu esteja fadado a perder as pessoas que amo...

–Ei. – ela pegou seu rosto fazendo ele olhar pra ela – Para com isso. Qual é? Não gosta de mim então? – ela sorriu, ele sorriu de volta colocando as mãos sobre as dela.

–Você é totalmente louca, mesmo, mas eu estaria mentindo se dissesse que não.

–Levi... – ela soltou o rosto dele ficando séria – Me prometa que não vai trancar seu coração, mas do que ele já é.

–Hanji...

–Me prometa. Você não pode ficar assim, você ainda não morreu também. Anda...

–Não acho que alguém vá gostar de mim Hanji, até hoje não sei como ela gostou de mim.

Hanji riu alto.

–Você é extremamente dramático quando quer. Nós acharemos alguém. Mikasa é uma gracinha... – ela sorriu

–Praticamente uma criança...

–Esqueci que você é um velhote... Petra também era jovem, não tinha tanta diferença entre ela e a Mikasa.

–Esquece a Mikasa,Hanji. – ele ordenou, vendo ela rir – Eu sei,realmente Petra era jovem... jovem demais pra isso...

Os dois voltaram a ficar em silêncio, tomando o café. Ele não queria que o clima voltasse a ficar tenso.

– Me prometa Hanji. Prometa que vai seguir seu próprio conselho.

Ela o olhou fixamente nos olhos, e sorriu.

–Se me ajudar a pegar um titã, eu prometo.

–Louca. – ele tomou um gole do café apoiando o cabeça nos braços sob a mesa.

Levi acordou com fortes dores nas costas finalmente dormira sem pesadelos.

Acordou e viu que dormira na cozinha debruçado sobre o balcão. Hanji também.

Alguém fazia café, já devia ser a hora de levantar. Ele se espreguiçou e viu... Coçou os olhos duas, três vezes até que começaram a sair lágrimas... Petra estava em pé ao lado do fogão com uma xícara, Gunter estava do lado dela e jogou-lhe uma piscadela. Farlam estava sentado no batente da janela como ele costumava fazer, e Izabel sentada na pia balançando as pernas.

– Petra... pessoal ... – ele gaguejava e as lágrimas rolavam enquanto ela vinha até ele

–Volte a dormir.- ela sorriu. A voz dela soava exatamente igual a antes, como na primeira vez que ele a escutara. – Vou cuidar de você Levi, pra sempre. Eu te amo... Nós te amamos...

Ele sentiu um dedo cutucar sua testa suada.

Levi ficou por alguns minutos de olhos fechados ainda. Ele queria acreditar que era verdade... Mas outro cutucão o trouxe a realidade. Ele abriu o olho e olhou para frente. Hanji tinha os olhos sonolentos o encarando. O relógio marcava 3:45.

–Você estava... falando... e suando achei melhor te acordar...

Levi sorriu.

Finalmente,um sonho bom,com as pessoas que ele amava. Com outra pessoa especial lhe acordando.

–Não brigue comigo Levi, é que achei que tivesse tendo um pesade-

Ele ergueu os braços abraçando Hanji. Chorando no ombro dela.

Ela sentiu os olhos encherem de lágrimas, não triste, mas felizes.

–Obrigada por ficar comigo Hanji. – ele a soltou secando as lágrimas dele, e depois as dela com o dedão.

Ela ficara muda, sem saber o que responder. Já querendo voltar a chorar de novo.

Eram 9:00 da manhã. Levi escovava os cavalos. Agora ficar com eles era relaxante, e o acalmava. Erwin apareceu no estábulo, enquanto Levi enchia um balde para lavar a sujeira.

–Levi... – ele disse firme, e ele se virou – Tem... tem uma pessoa,procurando por você.

Levi se assustou deixando o balde cair. Fechou a torneira secando o suor da testa.

“Por mim... Ninguém nunca veio procurar por mim aqui...”

–Por mim?! – perguntou espantado

–Sim... é ... – Erwin arfou – É o pai da Petra.

Levi acabara de vestir a bota e correu até o gramado do quartel.

Havia uma mesinha de madeira que Hanji usava para apoiar mapas e etc. O pai dela estava sentado com uma bolsinha em cima da mesa. Ele tinha o rosto abatido, e com olheiras.

Levi se aproximou e se sentou na frente dele.

–Pedi pra vir aqui fora porque é mais privativo. – ele explicou

–Sim senhor...

