Blue Horizon A Luz da Liberdade escrita por Gislane Brito


Capítulo 24
Cap. 24 – Planeta Azul


Notas iniciais do capítulo

http://www.youtube.com/watch?v=2NDZ0_o4tCY

Depois que se conhece a vida no espaço, não se consegue mais criar raízes...
Este é o fim da saga da família Braca!... Ou seria só o começo?!




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/611719/chapter/24

Apesar de minhas súplicas para que nos acompanhassem a Terra; Karla, Tarnyn e Chiana decidiram ficar em Moya e continuar dando apoio à busca por refugiados de guerra.

Após o envio da mensagem avisando sobre nossa chegada, cruzamos o horizonte de eventos. Nossos filhos nos informaram que a governo do Brasil havia autorizado sua partida para Houston, nos Estados Unidos. Eu sabia que enquanto os cientistas estivessem tentando desvendar todos os segredos da nave luxan capitaneada por D’Argo, nós teríamos que ficar 20 longos e tediosos dias cumprindo o período de quarentena na Blue Horizon. Mas, para mim, não foram dias tão tediosos... Um pouco ansiosos, mas não tediosos! Eu logo estaria respirando o ar da Terra... Um ar meio poluído, mas o ar poluído de meu mundo natal, o mundo de meus pais! E que saudade eu tinha deles...

Então para matar o tempo, me concentrei na revisão de minhas pesquisas sobre as formas de vida do planeta Serenitat e John traduziu seus cálculos de física quântica e mecânica dos wormholes para termos terrestres. Duas coisas me preocupavam: E se estes cálculos fossem usados por algum supervilão do futuro da Terra para criar armas? E se o tédio e a inatividade enlouquecessem os nossos cônjuges sebacians?

— John, você vai mesmo entregar estes cálculos de “mão beijada” para estes cientistas almofadinhas da IASA? Para mim estes seus garranchos ainda se parecem com hieróglifos, mas para aqueles caras, talvez façam algum sentido!

— Mary, há muito tempo deixei de ser ingênuo! Estes cálculos são superficiais... Nunca poderiam ser usados para criar uma superarma do apocalipse. E você não tem medo que suas pesquisas sobre as belas criaturas serenitatianas provoquem uma onda de turistas americanos para o seu planeta adotivo!

— Só se os dentes afiados e o veneno mortal do Fartula, que mata em 10 minutos exercerem algum tipo de fascínio estranho sobre eles... Eu ainda não me preocuparia que este tipo de turismo! _John...

— Sim...

— Você está ouvindo um tic-tac?

— Tic-Tac?! Que tic-tac?!?

— Acho que é a bomba relógio dentro da cabeça dos sebacians! Ela vai explodir a qualquer momento!

— Agora que você mencionou, Aeryn está com uma cara de dar medo!

— Micky, que finge melhor que Aeryn, também já dá sinais de que algo vai muito mal na cabecinha “alien” dele...

— Por que você diz isso? Ele parece ser o homem mais equilibrado da nave!

— Diga isso para os meus dedos!...

— Ahm?...

— Quando ele está estressado ou entediado ele morde os meus dedos enquanto dorme!

— Uh!... Isto deve doer... Noranti trouxe algumas daquelas ervas milagrosas! Por que você não pede alguma coisa para aliviar esta ansiedade toda?

— Já fiz isso, mas as mordidas continuam... O que você sugere?

— Eu tenho algumas ideias!... Quer ouvi-las?

— John... Não é nenhuma daquelas suas fantasias pervertidas, é?!

— Doutora Storm, você faz muito mau juízo de mim! Eu ia falar de filmes, livros, música, jogos...

— Micky já assistiu a todos os filmes de ficção científica que conheço! Alguns apenas o deixaram mais nervoso. Ele diz que todos os humanos veem os alienígenas como ameaça por causa deste tipo de filme!

— Ele não assistiu a E.T.?!

— Ele achou este filme... Nas palavras dele: “Ofensivo e ridículo!” Então, chega de filmes por enquanto! Será que somos tão nerds que nem conseguimos ser criativos quando o assunto é “tentar impedir o suicídio de seu cônjuge deprimido”?

