República Evans escrita por Carol Lair


Capítulo 11
O Grande Teatro da Vida


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente!

Dedico este capítulo para a leitora Maya (http://fanfiction.com.br/u/589260/), que escreveu uma linda recomendação para a fic! Muito obrigada, querida, EU ADOREI e estou até agora sorrindo. Já reli umas vinte vezes e mal acredito!

Agora, o capítulo:



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Capítulo 11 – O Grande Teatro da Vida

O rosto de Lily corou absurdamente quando a luz se acendeu. Frank estava deitado no sofá, àquela altura sem camisa – esta estava jogada no chão -, mas para a sorte das duas, ele ainda trajava suas calças. Bellatrix estava em cima dele, vestindo apenas um lingerie de renda, já semi desabotoado. Após o choque inicial que a claridade trouxe ao vir à tona, Bellatrix imediatamente se levantou de cima do rapaz e ficou de pé, enquanto Frank se sentou no sofá, sentindo-se completamente desconcertado.

Alice permaneceu paralisada, os olhos passavam mecanicamente de um para o outro, e, por fim, para as roupas jogadas no chão. Seguindo seu olhar, Bellatrix apanhou seu vestido e o vestiu de qualquer maneira, quebrando o silêncio:

– O que vocês duas fazem aqui?

Lily virou o rosto para olhar Alice. Ela respirou fundo antes de responder:

– Eu moro aqui, Bellatrix. – sua voz estava trêmula.

– Você disse que ia sair, Alice! – Bellatrix respondeu, e não havia nenhum constrangimento ou remorso em seu tom.

Alice deu alguns passos na direção do casal. Frank permanecera sentado e cabisbaixo, sem mexer um músculo.

– Frank. – Alice o chamou, sentindo seus olhos marejarem. Ele levantou a cabeça lentamente e os dois trocaram um intenso olhar por poucos instantes. - Você realmente teria coragem de fazer isso?

Após alguns segundos Frank desistiu de procurar uma resposta à pergunta e simplesmente desviou o olhar, voltando a fixá-lo no chão. Ele simplesmente não conseguira sustentar o contato visual diante do olhar acusador de Alice. Além de tudo, o rapaz havia ingerido uma quantidade altamente considerável de álcool e não estava em suas melhores condições para reagir a qualquer coisa.

– Saia da minha casa, Frank. – Alice ordenou, elevando o tom de voz, sem tirar os olhos dele.

Bellatrix não interveio, conforme o esperado. Apenas arqueou uma sobrancelha e cruzou os braços. Frank pegou sua camisa do chão e levantou-se do sofá um tanto cambaleante, respirando fundo. Alice nunca irá me perdoar, pensava ele, repetidamente. Ele colocou-se em seu lugar e sentiu-se a pessoa mais repugnante existente no mundo. Atreveu-se a espiar os olhos dela e pôde ver neles o quanto ela estava decepcionada.

Frank caminhou até a porta uma com uma certa dificuldade em permanecer em linha reta. Ele a abriu, olhou para Alice pela última vez e fechou a porta atrás de si. Alice fechou os olhos com força, fazendo com que duas grossas lágrimas escapassem pelos cantos. Lily foi até a amiga e a envolveu em seus braços.

– Obrigada por estragar a minha noite. – Bellatrix falou, recolhendo seus sapatos do chão, irritada.

Ao ouvir aquilo, Alice sentiu seu estômago revirar de raiva. Imaginou centenas de formas de como nocautear a arrogante colega de república e quando voltou à realidade, percebeu que só não estava fazendo isso porque Lily a estava segurando.

– Você não tem o direito de falar nada! – explodiu Alice.

– Alice! – Lily sibilou em seu ouvido.

– Mas é claro que eu tenho! – Bellatrix contestou, insolente. - Está na hora de você superar o Frank, Alice. Precisava ter feito esse teatro todo?

– TEATRO? - repetiu Alice, horrorizada com o que ouvira. - Eu que te pergunto, Bellatrix. Você precisava ter escolhido justamente o Frank?

Bellatrix revirou os olhos e girou os calcanhares, a caminho das escadas. Alice soltou-se de Lily e continuou:

– JÁ QUE QUER TANTO ASSIM O FRANK, FIQUE COM ELE E SEJA FELIZ! VOCÊS DOIS NÃO TÊM CARÁTER E SE MERECEM MESMO!

Bellatrix continuou ignorando-a completamente e desapareceu escada acima.

