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Fazia exatamente uma semana que eu não ia à aula, e eu pretendia faltar mais uma. Acho que me acostumei com a rotina de ficar em casa sem fazer nada, apenas me aprofundando mais no assunto “Kate”.

Eu acho que havia perdoado Scott e os outros, eu estava mais leve, sei lá. Parrish me falou que eles estavam desesperados por respostas e pensavam que eu era perigosa, e eu acreditei... apenas um mal entendido. Mas havia uma parte do meu cérebro que dizia que isso não era certo, que eu perdoava rápido demais, e que eles haviam me raptado, afinal. Me amordaçado e me deixado em um galpão escuro. E isso que era irritante. Grande parte do meu dia eu me perguntava se aquela parte de mim estava certa. Tudo bem, eu perdoava rápido demais, não conseguia ficar brava por mais de um dia, e eu não guardava rancor. Eu apenas não sabia se isso era bom ou não.

Arrumei-me, me vestindo como sempre, e meu tio ainda não estava em casa. Ele sempre passava a madrugada na delegacia, trabalhava um dia inteiro, e no outro folgava. E isso me preocupava um pouco, ele não estava em forma para virar a noite desse jeito, não era saudável. Mas ele não achava isso, claro. Para ele, ter sido um caçador há vinte anos atrás o ajudava com isso. Até poderia ajudar, se não fosse há vinte anos atrás.

Assim que cheguei na escola eu me senti perdida, eu não iria me aproximar de Kira, mas também não queria ficar sozinha. Isso era muito frustrante. Eu enxerguei Liam depois de um tempo, mas ele não se manifestou, mesmo me vendo no corredor. Eu enxergava de longe medo vindo da parte dele, será que ele pensava que eu o culpava? Espero que não... apesar que eu culpo ele um pouquinho.

— Eu estou tentando te ligar há dias, mas nem atender você atende. É urgente, Miriana! — Com as palavras vindas de alguma direção, apressei-me em olhar para frente, e só depois notei Lydia ali. Sem nem me dar o tempo de falar alguma coisa, ela me puxou para uma sala vazia, e lá havia uma mesa gigante, que foi feita com uma grande quantidade de classes, e em volta dela, estava todo mundo, quase todo mundo, na verdade. Liam chegou após eu entrar, e ficou na minha frente, do outro lado da mesa.

Eu não sabia o que fazer nem o que falar, eu estava meio desconfortável, mesmo não sendo eu quem deveria estar. Mas olhei para todos ali, e eles realmente estavam no mesmo nível de desconforto que eu. Ainda bem, se não eu iria me sentir estranha.

— O que é tão urgente? — Decidi perguntar, e iria ouvir quem se pronunciasse primeiro.

— Descobrimos que todas as pessoas assassinadas eram lobisomens — disse Scott. E eu entendi imediatamente, mas mesmo assim não fazia sentido, afinal, Kate era uma werejaguar.

— E por que ela quer matar lobisomens? — Inquiri.

— Ela é louca, ok? Essa é a única coisa que a gente sabe. Não têm motivo algum, ela só é uma psicopata com poderes sobrenaturais, e isso é uma péssima combinação — disse Stiles histérico, senti pena dele. Provavelmente ele estava assim porque se sentia inferior diante todos nós, e também porque não queria correr perigo. Durante esse um mês que eu estive aqui, eu percebi quando Stiles e o pai dele eram ligados, e talvez fosse realmente por isso que Stiles não queria arranjar nenhuma justificativa para o motivo de Kate estar fazendo isso, ele só queria acabar com aquilo, e ir para longe do perigo. Mas eu também pensava que ele continuava sendo humano porque queria, já que estava rodeado de lobisomens que poderiam acabar com o seu “sofrimento”. Mas se ele se transformasse, continuaria com a mesma essência?

— E se... ela estiver mandando uma mensagem? — A teoria saiu da minha boca no mesmo segundo que eu pensei sobre aquela possibilidade.