— Em caso de emergência, sempre haverá a “fantasia pervertida”!

Depois de dar alguns tapas no ombro do meu amigo, também rimos muito das bobagens que falamos.

— E os meninos? O que será que eles têm aprontado?

— Não sei quase nada sobre o comportamento de D’Argo quando ele está longe dos pais, mas minha Cam é uma moça muito ajuizada! Na última conversa que tive com ela, disse que a agenda estava lotada de entrevistas, exames médicos e todo tipo de evento social... Não acho que eles tenham tempo para se divertirem como jovens comuns...

— Ajuizada?! Sei...

— O que você quis dizer com isso, Senhor Crichton?

— Nada não! Eu sinto muita falta dos garotos... E de meu pai!

— Não vejo a hora de pegar a minha princesa no colo e me deitar no colinho de minha mãe... A falta que sinto delas até dói! Também sinto falta da doçura de D’Argo...

John me abraçou e beijou o alto de minha cabeça!

— Eu sei, Mary! Agora vá descansar... Faltam só cinco dias para o fim da quarentena e ainda não terminamos nossos relatórios! Você sabe como são os cientistas chatos da IASA?

— Se sei! Te vejo amanhã, John...

Quando cheguei em nosso alojamento, Micky já estava dormindo e não acordou nem quando desabei na cama por causa do cansaço. Parece que o remédio que Noranti finalmente havia feito efeito. Eu o beijei na testa, respirei fundo e fechei meus olhos.

Acordei na manhã seguinte sem conseguir me lembrar de nenhum sonho... Sinal que eu também havia dormido muito bem e estava pronta para mais um dia longo de pesquisa e luta contra um perigoso inimigo, o tédio! Olhei para Micky e ele ainda estava em sono profundo e mal se mexeu quando mordi o seu dedo indicador...

— Bom dia, marido!...

— Você acaba de morder meu dedo! Por quê?

— Eu estava conduzindo um experimento científico! Como se sente?

— Eu estou acordado e o dedo dói!

— Conclusão: Agora você sabe como eu me sinto quando acordo com dedos mordidos...

— Sinto muito por isso... Vou tentar compensá-la de alguma maneira!

— E, falando em compensação!... Enquanto ele tentava me “compensar” atacando o meu pescoço com uma sequencia de beijos-surpresa, ouvi a voz de Cam pelo intercomunicador:

“Estamos interrompendo alguma coisa, pessoal?”

— Cam... Hoje você e D’Argo não tinham uma entrevista em Oxford?

“A entrevista foi adiada!”

— Onde você está, querida? Micky perguntou...

— Estou bem aqui...

Ela entrou no alojamento e saltou em nossa cama como fazia quando era criança!

— Cam!!! Como conseguiu entrar na nave? Ainda estamos em quarentena...

— Eu tenho os meus meios...

Eu a abracei e nem quis saber que meios seriam estes!

— Eu senti tanto sua falta, meu anjo! Como você está linda!... Quem te ensinou a usar maquiagem?

— É uma longa história, mamãe! Você cortou o cabelo... Como soube que estaria na moda aqui no Texas? Mas eu ainda prefiro o cabelo longo! Por que você o cortou assim?

— É uma outra longa história, querida!...

Ela então se virou para o pai e o abraçou longamente...

— Tive tanto medo de perdê-lo, papai! Que bom que a mamãe é teimosa e nunca desistiu de você!

— Ela não é teimosa... Ela é maravilhosa!... E você é minha luz da liberdade... Sua conexão com os leviatãs era tudo que ela precisava para me encontrar no fim das contas! Vocês duas são a razão para eu continuar a existir...

— Sempre inspirado, não é paisinho?! Eu amo vocês... Sei que vocês dois fariam o mesmo por mim!

— Também amo você, criança! Sua mãe e eu sempre vamos proteger você...

— Eu sei... Vocês pretendem ficar na cama namorando o dia inteiro? D’Argo está lá fora com nossos avós...