Alice continuou onde estava, agora ofegante e completamente desolada. Lily voltou a se aproximar e a abraçou, sentindo-se impotente. Não podia fazer nada para melhorar a situação, assim como sabia que não adiantava dizer nada para consolar a amiga. A ruiva evitara ao máximo interferir na discussão, o que só fez o sentimento de injustiça crescer em seu peito.

Logo nos primeiros segundos do abraço, Alice desmanchou-se em lágrimas. Chorou durante vários minutos no ombro de Lily, que acariciava seus cabelos, ainda procurando alguma coisa realmente boa para dizer.

– Eu quero matar os dois, Lily. - murmurou Alice, entre os soluços.

Lily suspirou. Ela também queria.

– Venha, vamos para a minha casa. Assim você não precisa encontrar a Black amanhã.

Alice olhou para o chão, enquanto enxugava as lágrimas.

– Ok.

As duas saíram da casa e apenas precisaram andar alguns passos para chegarem à república de Lily. A ruiva abriu a porta de sua casa e observou, pelo silêncio, que não havia ninguém ali, o que significava que provavelmente todos ainda estavam na festa na Whisky de Fogo.

Alice não falou mais nenhuma palavra durante o resto da noite; assim que se vestiu com um pijama que Lily lhe emprestara, ela deitou-se no colchão reserva que Lily simetricamente arrumara e ficou lá, praticamente sem se mexer. No meio da noite, Lily acordou repentinamente e pôde ouvir soluços quase silenciosos. Soube, então, que Alice não estava dormindo.

–--

– Não posso acreditar que a Bellatrix teve coragem... – Anita comentou, abismada, após o relato de Lily no dia seguinte.

– Fale mais baixo, Anita! – Lily pediu-lhe.

As duas conversavam no corredor, ao lado da porta do quarto. Anita havia acabado de acordar, pouco depois do meio dia. Ela estava com os olhos levemente inchados.

– Aliás, ontem nós também descobrimos que a Bellatrix mentiu para o Frank dizendo que a Alice já estava saindo com outro cara. - Anita balançava a cabeça, ainda desacreditada. - Se eu fosse a Alice, eu não conseguiria mais morar lá. Essa Bellatrix é doente, sério.

Muito.

– E como a Alice ficou depois de tudo?

– Muito mal. Ela só foi dormir hoje de manhãzinha. Assim que eu levantei.

– Hoje à noite tem a estréia da peça da Lorens, vamos fazer a Alice ir conosco, assim, quem sabe, ela esquece um pouco esse assunto.

– Vai ser ótimo para ela. – Lily concordou.

–--

James ainda estava profundamente adormecido quando Sirius entrou no quarto, anunciando:

– Minha acompanhante de hoje à noite vai ser Marlene McKinnon. Ela acabou de aceitar o meu convite. - Ele apontou para si, orgulhoso. - Pode me dar os parabéns.

O outro apenas coçou os olhos, resmungou qualquer coisa e se revirou na cama.

– Acho que não entendi o que você disse. - Sirius insistiu, animado.

Parabéns. - James conseguiu pronunciar, mal-humorado. Bocejou. - Você tem investido bastante nela. Já estava na hora.

– Eu fiquei com ela na festa de ontem. Aliás, como foi com a Pamela? Você não estava aqui quando eu cheguei, presumo que o senhor passou a noite fora.

James revirou-se mais uma vez e virou as costas para Sirius, a fim de voltar a dormir.

– Cheguei às nove da manhã. Estou morrendo de sono. Boa noite.

– Hey! - Sirius atirou um travesseiro no amigo, que nem se mexeu. - Como foi?

– Legal.

– James! Como assim, foi legal? Você chegou aqui às nove horas da manhã e isso é tudo o que você tem a dizer?

James finalmente cedeu e sentou-se em sua cama. Seus olhos mal se abriam por conta da claridade e seus cabelos estavam mais bagunçados do que nunca. Ótima hora para bater papo, Sirius, pensou ele, se esforçando para permanecer acordado.

– Eu estou morto, cara. Aquela mulher é louca, incansável, não tenho palavras para descrever. Estou todo quebrado. - James resumiu, cansado. - Posso voltar a dormir?

– Como assim? - Sirius abriu um sorriso malicioso. - E eu aqui me vangloriando porque consegui beijar a Marlene de novo. - Ele riu. - Mas e aí, pelo menos esse cansaço todo valeu a pena?

– Sim.

Após a resposta simplista, um silêncio reinou. Sirius permaneceu encarando o amigo, esperando por mais, mas logo percebeu que James aparentemente não tinha mais nada a dizer. Observou que ele tampouco parecia animado ou orgulhoso em relação à noite anterior.

