A Caminho escrita por Sra Scala


Capítulo 8
Capítulo 8




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Ajudar os enfermeiros a tirar Betsy da caminhonete e vê-la enfraquecida e pálida... Teria sido menos doloroso ter recebido uma surra por tê-la deixado sozinha no celeiro.

Manter Betsy conversando havia sido a única ideia que me veio a cabeça para fazê-la ficar acordada até chegarmos ao hospital... Até que ela começou a falar algumas coisas bem... surpreendentes.

Não que eu tivesse me surpreendido por ela ter falado sobre a infância dela para a amiga... O que me pegou desprevenido foi ela ter ido tão mais além enquanto falava comigo.

Aquilo era... Um absurdo! A escola que frequentávamos era uma piada e a maioria das notas baixas de Betsy aconteciam simplesmente por que ela queria ficar junto com as outras crianças de nossa sala...E a bem da verdade, Betsy se interessava bem pouco por aquele lugar. Uma vez ouvi a mãe de Betsy dizer o quanto estava contente por Betsy ter conseguido ficar entre os dez primeiros em um dos vestibulares mais concorridos da região. Isso sem falar em todas as vezes que ela falava das diversas cartas de admissão que Betsy havia recebido... Tudo o que eu fazia era acompanhá-la... E nem me esforçava demais para isso...

E qual é, os cavalos nem são tão assustadores assim... Intimidadores, talvez... mas assustadores?

E Amanda Rogers era uma metida a besta que sempre tentou ostentar o que não tinha... A cabeça de vento era filha do dono da mercearia da cidade e queria pagar de mais rica que a filha do dono de metade da cidade... Será que algum dia ela desconfiou que fora o pai de Claire quem ajudou o pai dela a abrir o negócio que eles tinham?

Mas ouvir que ela tinha inveja por não ter "expectativas" a corresponder... Eu realmente nunca pensei nesse lado da moeda... Quantas coisas Betsy deixou de fazer para estar entre aqueles dez primeiros, ou para conseguir tantas admissões? Eu conhecia o Sr. e a Sra. Mills o suficiente para saber que eles eram bastante exigentes em algumas coisas...

De repente me lembrei de algo que Besty dissera quando me contara sobre o pai dos bebês: "era o tipo de cara que o meu pai ficaria feliz em ter como genro"... Aquele bastardo idiota... Eu realmente queria dar uma surra naquele sujeito.

O que eu realmente queria...

Eu nunca quis sair da fazenda por que nunca gostei da ideia de morar na cidade. Gostava da vida no campo, da proximidade com os cavalos... Minha vida, e a vida dos meus pais ali não eram ruins... Sempre tivemos tudo, e até muito mais do que queríamos ou precisávamos.

E aquela fazenda enorme... Podia ser tão mais que só uma fazenda... Uma pena que o pai de Betsy nunca enxergara isso... Não era raro eu querer...

Enquanto ela e os gêmeos eram levados para receberem cuidados, fui até a recepção registrar a entrada no hospital, ao pegar a carteira dela para pegar seus documentos pessoais, me surpreendi com uma foto bem antiga nossa. Devíamos ter... Seis, sete anos?

A quem eu estava querendo enganar? Eu queria Betsy... Queria ficar perto dela, protegê-la, impedir que outros a fizessem chorar... Diabos de hora pra pensar em uma coisas dessas!

Esperei na recepção pelo que pareceu uma eternidade, até que Kassidy apareceu. Uma mulher muito bonita, é preciso admitir... Mas nem de perto tão bonita como Betsy...

–Então você é o famoso Robbie?

O sorriso brilhante e malicioso dela fez meu rosto esquentar.

–Eu mesmo... E Claire doutora, como ela está? E os gêmeos?

Essas perguntas vinham me martelando desde que eu coloquei o carro em movimento.

–Primeiro, é Kassidy, ou Kassy, tanto faz. Segundo... Os três já foram examinados, e está tudo bem com todos. Claire teve uma hemorragia leve, mas acredito que tenha sido por causa do balanço do carro... Você fez um ótimo trabalho por sinal.

