Parrish estava vendo um canal de esportes que eu nem me lembrava o nome, enquanto eu estava enroscada em um cobertor, com uma roupa confortável para ficar em casa ao invés de uma saia de couro apertada. Calças de moletom realmente são as melhores coisas para se vestir. Meus pés doloridos por causa do salto estavam sobre as pernas de Parrish, já que ele estava sentado no sofá. Eu estava sendo bem folgada, mas por enquanto não estava ligando.

Em algum momento eu adormeci, não me lembro quando, já que em um minuto eu estava vendo o rosto de Parrish, e no outro acordo do escuro e ouço-o me chamando.

— Eu vou ao mercado comprar alguma coisa, tudo bem? — Ele perguntou enquanto eu tentava recuperar o resto dos meus sentidos. — Já é meia-noite e ainda não jantamos.

Assenti, ainda não acreditando que eu dormi tanto tempo assim, três horas, mais ou menos.

Jordan tirou meus pés delicadamente de sua perna, e levantou pegando sua carteira que estava no armário onde tinha a televisão. Com a sua saída, ajeitei-me no sofá e ainda fiquei enroscada naquele cobertor fofinho.

Eu esperava que Parrish trouxesse uma pizza deliciosa de frango, ou talvez até de lombo, na verdade pode ser de qualquer sabor, desde que não tenha cebola. Eu estava morrendo de vontade de comer algo bem gorduroso, já que ultimamente meu tio vem fazendo saladas. Tudo bem que ele estava meio mal de saúde por causa de todas as frituras que comíamos, mas às vezes eu fico meio sem graça quando tenho que pedir o almoço delicioso de alguém, como o do Stiles ou o do Isaac. Pedir para Malia nem me dava vergonha, já que ela praticamente jogava a pizza ou algo do tipo em minha direção, sem ao menos oferecer.

Falando em Malia... Eu não ando falando com ela ultimamente, ela e Kira se afastaram um pouquinho, ou talvez tenha sido eu, que estou sempre grudada com Parrish, e na escola com os outros meninos. Eu tenho até falado mais com Lydia do que com as duas. E isso me chateava de algum jeito, já que elas foram as primeiras a me acolherem naquele lugar assustador. Malia eu sempre via pelos cantos da escola se agarrando com Stiles, acho que ela não estava conseguindo se controlar muito ultimamente. Já Kira, eu a via falando com Scott algumas vezes, e ao contrário de Malia, ela não ficava se agarrando em cada corredor, acho que ela nem gosta disso, é mais reservada.

Olhei para o relógio que havia no canal que estava passando na televisão, já tinha passado uma hora desde que Parrish saiu. Um arrepio de preocupação me atingiu, o mercado não deveria estar tão cheio assim, e muito menos o trânsito. Mas tentei ignorar a preocupação por um tempo, não deveria ficar assim só por causa de uma hora. Provavelmente era o meu subconsciente que julgava tudo como perigo, que qualquer coisa incomum que acontecesse - nem que fosse uma demora - fosse por causa dela. Eu não o culpava, na verdade. Eu sabia o quão louca Anne podia ser, pena que demorei tanto tempo para demorar a perceber. Idiotice a minha, estava bem na minha cara o quão violenta ela era, porém só depois de muito tempo descobri a verdade, e a aceitei mais ainda quando descobri que ela não era minha mãe. Graças a Deus.

Duas horas.

Eu liguei para a delegacia para ver se Parrish havia passado por lá, e não, não passou. Estava começando a entrar em desespero, no entanto, como eu agia com razão e não com emoção, nada saiu, provavelmente ele havia perdido o celular, talvez o trânsito realmente estivesse trancado, ou talvez o mercado estivesse cheio mesmo. Contudo, esses pensamentos não me impediram de ligar para o pessoal.

— O que foi, Miriana? — Scott atendeu o telefone e já notou o desespero que eu estava, respirei fundo, pronta para responder.

— É Parrish, ele saiu há duas horas para comprar algo para comermos e não voltou mais.

— E você acha que foi ela? Por isso o desespero?

— Sim, eu tento ao máximo negar, mas uma coisa dentro de mim diz que ela fez algo — minha voz saiu vacilante, mesmo assim eu tentava ao máximo sair forte.

— Estamos indo — disse Scott, e pude perceber que ele referia-se a ele e Isaac.

Peguei um casaco surrado que estava jogado pelo canto da sala, e esperei os meninos chegarem para me darem alguma luz e falarem que era tudo da minha cabeça. Ouvi o barulho da moto, e depois de dois carros. Abri a porta de casa confusa, já que não sabia que eles haviam chamado os outros.

Saí da rua para receber todos, Scott e Isaac desceram da moto, Liam que provavelmente estava com o carro do seu pai, trouxe Malia. E Kira, também com o carro do seu pai, trouxe Lydia. Mas uma coisa me chamou atenção, um carro faltava ali, um jeep.

— Onde está Stiles? — Foi a primeira coisa que falei, preocupada com outro garoto também.

