Yesterday and Today escrita por Aline


Capítulo 1
Yesterday


Notas iniciais do capítulo

Uns pensamentos idiotas...



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Como em sua frequência nem tão frequente, o moreno despertou primeiro, em um dia de sábado, cujo sol era intenso, mas não alcançava o quarto do casal porque as janelas estavam restritamente fechadas, com as cortinas pretas possibilitando um ambiente ainda escuro, como ela gostava... Pensando nela, virou-se para o lado e a admirou adormecida, no seu sono profundo que já há tanto observava... Mirou o papel amassado, amarelado e dobrado em sua mão. Assim, nessas qualidades rimadas, a folha continha um poema. Provavelmente o único que ele já escrevera, anos atrás, a fim de conquistar a adolescente complicada. E o poema fora uma das coisas que ela quis rever, pois era antigo e uma das poucas coisas que já guardara por tanto tempo. Os dois haviam passado a noite anterior relembrando até tarde os momentos juvenis de seu romance, rindo muito, mas baixinho, para não acordar a criança que dormia no quarto alguns metros adiante do cômodo do casal. Sorrindo levemente, ele retirou o papel da mão da esposa, relendo mais uma vez as palavras nada experientes que lhe escrevera.

Flashback on

–CAT! VOCÊ ESTÁ MORTA, GAROTA!- Jade gritava com a ruiva, que corria da amiga nitidamente insatisfeita.
–Ah, meu Deus...- A jovem sussurrou, suspirando de alívio por ter conseguido sair do campo de visão de sua amiga enfurecida.- Oi, Beck!- Puxou o rapaz que atravessava o corredor, ainda aflita. Ele havia chegado na Hollywood Arts há apenas dois meses e Cat não sabia se era à ele para quem deveria pedir ajuda.
–Oi.- O moreno sorriu.
–Você pode me ajudar? Por favor?! Por favor!- Suplicava, pondo as mãos preocupadamente em sua cabeleira extravagante.
–No quê?
–É a Jade!- Disse, e ficou contente por ele não ter parecido assustado.- Noite passada ela dormiu na minha casa e eu acabei pintando as meias pretas dela com a minha tinta rosa, e aí ela teve que vir pra escola com as meias rosas e aí...- Cat deu uma pausa, histérica.- Ela está muito, muito triste comigo.
–Triste?- Ele duvidou.
–Quer dizer... Na verdade, ela está muito BRAVA!- Cat balançou os braços, apavorada.- E quer... Fazer alguma coisa ruim comigo.
–Entendo.- Beck assentiu, ainda não compreendendo a finalidade de ser chamado para ajudá-la.
–Então, você pode enganar ela e levá-la para outro lugar? Por favor... Eu tô com medo de ir pra minha sala.- Estremeceu a ruiva.
–Não sei, ela não gosta muito de mim.
–Ela não gosta de muita gente... Acredite. Mas você precisa me ajudar! Por favor, não sei se tenho tempo!- Choramingou, unindo as mãos.
–Okay...- Ele falou e ouviu um agudo grito de agradecimento.- Se esconde no armário do zelador e quando a Jade passar eu tiro ela daqui e você pode ir pra aula.
–Kay. Obrigada!- Cat sorriu, entrando no local, mas não sem antes murmurar um “Você é corajoso”.
O jovem se encostou na parede e cruzou os braços, até avistar a garota, andando apressadamente e com uma expressão nada amigável.
–Jade!- Disse alto para alcançá-la, segurando-a pelo braço. Os olhos enfurecidos da moça assustariam qualquer ser vivo, mas incrivelmente ele não se viu nesse estado.
–O QUE É?- Gritou zangada, e ficou ainda mais ao perceber que ele não saíra correndo. Livrou-se de sua mão, bufando.
–Então, eu ainda estou perdido nos meus horários, e achei que... Se tivermos aula juntos, você... Poderia me ajudar?
–NÃO!- Berrou, e ficou perplexa quando o viu tentar insistir.- Veja aqui, isso não é meu!- Indicou as meias cor-de-rosa.- E tem alguém que vai pagar por ter me colocado nessa.
–Por quê? Você ficou bem com essa me...