– Então por que você está com essa cara de merda?

James chacoalhou os ombros.

– Eu não estou com cara de merda. Eu só estou com sono.

Sirius soltou uma risada sarcástica.

– Você não me engana. O que foi? A Pamela te maltratou muito? Você não deu conta? Pode me contar, eu prometo que não vou fazer piada.

James revirou os olhos, em meio a um suspiro.

– Não foi nada disso, Sirius. Admito que fiquei meio surpreso por termos chegado aos finalmentes logo na primeira meia hora em que eu cheguei na casa dela, mas não diria que ela me maltratou. Ela só é incansável, a cada taça de vinho pós-sexo ela resolvia que era hora de fazer tudo de novo em outra posição, lugar, enfim. E também admito que fiquei intrigado com a disposição dela. Sério, não é normal. Parecia que ela queria me testar por completo, meu corpo, meus limites, minha força, tudo.

O riso sarcástico de Sirius havia se transformado em uma gargalhada divertida ao longo da narrativa de James.

– Cara, ainda assim não consigo entender como você consegue acordar mal humorado depois de uma noite dessas.

– Mas eu não estou mal humorado! - James defendeu-se, arqueando as sobrancelhas. - Eu só não acho que esse foi o melhor encontro da minha vida só porque rolou tudo logo de primeira, ué.

– Ah vá. Então o que você esperava que fosse acontecer?

– Eu... - mas, para a sua surpresa, James não encontrou uma resposta facilmente. Ponderou por alguns segundos. O que eu esperava?– É lógico que eu não esperava ficar conversando à noite inteira com a Pamela. Mas eu também não esperava que o encontro fosse ser resumido em horas e horas de puro sexo, sem uma dose mínima de diálogo, sabe? - ele ainda procurava as palavras certas para expressar sua opinião. - Foi ótimo, claro, mas eu esperava que nós fôssemos conversar um pouco antes de transar, pelo menos. Eu achei que eu fosse fazer uma piada que a fizesse morrer de rir e que isso a fizesse pular em cima de mim. Mas não, ela pulou em cima de mim logo que eu entrei no apartamento, transamos quatro vezes e eu fui embora de manhã.

– James, sinceramente, eu não sei o que comentar. - Sirius balançava a cabeça, indeciso entre o riso e o espanto. - O que aconteceu com você, cara? O que você tem?

– Bom, eu já expliquei. Satisfeito? - James voltou a se deitar na cama, bocejando. - Agora posso voltar a dormir? Eu não quero dormir durante a peça da Lorens mais tarde. E faça o favor de apagar a luz. Obrigado.

Ainda confuso e, ao mesmo tempo, risonho, Sirius resolvera não replicar e obedeceu ao pedido do amigo. Só espero que ele volte a si quando acordar mais tarde.

–--

Mais tarde, Lily entrou em seu quarto, decidida a convencer Alice a assistir à peça de Lorens. A ruiva encontrou a amiga sobre a sua cama, com um livro aberto em seu colo. Mas ela não o lia, apenas virava as páginas lentamente, desinteressada. Alice estava consideravelmente pálida, não tinha saído do quarto durante à tarde toda e falara muito pouco.

– Alice?

Alice levantou a cabeça e encarou a amiga. Lily estava muito bonita, os cabelos estavam presos no alto da cabeça, vestia um vestido preto e justo e já estava com os sapatos de salto encaixados nos pés.

– Você está ótima, Lily.

– Ah, obrigada. – Lily se sentou ao lado da amiga. – Você sabe que hoje tem a estréia da peça da Lorens, né?

– Sim, sei. Eu tinha dito para ela que ia assistir, mas acho que ela vai entender se eu não for. Diga a ela que eu vou outro dia. – Alice respondeu, com a voz fraca.

– É claro que ela entenderia se você não fosse hoje. Mas a questão não é essa. A questão é fazer você esquecer o que houve e se divertir.

– Me divertir? Lily, eu ainda não processei o que aconteceu ontem, me desculpe, mas... não.

Lily suspirou. Alice encarava o chão fixamente; tudo o que a morena queria naquele momento era ficar naquele quarto para sempre. Mesmo com Lily, sua melhor amiga, ao seu lado, ela se sentia completamente sozinha.

– Alice, de que adianta você ficar aqui se torturando? – Lily continuou, mas a amiga permaneceu olhando para o chão. – Não vale a pena todo esse sofrimento por pessoas como o Frank e a Black. Qualquer minuto que você perder se remoendo por causa deles é um desperdício.