–Levi, só queria dizer que eu não o culpo. Nunca culparei ninguém, a não ser a tal titã... – Levi sentiu o rosto endurecer ao lembrar da vadia loira – Eu sinto muito se deu a entender,aquele dia, que culpei você.

–Tudo bem senhor, eu entendo... realmente entendo.

–Não precisa me chamar de senhor, sabe disso – ele deu um riso leve – Eu vim aqui esclarecer isso... e – ele começou a mexer numa bolsa,tirou um monte de papel amarrados por um cordão vermelho – Essas... essas são as cartas que Petra me escrevia. Sei que você cuidou dela, outro motivo por eu não te culpar. Eu realmente quero que isso fique com você. – ele empurrou o monte para Levi – Não quero ter lembrança dela que envolva as tropas de exploração, achei melhor assim... – ele suspirou – Melhor ter a lembrança dela antes disso sabe...

–Entendo... – Levi olhava fixamente para o bolo de cartas.

–Tem isso também que deram pra mim – ele tirou o manto de Petra da bolsa – Faça o que quiser com tudo isso. Leia se sentir bem, mas pode queimar, ficar pra você, o que for. Só pegue todas as coisas.

Levi obedeceu pegando o manto e o bolo de cartas. O pai dela se levantou e deu as costas pra sair, mas parou.

–Saiba também que... minha casa está aberta pra você Levi. Pode ir nos visitar, ficar no sítio quando se sentir bem de verdade, gostaram de você, Raplh gosta de você...

Ouvir aquele nome deu um nó na garganta de Levi.

“Raplh, só uma criança já sofrera tanto”

–Como ele... Como ele está?

–Como nós. Triste, mas tentando superar... É só que ele está se sentindo sozinho... Ele nos disse. Mesmo com todo apoio – o pai dela começara a chorar – nós estamos tentando Levi... Mas ele só se afasta, não nos dá uma brecha se quer,prefere brincar sozinho-

–Posso ir vê-lo? – Levi o interrompeu

O pai dela ficou um minuto em silêncio, e sorriu de orelha a orelha.

–Claro. Faremos uma fogueira no sitio no outro fim de semana... mas pode ir antes se quiser...

– Acho que vou esperar o sítio,vou estar lá. – ele disse decidido se levantando.

Era de noite . Sozinho no quarto,Levi teve de criar coragem para abrir a primeira carta. O papel claro já estava rasgado, mas ele só de pensar em abrir...

Respirou fundo.

“Pai! Primeira carta!! Bem é tudo muito novo pra mim aqui, mas confesso estar adorando. Todos me acolheram muito bem aqui. Hanji é uma colega de quarto,ela é um amor, talvez um pouco doidinha, ela adora titãs,estranho não? Vou ajudá-la a pegar um algum dia desses, mal posso esperar para primeira missão. Capitão Erwin é um homem genial, ele me ensinou mais coisas do que aprendi me formando, tem o Auruo que é um bobo,mas legal até, Gunter é gente boa [...] Tem também o Cabo Levi,aquele que todos falavam se lembra. Ele não é o que todos falavam, é melhor. Realmente ele deve ser o melhor do exercito. É bem sério e firme, mas até que ele é bem gentil comigo.[...]”

Levi sorriu, abrindo a outra carta.

“Segunda cartinha! [...] Briguei com o Cabo Levi, ele é um, um... ah babaca! Mas eu fui errada também. Mesmo assim, um babaca. Estou com raiva.

(Levi percebeu que havia troca de canetas em alguns lugares, ela escrevera em horas diferentes)

[...] Corrigindo ali em cima, ele não é tão babaca, acabei de falar com ele,ele se desculpou,eu também. Acho que fui rude, ele não é babaca assim, só um pouquinho nervosinho por limpeza. Acho que foi idiotice da minha parte... Ele é muito bonito,gentil.... Eu gosto dele. Sério... Que droga pai acho que gosto dele.

Uma lágrima caiu no papel quando ele fechou a folha abrindo outra.