–CALADO! Se está perdido, não é problema meu. Aliás, você é um estúpido se ainda não sabe seus horários. Se vira, não vou ficar...- A cada palavra, Jade aproximava-se dele, na tentativa de intimidá-lo com sua postura rude, mas tamanha foi sua surpresa ao ver que ele não hesitava e andava à sua frente. Ela pausou e afastou-se, notando o quão perto haviam ficado.
–Então vai me ajudar?- Ousou, lançando um sorriso sedutor.
–Não! Eu acabei de dizer que...- Continuava a ser hostil, ameaçando-lhe com os punhos cerrados.
–Obrigado, Jade! Vamos, acho que temos aula em comum agora...- Beck respondeu, como se ela houvesse dito que iria auxiliá-lo. O rapaz pegou novamente em sua mão e a conduziu para a sala.
–Mas eu...- Ela tentava revidar, porém nunca havia ficado tão atraída pelo toque da pele quente de um garoto contra a sua. Poderia facilmente soltar-se e lhe bater sem piedade. Mas não o fez. Simplesmente porque estava atraída.
***
–Eu ainda não entendi porque tive que pagar cem dólares numa meia nova pra você...- Cat reclamou quando a amiga a fez comprar uma nova meia escura, e absurdamente cara, no mesmo dia.
–E eu não sei como você desapareceu a manhã inteira, mas agora que está aqui...- Jade disse, enquanto pegava suas meias cor-de-rosa e cobria as mãos da ruiva com as mesmas.- Vai usar isso nas mãos o resto da tarde.
–Essa vingança é cruel...- Sussurrou, num muxoxo.- Como eu vou escrever?- Questionou, tentando mover os dedos dentro da meia.
–Não. Me. Importa.- A morena revirou os olhos, enquanto dirigia para a casa de Cat, já que estava lhe dando uma carona. Mas afinal ainda desejava jogar a amiga pela janela, e só se conteve por um minuto.
–Hey... Eu fui convidada pra uma festa!
–E?
–Você quer ir comigo?!- Perguntou, sorrindo docemente enquanto brincava com as mãos presas.- É sexta-feira, os seus pais não vão ligar se chegar tarde.
–Não se importariam nem se eu chegasse tarde na segunda, ou em qualquer dia. E a propósito, as festas que você frequenta terminam às sete da noite mesmo...- Zombou, malvada
–Você diz, como na festa do coelho?- Indagou, e Jade arqueou as sobrancelhas, confusa.- Ah, tudo bem... Mas você vai?
–Seu irmão vai tá lá?
–Não.
–Então eu topo.
–Kay! A minha mãe e eu te pegamos às cinco.- Cat disse, e Jade respirou pesadamente, já concluindo que não seria nada extraordinário àquele horário.- Sabe, uma vez, meu irmão foi numa festa e ele comeu todos os brigadeiros, então...- A ruiva iniciava mais uma de suas histórias sem fim nem sentido.
***
Jade produziu-se sem pressa, apesar de saber que já deveria estar atrasada. Mas ah... Quem diabos dá uma festa às cinco da tarde? Pôs um vestido escuro colado, além das meias novas que evidentemente realçavam suas pernas. A maquiagem, também preta, foi o que mais lhe tomou tempo, além do cabelo longo que ela não fez questão de pentear depressa. Passou a escova preguiçosamente pelos fios, cuidando com mais atenção às mechas diferentes. Ao final, 40 minutos depois do que Cat combinara, saiu sem dizer “tchau” aos familiares e notou que havia um carro, desligado, estacionado no meio-fio.
–Oi!- A ruiva sorriu-lhe, acenando mesmo estando próximas.- Você se atrasou...
–Eu sei. Foi de propósito.- Revirou os olhos e só então pareceu perceber que havia mais pessoas.- O que eles estão fazendo aí?- Apontou André, Robbie e Beck, que estavam sentados no banco traseiro.
–São nossos amigos!- Exclamou, em um tom óbvio.- Eu os chamei também e vieram.
–Não me disse que iriam.- Reclamou, cogitando dar meia-volta e retornar para casa, e só não o fez porque seria humilhante ter arrumado-se tanto para ficar em casa.
–Entra logo! Estamos muito atrasados!- Cat alertou.
–Tudo bem...- Conformou-se, chutando uma pedrinha distraidamente.- Mas onde você espera que eu vá me sentar?- Indicou, vendo a parte de trás cheia, o assento do motorista com a mãe de Cat, e a ruiva no banco ao lado do dela.
