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Pio escrita por Davi Mello
Capítulo 1
Pio
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Sonhou com rosas, violetas e um beija-flor a voar.
Acordou e descobriu que era a primeira vez que sonhava.
Ele gostou.
- O que foi, pardal? Parece até que viu passarinho azul! – disse o sabiá.
- Você já imaginou coisas enquanto dorme?
- Tu tá esquisito.
- Nunca?
- Eu não. Como é que os humanos os chamam, mesmo?
- Sonhos.
- Ah, é verdade! Quando estou empoleirado em suas janelas, no momento em que o sol nasce e os primeiros raios adentram seus quartos, gosto de vê-los sonhar. É divertido.
- E como é? – quis saber o pardal.
- Eles voam de verdade, como nós.
- Sério? Eu também voava enquanto sonhava?
- Não.
- Não?
- Claro que não! Pássaros não sonham. Tu tá mentindo.
- Voei ou não voei? – insistiu a ave.
- Ah, eu não sei! Não estava prestando atenção... Mas se você realmente sonhou, como é que ele era?
- Tinha um lindo campo, flores para todos os lados, borboletas perambulavam entre as árvores e um beija-flor voava à procura de alimento.
O sabiá o fitou com desdém e voou.
Mesmo assim, o pardal, ainda entusiasmado com o que lhe tinha acontecido, decidiu ir em busca de seu sonho. Estava farto daquele céu poluído, de todas as casas e arranha-céus e, principalmente, dos carros que faziam tanto barulho!
E assim iniciou sua jornada ao encontro do paraíso.
- Olha, mãe! Olha! Vem cá ver! – gritou a menina, ainda de pijama.
Os pais, que acordaram assustados, já estavam no quarto da filha querendo saber o motivo para toda aquela folia.
- Tem um pássaro no meu quarto! Pega, pega!
O pai olhou para cima, viu um pardal se debatendo no teto, desesperado.
- Xi, é verdade!
- Pobrezinho. – disse a mãe. – Vamos ajudá-lo a sair daí.
- Filha, abra a janela. – pediu o pai.
- Não quero.
- Como assim, não quer?
- Oras, eu mesma a fechei quando ele entrou. Quero o passarinho pra mim.
O pai e a mãe se entreolharam, emburrados.
- Vamos, papai, pega ele, vai! – implorava a filha, os olhos brilhando.
O pai subiu na cama da menina, fez uma concha com as mãos e pegou o pardal com muito cuidado. A pobre ave tremia, amedrontada.
- Abra essa janela, filha. Ele precisa ir.
- Não quero, não quero! – gritou a menina.
A mãe então decidiu abri-la. Depois, segurou a filha, que em prantos, tentava impedir o pai de abandonar o pássaro.
Mas era tarde demais.
Assim que a janela se abriu, o pardal deixou as mãos do homem e voltou a voar livremente, contudo, um pouco atordoado.
Viu algo passar por ele, mas não pode desviar. O pássaro foi atingido na asa por uma pequena pedra, proveniente de um estilingue dos moleques que brincavam no parque.
- Eu peguei um! Eu peguei um! – vociferou um dos garotos.
- Deixe-me ver! – disse o outro.
Ambos aproximaram-se do pardal. Largado no gramado, piando inocentemente, a ave implorava por socorro. Estava ferida, sua asa direita sangrava.
- Olha o que você fez! – ralhou o garoto mais velho. – Havíamos combinando que só valiam pombas, não é mesmo? Você pegou um pardal. Pobre bichinho.
- Minha mãe pode cuidar dele.
- Pode?
- Ahã!
- Pobrezinho. – lamentou o menino, entregando o pássaro ao outro.
Uma moça, que até então lia num banco, fechou seu livro e acenou para eles.
- A tia tá te chamando.
- É melhor eu ir, então.
- Volta no sábado que vem?
- Sábado que vem, não. Vai lá em casa você!
- Tá bom.
O menino correu para sua mãe, com cautela para não machucar ainda mais a ave.
- Tchau tia! – acenou o mais velho, que ficou por lá mesmo.
- Mas, Josmar, você já tem muitos animais!
- Mãe, ele está doente, olha!
- Agora não posso ver nada, querido. Estou dirigindo.
- Coitado dele.
- Ninguém mandou atirar pedrinhas com seu estilingue.
- Mas ele quebrou a asinha. Você pode curá-la.
- Ah, Josmar... não sei!
- Vai, mãe! Por favor.
- Tá bem, tá bem! – ela deu uma rápida olhada para trás, aproveitando o sinal vermelho. – Cuidado com ele! Fica segurando ele, bem forte, até chegarmos.
- “Podexá”! Te amo, mãe!
***
Rosas, violetas e um beijo-flor a voar. Borboletas brincando na imensidão celeste e árvores brotando do campo. Tinha encontrado seu paraíso! Contudo, trancafiado numa gaiola, o pardal não podia desfrutar daquela linda paisagem interiorana.
Então fechou os olhos, chorou...
E só lhe restou sonhar...
"Dedicado a minha amiga e leitora mais assídua.
