Tris

Minha cabeça dói, meu corpo dói.

Estou caída em um lugar deserto e cheio de mato. Me levanto e tento andar, mas acho que torci o pé, não tenho muitas forças, então me sento de novo. Ouço barulho de carros, vozes, mas estou muito longe para ser ouvida.

Com muito esforço e dor consigo me arrastar pelo barranco a minha frente, não consigo fazer isso com tanta rapidez quanto gostaria, e quando chego ao topo as vozes pararam, não vejo ninguém, só carros passando apressados.

Não consigo andar, então me sento na beira da estrada, até que um carro para, um rapaz desce e me oferece ajuda.

–Você esta bem? – Ele perguntou se agachando ao meu lado.

–Acho que torci o pé – Respondi.

–Como você fez isso? Como veio parar aqui?

–Não sei, acordei caída lá em baixo - Apontei o barranco.

–Você sofreu algum acidente? – Não consegui responder com certeza, minha cabeça doía e eu não conseguia me lembrar do que aconteceu.

–Não sei.

–Venha, vou te levar a um hospital.

Ele me ajudou a entrar no carro e me levou a um hospital, mas eu não quis entrar, só queria saber o que tinha acontecido comigo, mas não me lembrava de nada, então o rapaz me levou até a casa de uma amiga dele que é médica, para que ela me examinasse. Quando chegamos uma moça bonita com olhos puxados abriu na porta.

–Tori, preciso que me ajude, encontrei ela na estrada entre Stanford e São Francisco, ela esta machucada e não se lembra do que aconteceu.

–Entrem – Ela disse – O que você esta sentindo? – Perguntou para mim.

–Dor na minha cabeça e no tornozelo.

–Venha – Ela me levou até um quarto e me deitou em uma cama – Você esta com o tornozelo inchado, vou buscar gelo.

A moça saiu e voltou algum tempo depois com um saco de gelo. Depois me pediu que descansasse e saiu do quarto. Logo senti meu corpo pesar e o sono me conduzir ao inconsciente.

Quando acordei percebi que já estava escuro. Me levantei e quando cheguei a sala a moça que me acolheu estava conversando com alguém ao telefone. Ela me viu chegar e desligou a chamada.

–Você esta se sentindo melhor? - Ela perguntou.

–Mais ou menos – Respondo – Estou sentindo dores ainda e estou bastante confusa.

–Você não se lembra de nada mesmo?

–Não....

–Se lembra do seu nome? – Pensei um pouco.

–Do meu nome eu lembro, me chamo Beatrice.

–Que bom que se lembra seu nome, é sinal de que sua perda de memória pode ser temporária, mas você precisa ir ao médico, fazer uns exames para ter certeza que esta tudo bem, posso te levar no hospital que eu trabalho. Aliás, meu nome é Tori – Ela terminou estendendo a mão para mim.

–Muito prazer Tori e obrigada por tudo.

–Por nada, eu separei umas roupas para você vestir, você pode ir tomar um banho enquanto eu preparo alguma coisa pra você comer – Ela me estendeu umas roupas e nesse momento que eu reparei que eu estava usando uma calça jeans e uma blusinha toda suja e um pouco rasgada.

–Obrigada – Respondi seguindo em direção ao banheiro.

Tomei um banho e me senti um pouco melhor fisicamente, meu tornozelo ainda doía, mas já consigo andar melhor, o que me incomoda é não me lembrar de nada, nem de como eu fui parar naquela estrada e nem da minha vida de antes. Só me lembro de estar no velório da minha mãe e de chorar muito. Não sei onde esta Caleb e meu pai. Será que sofremos algum acidente?

Quando cheguei a sala eu vi a mesa de jantar cheia de coisas, Tori estava sentada me esperando.

–Esta com uma carinha bem melhor – Ela disse – Sente-se e coma um pouco, daqui a pouco o Edward vai chegar, ele esta bastante preocupado com você.

–Edward?

–Sim, meu amigo que te trouxe hoje cedo.

–Ahh, eu não sabia ainda o nome dele.

–Ele é um cara muito gente boa, é irmão do meu ex, mas mantivemos a nossa amizade mesmo depois que eu terminei com o irmão dele.

Quando ela terminou de falar a campainha tocou e Tori se levantou para abrir, quando ela voltou para a sala o rapaz que me ajudou estava vindo logo atrás.

–Olá, você esta se sentindo melhor? – Ele perguntou. Só agora o olhei melhor, ele é alto, tem pele clara, cabelos loiros e olhos azuis. Ele é bonito, tem um corpo bonito num todo.

–Sim, muito obrigada por tudo.

–Você se lembrou de alguma coisa?

–Ainda não, eu só me lembro de ter voltado para casa depois do enterro da minha mãe.

–Ahh, sinto muito. Qual é o seu nome?

–Beatrice! – Respondi e ele sorriu.

–Lindo nome Beatrice, o meu é Edward. Eu gostaria de levar você ao hospital que a Tori trabalha, para que você faça alguns exames.