Alice balançou a cabeça negativamente.

– Eu não consigo evitar.

– Essa não é a Alice que eu conheço. - Lily procurou animar a amiga. - A Alice que eu conheço não pára de falar um minuto, é engraçada e nunca se abala com essas coisas. Minha amiga Alice tem uma personalidade tão forte, mas tão forte, que consegue morar na mesma casa com duas cobras e nunca se afetar por isso.

A morena abriu um sorriso triste.

– E a minha amiga Alice, que sumiu de um dia para o outro, tem que voltar! E, para isso, ela precisa se divertir! – Lily pegou nas mãos da amiga, encarando seus olhos.

– Lily, eu não estou animada para sair. A sua amiga Alice pode voltar logo, é só ela superar essa, ok?

Lily revirou os olhos.

– Não! – Lily se pôs de pé. – Vamos, Alice! Você sinceramente acha que eu não vou te tirar daqui?

Alice cruzou os braços, prevendo o sermão que estava por vir. Naturalmente, ela era capaz de entender os motivos para a insistência de Lily e adoraria poder ceder a ela, no entanto as cenas da noite anterior surgiam nitidamente diante de seus olhos a cada segundo. Deste modo, Alice julgava não estar em condições de se concentrar em uma peça de teatro ou qualquer outra coisa.

– Olha, Alice, você não tem motivo nenhum para ficar aqui o resto da noite. Teatro é sempre ótimo, a Lorens é sua amiga e você sabe que o Frank não estará lá. – Lily tinha um tom de súplica. – Portanto, ficar aqui sozinha não vai te ajudar em nada. Então, vamos?

No entanto, Alice suspirou e negou com a cabeça. Um silêncio se estendeu e Lily resolveu deixá-la à vontade. Consultou o relógio de pulso e arregalou os olhos.

– Eu tenho que ir agora e não faço ideia da duração da peça, então eu não sei à que horas eu estarei de volta. Mas sinta-se em casa, ouviu bem? Pode abrir a geladeira e comer o que quiser, se precisar de qualquer coi-

– Lily...

– Tudo bem, Alice, eu entendo! Fique tranquila. – Lily a interrompeu. – Aliás, você pode dormir na minha cama, se quiser, afinal, você mal dormiu essa noite. Bom, agora eu tenho que descer, o Bill já deve estar nos esperando, ele vai nos dar uma carona e-

– LILY! – Alice a chamou novamente.

Lily se calou imediatamente, pensando ter irritado a amiga.

– O que foi?

– Eu vou com você.

– O quê? É sério?

– Sim... eu vou! – Alice levantou-se da cama e colocou o livro de lado.

– Isso é ótimo! - Lily sorria de orelha a orelha. - Mas seja rápida para se arrumar, Alice! O tempo está passando, o Bill já deve estar esperando e-

– Então pára de ficar falando e corre me ajudar a escolher uma roupa sua!

–--

O Teatro Central era, de fato, muito bonito. As cadeiras da plateia eram bem confortáveis, revestidas de veludo vermelho escuro. O teto interior possuía uma belíssima pintura, que o cobria por inteiro, e um enorme lustre no centro, coberto de cristais. Este teto era sustentado por pilastras jônicas, proporcionando ao local a aparência de um templo grego luxuoso.

Quando os universitários entraram no salão, o local já estava consideravelmente cheio.

– Nossas cadeiras são essas. – indicou Bill, apontando para uma fileira relativamente próxima ao palco.

Todos se acomodaram nos assentos constatados nos ingressos. Ao perceber o clima caloroso entre Sirius e Marlene, Anita preocupou-se em se acomodar em alguma poltrona a uma considerável distância do casal, ao lado de Lily. Do outro lado da ruiva encontrava-se Potter. Lily lançou-lhe um olhar reprovador quando ele se sentara ali, mas naturalmente ele a ignorou. Ela consultou o relógio e ainda faltavam cinco minutos para o início da peça. Que ele não venha puxar assunto, ela pediu mentalmente, ao notar o sorriso cínico estampado no rosto dele.

– Você se importa se eu colocar o meu braço aqui? - Potter perguntou um minuto depois. É claro que ele não podia se manter calado.

Lily automaticamente virou sua cabeça para olhar. Ele havia apoiado o braço ao longo do encosto da poltrona na qual ela estava acomodada.

– Por que raios você precisa colocar o seu braço aí?

– Eu não preciso. Eu quero.

A ruiva revirou os olhos, enquanto um sorriso brincava nos lábios dele.

– Pois eu me importo sim. Pode tirar.

