Chihiro to Sen no Kamikakushi escrita por Delvith


Capítulo 16
Dente de Leão




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Pode não parecer, mas chorar cansa muito. Mesmo para uma pessoa acostumada a fazer isso regularmente, como Sen. Então, a noite de sono após desabar aos pés da estrutura de Yubaba foi longa e restauradora. Sentia-se mais forte.

Decidiu ir ao quarto de Haku antes de iniciar suas atividades naquele dia. Como de costume, bateu antes de entrar no recinto, mesmo que geralmente não obtivesse resposta – ele estava sempre dormindo ou fraco demais para mandá-la entrar. Então, Sen não ficou surpresa ao encontrar o rapaz em um sono profundo.

Sua febre não estava alta, mas se fazia presente. A garota umedeceu uma toalha limpa e trocou a da testa dele, fez uma pequena faxina no quarto, arrumou os lençóis e afofou o travesseiro. Ali, ao lado do rapaz, a nova força que conseguiu se esvaía e ela se sentia imponente. Algumas ervas do jardim eram misturadas e serviam de remédio, mas fora isso não havia muito o que fazer.

“Queria poder ajudá-lo...”

Pegou a mão de Haku e a segurou entre as suas. Sua pele estava quente e um pouco áspera, talvez por conta da desidratação. Sen não podia deixar de estranhar a enfermidade do rapaz. Ele era um homem forte e dotado de magia, sem contar que doenças não eram comuns naquele mundo. Olhando-o tão fraco, pensava se aquilo tudo não seria culpa de alguém. E, se fosse, ela tinha suas suspeitas de quem poderia ser.

Faria todo o sentido se o Senhor estivesse roubando a magia de Haku. Como ele fazia isso ela não tinha como saber. Mas estaria Haku doente por ter sua magia roubada ou alguma coisa aconteceu? Se estava tendo a magia roubada todo esse tempo, por que só foi adoecer agora? A doença estaria atrapalhando o Senhor de roubar e por isso ele tem estado tão irritado?

Lembrou-se da vez em que o jovem adoecera por conta do feitiço guardião de Zeniba. A criatura estava protegendo o selo roubado, lutando contra Haku. Talvez houvesse algo dentro dele lutando contra o Senhor.

Sentindo o calor da mão do rapaz, uma memória sobre plantas e ervas começou a surgir. No mundo mortal, lembrava-se de ter ouvido sobre alguma erva que afastava o mal e talvez ela fosse útil para Haku, caso a jovem conseguisse se recordar completamente. Levantou-se e se dirigiu ao jardim para tentar refrescar a memória.

Sua mente estava em um turbilhão mais agressivo que o normal. Por mais que tivesse sua energia renovada, a situação mudou drasticamente com a sua descoberta da noite anterior. Não poderia simplesmente liberar Yubaba do dia para a noite sem saber o que aconteceria depois. Depois que a bruxa estivesse livre, tudo aconteceria muito rápido, disso ela tinha certeza.

Dessa vez, pela primeira em todo esse tempo, ela realmente precisava de um plano. Não podia seguir tapando buracos e apagando incêndios com pequenos e breves planejamentos. Se não pudesse traçar efetivamente um plano, deveria minimamente ter uma visão estratégica sobre o que poderia acontecer e o que ela poderia fazer sobre isso. Precisava se preparar.

Ao chegar no jardim, revirou todas as plantas e simplesmente não conseguia se lembrar qual era aquela que procurava. Então, sentou-se no chão e fechou os olhos, relaxando. Começou a repassar suas memórias relacionadas ao assunto. Via sua mãe, professores e amigos falando sobre diversas flores, árvores e ervas diversas.

—  Droga, isso não está funcionando. Preciso de algo que ajude Haku...