“Demorei pra escrever né? Tive um pequeno contra tempo aqui. Eu me machuquei na missão mas está tudo bem... Acho que o médico já falou com você né? Bem não adianta mentir... Eu bati feio a cabeça fiquei uns dois dias apagada ou mais... Enfim,tomei os remédio estou bem,Levi está cuidando muito bem de mim, ele me socorreu quando eu cai, e vem todos os dias me ver,falando nele,aconteceram umas coisas bem estranhas... Sabe acho que Erwin sente alguma coisinha de nada por mim, sei lá , pode ser impressão, mas Hanji também acha... E , eu fiz besteira quando me machuquei. Acredita que beijei o Levi?! Acho que vou voltar pra casa mais cedo, essa é umas das regras que não se pode quebrar... não sei se alguém viu ou sabe [...] Não posso dizer que não gostei. Ele não é tão serio e rude quanto pensei. Eu vi ele sorrindo pela primeira vez hoje e foi depois do beijo, acho que ... Não acho nada. Ele nunca gostaria de mim... ele é todo centrado no trabalho sabe, bonito demais... acho que nunca olharia pra mim.Estranho eu falar disso com você pai (risos) mas eu confio em você pra falar disso, e não tem ninguém que eu posso desabafar aqui... então desculpa a confissão ai [...]”

“Oi pai!! Ian acabou de chegar por aqui. Não consigo acreditar como ele passou no exame, mas... Vou cuidar dele. [...] Agora eu venho conversando bastante com a Hanji, ela realmente virou uma amiga que eu posso contar aqui dentro. Quanto ao Levi, acho que não escreverei mais sobre ele aqui, estou tentando tirar ele da cabeça. Como está a mamãe? [...]”

“Oi pai... Sinto muito pelo Ian. Como a tia reagiu?[...] Esse fim de semana vou passar por ai pelo sítio ver vocês. E respondendo sua pergunta da carta anterior,sim eu briguei com o Levi de novo. Acho que foi a ultima vez.”

Realmente fora. Levi se lembrou.

Eles brigaram a ultima vez e ficaram mais próximos ainda um do outro.

Era uma das ultimas cartas em meio a varias delas.

“Pai, precisamos conversar seriamente... mesmo. Desculpa não contar antes, eu, bem. Levi me pediu em casamento e eu disse que sim. Mas não vai ser agora sabe?Vamos deixar pelo menos escondido agora, mas do que já está. Droga... Sei que não esta gostando disso...Sei que não gosta dessas coisas,e que ficou chateado. Não pense que ele me desvirtuou ok? Sabe mais que ninguém que é mais provável eu fazer isso com ele. Desculpa de novo. Sei que não é isso que quer pra mim , mas realmente eu me decidi.É com ele que eu vou ficar, eu o amo e não vou voltar atrás.”

Levi não conseguia mais ler nenhuma carta. Os olhos estavam cheios d’agua embaçando a visão, e ele achou que era demais por hoje.

Uma semana depois.

Levi, Erwin e Hanji passaram o resto dos dias investigando sobre a titã fêmea. Um garoto chamado Armin dizia ter informações concretas de quem seria o humano por trás daquilo.

Depois de uma reunião no refeitório e montarem um plano, ele saiu da sala indo até o quarto dele, pegando o manto que era de Petra.

Bateu na porta do dormitório feminino.

–Hanji? – ele chamou. Ela saiu minutos depois não abrindo muito a porta, alguém devia estar se arrumando ou algo do tipo.

–Oi... O que foi?

–Eu... – ele estendeu o manto abrindo – Quero te dar isso. – ele colocou nas costas dela, percebeu que ela não estava entendendo – Era da Petra.

–Eu... – ela sorriu – Tem certeza?

–Claro que tenho. – ele se aproximou cheirando uma ultima vez o tecido, que aos pouco ia sumindo o cheiro dela, infelizmente. – Fique. – ele afagou o cabelo dela e saiu indo dormir.

Era o fim de semana no sítio. Levi pediu gentilmente ao pai de Petra que pudesse levar uma pessoa com ele.

–Anda Hanji. – ele a esperava parado na porta do dormitório. – É um sitio não precisa se arrumar tanto.

–Pronto, pronto cabo, você é realmente pontual. – ela saiu do dormitório e Levi não teve como não esconder a surpresa. Ela vestia uma calça jeans,uma regata preta e jaqueta, com os cabelos soltos de óculos. – Vai anda.

–Você... Você fica muito diferente quando solta o cabelo. – ele disse não sabendo se era um elogio, mas pra ele era. Ela gargalhou.

–Gunter disse a mesma coisa com essa mesma cara. Vem. – ela piscou saindo pelo corredor.