– E por que você se importa? Você nem teria reparado no meu braço se eu não tivesse perguntado.

– Mas já que perguntou, então faça o favor de tirar. Limite-se ao seu espaço, Potter. - A ruiva terminou de falar abrindo um sorriso forçado.

Potter retirou o braço dali e riu alto, chamando a atenção de algumas pessoas que estavam em volta e fazendo Lily se encolher de vergonha.

– Ah, Evans, você é a pessoa mais engraçada que eu já conheci. De verdade.

No momento em que Lily estava pronta para replicar, a luz do ambiente começara a diminuir gradativamente até se apagar por completo, enquanto a luz do palco se acendia. No mesmo ritmo em que a iluminação da sala caía, a plateia também tornava-se cada vez mais silenciosa. Por fim, as cortinas vermelhas do palco começaram a subir lentamente.

O enredo da peça se passava na Idade Média, os atores vestiam armaduras, bem como as atrizes trajavam belíssimos vestidos longos, espartilhos e flores nos cabelos. O figurino estava à altura dos cenários, ambos muito bem caracterizados. Lorens não interpretara o papel da protagonista, sua personagem era uma espécie de conselheira do rei.

Como a história da peça centrava-se no cotidiano da Idade Média, ela naturalmente continha muitas cenas de batalhas, guerras, casamentos por conveniência e todo o sofrimento decorrente destes. Após a primeira meia hora da apresentação, Helena já não estava mais em condições de conter suas emoções: ela já não conseguia mais chorar em silêncio ou reprimir os soluços. Remus a abraçara, a fim de tentar abafar o som do choro, mas foi inútil.

– Q-que história mais triste, Remus-

– SHHHHHHHHH! – fez alguém, logo atrás da poltrona de Helena.

Helena parou de chorar imediatamente e virou-se para trás, com uma expressão ofendida, a fim de tentar descobrir quem havia lhe exigido silêncio. Toda aquela balbúrdia fizera com que Remus perdesse totalmente a concentração na peça e até os amigos que estavam sentados mais próximos à Helena já estavam começando a se incomodar.

– Pare de chorar, Lena. É tudo ensaiado! – Remus sibilou impaciente no ouvido dela, forçando-a a se virar para frente novamente.

Ela secou as lágrimas e assentiu com a cabeça.

Aquele incidente também acabara por atrair a atenção de Lily. Quando virou-se para se certificar de que estava tudo bem com Helena, a ruiva notou que o braço de Potter estava novamente esticado ao longo do encosto de sua poltrona. Ela olhou do braço para ele várias vezes, mas Potter fingira não perceber e permaneceu assistindo à peça, despreocupadamente. Como pode ser tão cínico?, Lily perguntava-se, voltando a olhar para frente, irritada.

Lorens apresentara uma excelente atuação. No enredo, sua personagem mantinha um romance proibido com o rei e ambos os atores foram capazes de transmitir à plateia a típica adrenalina de tal situação perigosa com admirável maestria. Ao final da apresentação, Lorens e o outro ator beijaram-se de modo totalmente apaixonado, afetando até mesmo as emoções de Lily, que era consideravelmente resistente às cenas românticas de filmes e livros.

Quando a cortina vermelha voltara a descer, anunciando o fim da peça, a plateia explodiu em aplausos e assovios. Todos os presentes se levantaram para aplaudir quando o elenco voltara ao palco para agradecê-los, com inúmeras reverências. Anita tirou várias fotos com o celular, emocionada.

– Nossa, eu chorei com esse fim! – ela exclamou, piscando várias vezes a fim de disfarçar as lágrimas.

– A Helena que o diga. – Remus disse, entre os aplausos. – Lena, por favor, pare de chorar! Já acabou.

Helena estava despedaçada em lágrimas nos ombros de Remus, que mal pudera aplaudir os atores para poder ampará-la.

– Eu... não consigo! – ela respondeu, entre os soluços. – Eu preciso ir embora, e-eu não estou me sentindo nada bem. Vamos?

Os amigos começaram a se infiltrar na multidão e rumaram em direção à saída. Em poucos minutos, eles já se encontravam do lado de fora do teatro e foram recepcionados por um vento cortante. Helena, que ainda não havia se recuperado totalmente, apenas se encolheu. Marlene reclamara do frio e Sirius rapidamente estendeu-lhe seu casaco, fazendo-a corar.

– A Lorens pediu para esperarmos por ela aqui. - contou Anita, desviando os olhos do casal. - Que tal irmos todos para algum pub mais tarde? Precisamos comemorar!