–Com os garotos!
–Eles ocupam tudo.- Jade disse, rude.
–Se aperta. Meu irmão sempre diz que aqui é largo o bastante pra...
–Não quero me...- Tentou revidar mais uma vez, porém cedeu ao ouvir a mais velha ligar o motor. Bufou e abriu a porta, sentando-se, como sua querida amiga havia sugerido, muito imprensada. E justamente ao lado dele...
Beck sorriu-lhe no mesmo instante, sentindo a proximidade. Ele a cumprimentou e só a viu virar o rosto para a janela... na tentativa falha de não notar o quanto estava bonito.
O percurso foi de pouco mais de 30 minutos. Robbie tentava calar Rex de seus comentários insanos, para que ele pudesse conversar com Cat tranquilamente. André acessava algo em seu celular. A mãe da ruiva prestava atenção ao trânsito e suspirava a cada vez que sua filha dizia algo incoerente, o que fez Jade achar que a mulher sofria com os problemas dos filhos... Mas a morena mudou de opinião repentinamente quando ela fez uma curva totalmente desnecessária, arrastando o automóvel para uma estrada de pedregulhos, irritantemente barulhenta, alegando, enquanto ria loucamente, que aquele era um caminho maravilhoso. Cat riu junto à progenitora, ambas sem razão. Contudo, ela só pôde pensar nisto minutos depois, já que no momento da curva precipitada, como todos do banco de trás estavam sem cinto de segurança, seus corpos penderam para a direita, o que levou consequentemente ao choque do rosto de Jade ao de Beck, fazendo-os praticamente encostar nos lábios um do outro. Em constrangimento e um tanto de fúria, toda vez que o jovem lhe dirigia à palavra, ela o respondia com grosseria e buscava assustar-lhe, ameaçando-o. Porém, em momento nenhum ele deixou de provocá-la, não conseguiu detestá-la, não possuía temor à sua censura. Ele não conseguiu encontrar nada de ruim porque sentia-se completamente atraído.
***
Ao chegar ao local da festa, os amigos de Cat surpreenderam-se porque... Diabos, era uma festa infantil! Uma prima da ruiva completava 11 anos e o tema do aniversário era algum desenho animado. As crianças corriam pelo jardim iluminado, algumas vestidas com fantasias, e muitas comendo doces.
–Você... Não tinha dito isso, não!- André comentou, observando incrédulo a decoração em tons cor-de-rosa.
–O quê? Que era à fantasia? Tudo bem, muita gente veio sem...- Cat disse, rindo ingenuamente.
–É pra crianças.- Beck explicou, apontando para o local.
–Eu sei! É da minha prima Mich, ela...
–Eba!- Robbie a interrompeu.- Tem salgadinho em forma de lua cheia!
–Oba!- A ruiva comemorou, juntando-se aos petiscos com o amigo.
–Que vergonha...- Rex escondeu-se debaixo da toalha branca que cobria a mesa.
André logo conheceu a irmã mais velha de Mich e começou a paquerá-la, aparentemente com sucesso.
–É, eu estava enganada, seria melhor ter ficado em casa.- Jade concluiu, aborrecida.
–Quer sentar?- Beck sorriu, afastando uma cadeira de uma das mesas vazias.
–Vou sentar onde eu quiser.- Revirou os olhos, usando outra cadeira, de modo que o rapaz ficou ao seu lado. Permaneceram em silêncio por alguns minutos indeterminados. Por vezes fingiam fitar o ambiente, dando olhadelas em intervalos um para o outro.
–Você está... fantástica.- Elogiou, mirando-a por fim sem rodeios. Não esperava ouvi-la agradecer, mas também não sentiu-se bem ao ter sua indiferença.- Sabe, por aquilo no carro...
–Não fale!- Jade advertiu, buscando não ruborizar, e querendo socar-lhe a face por rir indiscretamente de seu rosto avermelhado.
Um garçom baixinho passou andando com taças de plástico numa bandeja prateada. Beck segurou uma das taças e a pôs na frente da garota.
