Agilidade escrita por Diane


Capítulo 13
Capitulo 13 - Após o Ataque.




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No final, acabamos com as aberrações de Trivia. Claro que eu estava feliz por isso, mas também tivemos baixas, várias baixas. O ataque aconteceu quando a maioria dos alunos estavam dormindo, e muitos morreram dormindo e outros no campo de batalha. Além disso, o átrio esquerdo virou cinzas. Segundo Ilithya, lá estava guardados os armamentos e também onde os alunos mais fracos estavam escondidos. Tudo virou cinzas.

Sei que eu deveria estar triste pelas baixas, no total foram vinte alunos mortos, mas felizmente eu não conhecia nenhum. Então, fiquei aliviada por saber que ninguém que eu gosto morreu.

Do portão (ou de onde existia um portão, já que ele virou cinzas também) até a entrada do Campo de Treinamento, o solo estava queimado, com os cadáveres de aberrações de Trivia e... bem, melhor não mencionar.

A parte interna do castelo permaneceu intacta, com exceção do átrio esquerdo. Tinha algumas partes queimadas, flechas enfincadas nos lustres, mas não era nada demais comparado ao resto.

Entrei no meu quarto. Deuses, eu precisava de um banho, estava me sentindo absolutamente imunda e esfolada. É claro, depois do banho eu teria que tomar um banho de álcool por causa desses “arranhõezinhos” por que eu realmente não preciso de uma infecção.

Antes de entrar no banheiro reparei que Vanessa estava deitada na cama encarando o teto pensativamente. Ah é, ela precisa saber que o ex-namorado dela era um deus psicopata que tentou me matar.

— Oi Vanessa — disse — Seu ex-namorado é o deus grego da morte, e, aliás, ele é meu irmão e quis me matar.

Não me olhem feio. Eu fui direta. Qual é o problema disso?

A ruiva me encarou por cerca de dez segundos. Aparentemente, deu alguma falha no sistema cerebral dela.

— O que?

Revirei os olhos. Ela está convivendo muito com Damien, deve estar pegando a lerdeza dele.

— Isso que você ouviu — disse.

Demorou cerca de cinco segundos para ela esboçar uma reação. Bom, pelo menos dessa vez levou a metade do tempo.

— Ele não é um deus! — ela protestou — É apenas um mortal louco!

Por algum motivo, me irritei. Sei lá, sempre me irrito quando duvidam de mim. Isso me tira do sério.

— A criatura é Thanatos — falei — Até Ilithya acredita nisso. Só um deus poderia quebrar as barreiras daqui. Mortais, por mais fortes que fossem, jamais conseguiriam isso. E oque você me diz do átrio esquerdo? Virou cinzas.

O rosto dela estava tão vermelho quanto o cabelo.

— Você está louca! Ele é mortal e eu vou provar isso matando ele! — ela gritou enquanto enfincava as unhas no travesseiro. Tive pena do travesseiro.

Ah, deuses, não bastava eu estar esfolada e essa criatura ainda quer me deixar com dor de ouvido? Ninguém merece.

— Eu tentei matar ele. Tentei enfincar uma lança no peito dele, e sabe o que aconteceu com a lança? Virou cinzas na minha frente. Novamente tentei ataca-lo com um punhal, e o punhal virou cinzas também. E depois ele me torturou com magia, como se eu fosse uma bonequinha indefesa.

— Você está louca! Isso é impossível! Não é a primeira vez que você tem alucinações — Agora ela estava mais vermelha ainda de raiva e abraçava Presidente Au-au com força. Sério, esse cachorro deve ser imortal, tem mais de dez anos, e sobreviveu á um ataque quando dez descendentes de deuses morreram.

Nunca tive alucinações, sério. Aquela cobra flamejante foi real, mas aparentemente ninguém acreditava, exceto Idia. Falando em Idia, ela estava na janela ao lado de Mingau. Os dois estavam intactos, mas Mingau tinha um pequeno corte atrás da orelha. Eles devem estar com bafo por causa da quantidade de aberrações que comeram, mais tarde vou escovar os dentes deles.