– Então vamos embora, Remus? – Helena perguntou, com a voz pesada. - Eu não estou em clima para sair, está muito frio e eu preciso tomar meu remédio.

Remus automaticamente assentiu com a cabeça. O casal se despediu dos outros amigos e se afastou na direção da estação de metrô, do outro lado da rua. Todos os restantes trocaram olhares, silenciosamente concordando que Helena estava exagerando e que Remus era quem estava pagando caro por isso.

– Aliás, a Lorens é uma ótima atriz, não é? – Marlene quebrou o silêncio, abraçando-se por conta do vento gelado. - Foi a primeira peça dela que eu assisti, achei incrível.

– Eu também gostei muito. Muito bem produzida. - Alice comentou, trocando um olhar agradecido com Lily, que lhe sorriu.

– E você, Bill, o que achou da peça? – Anita perguntou, amigavelmente.

Foi só então que perceberam o quanto ele estava sério e cabisbaixo. O moreno levantou os olhos para a loira e seu olhar era ferido.

Mediana.

Inevitavelmente, todos trocaram um olhar um tanto surpreso.

Após um tempo de espera, a roda se desmanchou, dissolvendo os amigos em pequenos grupos. James tentou puxar assunto com Bill, a fim de amenizar um pouco o clima, mas o último mal lhe respondia. Sirius e Marlene se viraram um para o outro, trocando sorrisos. Lily permaneceu ao lado de Alice e Anita não demorou para juntar-se às duas, sentindo-se subitamente péssima por ter de presenciar Sirius e Marlene flertando.

As três puderam ouvir a voz galante de Sirius, enquanto ele abraçava Marlene, que ainda tremia de frio.

– E o que você vai fazer para me aquecer, querida? Sabe, eu também estou com frio.

– Você quer seu casaco de volta? - Marlene perguntou-lhe com ar de preocupação, sem entender a indireta, fazendo-o rir e balançar a cabeça, recusando.

Desviando os olhos deles novamente, Anita se virou e pôde avistar Lorens se aproximando do grupo, com um sorriso orgulhoso no rosto. Ela já estava novamente vestida com suas próprias roupas, mas mantivera nos cabelos o penteado e as flores com os quais havia se apresentado. A morena exalava felicidade.

Anita a abraçou e não queria soltá-la, exclamando repetidamente que estava muito orgulhosa da amiga. Todos a cumprimentaram por sua ótima atuação, exceto por Bill, que permanecera imóvel e de braços cruzados, mais afastado dos amigos.

Procurando o rapaz com os olhos, Lorens foi até ele. Os outros amigos continuaram conversando, sem prestarem atenção no casal.

– O que achou, Bill? - a morena perguntou, sorrindo, subindo nas pontas dos pés, a fim de cumprimentá-lo com um beijo, mas ele virou o rosto. Ela o olhou, confusa. - O que foi?

– Posso saber há quanto tempo você está ensaiando essa peça? – Bill perguntou, olhando-a muito sério.

Lorens não estava entendendo o por que daquela recepção e muito menos o motivo daquela pergunta. A peça havia sido tão mal executada assim, para ele ter ficado tão desapontado?

– Uns dois meses, mais ou menos. Por quê? Estava ruim?

Ele balançava a cabeça desacreditado, sem piscar. Lorens se encolheu levemente.

– Então durante todo esse tempo você esteve pegando o seu colega nos ensaios? - Bill estava fazendo o possível para manter-se calmo, mas as cenas românticas encenadas por Lorens não lhe saíam da cabeça. - Enquanto ainda saía comigo? - Seu tom era de indignação. - Você acha que eu sou um idiota?

Naturalmente, Lorens compreendeu tudo. Mas compreender o que incomodava Bill não lhe provocara o sentimento de culpa e a reação explicativa que provavelmente ele estava esperando. Como ele pôde confundir tanto as coisas?

– O quê? - fez ela, boquiaberta. - Você está bravo por causa disso?

– E você ainda pergunta? - Seu tom de voz aumentou involuntariamente, atraindo a atenção dos amigos. - Eu que te pergunto, Lorens! Você acha isso normal? Nunca te ocorreu vir me comunicar sobre o que você andava fazendo nas minhas costas todos esses dias?

Pare de agir como um idiota, Bill. - Lorens o cortou, fuzilando-o com o olhar. - Não seja ridículo. Eu não estava fazendo nada de errado, faz parte da minha profissão.