–Tudo bem, obrigada por tudo, não queria atrapalhar.

–Não se preocupe, eu conversei com a Tori e você pode ficar aqui mais alguns dias para ver se você se lembra de mais alguma coisa.

–Obrigada – Respondi olhando para ele e depois olhei para Tori.

–Você acha que se lembra onde sua família mora?

–Não sei, acho que sim.

–Eu te encontrei na estrada, eles moram em São Francisco mesmo?

–Não! Eu moro em Chicago com meu pai e meu irmão.

–Chicago? Você esta em São Francisco, você sabe né?

–Em São Francisco? – Perguntei levando as mãos a cabeça, não consigo me lembrar de nada.

–Ela esta confusa ainda Ed, melhor deixar ela se recuperar, vamos ao hospital para ver se esta tudo bem, depois conversamos sobre isso – Disse Tori e Edward assentiu.

Tori nos levou até o hospital onde ela trabalha e eu fiz vários exames. Ela e outro médico analisaram minhas radiografias e me disseram que fora o tornozelo torcido, provavelmente eu bati a cabeça e por isso perdi a memória, mas eles acreditam que aos poucos eu vou me recuperar. Depois de algum tempo no hospital, nós voltamos para a casa de Tori.

–Beatrice como você não se lembra de muita coisa o ideal é você ficar aqui comigo, até que sua memória comece a voltar – Disse Tori – Tente não sair de casa quando eu não estiver, para você não se perder ta bom?

–Tudo bem, e obrigada mais uma vez Tori.

–Eu posso te fazer companhia se você quiser, meu horário de trabalho é mais flexível, eu sou dono de uma agência de publicidade – Disse Edward – Você pode ficar lá quando quiser, assim você se distrai.

Gostei da ideia, eu sempre quis estudar publicidade.

–Quantos anos você tem Beatrice? – Perguntou Tori e eu pensei um pouco antes de responder.

–Em que ano estamos? Minha última memória é de quando minha mãe morreu.

–Estamos em fevereiro de 2015.

–Então já fazem 3 anos... – Pensei – Eu já fiz 18 anos.

–Não se preocupe, você vai se lembrar de tudo com o tempo – Ela disse, parecendo perceber meu desespero em me lembrar de tudo. Eu apenas sorri um pouco e assenti coma cabeça.

–Acho que seria bom você descansar agora – Edward disse – Posso vir te buscar amanhã para você ir comigo na agência?

–Sim – Respondi um pouco tímida.

–Ok, vou indo pra casa, Tori qualquer coisa me ligue – Ele disse se despedindo – Boa noite – Ele disse quando parou na porta e se virou para mim.

Tori se despediu e eu subi fui para o quarto de hóspedes que Tori deixou pronto para mim.

No dia seguinte acordei e encontrei um bilhete de Tori, no bilhete ela dava algumas instruções sobre o prédio e deixava o telefone do hospital e do celular, caso eu precisasse. Ela havia deixado o café da manhã pronto antes de sair para trabalhar, ela e Edward estavam sendo tão bons comigo, não sabia nem como agradecer. Terminei de tomar café e logo a campainha tocou, era Edward.

–Bom dia! – Ele disse assim que abri a porta.

–Bom dia.

–Esta pronta?

–Sim!

–Vamos então.

Segui Edward até o estacionamento e depois ele me levou na agência dele, era tudo muito perfeito, fiquei encantada, sempre foi meu sonho ter uma agência assim, conversamos muito sobre isso e eu percebi que ele gostou de saber que esse era o meu sonho. Ele me convidou para trabalhar ali com ele até que eu recuperasse a memória, eu achei ótimo, assim eu não daria tanto trabalho para Tori, ajudaria nas despesas de casa e talvez pudesse alugar um canto para mim, não sabia quanto tempo levaria até minha memória voltar e eu não queria ser um peso para ela.

Passei o dia na agência e depois Edward me levou de volta ao apartamento. Tori estava jantando quando cheguei, logo que tomei um banho eu desci para comer com ela e depois conversamos um pouco.

–Beatrice, eu sei que não nos conhecemos muito bem, mas conheço o Edward, ele esta interessado em você, ele é um cara maravilhoso, só queria pedir que se você não se interessou também para você tomar cuidado agora que vocês trabalharam juntos, para não magoá-lo– Disse Tori e eu fiquei assimilando tudo o que ela disse. Eu não estava interessada nele, só me sinto grata e acredito que possa haver uma amizade grande entre nós. Só isso, não o vi de outra forma.

–Não se preocupe Tori, eu estou grata pela ajuda que ele e você estão me dando, mas não me interessei por ele, terei cuidado – Respondi.

Eu não sei, mas eu tive quase certeza que ela é quem estava interessada nele, até pude perceber um ar de ciúmes quando ela falou, mas eu não sou uma concorrente e se ela se sente assim é mais um motivo para eu tentar acertar minha vida e sair dali.