Olá, meu pequeno Encantador de Dragões,
Sei que não é mais pequeno a muito tempo, mas sempre será aquele garotinho frágil e magricela para mim.

A primeira vez que o vi foi no seu nascimento, era um dia de inverno e eu trazia uma forte nevasca até Berk. Enquanto você vinha ao mundo para aquecer a todos.

Naquela época ninguém me enxergava, então eu apenas trazia o inverno e observava seu crescimento, assim como de outras crianças. Não havia favoritismos. Eu desejava tanto que me enxergassem. Afinal estava lá, trazendo seus divertidos dias de neve.
Mesmo sendo quem sou agora, não sabia quem havia sido antes disso. E precisava ter algo antes disso. Devem existir motivos para eu estar aqui. Por que neste mundo em que não me veem? Um mundo no qual sou apenas um fantasma vagando. E o homem na lua nunca respondeu a minhas perguntas.

Foi então, que em um dia de neve, seu pai fez uma piada sobre mim, pois sua mãe – a qual você ainda não conhecia – sempre dizia que era eu quem trazia o inverno. É como dizem, as mães sempre estão certas. E você acreditou, eu vi seus olhos de quem acreditava. Seus olhos de quem enxergava.
Então eu tentei. Foram diversas vezes. Eu não podia estar enganado, você, no meio de tantas crianças no mundo, me enxergaria.

A primeira vez que me viu ainda não havia capturado seu primeiro dragão. Fiz com que caísse e deslizasse por alguns metros em meio a floresta – garanti que não batesse em nenhuma arvore. – e você gritou. Gritou o meu nome. Isso soava como a mais bela melodia. Não era só porque você acreditava, e eu ainda não sabia disso, mas era por ser a sua voz.
Eu não falei com você. Não tive coragem. Mas sabia que havia me enxergado. Finalmente.

E foi no inverno anterior a captura do seu primeiro dragão que finalmente trocamos palavras. Você me enganou direitinho. Conseguiu falar comigo, e eu não tive saídas. Confesso que não sabia o que dizer, nunca alguém, além do homem na lua, havia falado comigo. E em meu peito, havia toda aquela alegria por alguém finalmente me ver. Foi inexplicável. Indescritível.

Nós divertimos muito não foi?

Durante todo o inverno.

A primavera se aproximava você perguntou se eu ainda estaria lá. Sim, com certeza, continuo a existir quando a primavera chegar e continuarei aqui.

Assim, continuamos a compartilhar momentos de diversão.

E todas as suas queixas, em relação a seu pai, a Berk, e principalmente aos dragões. Eu sabia que um dia iria mudar, que você seria um grande Viking. Também pensava que compartilharia toda essa felicidade com você. Eu queria compartilhar toda essa felicidade com você. Porque, quando você se tornasse um grande Viking, provavelmente sentir-se-ia do mesmo modo que eu, quando você finalmente me enxergou.

Foi no Equinócio de Primavera.

Como sempre nos encontramos na floresta. Era apenas mais um dia, tudo que havia de diferente era que a neve já derretia.

Talvez seja verdade. Talvez a primavera seja a estação do amor.

Não sei se entendia o que estava fazendo quando tocou meus lábios frios levemente com seus lábios quentes. Mas, naquele momento, as coisas fizeram mais sentido pra mim. De repente eu não precisava mais saber quem havia sido antes de ser o que era, ou o porquê de estar aqui, estar com você já era o bastante. Aquele momento já significava estar aqui neste mundo. Que agora, era o mundo em que você me enxergava.

Nos despedimos com a promessa de estar lá no dia seguinte, como havia sido durante todo o inverno, e como deveria ser na primavera. Então no verão, e no outono, até que eu trouxesse o inverno novamente.

Mas o homem na lua estava estranho.

E eu pensei.

Pensei em como eu sempre fui assim, desde que tenho consciência, essa aparência sempre me pertenceu. Já faziam por volta de 100 anos. E viriam muitos mais. Eu continuaria igual. Sempre o mesmo trazendo o inverno.

Mas você não. Muitas mudanças ocorreriam. Você ainda tinha muito a crescer.

Não podia fazer isso.

Não podia ficar com você.

Eu seria capaz de dedicar minha eternidade a você. Mas nunca poderia tomar sua vida inteira para mim. Desculpe-me.

Então, eu sai da sua vida, assim como cheguei, antes mesmo do seu primeiro dragão.

Meu gélido coração doeu quando não pude mais receber seus quentes beijos, enquanto via-o triste.

Mas quero que saiba, eu vi tudo. Eu o acompanhei durante toda sua vida. Eu o vi com seu primeiro dragão, com sua primeira namorada, que veio a se tornar sua esposa. Foi um casamento lindo. Você se tornou incrível, como eu imaginava.

Tenho orgulho de você.

Agora, sua vida esta chegando ao fim, eu sei. Embora seja tarde para recuperar aquele sentimento, daquele belo inverno, eu queria que soubesse que estou aqui. Eu sempre estive aqui. Amando você. Saiba, que por toda minha eternidade, nunca fui tão feliz como naquele inverno. Nem serei. Mesmo que venham a me enxergar. Não será você. Não será mais quente. Sei que a eternidade é muito tempo, mas talvez não seja o suficiente para mim, para todo esse sentimento.

Talvez, essa carta não lhe signifique muito. Mas estou feliz só de deixa-la aqui. Acredito que nem me enxergue mais. Mas tudo bem. Está tudo bem agora. E se não, ainda ficará.

Obrigado por acreditar em mim.

Com amor,

Jack Frost.