Tris

Como é possível uma pessoa que pra mim é desconhecida ser capaz de despertar tantos sentimentos?

Ele me desconcertou com um olhar, me fez sentir um desequilíbrio emocional enorme só com seu toque e pra piorar me beijou, me fazendo questionar até quem eu sou de verdade!

Tris! Ele me chamou de Tris! Como ele pode não me conhecer se ele sabe o meu apelido, a maneira carinhosa como meus amigos me chamam?

Eu queria entender o que esta acontecendo com a minha vida, por que parece que eu não sei mais nada sobre mim mesma.

Logo depois do beijo eu o deixei para trás, incapaz de compreender ou de me lembrar de qualquer coisa, fugi. Peguei um táxi na frente do evento e fui para o meu apartamento. Tirei o vestido e o joguei longe, junto com o cheiro embriagador que ele deixou em mim. Tomei um banho e me deitei, mas não dormi, não consegui, ao invés disso fiquei repassando na minha cabeça minhas últimas lembranças e os últimos acontecimentos da festa, mas não consegui me lembrar de nada, forcei minha mente o máximo que eu pude, mas não consegui.

Depois de muito tempo eu adormeci, em meio ao meu choro desesperado.

No dia seguinte me tranquei em casa, não saí e nem atendi o meu celular, que tocou praticamente o dia inteiro, Edward e Ellen me ligaram insistentemente.

No inicio da noite alguém tocou a campainha e como o porteiro não interfonou eu desconfiei que fosse o Edward. Abri a porta e era ele mesmo.

–Beatrice! O que aconteceu com você? – Suspirei e dei passagem para ele entrar.

–Não aconteceu nada Ed, só me senti mal e vim embora.

–Você se sentiu mal? Você devia ter me avisado e eu te traria em casa, você sumiu no seu próprio coquetel de lançamento.

–Tecnicamente era do Sr. Eaton e da Essence! – Ele levantou a sobrancelha pelo meu tom irônico.

–Eu fiquei preocupado, ninguém viu você e você deveria ter encerrado a noite.

–Desculpe Ed, mas eu não estava mesmo me sentindo bem – Ele fez uma pausa e suspirou.

–O que aconteceu?

–Nada – Abaixei o olhar para olhar meus pés.

–Certeza? Você saiu do nada.

–Não foi nada Ed, só me senti meio tonta com tantas fotos e tanta gente querendo entrevista – Menti.

–Bea, eu sei que você não esta acostumada com isso, mas agora essa é sua vida, mesmo que você não queira mais fazer fotos as pessoas vão se lembrar de você e vão te associar ao Sweet Poison. E sinceramente, eu acho que você deve seguir carreira, você se saiu muito bem no seu primeiro trabalho pra quem nunca fotografou.

–Ed, podemos falar disso outra hora? Eu não estou bem ainda, minha cabeça esta explodindo.

–Tudo bem – Ele disse e se aproximou, ficando bem na minha frente – Se precisar é só ligar – Ele terminou me dando um beijo demorado no rosto. Fiquei imóvel esperando ele se afastar.

Depois que Edward saiu eu me joguei no sofá e fiquei pensando no que eu ia fazer e por onde eu ia começar para recuperar minha vida, mesmo sem me lembrar de nada. Lembrei que aquele rapaz, o Tobias, me disse que é meu marido e que temos uma filha, se isso é verdade eu não posso esperar mais, tenho que resolver isso. Recuperar minha vida, ver minha filha!

Uma filha. Eu disse pra mim mesma, sorrindo.

Passei o fim de semana planejando meus próximos passos e na segunda cedo não fui para a agência, avisei Edward que precisava resolver uns problemas urgentes, ele não gostou muito, mas aquela altura eu nem me importei, eu ia descobrir tudo sobre meus 3 anos perdidos dentro da minha cabeça.

Fui até Stanford procurar a universidade. Assim que cheguei lá fui até a reitoria e me apresentei, e era como eu esperava, eu estava mesmo matriculada lá. Expliquei tudo que aconteceu comigo e eles me pediram para voltar às aulas o mais rápido possível, pois eu já tinha perdido muita aula. O problema é que sem memória como eu poderia acompanhar a turma? Cogitei trancar meu curso, mas depois achei melhor tentar estudar e recuperar as matérias, mesmo que fosse muita coisa isso poderia me ajudar a lembrar, se eu visse que não conseguiria eu iria parar por um tempo, mas não queria desistir do meu sonho.