Ao falar essas palavras, veio o clique e as imagens se formaram perfeitamente em sua mente. Foram essas as exatas palavras que pensou no momento que ouviu falar sobre arruda, uma planta medicinal muito útil para fazer remédios para dores, mas que também é utilizada para espantar pessoas e espíritos invejosos e indesejados de sua casa, limpando o ambiente. Era perfeita!

Correu até a área do jardim onde nasciam os pés de arruda e colheu um pouco. Olhando para a planta, refletiu e pegou um pouco mais. “Espantar pessoas e espíritos” não estava nem próximo de torná-la invisível, mas era um começo.

Caminhando de volta para o quarto do rapaz, Sen sentiu o leve aroma de alecrim. Ela já havia testado aquela erva em sua pesquisa anterior, mas só serviu para mascarar o seu cheiro. Não tinha mais cheiro de humana, então não descartou por achar que não havia muito benefício. Entretanto, sentindo-se esperançosa e renovada com a descoberta da arruda, decidiu colher um pouco e experimentar a combinação das duas. Não seria útil para Haku, mas talvez fosse para ela.

Para Haku, colheu um pouco de hortelã e passou na cozinha para pegar gengibre. Esse é o remédio que Sen costuma dar a ele – não tenho muito conhecimento medicinal, seguiu com o básico. Sua mãe sempre lhe dava chá de gengibre com hortelã quando tinha febre, pois dizia que juntos eles melhoravam a transpiração e circulação, o que ajudava na febre.

Deu o remédio do rapaz e deixou um ramo de arruda em seu peito, para protegê-lo. Também passou um pouco de sua mistura de alecrim e arruda em si, para testar o efeito. A diferença, como esperava, não era tão perceptível: se tentasse andar sem ser notada, acabava causando alguns sustos quando percebiam que ela estava ali, mas não era tão frequente e ela precisava se esforçar bastante. Ainda não estava completo, mas já era melhor do que o efeito puro do alecrim.

Seguiu o dia realizando tarefas e resolveu ir para o andar abandonado antes de seu horário habitual. Gostava de ir à noite, quando as sombras eram maiores e havia menor movimentação na Casa de Banhos. Naquele dia, porém, decidiu ir mais cedo porque já havia terminado suas atividades e não pretendia efetivamente quebrar mais da magia que prendia Yubaba. Talvez observá-la ajudasse a ter uma visão mais ampla do que aconteceria dali em diante.

Mas seus planos não foram como o planejado naquele dia.

Quando estava entrando no andar abandonado, sentiu uma presença estranha e decidiu entrar com cautela, tomando cuidado para não ser notada. Entrou na grande sala e percebeu movimentação, com alguns homens altos revistando a outra extremidade, próximo de onde estava a bruxa. A distância entre uma ponta e outra do que agora era mais um salão do que uma sala era enorme, então Sen continuou prosseguindo o mais silenciosamente possível.

Quando chegou perto, percebeu que um dos homens era aquele que viu conversando com o Senhor sobre Yubaba alguns dias antes, que havia assumido a responsabilidade de impedir a bruxa de continuar atrapalhando os planos de seu chefe.

Estando bem próxima e percebendo que eles não falavam nada – apenas reviravam e observavam, como se para conferir se algo estava errado, Sen decidiu se revelar. Caso fosse notada, estaria em apuros por entrar sem avisar.

— Com licença, desculpe atrapalhá-los. Eu vim para continuar a limpeza.

Tentava manter a calma, mas sentia seu suor escorrendo pela nuca. O que eles estavam fazendo ali? Teriam descoberto alguma coisa? Antes de ir embora, a garota sempre lançava um feitiço ilusório para que a estrutura de Yubaba não parecesse diferente, apenas de garantia. Gostaria de respirar aliviada sabendo disso, mas não conseguia. Sua magia não era muito forte, então talvez alguém mais poderoso pudesse ver através dela. Além disso, se mudassem a localização de Yubaba, seria difícil achá-la novamente.

