Chihiro to Sen no Kamikakushi escrita por Delvith


Capítulo 10
Segunda tentativa


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi, gente! Nossa, a semana voou! Estava crente que havia postado o capítulo tem uns dois dias, mas já se passaram sete! Como tudo fica estranho quando se está de férias hajsiej espero que gostem do capítulo ♥
Ah, para quem não sabe, ikebana é uma arte de arranjo floral :3



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Depois do ocorrido no jardim, Sen foi incapaz de interromper seus pensamentos. Durante todo o festival, estivera trabalhando com Haku e outras meninas para cuidar das plantas e explicar coisas sobre as flores quando os clientes demonstravam interesse. Haku fora muito mais amável com ela, o que fez a pequenina relaxar um pouco. Porém, aquela era sua única chance de recuperar Haku e não poderia desperdiça-la. E por única chance, quer-se dizer, realmente, única.

Quando chegara à casa, Haku estava curioso. Ele não sabia quem ela era e nem o por quê de ter sido enviada até ali como um presente.       O jovem já estava desejoso por respostas. Então, quando Sen começou a chorar no saguão, na frente de todos, as respostas se tornaram necessidade. A dor e angustia sentidas ao vê-la naquele estado não poderiam ser sem explicação. Portanto, havia decidido transformá-la em sua aprendiz.

A experiência, porém, não fora das melhores.

Haku não sabia, mas a jovem estava apresentando dificuldades em responder pelo antigo nome de serviço. Sempre que ele a chamava, ela demorava um pouco para reconhecer que ele estava falando com ela. Além disso, a menina era atrapalhada com atividades referentes a magia. Demorava para entende-las e tinha dificuldade para executá-las. O fato de a magia estar limitada também atrapalhava, pois a garota não podia utilizar o necessário para aprender. Quando se tem conhecimento, é fácil aumentar ou reduzir a quantidade de magia a ser usada, mas quem está em aprendizado não tem a capacidade de manipular mágica desse modo.

Assim, todo o tempo era gasto ensinando, não abrindo oportunidades para investigar. O rapaz ficava cada vez mais irritado e, como não chegava a lugar algum, menos de uma semana depois, designou Sen para as tarefas básicas.

Integrá-la nas atividades referentes ao jardim significava uma nova chance de trabalharem juntos, mas estava implícito que, se falhasse novamente, o rapaz não seria tão condescendente.

A garota estava desesperada. Não apenas a confiança de Haku estava em jogo, mas também a missão. As poucas lições que tivera com Haku já lhe permitiram ver o quanto o uso da magia estava prejudicado. Ela precisava agir rápido ou os deuses executariam seu plano e dominariam tudo. Em um mundo privado de sua magia, aqueles que a contém com certeza seriam os líderes.

Entretanto, Sen estava restrita em sua pesquisa. Ela não tinha acesso aos lugares mais importantes da casa de banhos e não tinha como interrogar os deuses. Seu único contato fora no momento que chegara, e sequer durou cinco minutos. Precisava descobrir um jeito de investigar de perto. Haku era sua melhor chance, já que a posição privilegiada do rapaz se mantivera ao longo dos anos. Portanto, se Sen conseguisse ser sua serviçal ou ajudante, poderia arranjar desculpas para segui-lo e investigar os andares superiores. Durante seu serviço de limpeza, quase conseguiu arranjar uma limpeza no andar do escritório,  mas outra menina pegou a tarefa.

Precisava ser eficiente, sem abertura para erros. Teria de se mostrar a melhor funcionária do lugar. Porém, Chihiro era uma jovem cheia de força de vontade e coragem, não Sen. Sen tinha medo de perder seus amigos para sempre, e a angustia e pesar a seguiam o tempo todo. Sen trazia consigo a instabilidade de Chihiro e o peso de ser Sen. Era um fardo grande demais para ela e não havia ninguém para ajuda-la. Haku não era mais uma opção quando quisesse buscar por conforto.

Sen balançou a cabeça com força. Amanhã seria seu primeiro dia no jardim. Ela precisava se desvencilhar de todos os pensamentos que atrapalhariam seu desempenho. Precisava ser concentrada, decidida, atenta e confiável. Mas isso tudo significava que precisava ser alguém completamente diferente do que era naquele exato momento. Não sabia se era capaz de realizar tal tarefa.

Percebeu que o desespero ameaçava consumi-la, então fechou os olhos e respirou fundo.

“Você consegue. Você consegue. Você consegue.”