— Faz sentido — disse Scott pensativo.

— Ok, quem vai contar o resto das novidades? — Perguntou Malia sem se preocupar com os nossos rostos que estavam em um pensamento profundo.

— O que tem mais? — Despertei.

— Você tem alguma habilidade? — Interrogou Isaac, realmente preocupado com isso.

— Sim, eu jogo facas — e sou um lobisomem, queria acrescentar. A coisa bom em faltar aula — além de ficar em casa sem fazer nada — era que eu tinha uma manhã inteira para melhorar minha pontaria, e graças aos céus, havia melhorado. Eu estava tão boa que até me parabenizava em voz alta quando estava sozinha. Olhei para frente por puro impulso, e vi Liam surpreso. Tudo bem, eu tinha uma cara de menina indefesa, talvez ele realmente não pensasse que eu fazia alguma coisa desse tipo.

— Descobrimos que Kate vai atacar hoje — disse Lydia dessa vez, suspirando. Será que ser uma banshee era útil? Eu não sabia, deveria pesquisar o que uma banshee era, porém mais tarde.

— E como vocês sabem?

— Nós apenas... sabemos — disse Scott. Tive uma vontade repentina de revirar os olhos, será que ele não confiava em mim para me contar suas fontes? Eu que não deveria confiar, oras.

— Você está dentro? — Perguntou Scott.

— Sim — eu não precisava pensar na resposta, eu estava pronta há uma semana atrás.

— Precisamos ligar para Derek — avisou Stiles, e um arrepio sombrio atravessou por mim, estremeci imediatamente. Derek, o cara dos meus sonhos, literalmente dos meus sonhos. Ou eu deveria dizer dos meus pesadelos? Eu não sabia. Assenti, e depois da ligação eu matei aula novamente, já que estávamos indo para Novo México, procurando por ajuda.

— Eu só quero saber por que vocês avisaram tudo pra mim de última hora. — comentei quando o silêncio estava horrível.

— Porque... eu não sei, talvez seja um problema nosso — respondeu Malia dando de ombros, fazendo eu bufar exageradamente.

O único que não se pronunciou durante o caminho foi Liam, ele estava quieto demais, e isso me preocupou, um pouco. Eu precisava me distrair.

— Isso é novo para você? — Sussurrei a pergunta para ele, já que estava ao meu lado no banco traseiro do jeep de Stiles.

— Mais ou menos — sussurrou ele de volta, porém meio envergonhado, talvez por preocupar-se o que eu achava dele.

— Aquilo é passado, tudo bem? — Falei tentando passar certeza mesmo não sendo exatamente desse jeito que eu me sentia, e tive certeza de que ele entendeu o que eu queria dizer, já que seus ombros relaxaram, e ele começou a ficar mais descontraído ao longo do caminho, relaxei também, já que a tensão havia sumido.

Depois de chegarmos ao Novo México, pedimos ajudar à um grupo de caçadores que tinha lá, Os Calaveras, Scott me disse que eles estavam à procura de Kate tanto quando nós. E então eu conheci Argent, ou melhor, Chris Argent; o irmão de Kate. Imagine minha surpresa quando eu vi que ele nem se afetava pelo fato da sua irmã ser uma werejaguar e uma assassina sanguinária. Ele era um caçador, ele devia se importar com isso. Mas ainda depois, eu descobri que ele não era que nem os outros caçadores, ele não matava inocentes. E após essa descoberta, uma simpatia gigantesca por ele começou a crescer dentro de mim. Entendi o porquê de Parrish admirar tanto aquele cara.