— Oh meu Deus? Sua avó está aqui?! Ela vai implicar com minha aparência... Tenho que dar um jeito nos cabelos e escolher uma roupa que não tenha couro!... Me levantei da cama apressada para pegar uma escova de cabelos e roupas civis mais tradicionais. _ Micky, vista-se... E, por favor, escolha uma roupa que não tenha sido pele de algum animal.

— Sim... Ela, o avô de D’Argo, Frank e o David! E por que tanto medo que ela veja vocês usando roupas de couro? Vocês sempre usaram roupas de couro!

— David? Que David?! Micky perguntou intrigado.

— Ele me disse que é amigo da mamãe há muitos anos, pai! A vovó me disse que eles eram muito próximos na juventude... David Franklin!

— Ah! Este David... E agora mais essa!...Resmunguei. _ Mas o que ele veio fazer aqui?!

— Sei lá! Acho que ele está cumprindo um antigo ritual humano: Quando surge a oportunidade, visitam amigos que não veem há muitos anos!

— Mary, por que você está tão nervosa?! E quão próximos você e este tal de Franklin eram?

— Depois de tantos anos do outro lado da galáxia, quero que minha família tenha uma boa impressão... Só isso! Ah! E o David é apenas um amigo que já foi meu namorado...

— Namorado?!

— Mamãe, você está linda! A vovó só quer ver a filha dela... Não se preocupe tanto com sua aparência! E o David parece ser um cara muito legal!... Você vai gostar muito de conhecer o tio Frank, pai do John!

— Estou pronta! Micky, eu te ajudo com esta camisa... Camilly, depois você vai me explicar direitinho como foi que conseguiu convencer as autoridades que a quarentena já podia ser suspensa!

— Mamãe, por favor, quer vir logo?! D’Argo está nos esperando...

Minha mãe estava em uma cadeira de rodas e apesar da aparência frágil ainda mantinha sua postura de autoridade e um sorriso de rainha. E eu só pensava em abraçá-la... E o choro não estava nos meus planos!

— Mãe...

— Minha querida, Mary! Depois de todos estes anos longe no espaço, você ainda não aprendeu a segurar as lágrimas quando se emociona?!

— É verdade... Eu nunca serei tão forte quanto a senhora! E o papai?!

— Ele se foi, querida! Há três anos atrás... Mas sempre acreditou que você estava bem e feliz e que, um dia, voltaria para casa! Ele deixou uma carta para você. Está aqui neste pendrive!

Eu segurei o pendrive e chorei, ainda mais, deitada em seu colo sem acreditar que não veria mais o meu pai!

— Meu amor! Não se culpe... Seu pai estava muito feliz quando partiu! Todos os dias ele ouvia trechos de sua transmissão e ficava imaginando como seria a aparência de minha neta... Pena que ele não teve tempo para conhecer Camilly, esta menina linda e tão especial! Você não vai me apresentar o pai dela?!

Enxuguei minhas lágrimas, respirei fundo para me recompor e me levantei! Depois que minha respiração voltou ao normal, chamei Micky que estava conversando com o homem que John abraçava pelos ombros. Ele veio andando em nossa direção, todo empertigado:

— Mãe, este é seu genro, Miklo Braca...

Ela se virou para ele e estendeu a mão:

— É um prazer conhecê-lo, Miklo! Você e Mary me deram o maior presente que uma velha pode desejar: Uma neta amorosa e dedicada em fazer o bem!

— A honra é toda minha, Senhora Storm! Sua filha e neta são as pessoas mais importantes de minha vida. Toda a galáxia tem uma dívida com a senhora...

— Como assim “uma dívida”?!

— Se a senhora não tivesse permitido que sua filha se tornasse astronauta, nós não teríamos tido a ajuda dela no combate aos inimigos da liberdade em nossos mundos e eu não a teria conhecido...

— Micky, não exagere, por favor! Minha mãe vai pensar que eu sou um tipo de super-heroína interplanetária, sei lá!... Não fiz mais que minha obrigação como membro da resistência e mãe de família!

— Eu sempre acreditei que você faria grandes coisas em sua vida, minha querida! Você é irritantemente modesta, Mary... Sempre foi!