Dandra, este é para você! Obrigado por tudo!"
Acordou e descobriu que era a primeira vez que sonhava.
Ele gostou.
- O que foi, pardal? Parece até que viu passarinho azul! – disse o sabiá.
- Você já imaginou coisas enquanto dorme?
- Tu tá esquisito.
- Nunca?
- Eu não. Como é que os humanos os chamam, mesmo?
- Sonhos.
- Ah, é verdade! Quando estou empoleirado em suas janelas, no momento em que o sol nasce e os primeiros raios adentram seus quartos, gosto de vê-los sonhar. É divertido.
- E como é? – quis saber o pardal.
- Eles voam de verdade, como nós.
- Sério? Eu também voava enquanto sonhava?
- Não.
- Não?
- Claro que não! Pássaros não sonham. Tu tá mentindo.
- Voei ou não voei? – insistiu a ave.
- Ah, eu não sei! Não estava prestando atenção... Mas se você realmente sonhou, como é que ele era?
- Tinha um lindo campo, flores para todos os lados, borboletas perambulavam entre as árvores e um beija-flor voava à procura de alimento.
O sabiá o fitou com desdém e voou.
Mesmo assim, o pardal, ainda entusiasmado com o que lhe tinha acontecido, decidiu ir em busca de seu sonho. Estava farto daquele céu poluído, de todas as casas e arranha-céus e, principalmente, dos carros que faziam tanto barulho!
E assim iniciou sua jornada ao encontro do paraíso.
- Olha, mãe! Olha! Vem cá ver! – gritou a menina, ainda de pijama.
Os pais, que acordaram assustados, já estavam no quarto da filha querendo saber o motivo para toda aquela folia.
- Tem um pássaro no meu quarto! Pega, pega!
O pai olhou para cima, viu um pardal se debatendo no teto, desesperado.
- Xi, é verdade!
- Pobrezinho. – disse a mãe. – Vamos ajudá-lo a sair daí.
- Filha, abra a janela. – pediu o pai.
- Não quero.
- Como assim, não quer?
- Oras, eu mesma a fechei quando ele entrou. Quero o passarinho pra mim.
O pai e a mãe se entreolharam, emburrados.
- Vamos, papai, pega ele, vai! – implorava a filha, os olhos brilhando.
O pai subiu na cama da menina, fez uma concha com as mãos e pegou o pardal com muito cuidado. A pobre ave tremia, amedrontada.
- Abra essa janela, filha. Ele precisa ir.
- Não quero, não quero! – gritou a menina.
A mãe então decidiu abri-la. Depois, segurou a filha, que em prantos, tentava impedir o pai de abandonar o pássaro.
Mas era tarde demais.
Assim que a janela se abriu, o pardal deixou as mãos do homem e voltou a voar livremente, contudo, um pouco atordoado.
Viu algo passar por ele, mas não pode desviar. O pássaro foi atingido na asa por uma pequena pedra, proveniente de um estilingue dos moleques que brincavam no parque.
- Eu peguei um! Eu peguei um! – vociferou um dos garotos.
- Deixe-me ver! – disse o outro.
Ambos aproximaram-se do pardal. Largado no gramado, piando inocentemente, a ave implorava por socorro. Estava ferida, sua asa direita sangrava.
- Olha o que você fez! – ralhou o garoto mais velho. – Havíamos combinando que só valiam pombas, não é mesmo? Você pegou um pardal. Pobre bichinho.
- Minha mãe pode cuidar dele.
- Pode?
- Ahã!
- Pobrezinho. – lamentou o menino, entregando o pássaro ao outro.
Uma moça, que até então lia num banco, fechou seu livro e acenou para eles.
- A tia tá te chamando.
- É melhor eu ir, então.
- Volta no sábado que vem?
- Sábado que vem, não. Vai lá em casa você!
- Tá bom.
O menino correu para sua mãe, com cautela para não machucar ainda mais a ave.
- Tchau tia! – acenou o mais velho, que ficou por lá mesmo.
- Mas, Josmar, você já tem muitos animais!
- Mãe, ele está doente, olha!
- Agora não posso ver nada, querido. Estou dirigindo.
- Coitado dele.
- Ninguém mandou atirar pedrinhas com seu estilingue.
- Mas ele quebrou a asinha. Você pode curá-la.
- Ah, Josmar... não sei!
- Vai, mãe! Por favor.
- Tá bem, tá bem! – ela deu uma rápida olhada para trás, aproveitando o sinal vermelho. – Cuidado com ele! Fica segurando ele, bem forte, até chegarmos.
- “Podexá”! Te amo, mãe!
***
Rosas, violetas e um beijo-flor a voar. Borboletas brincando na imensidão celeste e árvores brotando do campo. Tinha encontrado seu paraíso! Contudo, trancafiado numa gaiola, o pardal não podia desfrutar daquela linda paisagem interiorana.
Então fechou os olhos, chorou...
E só lhe restou sonhar...
"Dedicado a minha amiga e leitora mais assídua.
Dandra, este é para você! Obrigado por tudo!"
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