Nós chegamos ao nosso destino, e já era umas sete horas da noite. O lugar já deve ter tido uma casa construída em cima, ou alguma coisa relacionada a uma casa. Já que se via as paredes de tijolos, estava tudo muito velho e em ruínas, aquilo estava totalmente sombrio, e eu nunca estive num ambiente como aquele. Eu, Scott e os outros — menos Stiles e Lydia — entramos naquele lugar, até que ouvimos um barulho. E por impulso, peguei umas cinco das belas facas prateadas que eu havia comprado para essa ocasião, e joguei-as cegamente para o lugar aonde havia ouvido o som, e depois da faca jogada, apareceram mais ou menos dez caçadores armados da cabeça aos pés. Foi um erro jogar cinco facas de uma vez só? Foi, mas eu havia treinado tudo isso em uma parede, uma coisa que não se mexe e que não está carregada com rifles e pistolas.

— É uma armadilha! — Eu gritei para todos logo depois que eu entendi, Kate havia dado a localização porque sabia que iríamos seguir essa pista, fomos tão ingênuos. E então mandou caçadores para nos encontrarem lá, e matarem todos nós.

Eu via e ouvia tiros por todos os lados, eu estava ficando quase cega. Eu vi Scott pulando em algum caçador, Kira com sua katana atacando outro deles, Isaac e Liam posicionados em frente a outro caçador, não deixando ele escapar, e Derek pulando com tudo no pescoço de outro. Eu estava começando a ficar tonta, e aí vi os Calaveras começarem a atirar, finalmente. Olhei para trás, e muitos deles estavam sobre os carros com seus fuzis, atirando para tudo que estivesse de preto — os caçadores. Argent dava as ordens, porque se não desse, duvidaria que o resto poupasse a minha vida e a dos outros. Estava pronta para atirar outra faca, tateei meu cinto cegamente, mas não tinha nenhuma. Fui burra, tão burra, eu não havia comprado mais de cinco facas porque eu não tinha ideia de que eu ia topar com caçadores por aí. Entrei em pânico, e para piorar minha situação, um caçador estava se aproximando, mas pelo menos estava sem arma. Eu estava totalmente assustada, eu não sabia lutar, não sabia nada de artes marciais, eu estava indefesa...

— Use seus poderes, Miriana! — ouvi alguém gritar com toda a força de seus pulmões, olhei para a direção de vi Parrish, em cima de uma caminhonete preta e atirando para os caçadores também, meu coração deu um aperto. E se ele se machucasse? Mas depois captei a mensagem que Parrish queria passar, eu até havia me esquecido o que eu tinha.

Deixei o lobo consumir-me inteiramente, até não sobrar nada humano dentro de mim. Graças a Deus eu sabia me controlar, se não estaria perdida. Dei um grande pulo em direção ao caçador que me olhava com um olhar ameaçador, mas logo seu olhar transformou-se em puro medo, e eu ri por dentro, aproveitando o que eu poderia fazê-lo sentir, e imediatamente me senti poderosa. Mordi os ombros do homem, e logo depois as pernas, apenas para imobiliza-lo, não queria ter o sangue de mais ninguém nas mãos, talvez aquele cara tivesse família.

Fiz com que meu rosto voltasse ao normal, e vi que alguém estava prestes a atacar Derek por trás, que covarde. Avistei uma das minhas facas no chão, e joguei no braço do caçador, aquilo seria o suficiente para afastar-se de Derek, e após ver o que eu fiz, Derek olhou-me com gratidão, nunca iria me esquecer disso.

Olhei ao meu redor, vendo corpos jogados no chão, porém todos vivos. E isso fez eu ver que Scott e os outros não eram perigosos. Não como eu. Depois de um longo suspiro, eu vi Stiles ligando para uma ambulância, para resgatar todos os corpos feridos que haviam naquele lugar. Provavelmente todos ali seriam presos por porte ilegal de armas, e seria realmente necessário.

Scott e o resto aproximaram-se de mim, que estava encostada em um dos carros olhando para Parrish, Scott me olhou com uma expressão impenetrável, mas depois perguntou:

— Por que você estava com os olhos azuis, Miriana?

Olhei para Parrish imediatamente. Eles descobriram, eu tentava dizer telepaticamente para o policial.