Quando saí da sala do reitor andei pelos corredores tentando me lembrar de alguma coisa. Se eu estava ali a mais de 1 ano, eu devo ter feito amigos. Nesse momento me lembrei que eu planejei vir para cá muitas vezes com a Chris, e se eu estava estudando ali era provável que ela também estivesse. Meu coração se encheu de esperança de rever minha amiga, um rosto familiar, alguém que me conhece tão bem e que poderia me dizer tudo que aconteceu.

Dei muitas voltas pela universidade, até que em um dos corredores eu vi uma movimentação enorme e quando me aproximei percebi que era o refeitório. Assim que entrei todos me olharam assustados. Olhei dentro do lugar e vi minha amiga, sentada em uma mesa do canto com Marlene e a moça do coquetel, Shauna. Chris deu um enorme sorriso e correu em minha direção.

–Tris! Amiga é você? – Ela me abraçou muito forte e começou a chorar e soluçar – Como eu senti sua falta – Ela se afastou para me olhar – Como você veio parar aqui, o que aconteceu com você? Achamos que você estava... – Ela fez uma pausa – Achamos que você estava morta!

–Morta? – Arregalei os olhos, não esperava por essa.

–Tris você foi dada como morta!

–Tris! – Marlene disse me abraçando – Você se lembra de mim?

–Claro Mar! – Abracei ela bem forte. Depois que me soltei do abraço de Marlene olhei a moça morena, Shauna, e ela estava com os olhos marejados me olhando e sorrindo.

–Você não se lembra mesmo de mim né? – Ela perguntou. Eu olhei para Chris e Marlene e elas me olharam de volta, confusas.

–Eu... Eu não me lembro, eu não sei o que aconteceu comigo, minha última memória é de quando minha mãe morreu – Chris e Marlene me olharam chocadas.

–Tris, como assim? – Elas me puxaram para sentar a mesa com elas

–Eu não me lembro Chris – Coloquei as mãos na cabeça – Eu acordei caída em um barranco, no meio do mato, subi o barranco com muita dificuldade e quando cheguei ao topo eu estava no meio da estrada, entre Stanford e São Francisco – Elas ficaram com os olhos ainda mais arregalados.

–E como você saiu de lá? Onde você esteve esses três meses?

–Um rapaz parou o carro e me levou pra São Francisco, uma amiga dele que é médica me abrigou e ele me deu trabalho na agência de publicidade dele e com isso eu aluguei um apartamento até poder voltar para Chicago e procurar meu pai.

–Mas você não lembra de nada, nem da Sophia?

–Sophia? – Parei por um instante – Quem é Sophia?

–É sua filha Tris! – Filha, a filha que Tobias me falou.

–Não lembro – Comecei a chorar, como eu poderia ter esquecido minha filha?

–Calma Tris... Nós vamos te explicar tudo – Disse Christina – Mas não aqui, venha.

Ela me puxou para fora do refeitório, longe dos olhares curiosos. Chegamos ao lado de fora e nos sentamos no gramado. Chris começou a falar da morte da minha mãe, de tudo que aconteceu, ela me disse coisas que eu lembrava, depois ela me contou sobre meus problemas em casa, com meu pai e sobre a nova namorada dele. Sobre Caleb, disse que ele esta morando aqui, que ele veio para cuidar de mim. Shauna me contou como nos conhecemos na escola e depois falou da viagem de formatura, onde eu conheci Tobias e os amigos dele que agora são meus amigos também.

Cada acontecimento entrou na minha cabeça, mas nada me parecia familiar, nem ninguém. Ela me contou toda minha história com o Tobias e eu me surpreendi com tudo que aconteceu em tão pouco tempo e comecei a entender o porquê eu senti tanta atração por ele, por tudo que ela dizia, eu devia ter amado muito ele, mas agora eu nem sequer me lembrava dele.