Sua mãe a ensinara um ritual para momentos em que o desespero tomasse conta ou começasse a desacreditar em si mesma. Repetiria para si mesma “Você consegue” várias e várias vezes, até o coração, respiração e pensamentos estarem em calma ordem. Quando perdesse a conta de quantas vezes repetiu a primeira frase, a alteraria para “Eu consigo”. Era simples, mas efetivo. Você acredita, seu corpo acredita, seu cérebro acredita. No momento que todo o seu ser é capaz de acreditar, a tarefa fica mais fácil.

Depois de um número desconhecido de repetições de “Eu consigo”, Sen finalmente foi capaz de adormecer.

~✰~

Os primeiros raios de Sol tocaram as janelas do quarto de Sen como um despertador amigável, mas a jovem já estava acordada. Fora uma noite de sono tranquila, entretanto, o senso de obrigação a fez levantar-se muito cedo. Retirou seu pijama e começou a vestir sua roupa de jardinagem no momento que Haku adentrava o quarto. Por sorte, a enorme blusa já havia coberto todo o seu pequeno corpo antes do jovem registrar a inconveniência de sua presença.

Com um gesto que não refletia qualquer embaraço ou desconforto, Haku posicionou sua mão direita sobre seus olhos.

— Perdão, Sen. Não esperava que estivesse acordada tão cedo. O erro foi meu. Esperarei você  do lado de fora.

O jovem fez uma breve referência em respeito à menina. Enquanto se erguia, Sen afirmou estar quase pronta, então logo sairia. Com isso, Haku se retirou do quarto.

Por algum motivo, Sen não ficou embaraçada com a situação, fato que a deixou confusa. Normalmente, estaria morrendo de vergonha por Haku quase tê-la visto nua. Terminava de se arrumar e, sem explicação aparente, associou ao fato de já estar vestida e por não ter mais escrúpulos quanto ao seu corpo de criança. Se fosse o de adulta, porém, a história poderia ter sido diferente. Com dez anos, não havia nada a esconder. Seus seios ainda não haviam desenvolvido, seu corpo era frágil e franzino. Não havia nada com o que se preocupar.

Dado isso, sem vergonha ou hesitação, pegou seu equipamento e partiu para encontrar-se com Haku.

O rapaz encontrava-se encostado no peitoril da sacada, admirando a vista dos campos e da cidadezinha longe dos limites da casa de banhos. Seus cabelos, agora longos o suficiente para cobrir a área das escápulas, voavam singelamente com a leve brisa da manhã. Sen sempre se impressionava com o quanto a imagem construída ao longo desses anos era fiel  à original.

Percebendo a presença da jovem, Haku virou-se para ela. Esperou que fechasse a porta e seguiram juntos para os jardins.

— Você tem consciência de suas funções?

— A jardinagem, basicamente, trabalha em três setores: pomar, horta e o jardim. Nós não temos um pomar, mas é o setor com árvores frutíferas. Uma horta é o cultivo de legumes e hortaliças. O jardim é a parte para exibição, apreciação das plantas, natureza. Então existe a parte prática, fornecedora de alimento, e a parte estética, para lazer.

Haku parou por alguns segundos para conferir se Sen estava entendendo. A jovem acenou para que continuasse e assim o fez:

— Eu já percebi sua habilidade para a parte estética. Você sabe montar belos ikebanas e construir um ambiente agradável e prazeroso, então deixarei o jardim em suas mãos. Porém, acredito que não tenha conhecimento sobre hortas, estou correto?

— Está, mestre Haku.

— Imaginei. Eu lhe ensinarei tudo o que você precisa saber sobre isso. O jardim não requer muito trabalho, eu o rearranjo uma vez por semana apenas para deixar o ambiente mais diferente e dinâmico. Mas a horta precisa de atenção. Eu já estava tendo dificuldades para administrá-la sozinho.

Os dois chegaram à entrada do jardim. Haku abriu o portão e deu um passo para trás, dando espaço para Sen passar. A pequenina fez uma breve reverência em agradecimento e passou, parando um pouco adiante para espera-lo. Atravessaram o jardim e se dirigiram para a horta. Tal percurso foi feito em silêncio, momento tirado para observar e administrar as flores. O trabalho feito por Sen no festival foi, de fato, magnífico.

Quando chegaram à entrada da horta, Haku fez uma pausa.

— Entendo sua dificuldade com a magia e irei respeitá-la. Porém, peço que faça outra tentativa de aprender. Para um melhor aproveitamento, nós usamos mágica para fortalecer as hortaliças, tornando-as mais resistentes e evitando o uso de químicos. Você acha que consegue?

— Acredito que sim, mestre Haku.

— Ótimo. A magia utilizada aqui é de nível mais baixo, então talvez você a administre melhor.