Enquanto cavalgavam ate o sitio Levi não podia esconder a curiosidade. Ele não conseguira conversar com Gunter sobre Hanji depois de saber que eles saíram juntos...

–Hanji...

–Hm?

–Você e o Gunter saíram mesmo né?

–Sim! – ela ficou sorridente

–Ah... Sei.

–Não vou te dar detalhes. – ela disse rapidamente

–Eu, eu ora, eu não pedi. Mas pelo jeito – ele arqueou as sobrancelhas duas vezes seguidas.

–Fica na sua Levi. – ela sentiu o rosto se avermelhar

Chegaram minutos depois no sítio.

O pai de Petra adorou Hanji de primeira. Disse que Petra falava muito sobre ela nas cartas. Ele não gostava de saber sobre os titãs, mas assim que ficou a sós com Hanji...

–Será que ... – ele olhou em volta – Sabe, minha mulher não gosta de falar sobre titãs, mas Petra me falava que você sabe de muitas coisas e estuda sobre isso... Pode me contar?

“Ah não.” Pensou Levi. “Porque ele disse isso? Agora não vamos embora nunca...”

–Claro!!! – ela sorriu e começou a detalhar tudo.

Levi revirou os olhos sorrindo e foi até a cozinha.

– A senhora sabe onde está o Raplh?

–Está lá fora,como sempre. Só não sei exatamente o lugar, ele se esconde.

Levi andou o sitio todo atrás do garoto e nada.

O único lugar que não olhara era um pequeno estábulo.
“Cavalos” pensou “Não é a toa que ele foi criado por Petra.”

Assim que abriu a porta do estábulo,Ralph estava escovando um dos bichos em cima de um balde virado pra baixo.

–Posso entrar?

O garoto parou de escovar e continuou virado de costas.

–Pode...

Levi pegou um balde e colocou do lado dele se sentando.

–Também gosto de cavalos.

–É, eles são bem calmos.

–Achei que iria jantar com todos lá em cima.

–Eu não to com fome...

Levi continuou olhando pra ele vendo o garoto fazer um beicinho e voltar a escovar o cavalo. Realmente ele estava bem mais fechado do que a ultima vez que Levi o vira.

– Sabe Ralph? Eu tinha um pai que era muito ruim comigo sabia. Eu sempre quis que ele gostasse de mim, mas acho que ele nunca me quis. – Levi começou a dizer – Você tem uma boa família, eles só querem ajudar...

–Não quero ajuda. – o garoto o interrompeu mal educado

– E o que você quer?

–Minha mãe... – ele se virou chorando – Minha mãe de verdade, que me criou.

Levi respirou fundo e o tirou de cima do balde colocando-o no seu colo.

–Eu sei... Eu também queria ela aqui. Essas coisas são difíceis, você não devia passar por isso. Mas sabe o que ela diria? Ela diria pra você seguir em frente, diria pra você ser forte como ela foi.

–Ela diria? – o menino fungou chorando

–Diria... Ela brigaria conosco se nos visse chorando. Eu também não entendo Raplh, também queria ser forte. Mas eu aprendi que pouco a pouco essa força vai voltando, e que as pessoas a nossa volta só querem ajudar. Eu vou estar aqui pra ajudar você, se quiser.

– Se... Se ela estivesse aqui, ela se casaria com você... e – o garoto levantou os olhos brilhosos - e você seria meu pai?

Levi se espantou.

–Eu não seria um bom pai pra você Raplh... Mas eu tentaria. – sorriu.

O garoto ficou em silêncio, pensando. Depois voltou a falar.

–Então eu seguiria seus passos. – afirmou seriamente - Eu vou entrar pra tropas de exploração, quando eu ficar adulto. Vou proteger todos como ela fez, como você faz.

Os olhos cor de âmbar o olharam cheio de convicção. Levi jurou que nunca mais veria um âmbar igual ao dela, estava errado, pois eles o olhavam agora mesmo.

Levi carregou Raplh nas costas até a casa. Hanji e o pai de Petra ainda conversavam baixinho na varanda quando eles chegaram.

Levi o colocou no sofá e fez um prato de comida pra ele. O garoto comeu tudo ferozmente sorrindo. Na cozinha a mãe de Petra limpou algumas lágrimas. Levi não entendia o porque.

–Ele não comia desde que ela se fora... Obrigada Levi.