–Quer beber?- Seu tom sugestivo a intrigara, fazendo-a olhar para o conteúdo do copo, e descobrir que se tratava apenas de suco de laranja. Ele riu novamente e Jade não pôde evitar fazer o mesmo por ter sido brevemente iludida.- Achou que serviriam álcool numa festa dessas?
–Pelo menos se tivessem café...- Ponderou, entediada.
O moreno ficou alguns minutos em puro pensamento, e levantou-se da cadeira sem avisar-lhe. Ela tentou não seguir seu caminhar com os olhos.
Dez minutos mais tarde Beck apareceu, segurando um copo grande, cuja tampa estava furada para a entrada de um canudo. O jovem sentou-se novamente ao lado de Jade e balançou o copo.
–Tome.
–Isso é...?
–Café.- Respondeu, vendo-a ficar surpresa. Suas mãos pálidas tremeram ao pegá-lo.
–Como vou saber se não tem veneno?- Perguntou, tentando encontrar algum motivo para não dizer-lhe “obrigada”.
–Nossos amigos estão aqui. Eles veriam e eu iria preso.- Argumentou.
Jade pensou em falar que não eram seus amigos, todavia o cheiro de café fez sua mente viciada ceder.
–Você... Eu... Só tomo com dois açúcares.- Acreditou encontrar a razão para livrar-se da gratidão.
–Que bom então que eu...- Beck pôs a mão em um dos bolsos de sua calça, retirando três pequenos saquinhos de açúcar e lhe entregando dois.- Trouxe.
Ela nunca estivera tão perdida.
–Obrigada.- Murmurou, derrotada.
Enquanto tomava o café, aceitou dialogar com o garoto metido à galã que há pouco tempo frequentava sua escola. E jamais acharam que uma conversa em meio à festa infantil traria-lhes conhecimentos tão ricos em relação à suas vidas.
***
Na semana seguinte, Sikowitz estava animado como um louco. Sem novidades. E decidiu passar a aula falando sobre relações com colegas de trabalho. Comentou casos de desavenças engraçadas – e destrutivas – que viveu em alguns empregos com outros trabalhadores.
–Assim...- Dizia, bebericando sua água de coco.- Nosso próximo trabalho dividirá vocês em duplas, e um dos integrantes fará, de alguma forma que não me interessa agora, um relatório sobre o outro integrante. E então eu vou descobrir se vocês, ou pelo menos alguns, se dão bem. O que de fato não é da minha conta... Mas eu quero saber!- Ele riu descontroladamente, até engasgar-se com a água.- Podem fazer por vídeos, imagens, poesia, cenas... Só façam. Na próxima aula eu vou...
–Calçar um sapato?- Jade alfinetou.
–Avaliá-los.- O professor corrigiu, espirrando falsamente na aluna, que o encarou de forma ameaçadora e o fez retrair-se.
Os alunos amontoaram-se entre si.
–Quer fazer comigo?- Beck sugeriu à Jade, sussurrando próximo ao seu pescoço, o que a deixou pensando se aquilo também poderia ser um flerte.
A jovem revirou os olhos ao perceber que Cat já havia formado dupla com Robbie. Lamentou, pois a amiga era enganada facilmente e podia fazer com que ela realizasse o trabalho sozinha. Já com Beck... Ele ainda a surpreendia demais.
–Tá.- Concordou, tentando parecer insatisfeita. E não conseguiu, porque realmente não estava.
***
–Okay, Jadelyn, nos fale sobre você.- O moreno a seguia com uma câmera. Havia a convencido de que ele faria o relatório sobre ela, e pretendia realizá-lo por meio de vídeo.
–Se me chamar assim de novo, vai ficar careca.- O ameaçou, arrependendo-se de ter lhe dito seu nome completo para o início do trabalho.
–E pode ver, Sikowitz, que ela é agressiva...
–Não diga isso no vídeo!- Ordenou, brava.
–E não gosta de ouvir a realidade.- Beck alegou, elevando o tom de voz para ser maior que o grito de frustração da garota. Ela bateu em seu ombro para afastá-lo com a câmera.
–Fique calado quando eu disser.
–Estamos na casa dela porque...
–Eu não sei como fui deixar você entrar no meu quarto.- Jade o interrompeu, empilhando suas tesouras.
–Por que tem borboletas mortas nesses vidros?
