Loki foi escoltado por um exército inteiro dentro dos corredores do porta-avião incrivelmente único da S.H.I.E.L.D.

A primeira pessoa a nos receber foi Hill que tentava controlar o sorriso toda vez que me encarava.

─ Posso voltar a chamá-la de agente Fury? ─ Maria perguntou para mim enquanto me acompanhava até ao salão principal ─ A propósito, roupa legal.

Revirei os olhos e deixei escapar um leve sorriso.

─ Onde o Nick está? ─ perguntei assim que entramos na sala de controle e nos direcionávamos para a sala que ficaríamos alocados para assistir ao primeiro interrogatório.

─ Ele já está com Loki.

Eu não sabia como conversar com Fury.

Muita coisa aconteceu desde nossa última conversa e eu não sei se estou preparada para encarar o homem. Apesar de seus pedidos de desculpas, eu ainda me sinto incerta sobre nossa relação e estou, ainda, tentando derrubar o muro que criei para impedir-me de sentir qualquer coisa em relação aos acontecimentos de dois meses atrás.

Quando chegamos a sala, mantive a maior distância que consegui de Steve. E isso fez com que eu quase me enfiasse em uma coluna alocada em na parede.

Uma aerotela surgiu no centro da mesa e começamos a assistir Nick caminhar em volta da cela em que Loki estava trancado. Era um espaço amplo, cilíndrico, revestido com uma parede incolor que permitia a visão de qualquer ângulo da cela.

─ Caso ainda não tenha ficado claro. Se tentar fugir. Até se arranhar o vidro... ─ Nick parou próximo ao que parecia a central de controle da cela e pressionou uma série de comandos na tela do computador. Um som forte surgiu do chão e revelou uma abertura onde a cela poderia passar perfeitamente. Ideia legal, Nick.

Loki pareceu totalmente intimidado pela possibilidade de cair quando se aproximou da parede para visualizar melhor o que se tratava aquilo.

─ É uma queda de 10 mil metros ─ Nick continuou a falar ─ Uma armadilha de aço. Entendeu como funciona? ─ ele fechou o duto e o som da ventania sessou. Apontou para Loki e disse: ─ Verme. ─ virou-se para a tela de controle e completou: ─ Bota.

Disposto a não se deixar abalar, Loki soltou uma risada fria e comentou:

─ É uma jaula impressionante. Creio eu que não tenha sido feita para mim.

─ Foi para uma coisa bem mais forte que você. ─ Nick rebateu.

─ Ouvi falar. ─ Loki olhou para a câmera de segurança e eu desviei o olhar brevemente para o doutor Bruce Banner que estava sentado a poucos metros de mim. A jaula era para ele. ─ Uma fera irracional. Que finje ainda ser homem. A que ponto chega o seu desespero, que precisa chamar criaturas perdidas para se defender. Até mesmo colocar a vida de sua filha em risco...

─ A que ponto chega meu desespero? ─ Nick indagou irônico ─ Você ameaça meu mundo com uma guerra. Você rouba uma força que não tem como controlar. Você cita minha família na tentativa de me intimidar. Você fala em paz e mata porque acha graça. Você me deixou muito desesperado. Você, talvez, se arrependa disso.

As feições de Loki mudaram para deboche quando ele resolveu rebater.

─ Ooh... Mas como dói em você ter chegado tão perto de ter o Tesseract. Ter poder. Ilimitado poder. E para quê? ─ ele sorriu, voltou-se para a câmera novamente só para dizer: ─ Uma luz para toda a humanidade compartilhar. E depois ser lembrado do que é o verdadeiro poder.

Nick sorriu, percebendo o joguinho de Loki e resolveu se afastar do monstro.

Talvez pelo desespero, pela angústia de ficar trancado lá dentro, Loki começou a gritar.

─ Deixe-me falar com ela! Deixe-me falar com ela e eu devolvo o Tesseract a vocês. ─ dito isso, Nick olhou de soslaio para a câmera e depois para Loki.

─ Não. Você não vai nos entregar o Tesseract assim tão fácil.

─ Eu entregaria para ela. ─ Loki murmurou ─ Eu entregaria tudo para ela.

De quem ele está falando, afinal?

Acho que a proposta passou pela cabeça de Nick, pois ele ficou parado durante um tempo.

─ Me avise se o verdadeiro poder quiser uma revista ou alguma coisa. ─ ele voltou a andar e se afastar da jaula.

─ Ignis! ─ ouvi Loki gritar antes que a imagem a nossa frente fosse encerrada.

Era a segunda vez que eu ouvira aquela palavra.

A primeira vez que ouvi, pensei que fosse apenas um fragmento de algum idioma alienígena, mas agora que ouvi Loki gritá-lo, percebo que a palavra soa como um nome. Quem era essa tal de Ignis?

─ Ei, grandão. O que significa isso? ─ perguntei a Thor. ─ Igmis.. Ingis

─ Ignis. ─ Thor corrigiu e me encarou sério ─ Eu... não sei dizer ao certo o que significa. ─ e desviou o olhar.

