Quarta-feira, e eu não trabalhei de novo. Parrish continuava insistindo pra eu descansar e não me preocupar com o trabalho no qual eu não fazia praticamente nada. Mas eu queria voltar, queria minha rotina normal de volta. E como no momento isso não era possível, eu estava no loft de Derek, com o resto do pessoal me acompanhando, inclusive Parrish. Eu acho que eles queriam ver eu sofrer nas mãos daquele lobo azedo.

— Você está pronta? — Perguntou Derek na minha frente, olhei para todos que estavam na mesa vidrados em qualquer movimento meu.

— Não — disse eu, e logo olhei para o chão. — Você não vai colocar aquelas coisas no chão? Sabe... aquelas que fazem você não se machucar? — Perguntei preocupada.

— Você é um lobisomem, Miriana. Não precisa de um tatame.

— Sim, eu preciso! Porque machuca, me curar machuca — revirei os olhos totalmente nervosa. Era a segunda aula que eu teria com Derek, sendo que a primeira foi mais esclarecer minhas dúvidas, com pouca violência. Eu ainda não estava pronta para cair de cara no chão, derrotada.

Derek sabia que era um lobisomem desde que nasceu, sua mãe o ajudou a se controlar e esclareceu todas as suas dúvidas, ele lida com isso há muito tempo. Enquanto eu só havia descoberto um ano atrás. Era óbvio que eu iria apanhar, ainda mais porque ele já foi um alfa.

— Prometo pegar leve, porque todo mundo sabe que garotas são muito delicadas — Derek falou com um sorriso provocativo no rosto. Ele tocou bem aonde não deveria: garotas. Isso apenas me incomodava, se achar superior por ser um homem. A raiva me dominou e joguei todo o peso do meu corpo contra o de Derek, quando meu corpo estava próximo ao dele, Derek me pegou que nem um papel e me jogou para longe dele, bati com a minha bochecha no chão, fazendo todo o meu rosto doer.

Fechei meus olhos e respirei fundo, eu precisava me controlar e usar a lógica. Olhei para o pessoal sentado na mesa, mais especificamente Liam. Ele estava me olhando com atenção e um sorriso no rosto, rindo da minha desgraça. Traidor. Mas como um imã, meu olhar se direcionou diretamente para Parrish, querendo vê-lo, mas ele não estava prestando a mínima atenção em mim. E sim olhando para Lydia que estava em sua frente, atento, como se fosse ela que merecesse atenção.

Senti mãos formes em mim novamente, era Derek. De surpresa, ele jogou-me bem em sua frente, fazendo dessa vez eu bater meu ombro direito no chão frio.

— Lição número um: Esteja sempre atenta, Miriana — ele deu mais um de seus sorrisos provocativos.

Depois de levantar-me do chão, olhei com uma cara furiosa para Derek e deixei minhas garras aparecerem, doeu um pouco, no entanto seria necessário. Caminhei lentamente até ele com as minhas mãos posicionadas ao lado do meu corpo. Comecei a correr e fui para a direita, fazendo ele ir para a esquerda, deixando eu livre. O enganei direitinho. Desferi o único soco que eu conseguiria dar no rosto dele hoje, o impacto foi tão forte que sua bochecha cortou, mas curou-se rapidamente. Dei um sorriso vitorioso para Derek, gabando-me pela primeira vez. Mas sem eu notar, ele deu-me uma rasteira. Caí no chão pela terceira vez naquela tarde.

— Não comemore tão cedo, Miriana — Derek falou com humor.

Cansei, deu por hoje. E como Liam havia se levantado para tentar algo com Derek, sentei-me na sua cadeira vazia. Claro, antes dei um sorriso encorajador pro garoto. Isaac saiu logo depois de Liam, deixando o lugar ao meu lado vago. Se eu soubesse disso, iria pedir mais alguém para me ajudar a lutar com Derek. Entratanto, duvido que ele deixaria, e também duvidava se mesmo assim eu não iria apanhar feio. Bom, pelo menos eu não iria apanhar sozinha.

— Olá, pessoa não atenta — cumprimentou-me Parrish que se sentou no lugar que Isaac estava. Tentei prestar atenção na luta que estava acontecendo, porém não conseguia. Eu queria ignorar Parrish, e eu tinha certeza que era por causa do olhar que ele deu para Lydia. Eu estava me sentindo uma doente por sentir ciúmes da amizade de Lydia com ele, eu tinha ciúmes até dos meus amigos.

— Oi, de novo — eu disse com um sorriso mínimo no meu rosto.

Nós não tínhamos tocado no assunto "sou adotada" desde aquele dia em minha casa, e eu preferia que continuasse assim.

Um silêncio desconfortável estabeleceu-se ali, a única coisa que se poderia ouvir eram os urros de dor que saiam dos rapazes, e também os sussurros que as garotas e Stiles faziam. E então eu decidi ser idiota, me arriscar.

— Você gosta dela, não é? — Perguntei com um sorriso de incentivo no rosto, que eu sabia que não era verdadeiro.

— Quem? — Perguntou ele confuso.

— Lydia — disse eu. — Eu vi o jeito como você estava olhando pra ela.

— Eu gosto dela, sim. Porque é minha amiga — ele falou com um sorriso. — E eu estava olhando pra ela daquele jeito porque estávamos conversando sobre algumas coisas.

— Quais coisas? — Perguntei curiosa, meio desconfortável.

— Nada — disse ele com olhos brilhantes e um sorriso brincalhão no rosto.

— Nada? — Inquiri desafiante, sou horrivelmente curiosa.

— Nada — disse Parrish.

— Tem certeza que vai esconder o que quer que seja essa coisa de mim? — Interroguei com um fio de esperança de que ele respondesse “não”.

— Sim — Jordan falou em um sussurro, me fitando intensamente assim como fez ontem, fiz o mesmo.

— Quer que eu te leve pra casa? — Perguntou Liam, fazendo eu dar um pulo de susto na cadeira e o fitar, estava completamente suado, e com uns machucados que estavam prestes a curar. Olhei para Parrish sem motivo algum, e respondi:

— Aham.

Dei um breve “até amanhã” para todo mundo e saí com Liam rumo à minha casa, como Liam não tinha carro, fomos caminhando. Tivemos conversas aleatórias, e riamos de qualquer coisa durante todo o caminho.

— Você quer entrar? — Perguntei quando enfim chegamos na frente da minha casa.

— Não, acho que seu tio não gosta de mim — ele falou com uma careta, fazendo eu rir. Ah sim, ele não gostava nem um pouco. — Então... tá tudo normal entre a gente? — Perguntou ele envergonhado.

— Não. — disse com um sorriso de canto, ao menos eu estava menos exaltada. — Tchau — falei ainda quando estava prestes a caminhar para a porta da minha casa, mas Liam puxou-me pelo braço e fez eu virar-me para ele.

— Desculpe, Miriana. Eu não queria estragar as coisas assim — olhou-me suplicante.

— Não tinha nada para estragar Liam, tudo bem. — sorri tranquilizadora, contudo, doeu. Desde o começo eu queria aproximar-me dele, na verdade, aproximar-me de todo mundo. Porém Liam dificultou a coisa e começou com o negócio de me fazer amizade comigo, me “odiar”, e depois pulou direto para a parte no qual nos beijamos. Isso era estranho.

— Eu sou complicado. Não queria que as coisas acontecessem assim. — olhou nos fundos dos meus olhos. — Amigos? — estendeu sua mão com um sorriso pequeno no rosto que eu sabia que não era verdadeiro.

Com uma hesitação desconhecida, respondi:

— Amigos.