— Mãe! Fique sabendo que quem salvou a galáxia foi meu amigo John Crichton e meu marido! Agora vamos parar com esta rasgação de seda, está bem?!

— Miklo... Você é tem certeza que é mesmo de outro planeta?! Não parece diferente de nós...

— Na verdade, eu sou bem diferente dos humanos, senhora... E eu nem nasci em um planeta! Nasci em uma nave em órbita de um planeta recém anexado aos domínios dos pacificadores...

— Interessante!... Minha filha que era uma cientista cética quando decidiu seguir carreira como astrobiologa e astronauta nunca sonhou que um dia se casaria com um alienígena.

— Mãe!!! Gritei, meio indignada!

— Estou não estou dizendo nenhuma mentira, Mary! Me lembro da época que você namorava o almofadinha do David!

— Eu ouvi isto, Senhora Storm! Olá, você deve ser o famoso marido alienígena de Mary! Capitão Miklo Braca... Meu nome é David Franklin, sou amigo de sua esposa, Mary! Ela deve ter falado de mim...

David chegou de surpresa atrás de nós, deu seu melhor sorriso e estendeu a mão para Micky que demorou um pouco para retribuir o gesto.

— Na verdade ela nunca falou de você, Senhor Franklin! Mas o senhor tem um rosto familiar...

— Micky, você deve se lembrar dele das fotos em meu tablet... É muito bom vê-lo, David! Você não mudou nada, hein?!...

— Sim... Agora me lembro! Eu vi seu rosto em uma foto junto aos pais de Mary... Ah! Eu sinto muito pela perda de seu pai, Mary!...

— Obrigada, amor! John... Você não vai me apresentar a seu pai?! Gritei...

Esta atitude eu tomei pensando ser o melhor jeito para fugir de um momento constrangedor...

— Claro, irmãzinha! Pai, esta é minha grande amiga, a Doutora Mary Storm, esposa de Braca... A mulher que ajudou a salvar a vida de todos na galáxia!

— Você também vai começar com esta história, John?! É um grande prazer conhecê-lo Senhor Crichton... O senhor é que é um herói para todos os astronautas da Terra! John, você já conhece minha mãe, Scarllet Storm.

— É um grande prazer conhecê-la, Senhora Storm! Sua filha é um “osso duro de roer”!

— John!!! Gritei em mais um momento de indignação forçada.

— Doutora Storm, soube que meu neto, D’Argo e sua filha Camilly, foram convidados para discursar na comissão de Diplomacia interplanetária da ONU! Tenho certeza que vocês estão tão orgulhosos quanto eu...

— Eu não sabia disso! Você sabia disso, John?!

— D’Argo só me disse agora! Parece até brincadeira... Nossos filhos fazendo discurso para líderes do mundo inteiro! Meninos venham aqui!...

— Sim, pai! Tia Mary... Capitão! Que bom ver vocês...

D’Argo estava muito bem vestido e parecia muito feliz! Eu o abracei e beijei seu rosto me sentido realmente muito feliz com suas recentes conquistas... Micky também o abraçou, meio sem jeito...

— D’Argo... Você e Cam deram um novo sentido as palavras “Sucesso relâmpago”! Como foi que vocês alcançaram tanta notoriedade em tão pouco tempo?

— Na verdade, nós só conversamos sobre o futuro da exploração espacial agora que a humanidade já sabe sobre os outros mundos habitados... Tivemos que ajudar acalmar os ânimos de alguns paranoicos, mas no final, parece que a humanidade está superando o choque inicial dos “Primeiros Contados”... O fato de Camilly e eu sermos humanos-alienígenas deve ter ajudado!

— É... Parece mesmo que os humanos estão se acostumando com os alienígenas!... Mas não sei se os alienígenas vão se acostumar com todo este assédio da mídia dos humanos!... Olhem só para aquilo...

Rygel, Zohram, o jovem luxan cujo nome ainda não eu consegui decorar, entraram correndo na Blue Horizon para fugir de um bando de paparazzi.

Até a Aeryn que estava ao lado de John e parecia um pouco aborrecida com tudo aquilo, sorriu quando viu a cena cômica!