— Quando foi que você chegou aqui?! – gritou o homem que liderava a expedição, o único dali que ela já conhecia por conta do quase encontro anterior.

— Desculpe, não quis assustá-lo. Acabei de chegar, senhor. Só vim limpar, como o Senhor me mandou fazer.

— Pois bem, as ordens mudaram. O Senhor acredita que você está demorando muito em uma tarefa básica como esta. A partir de hoje, você está proibida de vir a esse andar. Nós continuaremos o serviço. Está dispensada.

— Bem, então vou indo continuar minhas outras atividades. Obrigada e com licença.

Virou-se e partiu, mantendo a compostura até sair daquele andar. Quando encontrou um canto escuro e solitário na casa, apoiou as costas na parede e se deixou cair no chão. Seu coração estava acelerado e doía em seu peito. Tinha dificuldade de respirar.

Não entendia o que havia acontecido. Para falar a verdade, tudo era muito estranho desde o começo. Por que o Senhor a faria limpar logo a região onde Yubaba estava escondida? Essa pergunta já havia surgido em sua mente mais de uma vez, mas apenas ignorou. Talvez ele soubesse que Sen a acharia e queria brincar com a menina, ou esperava que ela fosse obedecer a ordem de não olhar além da área iluminada – afinal, era de fato impossível ver a estrutura sem prestar atenção. Estava no canto mais escuro da sala, coberta por um pano escuro e escondida por outros objetos grandes.

Seja qual fosse o motivo, por que a impediriam agora? A única explicação que a garota podia pensar é que havia sido descoberta, entretanto, duvidava que seguiria sem consequências se este fosse o caso. Não, ninguém sabia o que aconteceu.

A única explicação plausível é que moveriam Yubaba e fariam algo com ela. Se este fosse o caso, Sen precisaria libertá-la ainda naquele dia. Sabe-se lá aonde a esconderiam. E se a garota não fosse capaz de reencontrá-la? E se conseguisse, mas descobrisse que fortaleceram a magia e agora ela não era mais capaz de quebrá-la?

Quando conseguiu recuperar a calma, retornou ao jardim. Ver as flores a acalmava e poderia aproveitar para colher um pouco mais de arruda e alecrim. Não ter sido percebida no andar abandonado era um bom sinal, apesar de saber que ainda não era o suficiente.

Ficou algum tempo sentindo a leve brisa e o cheiro das plantas. Colheu e ficou observando os ramos de arruda e o alecrim em sua mão, sabendo que não havia mais nada naquele jardim para que pudesse completar a poção. Gostaria que Zeniba pudesse ajudá-la.

Quase como se tivesse seu chamado ouvido, um forte vento surgiu de repente. Ele envolveu a menina em espiral, arrancando as plantas de sua mão. Sen observou estas se misturando com algo que veio junto ao vento. Demorou um pouco até conseguir distinguir o que era: dente de leão. A corrente de ar estava cheia deles, voando de um lado para o outro, suas finas e delicadas pétalas se espalhando e fazendo Sen espirrar.

A confusão fria foi parando aos poucos e todos os elementos repousaram calmamente dentro do pote que a garota deixara no chão.

“Mas o que...?”

Sabia que a corrente de ar não veio por um acaso – afinal, estava em um mundo regido por magia, mesmo que estivesse enfraquecendo. Se os dentes de leão surgiram para ela, é porque precisaria deles.

Mas isso não significa que entendeu o que significava. Não tinha qualquer conhecimento sobre dentes de leão e não havia uma biblioteca ou qualquer fonte onde pudesse pesquisar para saber como aquilo lhe ajudaria.

Não tinha jeito. Teria que perguntar para Haku.


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Notas finais do capítulo

Oi de novo! Eu tenho zero conhecimentos sobre ervas e etc, então tive que pesquisar bastante para conseguir um resultado que minimamente fizesse sentido. Espero ter conseguido haha
Espero que tenham gostado do capítulo!



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