Talvez Seja Mais do Que Isso escrita por HeyNick


Capítulo 8
Capítulo Oito


Notas iniciais do capítulo

Capítulo mais curtinho que o normal, só para vocês ficarem bravos comigo hehe



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Capítulo Oito

 

Atena

Apesar do frio que fazia, a luz do sol refletia no portão branco, tornando dolorosa sua missão de olhar o movimento inexistente da rua. Sentada no jardim circular, a pedra fria da fonte não tornava a estadia mais confortável. Uma punição merecida, na verdade. Não sabia que estava acontecendo.

— Sei que será domingo, então lembre-se de dizer para todos que não é obrigatório e que pagaremos hora extra para quem quiser vir.

— Sim, pode deixar que falo com todos – disse Camille pelo telefone. – E não se preocupe. Estarei aí.

Desligando o telefone, ela suspirou. Odiava ter que tirar a paz dos outros, mas o remorso era melhor do que ficar sozinha com Poseidon, ainda mais quando tudo estava tão estranho.

Atena observou Whisky cavando no gramado molhado a alguns metros, apenas para se deitar sobre a terra logo depois. Definitivamente, alguém precisaria dar um banho nele amanhã. 

— Whisky! – chamou ela, sendo prontamente ignorada pelo cachorro, que latia no portão – Então tá bom. Tchau para você.

Atena se levantou, alongando antes de decidir entrar em casa. Não era como se pudesse fugir, afinal. Fechando a porta atrás de si e sentindo o ar quentinho e confortável da casa abraçar seu corpo, percebeu o quanto estava frio do lado de fora.

— Poseidon! – ela gritou.

Prontamente, ela escutou passos rápidos vindo em sua direção. Atena segurou o revirar de olhos, sabendo que ele não era acostumado com convivência, mas – céus – ele não podia agir como uma pessoa normal e simplesmente responder “oi”?

— Atena?! Você está bem?!

Ela o viu no topo da escada, e arrumou seu chale envolta dos braços.

— Estou bem. Você sabe quantos graus estão fazendo do lado de fora?

— Não tenho ideia. Por quê? – ele perguntou, confuso, enquanto o peito subia e descia rapidamente sob a camisa, a voz levemente ofegante.

— Acabei de voltar de lá. Está muito frio. Não acho bom os cachorros ficarem do lado de fora de noite.

— Tudo bem - ele disse, o cenho franzido. - Vou colocá-los para dentro daqui a pouco. Mais alguma coisa?

— Sim. Estou com fome. Está criativo a ponto de inventar alguma coisa na cozinha?

 

Poseidon

Era estranho cozinhar para Atena. Ao chegar na cozinha, percebeu que nunca tinha feito isso. Não era como se tivessem tido oportunidade, afinal. Quando mais novos, sempre que ele ia a casa dela, cozinheiros e padarias se encarregavam dos lanches e refeições. O moreno, por sua vez, não tinha uma casa para onde pudesse leva-la, que dirá um fogão.

Poseidon sempre adorou cozinhar. Era algo que o lembrava de sua mãe, e pegou-se pensando se Atena gostaria de alguma coisa que ele fizesse.

Ainda indeciso sobre o que fazer, decidiu que lavar a louça seria um bom começo. Não suportava pensar em fazer comida com louça suja na pia, e decidiu que seria bom para colocar os pensamentos em ordem e se acalmar depois da conversa que tiveram.

Por fim, o exercício acabou lembrando-o mais ainda de sua mãe. “Eu não olho pro fogão e espero a comida aparecer magicamente. Então você não vai olhar para a pia e esperar que a louça se lave.”

Poseidon sorriu.

Ela foi a melhor pessoa do mundo.

Mesmo diante de todas as dificuldades que encontravam, ela era forte e se esforçava para ajudar os outros. Poseidon se lembrava do quanto ela dava duro. Sabia que, por conta da pensão de seu pai, provavelmente não precisava pegar tantas horas extras no final de semana, mas o fazia para poder ajudar outras famílias do bairro.

“Estudem, crianças. Esse é o único jeito de melhorar este mundo e de vocês se ajudarem”, sua mãe dizia para ele e seus dois irmãos todos os dias, antes de os perder de vista enquanto iam para o ponto de ônibus perto da casa.

Poseidon fechou os olhos, a lembrança da mão muito pálida segurando a sua, a voz fraca marcada em seus ouvidos.

“Talvez você pense que não está pronto, mas está. Eu te preparei para isso. Não deixe que eles se percam, está bem? Você é o mais velho, o mais forte, precisa cuidar dos dois. Você não vai estar sozinho: a família do Chris vai ajudar, com certeza. Mas você precisa estudar, fazer sua parte, e vai crescer muito. E, quando isso acontecer, vai ajudar os outros. Não vai desrespeitar ninguém. Nunca se esqueça que já esteve por baixo, e eu garanto que nunca irá querer que alguém se sinta assim. Nunca se esqueça de onde você veio.”

E então ela se foi. Claro que Poseidon, tendo acabado de completar doze anos de idade, não entendera metade do que ela havia dito. Mas essas palavras sempre o seguiram.

“pense nos outros”.

E ele pensava. Ele sempre pensava. Era muito difícil, ele admitia, mas ele pensava.

Bem, exceto por quando completara 23 anos e, pela primeira vez em muito tempo, permitira-se pensar em si mesmo. Provavelmente a pior decisão de sua vida, mas não conseguia se imaginar sem Atena, e precisava ajudar os irmãos. Claro que ele não pensou que ela fosse odiá-lo tanto assim por isso.

— Por que você nunca usa a lava louças? – perguntou Atena, colocando um copo de água intocado dentro da pia.

— Para nunca me esquecer de onde vim.


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