Rygel veio até nós, ofegante e pediu “asilo temporário”.

— Este planeta está cheio de loucos! Um pobre hynerian nem pode comprar um pouco de comida gordurosa e cheia de açúcar em paz?!

Zohram desmentiu a versão dramática de Rygel:

— Os humanos só estão curiosos, Rygel! Mas você insiste em pedir comida de graça nos restaurantes... E eu tenho certeza que você não tinha a intenção de pagar pelo que comia... Encher seus cinco estômagos de guloseimas às vezes é uma tarefa quase impossível!

— Realmente, um hynerian de apetite descontrolado é uma atração e tanto para este pessoal! Podemos ficar em sua nave, até esta turba desistir de tentar de nos fotografar, Mary? Disse o luxan parecendo meio assustado.

— Claro que vocês podem ficar, rapazes! Mas terão que esperar muito tempo... Paparazzi costumam ser bem persistentes. É muito bom ver você de novo, Zohram, meu amigo! E você também Rygel...

— É... Que bom que vocês sobreviveram à guerra... Eu não sou o monstro que vocês pensam que eu sou... É bom vê-lo também, Braca!

— Como vai, Rygel?!

— Muito bem, Braca ... Não se iluda! A fama muitas vezes é superestimada!

Zohram nos abraçou e depois foi ao encontro de sua grande amiga, Noranti que estava acenando como uma criança para os jornalistas...

— Noranti é a mais despreocupada entre todos os extraterrestres...

— Esta nunca se preocupa com nada, Mary! Este é o seu encanto...

Depois de cumprir todo o protocolo para astronautas que passam muito tempo longe da Terra e os exames de rotina nos alienígenas. As autoridades nos permitiram uma “liberdade vigiada”. Mas o governo alugou uma bela casa para Rygel, Noranti, Rygel e os outros alienígenas.

Camilly arrastou a mim e ao pai para uma longa tarde de compras e salão de beleza. Meus pés tiveram que se readaptar ao uso dos torturantes sapatos de salto alto e Micky ao uso de gravata. Quando o vendedor tentou colocar a estranha peça de vestuário masculino pela primeira vez em meu marido, ele pensou que o rapaz estava tentando matá-lo e o imobilizou sobre o balcão da loja! Corri para salvar a vida do jovem que pensava que MIcky era só mais um estrangeiro selvagem.

— Calma Micky, o moço só está querendo ajudá-lo com a gravata...

— tjdjajgdjfn grundrat!

— O que foi que ele disse? Disse o rapaz apavorado.

— Ele pede desculpas pelo mal entendido, rapaz! No “país” dele, gravatas não estão na moda como você pode notar... Pode deixar que eu dou um jeito neste terrível nó!

— Me desculpe, senhor! Não tive a intenção de assustá-lo! O senhor é grego por acaso?

O rapaz assustado não podia entender o que Micky dizia, pois os microtradutores foram injetados em poucas pessoas de nosso circulo profissional e pessoal.

— Está tudo bem!... Ele é de um país ainda mais distante! Vamos ficar com estas três camisas, as calças e aqueles sapatos que, pelo menos, ele não odiou!

— E aí, pais?! Como foram as compras? Camilly chegou mais animada que de costume.

Fora o momento que seu pai quase quebrou o braço de um pobre vendedor só porque ele apertou um pouco demais o nó da gravata, foi tudo muito bem!

— Pai... O senhor está um gato!

— Espero que isto seja um elogio, filha! Mas o que tem de errado em minhas outras roupas?

— Não tem nada de errado com suas roupas, Micky! Você está mesmo um gato, amor! Eu pensei que com estes roupas você não chamasse muita atenção, mas pelos olhares daquelas moças ali, meu plano não deu muito certo!

— Elas parecem ser perigosas para vocês? Não vi nenhuma atitude hostil da parte delas!

— Se elas continuarem a olhá-lo desse jeito, eu vou ter que mostrar o que é uma “atitude hostil” para elas, pai!

— Calma, filha... Não vale a pena! Faça o que eu fizer e, sorria... Disse, rindo da crise de ciúmes filial de Cam.