–Isso não te interessa, mas... As borboletas são monarcas. E borboletas monarcas são o símbolo do controle mental monarca, que é o novo nome para o que um dia já foi o MK-Ultra, um projeto ilegal da CIA para fins secretos do controle da mente humana. Isso significa que eu posso controlar o que quiser. - Falou, em sua voz tensionada.
–Mesmo?- Inclinou a câmera para os belos olhos azuis dela.
–Sim.- Assentiu, chateada.
–Não estou com medo de você, Jade...- Ele sussurrou, como se enxergasse os pensamentos dela.
–Pois deveria, porque eu posso te matar e acabar com esse vídeo, que no caso seria a prova.
–Você é tão linda...- Elogiou, acariciando brevemente seus cabelos.
–Para!- Ela retirou seu carinho, envergonhada. Foi até o banheiro do lado de seu quarto. Beck a seguiu.
–Posso te filmar escovando os dentes?
–NÃO!- Fechou a porta brutalmente.
–E essa é a garota que está me enlouquecendo...- Balbuciou, desligando o vídeo.
***
Após a gravação no quarto de Jade, fizeram mais três curtas, à contragosto dela, em ambientes diferentes, como o cemitério e a loja de tesouras que ela mais aprecia.
Na semana procedente, o trabalho estava feito e o dia da apresentação chegara. Sikowitz alegou que gostaria de assistir cada dupla separadamente, fazendo com que vários alunos ficassem do lado de fora, enquanto apenas entravam na sala de dois em dois.
–Por que tá nervoso?- Jade perguntou, vendo a expressão preocupada de Beck. Deu-lhe um tapa leve no braço, rindo de seu suor frio. Haviam ficado mais próximos nos dias anteriores e agora ela acreditava em muitas coisas à respeito dele.
–Tô bem!- Afirmou, enquanto sua mão esquerda grudava na câmera que usara por horas para filmar a garota, e a direita apalpava um bolso, no qual um papel rascunhado lhe pesava a alma.
Para o descontentamento de Jade, ela teve de esperar todas as outras duplas apresentarem-se, porque Sikowitz por indeterminada razão deixou à ela e à Beck como últimos. Ela respirou de alívio ao adentrar a sala em sua hora, mas notou que o professor já não estava lá.
–O Sikowitz foi embora?!- Perguntou, incrédula.- Aquele...- Controlou-se para não xingá-lo.- Por quê ele nos fez fazer esse trabalho ridículo por uma semana?!
–Deve ter esquecido que faltava mais algum grupo...- Beck argumentou, tentando acalmá-la.
–Esquecido?! Vamos ficar sem notar por conta do maluco? É isso?
–Jade, eu...
–O quê?!- Gritou, impaciente.
–Não iria poder apresentar o vídeo porque apaguei ele da câmera e deixei no meu computador.- O moreno explicou, muito rapidamente.
–Como? Você fez o quê?
–Você estava muito atraente nos vídeos e eu acabei dizendo coisas que não devia dizer, então não tive tempo de editar... Desculpa, mas só eu posso ver aqueles vídeos.- Beck disse, receoso.
–Você é doente?- Jade perguntou, cruzando os braços.- Agora eu tenho que agradecer pelo Sikowitz ter ido embora antes de nos ver! Porque nós não íamos apresentar nada e...- Ela pausou a si mesma, percebendo o que ele havia acabado de falar.- O que você disse?- Mudou o tom de raiva para curioso.
–Eu iria apresentar outra coisa sobre você.- O jovem falou, ignorando sua pergunta anterior. Retirou de dentro do bolso o papel e o desdobrou.
–Isso é?- Questionou, tentando ficar tranquila, enquanto sentava numa cadeira e Beck fazia o mesmo, usando uma à sua frente, para observar-lhe cara a cara.
–Uma poesia... Terrível por sinal, mas...
Ela pensou em berrar-lhe que detestava poesia, mas seu sangue parecia ter sido anestesiado com um encanto que ela repugnaria em qualquer outro momento.
–Gosto do terrível. Leia.- Decidiu incentivá-lo, ansiosa.
–Não rima em 97% dos versos...
–Quem falou de rima? Lê logo.- Agitou as mãos.
–Se chama “Jadelyn”.- Beck disse, e a viu revirar os olhos. Era uma forma de provocá-la. Respirou pesadamente e recitou:

Uns olhos fundos
Uns lábios sedutores,
Matando-me, não de medo,
Mas de amores

Por que a maquiagem tão escura?
Por que esse isolamento entristecido?
Deixe-me conhecer suas preocupações
Deixe-me fazer algo mais do que apenas mirar-lhe

Hey, preciso conhecer melhor este seu rosto,
este seu corpo divino...
Não só porque quero,
mas porque de fato:
Preciso!

Mostre-me como é abraçar-te
E morrerei por ti.
Faça-me conhecer seu beijo
E tudo compartilharei sobre meu coração
Permita-me desalinhar seus cabelos, tocar sua face
E envolvê-la totalmente

Desconheço seus motivos,
mas já entendo sua fúria
Nunca a vi ao escurecer
Mas sei que intimida o sol quando se encontram na partida

Só deixe-me te fitar para
Enfim, torná-la minha memória mais bela

Só seja minha e não fuja quando encerrar
Só fique
E permita-me provar
Que já há alguém para te amar.

O ato seguinte surpreendeu inclusive os átomos de Beck. Jade se inclinou e abraçou-o pelo pescoço, abocanhando seus lábios sem aviso. Ele apertou sua cintura com possessividade, fazendo-a sentar em seu colo. A garota puxou-lhe os cabelos com desejo, arranhando levemente a nuca em seguida, enquanto ele percorria a extensão de suas costas com as mãos bem abertas, para sentir a textura da pele macia da jovem. Aprofundando o beijo, só o cessaram quinze minutos depois, onde pausas foram curtas para apenas respirar.
–Você disse “faça-me conhecer seu beijo”, então aproveita, porque eu também quero muito...- Jade murmurou, com os rostos praticamente grudados.- Realmente, essa poesia é terrível... Mas vai ficar comigo.- Arrancou o papel de sua mão, dobrando-o na sua.- E aliás, que atrevido você em me pedir um beijo!- Brincou, estapeando-lhe sem força no peito.
–Mas foi você quem me beijou...- Ele disse, sorrindo maliciosamente, ainda abraçando-a.
–Eu...- Tentou argumentar, parecendo constrangida. Beck a calou com um beijo mais urgente.
–BRAVO! MUITO BOM!- Sikowitz apareceu, aplaudindo, saindo de trás de sua perfeita camuflagem numa cortina.
–O que... Você?- Jade levantou-se imediatamente, assustada, alinhando os cabelos.- Louco!
–Estava vendo tudo... que fizemos?- Beck questionou.
–Claro, eu adorei a apresentação de vocês!
–Qual?
–Essa! De minutos atrás... E toda aquela encenação como se não soubessem que eu estava ali os vendo. Foi brilhante! Muito real.- Sikowitz sorriu.
–Não sabíamos que estava ali.- Jade falou, enfurecida.
–Por quê? Eu avisei à dupla anterior para dizer à vocês que eu ficaria escondido... Pra deixar vocês mais confortáveis!
–Não nos disseram.- Beck alegou.
–É, acho que vou tirar pontos deles...- O professor suspirou.- Mas de qualquer jeito, adorei a apresentação!
–Que apresentação?!- Jade perguntou, confusa.
–Essa, crianças! Já entendi que a relação de vocês é amorosa e por isso se dão muito bem...- Ele riu, enquanto os adolescentes tentavam entender que o homem acreditara mesmo que o que eles haviam realizado era de fato a apresentação.- Estão namorando, hein?
Jade e Beck miraram-se, ambos um tanto corados.
–É.- Em uníssono, foi a única coisa ouvida de seus lábios, que clamavam por mais beijos.
Flashback off

Beck deixou o papel na gaveta ao lado, enquanto tornava a apreciar a esposa, e permitia-se lembrar um pouco mais dos melhores momentos de suas vidas...


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