– Ah, não venha com essa conversinha! - as sobrancelhas de Bill se juntaram no meio da testa, indicando que ele estava furioso. - Então tudo o que te mandarem fazer, você vai aceitar sem nenhuma objeção? E se tivessem te dado um papel no qual você tivesse que fazer sexo com outro cara, você teria aceito também? Assim, sem problemas, sem nem se importar comigo?

– Mas do que é que você está falando!? - Lorens estava abismada com os absurdos que ouvira. - Você está me comparando com uma atriz pornô? Qual é o seu problema?

Àquela altura, os outros amigos já assistiam à briga dos dois, com expressões confusas. Anita estava se segurando para não se meter e gritar com Bill. Lily estava em choque demais para pensar em qualquer coisa.

– Ué, foi você quem disse que não fez nada de errado porque essa é a sua "profissão", não foi? - Ele fizera sinal das aspas com os dedos, a fim de diminuir a importância da profissão de Lorens. Bill respirou fundo e desviou os olhos. Continuou, mais calmo: - Como você não consegue admitir que você tinha que ter me consultado antes de aceitar esse papel?

– Como é que é? - Lorens quase rira com tamanha presunção. Mas não é possível que ele esteja me dizendo essas coisas, ela pensava. - Eu tinha que ter te pedido permissão? De onde você tira essas ideias tão absurdas, Bill?

Bill bufou, seu rosto estava vermelho de raiva.

– Um papel que obriga você a beijar outra pessoa, sim, porque isso nos afeta. Bom, digo isso porque eu achava que nosso relacionamento fosse fechado. - Ele deu um passo para trás, olhando-a um tanto enojado. - Como você pode achar isso normal? Você não tem um pingo de senso da realidade, Lorens. Depois disso, para mim acabou.

A morena estava demasiadamente indignada para poder esboçar qualquer resposta. Os amigos, que ainda os observavam, ficaram apreensivos por Lorens. Absolutamente ninguém estava esperando tal reação vinda de Bill, até porque ninguém havia imaginado que ele - ou qualquer outra pessoa - pudesse enxergar a situação daquele ângulo, tão distorcido. Pouco tempo depois, percebendo que Lorens não iria começar a se desculpar, Bill virou-se e começou a caminhar na direção do estacionamento, sem olhar para trás, sem se despedir.

Quando ele sumiu do campo de visão de todos, Anita andou alguns passos até Lorens, insegura se era o momento para se pronunciar. A morena ainda aparentava estar atônita com o que acabara de acontecer, estava tão compenetrada em seus próprios pensamentos que parecia não conseguir se deter a nada que pertencesse ao mundo exterior.

Todos só tiraram os olhos dela quando o carro de Bill passou pela rua, numa velocidade um tanto alta.

–--

– Ainda não acredito no que aconteceu. - Desabafou Lorens, sentando-se de qualquer maneira sobre sua cama, assim que chegaram em casa após a apresentação da peça. - Eu nunca esperaria uma reação dessas. Juro que não acabei de processar.

Lily e Anita sentaram-se cada uma sobre suas respectivas camas. Alice, que mais uma vez iria passar a noite com as amigas, sentou-se ao lado de Lorens e colocou o braço em volta de seus ombros. Ela abriu um sorriso triste, aceitando o apoio.

– Eu te entendo. - Alice também desabafou, soltando todo o ar de seus pulmões.

– Que merda de final de semana, não é? - Lorens completou, lançando um olhar amigo à morena. - Fiquei sabendo do que aconteceu ontem, Alice. Sinto muito.

Alice balançou a cabeça.

– Não foi tão merda, Lorens. - Anita resolveu animá-las. - A sua peça foi maravilhosa, não deixe com que o Bill estrague isso!

– Babaca. - Lorens amaldiçoou, distraída.

– Não mais do que o Frank. - Alice completou, cabisbaixa. Subitamente, ergueu a cabeça: - Vamos botar fogo na república deles?

– Bem que eles mereciam! - e Lorens soltou uma risada sincera, que aliviara um pouco o clima do ambiente.

E então, reinou o silêncio. Lily observava as amigas, tristes, e o sentimento de impotência experimentado na noite anterior voltou a pesar em seu peito. Sabia que assim como Lorens e Alice, Anita também estava chateada com o fato de Sirius ter saído com Marlene depois da discussão de Lorens e Bill. Respirou fundo. Era exatamente por isso que Lily Evans não se envolvia com alguém facilmente, ela simplesmente não saberia lidar com a situação caso algo parecido lhe acontecesse.

– De nós cinco, acho que só a Lene está feliz. - Alice resolveu quebrar o silêncio.