Então voltei minha atenção para Vanessa. Ela esmagava o pobre cachorrinho com os braços.

— Vanessa você está esmagando o chiuhuahua! — repreendi. O cachorrinho já era zoiudo por natureza, e agora parecia que os olhinhos dele iriam saltar das orbitas.

— Ele não é um chiuhuahua, é um pinsher!

Sério? Poxa vida, passei a maior parte da minha vida me referindo á ele como chiuhuahua demoníaco. Então ele é um pinsher.

— Tanto faz a raça dele agora. Mas caso você não acredite em mim, pode perguntar á sua tia — falei.

— Não importa! Você e a minha tia são loucas! Vou provar isso quando matar aquele desgraçado — ela gritou.

Ai. Meus. Ouvidos. Essa criatura deve estar pensando que sou surda, só pode.

— Sério que você vai matar ele? — quase me engasguei de rir — Eu que sei portar armas, sei me defender, sou filha de uma deusa primordial, conhecida como uma das feiticeiras mais poderosas que existiu no passado, não consegui. Você que só sabe como manusear um esmalte e só entende sobre coisas de beleza, como você vai conseguir mata-lo? Com batom superpoderoso?

Ela me lançou um olhar assassino. Dane-se eu já estou acostumada com olhares assassinos.

— Você é louca!

Comecei a rir. Um plano cruel começou a se formar na minha cabeça.

— Já que eu sou louca, pode dormir sozinha essa noite. Eu vou para o quarto de Mary, pelo menos ela nunca me chamou de louca. Mas caso ocorra um ataque novamente, você vai estar sozinha.

— Pode ir! — A ruiva grasnou. Quem visse podia até pensar que ela nem estava preocupada com a hipótese de passar a noite sozinha após um ataque. Mas eu conheço a criatura, ela estava se armando de coragem quando falou isso e vai passar a noite inteira agarrada no cachorro.

— Ótimo — falei — Venham comigo bicharada.

Abria porta para sair e Idia e Mingau pularam da janela para me seguir. E até Presidente Au-au se desvencilhou dos braços de Vanessa e pulou no meu colo. Tipo, o bichinho pula alto mesmo.

— Até você... — Ela murmurou chocada olhando para o cachorrinho no meu colo.

Presidente Au- au sorriu. Tipo, sorriu mesmo, colocando as pressinhas para fora e franzindo a boquinha e depois latiu. Esse animal e estranho, falo apenas isso.

Até parecia que o cachorro sabia que eu que estava certa e não a dona dele.

[...]

Tive que bater três vezes na porta para Mary ir atender. Quando eu estava começando a me preocupar com a possibilidade dela ter sido abduzida, ela abriu a porta e gritou.

Sério, esse povo tá fazendo complô para me deixar surda.

— Oi Mary, pode parar de gritar e me deixar entrar?

Os animais tinham colocado as patinhas nas orelhas. Coitados, se para mim isso dói, imagine para eles que tem uma audição mais evoluída.

Ela se afastou da entrada da porta ainda com os olhos arregalados.

— V-você tá coberta de sangue... — ela murmurou em choque.

Revirei os olhos.

— Eu lutei com centenas de aberrações, você acha que era para mim estar coberta de chantili com morangos?

Agora foi ela que revirou os olhos.

— Christine, sempre tão delicada quanto uma tijolada na cara.

Sorri. Gostei desse adjetivo, delicada como uma tijolada na cara.

— Mas fique tranquila, grande parte desse sangue não é meu.

O quarto tinha um bom espaço livre sem moveis ou objetos. Isso era bom. Fechei os olhos e imaginei uma cama enorme ali, uma bela king size cheia de lençóis e cobertores felpudos. Isso, uma cama com estrutura preta com lençóis brancos e cobertores cor de vinho, bem quentes. Mentalizei firmemente que aquela cama estaria ali.

Imaginei que uma cama segundo a descrição iria sumir de uma loja e iria aparecer ali. Quando abri os olhos a cama estava no quarto. Por um momento, imaginei a cara dos mortais quando vissem que uma cama desapareceu da loja misteriosamente.