Paguei as compras, agradecemos aos vendedores e saímos da loja de mãos dadas sem olhar para trás.

Depois de toda agitação dos primeiros dias em terra firme, resolvemos aceitar o convite de minha mãe para passar a semana no rancho da família às margens do lago Tule ao norte da Califórnia. Os Crichtons nos acompanharam para a felicidade de Camilly.

Minha mãe também estava transbordando de felicidade... Ela até me pediu para levá-la para o espaço para visitar os anéis de Saturno!

Depois de muita insistência, John conseguiu convencer Micky a ir pescar. Ele demonstrou suas incríveis habilidades com o arco e flecha quase acertando uma pobre águia por engano.

— As águias não estão mais na lista de animais em extinção, John! Mas isso não é motivo para você sair flechando as coitadinhas! Gritei para ele enquanto tomava sol com Aeryn, Cam e minha mãe.

— Muito engraçado, Mary! Vamos Braca... Vou ensiná-lo como pegar trutas com a vara de pescar! Vamos deixar o arco e flecha para outra ocasião. D’Argo!... Vá pegar as iscas! Elas estão no porta-malas do carro...

— Pai, eu pego as iscas, mas não posso ir pescar com vocês! Prometi a Cam que iríamos sair para observar a vida selvagem!

— Filho, você vai perder a oportunidade de curtir uma tarde de pescaria com seu velho pai?!

— Não faça drama, pai! Eu prometo que vou pescar com o senhor e o tio Micky amanhã!

— Está bem... Amanhã!

Camilly se despediu de mim, da avó e de Aeryn com beijinhos no rosto, levantou mais rápido que um raio da cadeira de praia e foi com D’Argo para a reserva!

— Não vamos demorar, vovó! Deixe um pouco do assado para nós, ok?!

— Pode deixar, querida! Pode ir passear com seu namorado...

— D’Argo, leve minha arma de pulso! Se um urso aparecer atire nele... Disse a precavida super mãe, Aeryn.

— Aeryn, você não está sugerindo que o seu filho mate animais inocentes, não é? Você trouxe armas de pulso para nosso passeio? Eu não acredito... Eu disse fingindo indignação!

— Mary, sua amiga está apenas sendo cuidadosa... Os ursos daqui às vezes ficam meio mal humorados nesta época do ano! Todo cuidado é pouco, Aeryn!

— Mãe!!! Eu repreendi minha mãe que se divertia as minhas custas.

— D’Argo, ajuste para tonteio... Gritou Aeryn!

Ao anoitecer, John e Micky voltaram com apenas um peixe... Que mais tarde, John admitiu ter sido Micky que havia conseguido pescar, e D’Argo e Cam voltaram exaustos, sujos de terra e felizes do passeio à reserva!

Sentamos a mesa de jantar, mas apenas os humanos conversavam! Os sebacians e as crianças apenas comiam e sorriam de vez em quando. Quando eu me preparava para tirar a mesa, D’Argo se levantou, pigarreou e nos surpreendeu com um pedido:

— Capitão Braca, Tia Mary, será que vocês podem esperar um pouco?

— O que foi, D’Argo?

— Eu... Ahm... Sei que vocês sabem o quanto amo a Cam!

— Vocês sempre foram muito ligados, querido! Sei que vocês se amam... Onde você está querendo chegar, D’Argo?

— É que... Eu gostaria de pedir a mão de Camilly em casamento!

Micky se engasgou com a água que estava tomando e tossiu... Tossiu quase até perder o fôlego!

— Casamento?! Mas vocês são muito jovens para casar!

— Já temos 31 e 20 anos terrestres, Tia Mary...

Micky ainda estava tossindo e eu tentei ajudá-lo oferecendo um pouco mais de água!

— Nossa!... Isto foi meio inesperado! É isso mesmo que você querem, meninos?!

— Sim, mamãe! Papai! Eu tenho a permissão de vocês? E vocês, Tio John e Tia Aeryn?

— Eu sempre te considerei uma filha, Cam! Para mim, será uma honra tê-la como nora! Disse Aeryn, a abraçando.