– Mas não posso dizer que estou feliz por ela. - Anita deixou escapar, cruzando os braços na frente do peito.

O rosto arredondado de Alice foi tomado por uma expressão interrogativa. Foi então que Anita lembrou-se de que a amiga não tinha conhecido do seu novo sentimento por Sirius. A própria Anita resolvera não lhe contar, uma vez que Alice era muito próxima de Marlene.

– Por que não?

As outras três amigas trocaram um breve olhar. Anita suspirou e decidiu que não existia razão alguma para continuar omitindo seus sentimentos de Alice.

– Digamos que... - A loira começou a explicar, insegura, sentindo as bochechas esquentarem. - Digamos que desde o começo do semestre, eu tenho visto o Sirius com outros olhos.

– Não creio, Anita! – Alice não conteve sua surpresa.

– Eu sei, eu sei. Nem eu acredito ainda.

– Mas faz sentido, pense bem. O Sirius é muito bonito, está sempre dando em cima de você, vocês moram juntos e já ficaram algumas vezes... - Alice balançou a cabeça. - E você não fez nada a respeito, Anita?

– Mas o que eu deveria fazer, Alice? É óbvio que ele não sente o mesmo. E agora ele está interessado na Marlene.

Alice assentiu com a cabeça, compreendendo tudo. Pensou como também deveria ter sido frustante para a amiga ter visto Sirius e Marlene flertando o tempo todo após a peça e, depois, tê-los visto sair.

– E a Marlene está gostando dele de verdade, Anita. - contou Alice. - Ela fala nele todo o dia. Mas ela não faz ideia do que você sente.

– Eu imagino. - Anita suspirou, desanimada.

– Você já pensou em conversar com a Lene sobre isso? – Lily perguntou, pensativa.

– Não. - Anita baixou o olhar. - Eu pretendo esquecer o Sirius em breve e não vou precisar atrapalhar os dois. Afinal, o problema não é a Marlene, não é ela quem "impede" qualquer coisa. O problema é ele, que não quer nada sério com alguém. Mesmo que eles não estivessem juntos agora, o Sirius estaria saindo com outra. A Marlene não tem culpa.

– E você vai saber separar isso da sua amizade com ela? - Alice parecia preocupada. - Eu não quero que vocês briguem.

– Eu já estou aprendendo a separar, Alice. E não, não está fácil. Mas nós conhecemos o Sirius, ele não vai demorar muito para se cansar de sair com ela. Ele não sai mais do que três vezes com a mesma mulher, disso todo mundo sabe. Então, em breve, eu espero que minha amizade com a Marlene volte ao normal e que eu esqueça o Sirius.

– Será que é coincidência vocês estarem passando por uma fase... ruim na vida amorosa? – Lily questionou, mirando as amigas com expressões notavelmente abatidas.

As três olharam para a ruiva.

– Por que só nós três, Lily? Você também! - Lorens acusou-a, num tom falsamente ofendido.

Eu?

– Por acaso você acha que a sua solidão é normal? - Anita explicou-lhe. - Você só tem dezenove anos e simplesmente ignora a possibilidade de ter uma vida amorosa normal, como se isso não te fizesse falta! Em que mundo você vive?

– Melhor sozinha do que mal acompanhada. Vocês que o digam, não é, meninas? - Lily revirou os olhos. - E eu tenho outras prioridades.

– Devo concordar com a Lily. - Alice disse, desolada.

– Nós temos que dar a volta por cima! – Anita subitamente levantou-se da cama e bateu palmas, tentando animar as amigas. - Já sei! A Festa de Halloween!

No entanto, as amigas não pareceram entender o que a loira quisera dizer.

– O que tem essa festa? – Lorens perguntou, sem entender.

– É a festa mais próxima na qual Sirius, Frank e Bill certamente estarão, querida! – Anita exalava empolgação. – Isso significa que o nosso prazo de sofrimento tem até o fim do mês. Eles vão se dar conta do que perderam!

Por fim, Anita fora a única que havia melhorado de humor. O resto da noite passara rápido, e todas procuraram dormir cedo, cansadas dos pensamentos aflitivos. O sono era o único refúgio.


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Notas finais do capítulo

E aí, gente, o que acharam? Quem aí nunca teve uma amiga/conhecida que namorou um machista idiota? Pois é, mas pelo menos a Lorens percebeu isso no primeiro chilique.
Contem-me o que acharam!

Obrigada a todos, sempre. A fic ultrapassou os 100 acompanhamentos e eu estou muito feliz com o retorno de vocês!

Beijos,
Carol Lair