Assim que nos viu meu avô se encarregou de fazer as apresentações, e seguimos para sala de estar, Effie Mellark era sem duvida a pessoa mais animada no ambiente e ainda estava com o sorriso largo quando nos sentamos na sala de estar.

– Espero que apreciem vinho – meu avô sempre servia vinho, aos convidados era seu método sutil de fazer propaganda do vinhedo da família.

– Eu aprecio bastante – Effie respondeu enquanto pegava uma taça.

– Prefiro whisky até mesmo cerveja – Haymitch respondeu deixando meu avô surpreso, e a esposa ligeiramente sem graça, observei que Peeta negou gentilmente a bebida .

– Whisky uma bebida bem forte – meu avô comentou a contra gosto, eu sabia que mesmo que não tivesse sido intencional o comentário o ofendeu – E não tenho habito de apreciar bebidas como cerveja – provavelmente ele nunca tinha cogitado a possibilidade de experimentar tal bebida.

– É uma ótima bebida, principalmente para beber com mais pessoas – Haymitch comentou, sem se importar com o comentário anterior feito por meu avô.

– Haymitch querido – Effie tocou delicadamente em seu ombro – É o noivado do nosso filho não acredito que cerveja seja apropriado, experimente o vinho, ouvi dizer que é um dos melhores – a contra gosto ele pegou uma das taças e logo se iniciou uma conversa sobre vinhos e a única vontade que tinha era que o suco que me serviram fosse álcool para suportar a noite mesmo nunca tendo provado antes.

– Você se formou esse ano Peeta? – meu avô se dirigiu a ele pela primeira vez na noite.

– Sim, Sr. Me formei em direito esse semestre – a voz dele era gentil e ele parecia tranquilo a cada palavra, eu havia evitado olhar para ele até aquele momento, mas não pude deixar de notar a tranquilidade que ele demostrava todo o tempo.

– E como é a Capital? Acredito que seja bem diferente do Doze.

– É muito diferente, é um lugar bem cheio e parece nunca parar acredito que seja o único lugar de Panem onde as pessoas circulam pelas ruas durante a madrugada – os próximos minutos foram gastos falando sobre os estudos dele e Effie só tinha elogios a fazer sobre o filho que parecia bem sem graça com tantos elogios da mãe, Haymitch não parecia tão animado com a ocasião o que me fez pensar no porque ele estava fazendo aquele “negocio” com meu avô.

– E você Katniss o que esta estudando? – Effie perguntou e me assustei por ser colocada no meio da conversa.

– Estou no ultimo ano do colégio ainda – respondi o mais educadamente possível enquanto praticamente todos os olhos da sala estavam cravados em mim.

– Achei que tinha completado dezoito anos, você repetiu algum ano? – Não havia acusação em sua voz, apenas curiosidade.

– Não Sra. – como explicar que meu avô demorou para me matricular em um novo colégio sem faze-lo parecer desinteressado na minha educação, a ultima coisa que queria era deixa-lo irritado.

– Katniss ficou um ano sem ir ao colégio, muitas mudanças acontecendo sabe como é depois que minha filha ... – ele deixou a frase solta e pelo olhar de Effie ela entendeu e demonstrou simpatia como sempre ele estava preparado para qualquer pergunta.

– Entendo sim.

– E depois que terminar o colégio o que pretende estudar? – a pergunta que Peeta fez me deixou sem saber o que responder, nunca pensei em um curso superior, sabia que o Doze tinha uma pequena universidade um pouco afastada, mas dentro dos limites do distrito sempre passava na frente quando ia visitar minha mãe, eu sabia que era consideravelmente cara, como meus planos eram casar com Gale sabia que não poderíamos pagar.

– Não pensei nisso – fui sincera sem entrar em detalhes.

– Por que não? – todos pareciam interessados em nossa conversa, meu vô olhava atentamente cada movimento que eu dava e ao notar minha falta de resposta respondeu por mim.

– Katniss foi educada para ser uma dama, posso lhe garantir Peeta que minha neta tem tudo para ser uma ótima anfitriã e conduzir bem uma casa, educar os filhos, ela mesma organizou esta noite – e lá estava ele fazendo propaganda do seu maior investimento.

– Não duvido Sr. – ele olhou para mim por um segundo antes de voltar sua atenção ao meu avô – Mas ela pode querer fazer algo além de conduzir a casa, acredito que seja bom ela passar por essa experiência se formar em algo – aquelas palavras me surpreenderam, dificilmente mulheres se formavam no Doze após o casamento, não que fosse algo impossível de se ver, Annie mesmo estava animadíssima em entrar em pedagogia.

