"Não me importo em ser diferente.Só quero ser quem realmente sou" - Selecionada Luna Scarlett

Selecionada Angela

Juntei meus pincéis num montinho e encostei uma tela, já pronta, na mureta da varanda. Já estava próximo do horário em que as meninas e eu iríamos para a cozinha. Eu já estava pronta, e para passar o tempo, sentei-me e comecei a pintar um vaso de flores.

– Senhorita Angie? - Katie entrou no quarto. - Irei acompanhá-la até a cozinha.

– Muito obrigada. - Sorri amavelmente, voltando para dentro do quarto.

Fui em direção ao espelho da penteadeira, verificar se a cicatriz acima de um dos olhos havia sido coberta pela maquiagem. Passei o indicador sobre o pó e suspirei ao ver que uma minúscula ponta estava á mostra.

Dei de ombros.

Por mais que a cicatriz fosse feia e estivesse muito bem escondida, ninguém ficaria olhando para minha cara por tanto tempo para enfim reparar nela.

– Podemos ir? - Katie falou, ajeitando o vestido roxo e esvoaçante no meu corpo.

– Claro.

Katie me conduziu, juntamente com outras criadas até a cozinha. No caminho, encontrei Ella Rose e Kamille Dandara. A primeira, era escritora; e como eu, Kamille era pintora. Fomos conversando até chegarmos ao local, grande e repleto de balcões, armários, panelas e meninas, além de um cozinheiro de olhos puxados.

– Olá - Audrey acenou assim que nos viu entrar -, agora só falta Lucy, Melony, Beverly, Sarah - ela disse, contando nos dedos. - Perdi as contas - ela riu de si mesma.

Olhei ao redor verificando que apenas menos da metade das garotas estavam presentes. Só algumas tinham gostado da ideia de ajudar Luna;

Quando enfim as últimas meninas entraram com outras criadas, Monyra começou a explicar o que teríamos de fazer.

Por ser da Cinco, eu tinha um milésimo de prática na cozinha. Mas nada em especial. Eu só cozinhava quando minha mãe estava impossibilitada.

Katie começou a distribuir vários aventais brancos, bordados com nossos nomes.

– Ella, Lucianna, Helena, Àhgata, Beverly, e Blair, vocês ficam com a parte da massa.

– Lucy, Clarissa, Eliza e Angela, vocês ficam com a parte de decoração. - Monyra falou, um pouco tímida, enquanto olhava sua prancheta. - Alyna e Kamille, decoram as cestas. As outras, ficam comigo.

Um burburinho começou assim que todas começamos a nos movimentar.

– A senhorita já tem uma ideia de com o que decorar os bolinhos? - Uma criada loira e de estatura mediana, perguntou-me.

Bati a mão na testa. Como podia ter esquecido de trazer os esboços de desenhos, que pretendia fazer?

– Vou buscar uma coisa - avisei, tirando o avental - que tinha acabado de colocar - e jogando-o no balcão. - Volto em instantes.

Sai da cozinha, um pouco apressada. Subi as escadas, não tão elegantemente. Quase trombei com alguns guardas que faziam a ronda.

Entrei no quarto e deixei a porta aberta para sair o mais rápido possível.

Quando avistei a pasta num tom de vinho, ajustei o vestido e me pus novamente a caminho da cozinha.

Meus saltos pretos e com tiras, estavam apertando minha pele. Provavelmente ficaria inchado e roxo depois.

Abri a pasta, e vi os desenhos feitos com um pouco de pressa. Não tinha nenhuma folha solta, todas estavam em seus lugares.

Em segundos, minha pasta caiu, o cabelo dourado, seguido por um vulto castanho -claro. Todas as folhas caíram no chão. Era impressão minha ou o vulto loiro era a princesa?

Me agachei e comecei a recolher as folhas. Em seguida, uma mão começou a me ajudar a recolhê-las. Não levantei a cabeça assim que ele se pôs a me ajudar, só quando terminamos de juntar tudo.

Ergui minha cabeça, me deparando com um rapaz. Seus olhos eram profundamente azuis, os cabelos eram loiros e o queixo quadrado. O belo porte físico também não deixava á desejar.

– Olha, eu sei o quanto sou lindo - ele disse, rindo. - Sou Scott, um dos ministros, mas acho que você não quer saber.

Comecei a rir. Por mais que estivesse levemente "travada" e desconcertada, consegui manter a calma. Como sempre fazia naquele tipo de situação (como se aquilo acontecesse toda hora).

– Sou Angela, mas pode me chamar de Angie, se quiser - dei de ombros. Ei! Eu tinha mesmo dito aquilo?

– Ok Angie. Tenho algumas coisas para fazer, nos vemos... Mas tarde, talvez. - ele disse, enquanto nos levantávamos. - Vou um prazer conhecê-la.

Sorri, enquanto observava-o caminhar lentamente, se virar e dar um "thauzinho" seguindo por uma piscadela.

(...)