— Este é meu filho!... Parabéns, garoto... Disse John levantando o filho do chão com um abraço.

— Mas filha, e sua carreira como diplomata? Um compromisso como o casamento pode atrapalhar sua formação! Disse Micky, quando finalmente parou de tossir...

— Isto nunca te impediu de nada, papai! Eu nunca vou deixar de ser sua filha... Não se preocupe...

Micky beijou o alto da cabeça de Cam, suspirou e respondeu:

— Está bem... Eu dou minha permissão! Mas só se vocês manterem as frequências de comunicação sempre abertas!

— Nós prometemos, papai! Não é, D’Argo?!

— Ahm... É claro! Sempre abertas...

Minha mãe buscou o seu melhor vinho para comemorarmos o noivado e no dia seguinte viajamos para Washington.

Nossos filhos estavam noivos e eu começava a me sentir como uma senhora aposentada... E isto me incomodava!

Assistimos ao discurso de Camilly sobre os desafios da diplomacia interplanetária e o orgulho que senti dela, amenizou meu saudosismo por Serenitat.

Gravei algumas de suas frases no fundo de meu coração:

“Os cientistas me disseram que eu não sou humana como minha mãe e nem sebacian como meu pai... Meu noivo e eu somos, provavelmente os primeiros de uma nova espécie!

Uma espécie ainda sem nome...

No início fiquei assustada, mas depois, imaginei que isto seria uma vantagem! Não precisaremos lidar com os terríveis rótulos, somos raros! Queremos nos aproveitar desta raridade para anunciar a todos os povos da Terra e dos mundos que conhecemos e aqueles que ainda iremos conhecer, que podemos superar os medos e desconfianças e vivermos em harmonia.

As diferenças não devem ser pretexto para desentendimentos, elas devem ser motivações para o aprendizado e a evolução!

A Terra não será visitada por seres agressivos pelo menos pelos próximos 60 anos. Sei que vocês estarão preparados quando este momento chegar! Mas, se até lá, se todos não se dedicarem em acabar com os conflitos que ainda matam milhões todos os anos e os problemas ambientais que têm potencial para extinguir com a vida humana, vocês estarão em sério perigo. Hoje temos tecnologia para acabar com a fome e muitas doenças... O que ainda falta é a vontade política para fazer a coisa certa... Mas, vocês têm o poder, o poder de mudar sua história! Não esperem que outros tomem o seu destino nas mãos... Façam vocês a coisa certa!

Nossos filhos estavam prontos... Apesar de nunca admitirmos, eles não precisavam mais de nossa proteção ou supervisão! Depois de quatro meses na Terra, eu já me sentia fora de contexto... Meu planeta começou a me parecer estranho e até hostil! Mas, ainda era o meu planeta... Me preocupava com ele e minha família também! O wormhole estava inacessível para os scarrans e seus aliados! Mas até quando?

Nós sabíamos que o Conselho da Federação iria precisar de toda ajuda possível para deter a expansão do império Scarran na galáxia já que não existiam mais os Pacificadores para manter o equilíbrio de poder. Se os nossos inimigos voltarem ao poder, nada os impediria de tentar conquistar o resto da Via Láctea.

Tive que me despedir de minha mãe e de minha vida na Terra mais uma vez e voltei para o espaço e para Serenitat com minha família onde nós seríamos muito mais úteis... Os dons de D’Argo e Camilly permitiram que os seres orgânicos do espaço se tornassem a maior força de paz que já existiu. Mas a paz duradoura ainda demoraria a ser consolidada... Tínhamos que lutar contra o medo e contra as incertezas todos os dias! A esperança veio quando a sabedoria dos eidelons se revelou em seus verdadeiros herdeiros!

Anos mais tarde, D’Argo e Camilly se tornaram líderes da Federação dos Planetas e guiaram a galáxia para uma era de paz e justiça.

Mas esta já é uma outra história!...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Por favor, leitores... Criem suas contas no Nyah para poder comentar as Fic.
Preciso que vocês me deem algum retorno!

Espero que vocês tenham gostado...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Blue Horizon A Luz da Liberdade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.