— O que você está fazendo? — Mary tinha franzido o cenho.

— Oras, eu vou dormir aqui. Vanessa resolveu que ela ficaria mais feliz sozinha com um ursinho de pelúcia esfarrapado.

— Okay então.

Coloquei Presidente Au-au debaixo das cobertas e depois coloquei meus gatinhos encima do travesseiro. Presidente Au-au sorriu e tentou mordiscar meu dedo.

— Vá dormir cachorrinho esquisito — Tirei meus dedos da frente dele e olhei para Mary que me olhava admirada.

— Você sequestrou o pinsher da Vanessa! — Ela acusou.

Engraçado, todo mundo sabia que ele é um pinsher menos eu...

— Ele quis vir comigo — expliquei e então percebi que estava necessitando urgentemente de um banho — Onde é o banheiro? Eu estou sentindo o sangue das aberrações coagularem encima de mim, eca!

— Ali — Ela apontou para uma porta branca.

Fui correndo para o banheiro. Nada seria mais saudável para mim do que uma bela banheira de água quentinha.

O banheiro era coberto por azulejos azuis claros uma pia branca, e o principal, uma banheira hidro grande. A banheira do dormitório de Mary é maior que a do meu dormitório, injustiça! Amanhã irei reclamar com Ilithya.

Enchi a banheira de água quentinha e pulei nela. As minhas roupas não tinha cura, por mais que eventualmente eu venha a lava-las, as manchas de sangue nunca vão sair, então resolvi queima-las. Bom, mais tarde conjuro outras.

Agora livre da película de sangue seco, dava para ver que eu estava totalmente esfolada. Arranhões na perna, nos braços, na barriga... Felizmente não eram tão profundos para ter que dar ponto. Detesto levar pontos, é desagradável. Tudo bem, talvez alguns teriam que levar ponto, mas meu consciente não quer admitir a triste realidade.

Conjurei algumas roupas e saí do banheiro logo depois de vesti-las.

Assim que saí do banheiro dei de frente com uma cena desagradável. Mary estava sentada na cama, conversando animadamente com a garota psicótica que conjurou uma cobra flamejante para cima de mim. Senti uma vontade estranha de começar a chamar Mary de traidora.

— Mary quem é ela? — Fingi que eu não sabia quem a praga era.

Não foi Mary que respondeu, a garota respondeu antes.

— Meu nome é Kimberly — Ela se apresentou — Conheci Mary enquanto estávamos na Torre Norte parando o ataque das aberrações.

Apertei a mão dela e murmurei meu nome. Aparentemente, ela estava fingindo que não me conhecia e nunca tinha jogado uma cobra flamejante para cima de mim.

Sentei na minha cama joguei os cobertores encima de mim.

— Kimberly, acho que te conheço — Me fingi de confusa e depois pisquei — Não é você que lançou uma cobra gigante psicopata para cima de mim?

E ela ainda teve a ousadia de parecer confusa. Vaca.

— Não... eu apenas lancei uma bola de fogo...

Mais que depressa, Mary começou a defender a amiguinha.

— Eu andei falando com os professores. Eles disseram que coisas assim podem acontecer. Quando alguém está em fase de desenvolvimento de poderes pode ter alucinações.

Alucinações. Adorável. Virei-me para ver se Idia iria interceder por mim, mas a gata preguiçosa devia estar no sétimo sono.

— Tenho certeza plena que não foi uma alucinação.

Mary revirou os olhos.

— Você é teimosa.

Oh, que grande novidade, não é?

Kimberly se sentiu desconfortável (ou culpada, ou sem desculpas esfarrapadas suficientes para mais horas, o que acho mais provável) e resolveu ir para o quarto dela e dormir. Durante a noite inteira aguentei Mary resmungando sobre regras de cortesia e me lançando olhares assassinos.

Eu trocaria de quarto de boa vontade, mas queria deixar Vanessa passar um pouco de medo sozinha. Não tenho muitas amigas para ficar no quarto, na verdade, acho que Ilithya acharia muito incomodo se eu passasse a noite no quarto de Damien, Alec ou Sam.