─ Ele é cativante, não é? ─ o doutor Bruce comentou.

─ O Loki vai prolongar isso. ─ Steve também voltou a falar ─ Então... Thor. O que ele pretende?

─ Ele tem um exército. Os Chitauris. ─ Thor contou ─ Não são de Asgard ou de nenhum mundo conhecido. ─ ele começou a caminhar para perto de mim, mas hesitou quando percebeu que eu o encarava ─ Quer liderá-los contra o seu povo. Eles lhe darão a Terra. Creio que em troca pelo Tesseract.

─ Um exército. ─ Steve pareceu dizer apenas para confirmar ─ Do espaço.

─ Ele está construindo outro portal. ─ o Doutor Bruce estava brincando com óculos enquanto falava ─ Por isso precisa de Eric Selvic.

─ Selvic? ─ Thor perguntou um pouco surpreso.

─ Ele é um astrofísico. ─ explicou Bruce.

─ É um amigo. ─ Thor revelou deixando transparecer a mágoa de ter recebido a notícia.

─ Loki usou seu brinquedinho para capturar Eric Selvic e outro agente da S.H.I.E.L.D.. ─ eu me meti na conversa.

─ Ele os enfeitiçou de alguma maneira. ─ confirmou Romanoff.

─ Por que ele se deixou ser capturado? ─ Steve resolveu perguntar ─ Não vai liderar as tropas daqui.

─ Não devemos nos concentrar no Loki. O cérebro dele é como um saco de gatos. Aquele cara é maluco. ─ assim que Bruce falou, eu deixei escapar uma risada.

─ Cuidado como falam. Loki está além da compreensão, mas ainda é de Asgard e ainda meu irmão. ─ Thor ameaçou.

─ Ele matou 80 pessoas em dois dias. ─ Romanoff rebateu.

─ E está tentando dominar um planeta inteiro utilizando um exército alienígena. ─ completei.

─ É que... Ele é adotado. ─ um pouco envergonhado com as revelações, Thor se afastou uns passos da mesa.

─ Eu acho que tem que ver com a mecânica. ─ Bruce começou com seu papo de nerd. ─ Iridio! Pra quê eles precisam do Iridio?

─ É um agente estabilizador. ─ Stark surgiu acompanhado de Coulson no lugar. Murmurou alguma coisa sobre Portland para Phil antes de se aproximar toalmente.

─ Com o Iridio ele pode estabilizar o portal. ─ continuei o pensamento de Stark.

─ E não vai permitir que ele se desfaça como aconteceu na S.H.I.E.L.D. ─ completou Stark, concordando com nossos pensamentos. Aproximou-se de Thor ─ que preciso dizer era quase o dobro do tamanho dele ─ e deu dois tapinhas de leve em seu braço ─ Não fica chateado comigo não, até que você bate bem. ─ afastou-se em direção ao computador que estava disposto a sala e voltou a falar: ─ Continuando. O portal pode ficar aberto o tempo que Loki quiser. ─ ele começou a gesticular com a mão enquanto passeava em volta do computador e a falar ─ Ergam o mastro. Icem as velas. ─ falou para os agentes que estavam controlando o porta-avião na sala de controle mais a frente. Depois de entregar um agente que jogava Gallagant, resolveu colocar a mão sob um olho e tentar dar uma olhada nos computadores ─ Como é que Fury vê isso? ─ perguntou para Hill que estava a postos e examinando atentamente cada movimento de Stark.

─ Ele se vira. ─ ela rebateu.

─ Que canseira. ─ ele bufou e voltou a fuxicar nas coisas de Fury. Uma pessoa que não conhece bem Tony, pensaria que ele estava simplesmente agindo de forma normal, mas eu sabia muito bem o que era aquilo. Ele estava atuando. Voltou a falar sobre o portal de Loki: ─ O resto do material bruto o agente Barton pode conseguir facilmente. O último componente principal que ele ainda precisa é uma energia de alta intensidade. ─ em um movimento rápido e preciso, ele colou abaixo da mesa do computador um rastreador. Eu sabia! ─ Alguma coisa pra... dar partida no cubo.

─ Quando foi que virou perito em astrofísica termonuclear? ─ Hill indagou.

─ Ontem a noite. Eu e Lilly tivemos um momento especial com o pacote. As anotações do Selvic. ─ ele explicou enquanto caminhava para perto de mim e passava um braço em volta de meu ombro ─ A teoria de extração... ─ percebendo que ninguém sabia do que ele falava, ele ficou abismado ─ Mas só eu que li aquilo? ─ pigarreei e ele se corrigiu ─ E a Lilly, claro.

─ O Loki precisa de alguma energia específica? ─ Steve resolveu perguntar.

─ Ele teria que aquecer o cubo há Cento e vinte milhões Kelvin só para atravessar a barreira de pulon. ─ doutor Banner comentou.