— Ele dormiu muito tarde ontem, não queríamos acordá-lo. Ligamos apenas uma vez, mas como ele não atendeu... E já temos pessoas suficientes aqui — disse Isaac com seu sotaque quase inexistente.

Assenti, e olhei para Lydia, e só depois percebi que Liam se aproximava, ele colocou suas mãos em minhas costas tentando me confortar, inicialmente recuei com o toque, mas em questão de segundos relaxei. Vi Lydia arqueando uma de suas perfeitas sobrancelhas ruivas, não pude evitar e balancei a cabeça em negação, ela notava tudo

— O que aconteceu? — Perguntou Scott.

— Eu já disse, Parrish saiu há duas horas para comprar comida e não apareceu ainda. Se em uma situação normal isso já é preocupante, imagine quando tem uma assassina que quer me afetar de alguma forma.

— Você estava aqui sozinha com Parrish? — Perguntou Liam mudando completamente de assunto. Desculpa, o que?

— Sim, eu estava — respondi fazendo Liam abaixar o olhar.

— Eu posso te emprestar o carro para dar uma olhada na cidade — sugeriu Kira, e eu concordei com aquilo. Iria agradecê-la eternamente por isso depois.

— Vocês podem entrar e me esperar — disse eu, esperando que eles estivessem aqui quando eu chegasse, e com Parrish junto.

Eu peguei as chaves da mão de Kira e a agradeci, estava dirigindo-me até o carro quando Liam se pronunciou:

— Eu vou junto! — Gritou Liam.

E eu não poderia negar, ele realmente estava me passando um conforto e estava sendo bom para mim nesses... nesses dias. Assenti com o maior sorriso que eu poderia dar no momento, ou seja: uma careta.

Fui até o lado do motorista enquanto Liam aproximava-se do carro. Ele entrou e encarou a janela na sua frente, permaneci quieta e não falei nada, colocando a chave na ignição.

Um farol forte me cegou quando eu estava prestes a arrancar, coloquei minhas mãos na frente dos olhos para ver se eu enxergava melhor, em vão.

— Não é ele? — Perguntou Liam, antes mesmo d’eu me dar conta. O carro desligou os faróis, e depois eu vi que era uma viatura. Suspirei aliviada e saí do carro imediatamente, doida para ver o rosto de Parrish, já que eu estava pensando no pior. Não me importei em ter deixado a porta do carro e o motor ligado, eu apenas corri. Fiquei parada na frente da viatura, e Parrish, curioso com o tanto de gente que tinha na frente da minha casa, saiu também. Corri mais uma vez, dessa vez em direção aos braços do policial, e o atrito dos nossos corpos foi tão grande que ele foi um pouco para trás.

— O que foi? — Perguntou Parrish, confuso com a minha reação ao vê-lo.

Eu comecei a sentir meus olhos arderem, denunciando que as lágrimas estavam prestes a sair. Tentei ao máximo evitá-las para mostrar que eu nunca perdia o controle, e consegui, isso denunciava que eu não era mais tão fraca como antes. Eu estava tão aliviada que não sabia o que fazer.

— Eu pensei no pior — eu disse com um pouco de dificuldade, dei uma fungada por causa do nariz e consegui sentir o perfume que ainda permanecia em Parrish.

Ele colocou suas mãos sobre o meu cabelo e começou a fazer uma carícia gostosa, e ainda me segurava com toda a força que tinha. Eu só queria sentir os braços musculosos de Parrish, já que só assim eu me convencia de que ele realmente estava ali.

— Desculpa, roubaram minhas coisas, e tive que ir à delegacia fazer um boletim. Sem falar que o mercado estava cheio.

Maneei levemente a cabeça em concordância e afastei-me do seu abraço com muita hesitação. Nem falei que eu tinha ligado para a delegacia, que havia alegado que ele não passou por lá. Provavelmente ele nem tinha chegado na hora que liguei, garanto que estava bancando o super-herói e estava correndo atrás do bandido que o roubou.

Fui até o pessoal e disse para entrarmos, já que havia tido muito estresse para uma noite só.

Servi bebidas para todo mundo e infelizmente não tinha comida que prestava para oferecer, e na verdade, nem estava com fome. A perdi completamente.

Ouvi um mínimo bater na porta, que consegui captar graças a audição sobrenatural. Nenhum dos outros notaram, então fui até a porta e a abri.

— Olá? — Falei franzindo o cenho, encarando a escuridão daquela madrugada. Olhei mais para baixo e encontrei um celular. Fiquei mais confusa ainda, mas depois me lembrei.

Era o celular do Parrish.

Após algum tempo encarando o aparelho, decidi pega-lo, sabendo que não estava ali por acaso. O desbloqueei, e logo apareceu uma mensagem, e mesmo não revelando, eu sabia exatamente quem a enviou.

De: Número Restrito

Para: Mim

Parece que está faltando alguém no seu grupinho, não é? Mas não se preocupe, estou o recepcionando muito bem.

Com amor,

Mamãe.

Congelei.

Stiles não havia atendido o telefone porque estava dormindo.