Ah que se dane Mary, me virei para o lado na cama e resolvi dormir. Naquele dia dormi mais cedo que de costume, bom, lutas cansam.

[...]

Perspectiva de Vanessa

A coragem e a irritação de Vanessa se esvaíram assim que começou a escurecer. Claro, é normal que depois das seis horas da tarde o céu comece a escurecer, certo? Mas por algum motivo, isso a quase fez surtar. Imediatamente ela fechou as janelas e acendeu a luz elétrica.

Okay, estou ficando paranoica, ela pensou.

Mas mesmo assim ela fechou as janelas com toda a segurança possível. Ela lembrava muito bem do que tinha acontecido algumas horas atrás. Estava tudo calmo, a ruiva estava dormindo tranquilamente e então foi arrancada da cama por Christine que estava dizendo algo sobre um ataque ao Campo de Treinamento e depois mandou ir até Ilithya. É claro que Vanessa foi até a tia. No caminho ela viu todo o tipo de monstros e aberrações, e deuses, ela deve ter superado o recorde de corrida mais rápida. Até agora seus pés doíam. Ilithya tinha a mandado para o átrio esquerdo, onde estavam os doentes, os feridos, os inexperientes e é claro, os idiotas que não serviam para nada e eram absolutamente inúteis. Vanessa, obviamente estava na última categoria.

Vanessa não gostou nem um pouco de ser inútil. E nem de ser classificada de inútil pela própria tia. Mas fazer o que, era realidade, e ela como não gostaria nem um pouco de estar no campo de batalha sendo fatiada, resolveu ficar escondida no átrio esquerdo, o lugar mais protegido do Campo de Treinamento. O átrio esquerdo foi construído para isso, ser um lugar seguro. Para chegar lá, tinha que atravessar o exército além de barreiras. Ali que as armas ficavam escondidas em estoque, e também foi o local perfeito para esconder os inúteis.

A ruiva estava se sentindo estressada naquele lugar. Até a doce e meiga Mary tinha ido para a torre atacar as aberrações com magia. Até Mary era mais útil que ela. Também era desconfortável ficar presa com criancinhas chorando e doentes reclamando.

O que ela podia fazer? Nada, além de rezar para todos que ela gostassem voltassem vivos, e de preferencia com os membros intactos.

Então as paredes do átrio esquerdo começaram a virar cinzas. Ela se desesperou. Como se não pudesse ficar pior, os moveis começaram a desaparecer. As pessoas corriam em pânico se pisoteando, mas então as pessoas começaram a virar cinzas.

Ela ficou parada, em choque observando tudo aquilo. Ela esperava que a qualquer momento virasse cinzas.

Que patético, pensou, quem está no campo de batalha deve estar mais seguro que eu.

Mas ela não virou cinzas. E naquele momento estava segura na sua cama encarando o cobertor. Christine tinha dito que o responsável pela destruição do átrio esquerdo tinha sido Ian. Isso não fazia sentido, por que ele iria querer deixar ela viva?

Isso não é nada, Vanessa pensou, foi apenas Christine alucinando. O átrio esquerdo foi destruído por vários feiticeiro em conjunto que armaram isso, é mais lógico e Ian é um mortal, não Thanatos. E eu vou matar ele.

Mas naquele momento ela daria tudo para ter alguém ali perto dela. Ela sentia-se receosa. Vai que outro ataque acontece? Bom, se outro ataque acontecesse o ursinho de pelúcia no qual ela estava agarrada não seria muito útil para sua defesa. A ruiva se imaginou atirando um ursinho de pelúcia na cabeça de uma aberração. Seria patético, realmente patético.

– Eu daria tudo para poder ficar abraçada com aquele cachorro traidor – murmurou irritada.

– Você não tem o chihuahua, mas se quiser pode me abraçar.

Vanessa não esperava uma resposta. Ela conhecia aquela voz. Ela se virou e viu a pessoa que menos queria ver no momento, uma pessoa que ela mataria de boa vontade: Ian.


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Notas finais do capítulo

Pessoal, agora que começou as férias eu vou começar a postar com menos frequencia, okay?