Selecionda Taissa

Coloquei o último bolinho dentro da cesta branca. Kamille e Alyna tinha feito um ótimo trabalho decorando a alça da cesta com flores artificiais. Luna com certeza ficaria feliz.

– Acho que terminamos - falei.

– Nós também - Lucianna arrumou a touca no cabelo. - Agr - ela grunhiu -, essa touca vai estragar todo meu penteado.

– Pare de reclamar - Blair brincou. Lucianna com certeza não tinha levado nada na brincadeira.

– Ei, quando iremos entregar á Luna? - Helena indagou.

– Estou cansada, porque não descansamos primeiro? - Ella pediu.

– Não, Luna precisa de nós. Temos muito tempo para descansar, não acham? - Audrey falou. Concordei.

– E qual seria o momento mais apropriado para lhe entregarmos? - Uma das criadas perguntou.

– Acho que agora seria um bom momento. - Samantha disse.

– Concordo com a Sam - Beverly debochou.

Revirei os olhos. Beverly era tão séria, mas ao mesmo tempo tão chata. Talvez o fato dela trabalhar numa fábrica de tecidos a tivesse deixado daquele modo. Ou talvez não, aquele deveria ser mesmo seu temperamento.

Ela estava a um passo de se tornar insuportável. Mas conseguíamos aturar.

– Amanda e Taissa, poderiam levar estas cestas? - Monyra perguntou.

Peguei uma e sai da cozinha.

– O que você está achando do palácio? - Amanda, perguntou enquanto andávamos lado á lado.

– È legal. - Respondi indiferente.

Ela percebeu meu ótimo ânimo e ficou quieta.

Eu nem queria estar ali. Meu pai havia me inscrito e me forçado á participar da Seleção. Foram várias discussões e apesar disso, eu estava ali, dentro do palácio, tendo que aturar trinta e quatro garotas (sem contar as primas do príncipe), competir por um cara metido a besta. Tinha mil e um planos para mim, estes, que foram arruinados pela droga da competição.

Quando chegamos na frente da porta de Luna, Audrey que estava logo atrás de nós, bateu na porta.

Esperamos pacientemente para que ela fosse aberta e uma Luna cheia de olheiras e careca abrisse a porta - ou uma das suas criadas.

Nos surpreendemos quando uma Luna, sorridente, com o cabelo longo, bastante liso e castanho claro (diferente do seu antigo tom chocolate) abriu a porta. Ela estava radiante.

– Olá meninas - ela sorriu amavelmente.

(...)

Kauê

Me concentrei em não olhar fixamente para as garotas que estavam ao redor de Luna. Pelo pouco que tinha visto, seu cabelo estava longo e liso, emoldurando seu rosto como uma cortina. Ela estava diferente.

As meninas falavam abafado, fazendo perguntas e tentando ser manter discretas.

Numa das minhas distrações, ouvi Luna mencionar estar usando temporariamente uma peruca.

As meninas entraram no quarto da selecionada segurando cestas recheadas de doces, todas sorrindo.

Deveria estar sendo bom para a Luna - e para as outras selecionadas, que naquele "ninho de cobras" ainda existisse garotas gentis e que não estivessem tão "famintas" pela coroa/príncipe.

Foram horas até que as selecionadas saíssem e voltassem para seus quartos. Katie, saiu acompanhada por sua selecionada, me vendo á alguns metros.

– A senhorita se importa em se me esperar no quarto? - Ela perguntou, tentando não olhar diretamente para mim. Mas percebi que ela queria falar comigo.

– Claro - A garota afirmou, rumando até seu quarto.

Katie timidamente, e, olhando para todos os lados possíveis do corredor, se aproximou.

– Como você está? - Ela perguntou.

– Tirando meu cansaço, estou muito bem. - Respondi, sorrindo.

– È sério, como você está?

Cocei a nuca antes de responder.

– Se você não fosse minha melhor amiga, diria que estava muitíssimo bem, mas você sabe que não é verdade.

– Logo o trabalho vai diminuir e o tempo de trabalho, quem sabe também? Duvido muito que você e os outros guardas continuem trabalhando como condenados por toda vida.

– È, eu também duvido.

Katie era muito otimista. Até mais que eu.

Ouvimos um pigarreio. Desviei minha atenção de Katie, olhando para Monyra de braços cruzados.

– Poderia me dar licença? - Ela perguntou, envergonhada.

Katie saiu da frente da porta e eu a abri.

– Tenho que voltar ao trabalho - Katie falou, assim que Monyra entrou em seu quarto. - Tchau.

Katie andou apressadamente para o quarto de sua selecionada.

Alinhei minha farda e voltei a prestas atenção no corredor, vazio.

Eu tomei consciência que para ter um certo nível de sucesso, será difícil se nos desfocarmos e assumirmos múltiplas tarefas. É necessário focarmo-nos desesperadamente e obsessivamente e aplicar toda a nossa fibra, o nosso coração e a nossa criatividade.