Tentei disfarçar o alívio que senti por não ter machucado Betsy ou os bebês. Eles estavam bem, era o que importava.

–Já tem previsão de alta?

–Ainda é um pouco cedo para dizer... Gostaria de manter os três aqui até ter certeza de que não haverá nenhuma surpresa desagradável... E os bebês precisam ganhar um pouco de peso... Mas acredito que não deva precisar de mais que uma semana.

–Entendo.

Kassidy saiu minutos depois dizendo que havia uma paciente esperando por ela.

Quando ela se foi, sentei-me em uma poltrona na recepção, e finalmente me permiti relaxar.

Minutos se passaram antes que eu percebesse que teria que avisar aos pais de Besty que ela estava no hospital. Mas antes de ligar para o Sr. Mills, liguei para a fazenda. Talvez Betsy fosse precisar de alguma ajuda com os gêmeos, e minha mãe era, provavelmente, a pessoa que Betsy mais confiaria para isso.

Além disso... Eu precisava conversar com meus pais sobre uma coisa.

Mais ou menos oito horas haviam se passado desde que chegamos ao hospital e Betsy continuava dormindo. Minha mãe conseguiu chegar cerca de quatro horas e meia depois de eu ter ligado para ela, o que era um record considerando que ela detestava que meu pai corresse com a outra caminhonete que o Sr. Mills mantinha na fazenda.

Demorei um pouco para reunir coragem de contar a ela e a meu pai o que havia acontecido e o que se passava em minha mente. Não que eu precisasse de sua aprovação. Mas não queria dar um passo precipitado demais... E falar com alguém (geralmente com meu velho) me ajudava a pensar com um pouco mais de clareza e convicção nas minhas decisões.

Depois de falar o que queria e ouvir o que eles achavam, minha mãe entrou no quarto em que Betsy estava. Meu pai começou a busca por um hotel onde poderíamos ficar. Achei que já era hora de ligar para o pai de Betsy e avisá-lo que seus netos haviam nascido.

O pai e a mãe de Betsy moravam do outro lado da capital, e chegaram ao hospital mais ou menos uma hora após eu chamá-los.

Embora Arthur Mills já tivesse passado dos cinquenta anos, ele aparentaria facilmente estar no meio dos quarenta. Dei-me conta de que não o via há mais de dez anos quando vi sua cabeleira grisalha, mas os olhos verdes continuavam vivos, penetrantes e simpáticos. Os cabelos de Sophia, mãe de Betsy, pareciam não terem sidos alcançados pela idade, continuavam no mesmo castanho que emolduravam os olhos da filha.

Ao vê-lo, reconsiderei a ideia de abordá-lo de imediato. Ele não havia ficado exatamente contente com Betsy quando ela lhe contou sobre a gravidez. A Sra. Mills conseguiu ser conciliadora o suficiente para fazer com que ele não explodisse sua ira e a deixasse quieta na fazenda.

Aparentemente, ela não só conseguira amansar a fera como também o fizera mais receptível à ideia de ser avô. O Sr. Mills parecia estar muito mais calmo... E até animado em ver os netos. A Sra. Mills estava simplesmente radiante.

Betsy e os gêmeos, que ela chamou de Sean e Catherine receberam alta mais ou menos cinco dias após o parto. Eu a vi pouco nesse meio tempo, mas nunca a vi mais linda. Ela tinha uma alegria tranquila que contagiava e eu podia jurar que seu sorriso aumentava cada dia mais (e que havia um rubor em suas faces cada vez que me via).

Por convite da Sra. Mills., meus pais e eu ficamos na casa que eles possuíam na capital. O lugar era enorme, tão grande como o casarão da fazenda, mas nem de longe tão acolhedor. Apesar dos vários arbustos espalhados pelo jardim, as paredes brancas a faziam parecer sem vida.


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