Se Gimli estivesse sozinho, tremeria da cabeça aos pés.

Assim que pisara na areia cinzenta de Hiberia, o cheiro de aventura tomou conta de cada pedaço de seu corpo. O lugar, frio, embora litorâneo, era decorado com um mar de árvores grosseiras, diferente dos pinheiros que estava acostumado a ver dia após dia. Podia ver a neblina por cima das árvores, escondendo chuviscos e raios.

Os outros homens e anões que o acompanhavam no navio saíram em pulos, poucos falando sobre as águas geladas e o clima escuro. Com espadas, machados e arcos em mãos e mochilas nas costas, adentraram a floresta sem se preocupar, enquanto alguns ficavam para vigiar o objeto de locomoção.

Quanto mais entravam, mais úmido ficava. Em seu lar, as épocas de frio eram decoradas por tempestades severas e rudes. O silêncio foi quase imediato. As vozes pararam de murmurar entre si, cada olhar observando o ambiente. “Legolas iria adorar” Gimli pensou consigo, observando algumas árvores que se entrelaçavam e seriam perfeitos alvos para as flechas finas do amigo. Era uma pena Legolas ter tamanho receio do mar.

Passaram dias andando pela mata, estabelecendo um limite. Marcações eram feitas para o caso de perda do caminho, poucos animais haviam sido caçados e as noites eram repletas de cantorias e histórias. Gimli sempre acabava dormindo agarrado em algum barril de cerveja, o que irritava profundamente os homens que carregavam no outro dia. É claro que ele mal se importava, fazendo piadas e avisando que aconteceria mais vezes.

Na tarde do décimo terceiro dia em que estavam andando dentro de Hiberia, um anão, Belavar, voltou ofegante de uma caçada. De mãos vazias, não parava de apontar e atropelar as próprias palavras. O que todos já haviam entendido era que ele não se referia não era nada “caçável”. Como uma ordem de um dos homens, quinze dos vinte viajantes presentes foram até o lugar em que Belavar havia visto algo que tirar o fôlego, literalmente.

Não andaram mais que quinhentos metros, parando em uma clareira. Uma ponte de pedras ligava o lugar até o outro lado, uma vez que um buraco enorme estava aberto no chão e cheio de água que vinha direto do oceano. Gimli atropelou todos para chegar a frente e ver a imagem que fazia todos ficarem com o queixo caído. A boca do anão abriu-se em um perfeito “o”, mal acreditando na imagem diante de seus olhos.

— Pelo centenário de Arda, — um homem quebrou o espanto silencioso. — o que é isso?

— Não há menção em livro algum esse… lugar — um anão respondeu.

— Não, não está — Gimli tomou a vez de falar. — Está mencionado em lendas.

Todas as cabeças se viraram para Gimli, que estufou o peito e manteve-se em silêncio. Continuou observando o horizonte, esperando que todos se esquecessem de sua existência, mas cada mente ali parecia querer saber do que o filho de Glóin já sabia.

— O que foi? Vocês acham que em toda Arda somos os únicos vivos? Os orcs são o suficiente? — Ele reclamou, envergonhando os outros. — Meus caros companheiros, anões e homens, viajantes de Hiberia. Estamos diante do reino de Tenebrae, esquecidos pelos Ainur, selvagens de Eru Illúvatar. Sugiro que afiem suas lâminas.