Ela me contou sobre a minha filha, minha gestação, meu acidente na escada e como eu sumi, que eu fui sequestrada pelo primo do Tobias que era obcecado por mim. Eu ouvi tudo e quanto mais ela falava, mais eu queria ver minha filha, conhece-la de novo.

–Chris, eu quero ver Caleb e minha filha!

–Nós vamos Tris, eu vou te levar ao apartamento do Caleb, depois te levo para ver a Sophia.

Chris, Shauna, Marlene e eu seguimos até o estacionamento e depois Chris me levou dirigindo pelas ruas de Stanford, não muito longe da universidade ela parou em um prédio.

–É aqui que mora Caleb!

Descemos do carro e entramos no prédio, eu estava muito ansiosa para ver meu irmão. Quando ele abriu a porta eu vi um Caleb mais velho, um rosto mais maduro, mas os mesmos olhos verdes brilhantes, meu irmão querido! Ele me olhou surpreso e emocionado depois me abraçou, me tirando do chão.

–Beatrice! – Foi só o que ele disse por longos segundos, enquanto me abraçava.

–Caleb, que saudade meu irmão.

–Eu também – Ele me colocou no chão novamente e me olhou – Por onde esteve? Você foi dada como morta, encontraram os seus documentos no local do acidente.

Entrei no apartamento e contei a ele toda a história de que me lembrava. Ele ficou surpreso, mas me ouviu atentamente, depois falou que nosso pai também ficou muito arrasado, que todos sofreram muito com a minha “morte”.

Caleb fez questão de me acompanhar para ver minha filha. Quando chegamos em frente a uma casa muito bonita, nós descemos do carro e seguimos juntos até a porta, meu coração martelava dentro do peito, ansiosa para conhece-la.

A porta da casa se abriu e uma moça alta e loira estava nos olhando, sua expressão não era muito boa e Christina torceu a boca. A moça me encarou e depois olhou para Caleb. Ela me pareceu familiar.

–Onde esta o Tobias? – Perguntou Christina entrando na casa, sem nem esperar que a moça desse algum espaço ou a convidasse para entrar.

–Ele não esta, ainda não chegou da faculdade – Ela disse.

–E onde esta Sophia? – Perguntou Caleb.

–Ela esta dormindo – Christina foi subindo as escadas e a moça a chamou – Espere, deixe a menina dormir, atrapalha o sono dela, Tobias não avisou que vocês viriam.

–E desde quando eu preciso ser anunciada garota? Se enxerga! – Disse Christina. Estava claro que ela e Chris não se davam bem.

–E quem é essa? – Perguntou a moça olhando para mim.

–Não que te interesse, mas ela é a mãe da Sophia! – Chris falou e a moça arregalou os olhos.

–Maaas... Ela não estava... Morta?

–Eu ainda não conheço nenhum morto que voltou a vida, então você pode concluir que ela não morreu, já que esta aqui!

–Preciso ligar para o Tobias.

–Tobias? Já não é mais Sr. Eaton? – Chris aumentou o tom de voz e fez uma cara de interrogação, o que me deixou confusa.

–Faça como quiser, mas eu vou subir – Agora eu que disse, estava impaciente com aquela discussão.

Eu deixei todos para trás e tomei a frente na escada, Chris veio logo atrás de mim e me mostrou a porta do quarto que eu deveria entrar. Respirei fundo e abri a porta. Vi um quarto muito lindo, lilás, e tinha um berço branco com um mosqueteiro que vinha do teto e o cobria inteiro, quando me aproximei avistei um rostinho rosado e olhinhos azuis que me encontraram. Tão linda minha pequenininha, ela balançava as mãozinhas e os pezinhos e sorria fazendo barulhinhos. Eu a peguei no colo, senti seu cheirinho e acusei minha mente, me odiando por ter me feito esquecer aquele anjo. Eu senti toda conexão possível com ela a abraçando e a beijando com todo meu amor.

Olhei para a porta e Caleb estava me olhando com a Chris e a moça que quis me impedir de entrar nos olhava com os braços cruzados, séria.

Em seguida Tobias entrou no quarto igual um furação e tirou a minha filha dos meus braços tão rápido que eu não conseguiria evitar sem machuca-la, e eu jamais faria isso.

–O que você esta fazendo Tobias? – Gritou Christina.