Dado isso, Haku a guiou até um grupo de hortaliças e começou a ensinar tudo o que Sen precisava saber, na parte manual e mágica. O trabalho não era difícil, porém, haviam muitas etapas para serem cumpridas ao se cuidar de plantas. Pensando nessa possibilidade, Sen levou um bloquinho para fazer anotações, atitude aprovada por Haku.

Trabalharam ali durante algumas horas, tratando todos os legumes e hortaliças. Sen ficou impressionada com o volume de trabalho que Haku precisava cuidar, sendo que o jardim e a horta não eram suas únicas responsabilidades. O rapaz era simplesmente impressionante.

Quando finalmente terminaram, seguiram para o jardim para reorganizá-lo. Demorou alguns minutos para Sen tomar coragem, mas a garota, em dado momento, finalmente foi capaz de perguntar:

— Mestre Haku, sei que você só organiza o jardim uma vez por semana, mas posso trabalhar nele mais vezes?

Haku a olhou profundamente, e Sen pensou ter visto um lapso de admiração em seu olhar. Com um sorriso moderado, o jovem deu a permissão, fazendo com que Sen reverenciasse em agradecimento.

— Não precisa reverenciar tanto, Sen. Você é muito formal. Um agradecimento ou um aceno já bastam. — A pequena não sabia se aquilo era um conselho ou uma ordem, mas ficou feliz por Haku ter quebrado essa barreira entre eles.

— Entendo, mestre Haku. Obrigada.

Com isso, Sen continuou seu trabalho. Porém, Haku não se moveu. Ficou ali, sentado no banquinho do jardim, observando a jovem. Tal atitude a inquietava, ao mesmo tempo que trazia conforto. O rapaz confiava plenamente na habilidade dela, acreditando no potencial da jovem para fazer o trabalho todo sozinha.

“Estou conseguindo. Pouco a pouco, mas estou conseguindo. Ele parece bem mais o meu Haku agora...”

Seus pensamentos a embaraçaram. Desde quando referia-se a Haku como “seu” Haku? Seu rosto adquiriu um tom rosado bem puxado para o vermelho, e Sen só percebeu que havia parado quando Haku perguntou o que havia acontecido.

Não tendo desculpa melhor, Sen ficou ainda mais vermelha e respondeu ter espetado o dedo em um espinho de rosa. Quando ouviu Haku levantar-se, seu coração gelou. O rapaz parou atrás dela e pediu, gentilmente, que lhe desse a mão. O nervosismo fizera Sen, acidentalmente, apertar a rosa que segurava, então não era apenas um dedo ferido, mas toda a extensão de sua palma. Haku não conseguiu segurar a risada.

— Você é muito descuidada. — Apoiando delicadamente as costas da mão de Sen sobre sua mão esquerda, Haku tocou levemente as feridas com as pontas dos dedos da mão livre e proferiu um encantamento. As feridas desapareceram instantaneamente.

— Obrigada, mestre Haku.

— Não precisa agradecer. Tome mais cuidado da próxima vez.

Sen acenou em concordância e Haku lhe deu as costas, dirigindo-se ao banquinho. A menina se esforçou para controlar suas emoções, mas estava quase gritando por causa da alegria. Aquele era o contato mais íntimo que tivera com o jovem desde que chegara. Cada vez mais, sentia a distância diminuindo.

Perdida em seus pensamentos, os minutos se transformaram em horas e Sen terminou o serviço. Não havia percebido o quanto estava cansada até admirar seu trabalho e sentar, aliviada. Somente nesse momento percebeu a ausência de Haku. Com um dar de ombros, deitou-se no bando e cobriu os olhos com o braço, suspirando. Todas aquelas atividades eram mais exaustivas do que aparentavam.

— Sen!

A jovem sentou-se rapidamente, assustada com o som repentino da voz de Haku chamando-a. Ele riu e sentou ao seu lado, estendendo-lhe um embrulho. Confusa, a menina o pegou e abriu, revelando alguns bolinho de arroz.

— Imagino que esteja com fome. Você trabalhou muito hoje.

Sen estava prestes a afirmar não sentir fome, mas que apreciava o gesto, quando Haku continuou.

— Coma, vai recuperar suas forças.

A sensação de dejá vu veio como um soco no estômago. Atordoada demais para falar, Sen se prontificou a comer.

— Já que começou esse serviço hoje, pode tirar o resto do dia de folga. Descanse, reestabeleça-se e esteja pronta amanhã de manhã.

— Entendido. Obrigada, mestre Haku.

Haku dirigiu um olhar profundo a ela, um olhar cheio de interesse e divertimento.  Então, abandonou a postura rígida de sempre e sorriu para ela:

— Pode me chamar de Haku.


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Notas finais do capítulo

See you later, folks!



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