Stark soltou um suspiro de alívio e voltou a se mover. Dessa vez para perto do doutor Banner.

─ A não ser, que o doutor Selvic tivesse descoberto como estabilizar o efeito túnel quântico. Coisa que a Lilly andou investigando hoje pela manhã. ─ concordou Stark.

─ Assim ele obteria a fusão de íons transados em qualquer reator do planeta. ─ Bruce e Stark pareciam estar com a mente conectada naquele segundo.

─ Finalmente! Alguém além da minha assistente pessoal que fala a minha língua. ─ Stark e Banner se cumprimentaram enquanto Steve perguntou, atônito e de forma irônica:

─ Foi isso que aconteceu?

─ Eu sou um grande fã seu. ─ Stark falava para Bruce. ─ Adoro quando perde o controle e se transforma num monstro verde e e furioso.

─ Obrigado. ─ Bruce suspirou e ficou um pouco sem jeito com o elogio de Tony.

─ O doutor Banner só está aqui para rastrear o cubo. ─ e novamente Fury brota em nossa presença. De onde será que esse cara veio? ─ Esperava que você se juntasse a ele.

─ Eu começaria pela lança. ─ Steve opinou ─ Pode ser mágica, mas o funcionamento lembra muito as armas da HYDRA.

─ Isso eu não sei. ─ Fury se intrometeu ─ Mas ela recebe energia do cubo. E eu quero saber como o Loki transformou dois dos homens mais inteligentes que eu conheci em macacos voadores.

─ Macacos? Eu não entendi. ─ Thor estava com a testa franzida

─ Eu sim! ─ Steve apontou para Thor contente. Percebendo que todo mundo o encarou surpreso, ele abaixou a mão e arrumou a postura na cadeira ─ Eu entendi a referência.

─ Quer começar o show? ─ Stark perguntou ao Bruce que logo concordou.

Assim que o clima de silêncio se instalou na sala, resolvi que era hora para uma conversa com o diretor da S.H.I.E.L.D.

─ Diretor Fury. ─ chamei-o e ele me olhou um pouco surpreso ─ Posso conversar com o senhor?

É. Quando eu quero, posso ser uma boa menina.

Andamos lado a lado por um corredor até que paramos em frente a uma janela disposta no fim de nosso caminho.

─ Antes que você fale qualquer coisa, preciso fazer uma pergunta. ─ ele informou.

─ Tudo bem.

─ O que exatamente você estava disposta a fazer quando decidiu cortar seu cabelo? ─ ele apontou para mim e sorriu levemente.

Aquelas palavras acabaram me roubando um sorriso.

Como era fácil perdoar este homem.

Eu sorri porque sabia que aquela era uma tentativa de tornar o clima da conversa mais agradável. Essa era uma das poucas vezes que eu presenciei Nick Fury tentar tornar alguma coisa entre nós agradável.

─ Você gostou? ─ passei a mão automaticamente sobre a franja e desci até as pontas no ombro.

─ Vou me limitar a dizer que por um momento pensei que você era um homem.

Meu sorriso tornou-se uma risada.

─ Ah, por favor! Nem ficou tão curto assim. ─ rebati.

─ Não... ─ ele riu também e depois suspirou ─ Agora é sério. Você ficou muito bonita assim.

─ Obrigada ─ sorri timidamente e resolvi que era hora de conversar ─ Acho que precisamos conversar sobre muitas coisas agora, mas como estamos correndo contra o tempo eu quero ser breve. ─ ele endireitou a postura e esperou que eu continuasse ─ Perdoo você. ─ não sabia que as palavras iam sair tão de pressa, então ambos precisamos de um minuto para nos recompor desse meu ato humano ─ Eu poderia jogar na sua cara uma série de coisas que me fez passar durante os anos, mas eu preciso pedir desculpas por algumas coisas também, então... Eu sinto muito por não ter facilitado as coisas pra você. Sei que não deve ser fácil criar uma criança comum, quem dirá uma meta humana. ─ sorri fraco ─ Eu sinto muito por não ter respeitado o legado que você construíra para mim, sinto muito por ser uma das pessoas mais anti-sociais que esse mundo já viu, sinto muito por ter fugido de casa e, principalmente, sinto muito por ter desapontado você inúmeras vezes na tentativa de fazer as coisas do meu jeito.

Ficamos um minuto em silêncio e então ele soltou um suspiro.

─ Se... eu abraçar você agora vai parecer muito estranho? ─ ele indagou.

─ Hã... Vai. ─ dei um passo para trás antes que ele tentasse algo ─ Deixe para me abraçar quando não tivermos um maníaco tentando destruir nosso mundo. ─ pisquei para ele.

─ O problema é que temos sempre um maníaco tentando destruir nosso mundo. ─ ele agarrou meu ombro e puxou-me para o mais perto que pode dele, logo enlaçou-me com seus braços e deixou escapar uma risada quando soltei um suspiro de surpresa.

Minha nossa! Eu estou mesmo sendo abraçada por Fury?