A semana estava sendo estranhamente tranquila, sem acidentes com tutti frutti e sem Eurekas invisíveis, talvez por que Angelina estivesse desaparecida (pena não ser verdade) naquela semana o que fez com que todo o campus desse um suspiro de alívio audível.
Permiti-me sentir paz por alguns dias, almocei calmamente no refeitório sem que ninguém viesse me incomodar ou ofender, porém, mesmo assim, as pessoas não chegavam muito perto de mim com medo de serem associadas a indesejável número um dos alunos dourados. E os mesmos tampouco fizeram questão de notar minha presença, eu estava no paraíso. Paraíso que foi drasticamente queimado com o fogo de mil sois quando na sexta feira depois de aulas exaustivas de Bioquímica, dei de cara com minha carrasca. Eu já vi olhares possessos na vida, porém Angie ( só para os íntimos) se equiparava a um apocalipse interno e o ódio dela podia ser detectado por ondas magnéticas. Ela sorriu para mim e passou direto, aquilo foi uma promessa clara de " nos vemos depois", mesmo hiperventilando sai correndo e me tranquei no primeiro lugar que encontrei aberto.

Estou ferrada.
Ser cruel comigo de certa forma poderia ser comparado a terapia nos parâmetros doentios de cura da Srta. Snow e o que quer que tenha acontecido de segunda para quinta- feira fez com que minha algoz se irritasse mais que o normal, eu amaldiçoo quem fez isso.
Não que eu ligue para o estado de espirito dessa infeliz, só estou tentando proteger minha integridade física e moral. Bom eu não poderia me esconder para sempre até porque meu estômago protestava por comida, então com toda a coragem e dignidade acumuladas durante minhas férias de Angie saí do armário (no real sentido) de vassouras e fui para o refeitório. Olhares de pena me rodeavam, sim eles sabiam o que estava por vir e mesmo que fossem medrosos demais para se rebelar, os alunos se permitiam sentir pena de mim.

Lindo!
Entrei no refeitório a passos largos, decidida a pagar por minha comida e me teletransportar para meu quarto, mas quem disse que o universo concorda comigo?

Primeiro senti o baque e depois o cheiro... Tutti Frutti.
Meu cabelo estava pingando o líquido rosa e meu cérebro estava congelando, acho que Carrie White* não estava tão errada em assassinar o pessoal da escola e garanto que se tivessem jogado Drink Fruit de Tutti Frutti super gelado nela ela teria feito coisa pior, porém infelizmente eu não sou ela então só corri como sempre, mesmo com os óculos cobertos de Drink Fruit e ao som estridente das risadas alheias.
Perto da saída tropecei em alguma coisa, mas me levantes rápido e segui para o banheiro, talvez fosse imaginação minha mas pude ouvir ao longe uma voz fina perguntar se eu estava bem.

Quando entrei no banheiro vi o resultado da brincadeira, meu cabelo estava levemente rosado e encharcado assim como minhas roupas, meu corpo tremia convulsivamente e meus óculos estavam sujos, para piorar uma lente havia se rachado, merda. Debrucei-me sobre a pia e comecei a lavar o cabelo, não tive muito tempo a sós porque logo uma roqueira esquisita entrou no banheiro me olhando bestificada, devolvi o olhar e continuei a limpeza.

– Quer ajuda?- perguntou com gentileza.
Olhei-a furiosa e neguei, se essa infeliz deveria ser nova para estar falando comigo, se ela soubesse sobre Nancy não chegaria nem perto de mim, mais um presentinho da vadia Snow.

– A chega pra lá que eu te ajudo- disse sem cerimonias, me empurrando para o lado e massageando levemente meu couro cabeludo.
Eu fiquei estática e maravilhada, suas mãos tiravam a sujeira do meu cabelo de forma eficiente e suave, terminado com meu cabelo ela tirou meus óculos e limpou meu rosto com cuidado, por último lavou meus óculos e os entregou a mim. Não consegui olhar para ela depois, queria tanto ter alguém assim como amiga, porém era um erro me distrair com isso e prejudicá-la caso Angelina soubesse que tenho uma nova amiga.

– Meu nome é Scarllet Duhamel, mas pode me chamar de Carllie- cantarolou sorrindo, deixando a mostra seu piercing no freio superior da boca.
Tão fofa e gentil, uma presa fácil para Snow, ela não merece isso, pensei comigo. E foi com esse pensamento que reuni minhas forças e concentrei-me em dar meu maior olhar de desprezo.

– Nunca mais toque em mim, eu não preciso da sua ajuda sua retardada- vociferei.
Ela me olhou surpresa e magoada, foi minha deixa para sair do banheiro esbarrando nela propositalmente.
Me agradeça depois Carllie, sussurrei depois de ter me afastado dela.