Ele sorriu sem jeito.

–Não foi nada.

De noite, a fogueira foi acessa Raplh e Levi a fizeram juntos enquanto Hanji trazia cobertores e machimelows.

Eles se sentaram todos envolta dela. Os pais de Petra numa grande cadeira de balanço abraçados e os três nos cobertores olhando as estrelas. Até que Raplh se levantou correndo.

–Eu... preciso buscar algo! – disse quase gritando e correndo pra dentro da casa.

Ele voltou minutos depois com um papel na mão.

–Isso, é pra você.

Levi ia abrir quando ele o impediu.

–Acho melhor ler quando estiver só.

Depois que a mãe de Petra arrumou uma cama para Hanji e o sofá para Levi todos foram dormir, menos ele.

Ele voltou até a fogueira por volta das duas da manhã e se sentou lá com ela ainda acesa. Ele sentia que alguém o olhava.

–Ok, Raplh,pode sair...

O menino saiu de trás de uma arvore com ar de derrotado e se sentou do lado dele.

–Disse pra eu ler quando estivesse só.

–É que estou curioso...

–Afinal quem me mandou isso?

–Foi ela...

Levi arregalou os olhos.

–Ela disse... pra te dar se ela morresse.

Raplh se deitou ao seu lado se cobrindo.

Levi abriu a carta.

“Não sei como começar isso... Se você está lendo isso é porque... eu morri não foi? É, esse foi o trato com Raplh.

Sabe Levi, eu estou neste momento escrevendo uma carta enquanto você dorme. Você fica lindo dormindo saiba disso, mas do que já é.

Eu tenho tido pressentimentos estranhos desde que Ian se fora. Fazia tanto tempo que não perdia alguém, que eu não lembrava o quão ruim era. O quão ruim era se estar vivo quando na verdade nos queremos morrer junto com a pessoa. Eu sou convencida as vezes, como você é também, e sei que você deve estar se sentindo assim por eu ter morrido. É por isso que eu estou aqui... escrevendo.

Eu não quero que nem por um minuto você pense nisso, pense em desistir de qualquer coisa pelo que aconteceu. Eu não sei do jeito que foi, nem quando e como vai acontecer. Mas eu sei que eu quero que você siga em frente.

Quando eu entrei pras tropas de exploração eu tinha mil planos em mente, e nenhum deles era me apaixonar, e aqui estou, dormindo do seu lado. Desde o começo eu dei o melhor de mim em tudo que fiz, seja missões, ou qualquer coisa, dei o meu melhor pra você,dei tudo o amor em mim pra você... Quero que você de o melhor de si sem mim ai, vai ser difícil. Eu acharia difícil ficar sem você. Mas eu sei que eu teria a Hanji, Erwin, Gunter, Eld, Mike, Eren... minha família, pra me apoiar se eu ficasse sem você. E eu sei que você tem eles ai pra te apoiarem, se não fisicamente em pensamento e espírito. Não se esqueça que eu estou em espírito com você também. Nunca duvide o quanto eu amei você, você me fez por um ano ser a mulher mais feliz do mundo, eu nunca vou conseguir agradecer...

Me prometa que vai fazer isso sim? Que vai dar o seu melhor pra ficar bem, pra lutar até o fim e viver num mundo em paz como nós queríamos viver juntos, se lembra...? Nós sonhamos tanto com isso... Prometa que não vai se culpar pela minha morte, em hipótese alguma,não importa do que for. A culpa nunca será sua, eu prometi a mim mesma cuidar de você, espero que eu tenha conseguido fazer isso. Prometa que se apaixonará de novo, eu vou torcer pra que ela seja melhor que eu fui. Por favor Levi. Cuide deles pra mim... Cuide do Raplh. Cuide de si próprio, sobreviva porque você sempre foi e é mais forte do que pensa. Sua vida não acabou ainda. Desculpe se eu deixei de cumprir algo pra você, essas coisas a gente não escolhe. Mas você tem a escolha de seguir em frente agora. Dê o seu melhor pra isso, e eu darei o meu pra continuar cuidando de você daqui de onde que eu esteja.”

Levi fechou a carta sorrindo, lágrimas de felicidade escorriam de seus olhos.

Ele alinhou Raplh no seu colo que dormia profundamente e fechou os olhos. Fechando a mão em punho sobre o coração.

– Eu prometo Petra... Eu prometo.