– Um modo interessante de se pensar – meu avô tentou ser educado ao falar embora fosse algo que ele com certeza discordava, minha mãe estava no inicio do curso de artes quando se envolveu com meu pai.

Por sorte o jantar foi anunciado e seguimos para a sala de jantar onde foi servido frutos do mar provençal como prato principal , Mags havia deixado tudo perfeito e meu avô se encarregou de escolher o melhor vinho para acompanhar, pouquíssimo foi dito durante a refeição como era de costume, e os convidados apreciaram muito não apenas a refeição como a sobremesa também. O café foi servido na sala de estar onde meu avô, Haymitch e Peeta acertaram por alto a melhor época para o casamento, embora não tenha acertado uma data foi decidido que seria depois da inauguração de um dos restaurantes dos Mellark que ocorreria em menos de dois meses, meu avô mandou trazer o champanhe para brindar os noivos na sua melhor atuação de bom avô.

– Snow ouvi dizer que tem um belíssimo jardim é verdade – Effie perguntou minutos após o brinde.

– Sim é verdade, eu aprecio muito rosas e não quero me vangloriar mais, meu jardim é um dos mais belos do distrito – se havia algo que podia afirmar com certeza era o amor do meu avô por jardinagem principalmente as suas roseiras.

– Eu adoraria conhece-lo um dia, eu adoro rosas – nesse momento Haymitch teve um leve acesso de tosse e recebeu um olhar acusador da esposa.

– Se a Sra. quiser Primrose e Katniss podem leva-la agora ele é um dos poucos com sistema de iluminação do distrito – disse com orgulho, embora quase todo o distrito soubesse desse fato já que principalmente nas épocas festivas o jardim ficava todo iluminado.

– Eu adoraria – levantamos e antes que pudéssemos sair ela chamou o filho – Peeta querido nos acompanha? – ele apenas confirmou com a cabeça e nos seguiu ate o jardim onde Effie começou uma conversa aleatória com Prim que pareceu muito feliz em participar de algum dialogo naquela noite.

Se a algo que devo confessar é o belo jardim que a casa tem, havia rosas de diversas cores além de outras flores espalhadas por todo lugar além da estufa que ficava nos fundos, observei Effie apressar os passos nos deixando para trás e não soube ao certo o que fazer.

– Minha mãe não entende nada de flores – Peeta comentou ao meu lado – Ela nunca se quer colocou a mão em nosso jardim.

– Não estou entendo ela disse – eu realmente não estava.

– Eu pedi a ela para conseguir um momento a sós com você, se importa – ele perguntou apontando um dos bancos, assenti com a cabeça e nos sentamos, observei minha irmã a alguns metros animada em uma explicação qualquer sobre uma das flores – Não tivemos muito tempo para nos conhecer nos últimos anos, eu não venho ao Doze a anos – ele parecia perdido com as palavras – Katniss não quero que pense que não me importo com você, vamos nos casar em breve e gostaria muito que nos conhecêssemos melhor nesse tempo antes do casamento, eu quero muito que isso de certo, mas não acho que esse noivado assim seja o ideal para começarmos algo, não quero que fique parecendo um negocio, algo tratado apenas com seu avô, não quero que essa seja a recordação que tenha desse dia. – eu não sabia o que dizer – Então eu queria fazer as coisas como elas devem ser – ele se levantou e em seguida se ajoelhou na minha frente, e tirou do bolso interno do terno uma caixinha de veludo eu realmente não esperava por aquilo - Katniss Everdeen você aceita se casar comigo? – ele abriu a caixinha revelando um solitário corte princesa, e não soube como reagir, aquilo não era certo eu iria embora no dia seguinte e ele estava ali de joelhos tentando ser digno comigo me oferecendo um pedido de noivado feito por ele, senti vontade de dizer a verdade a ele, mas sabia que não podia então me limitei a uma falsa resposta.

– Aceito – ele sorriu e pude ver o azul dos seus olhos brilharem enquanto colocava o anel no meu anelar direito e beijar gentilmente minha mão antes de levantar, para que continuássemos a caminhada pelo jardim e naquele momento desejei que ele tivesse sido o monstro que sempre pensei que fosse, para que quando fosse embora no dia seguinte não me sentisse mau por deixa-lo falado no distrito.