.

Isaac e Scott me olharam em choque, assim como eu estava fazendo. Eu não acredito que acabei de me revelar.

Burra.

Encarei eles pálida, esperando mais alguma reação. Eu queria que eles gritassem, perguntassem alguma coisa, mas eles estavam quietos, e isso fez eu ficar mais idiota ainda, com a boca aberta por causa do ato de coragem que eu tive. Eu queria correr, mas não conseguia.

Depois disso foi tudo muito rápido, eu vi Scott pular para cima de mim, com a conhecida face de um animal, vi seus olhos vermelhos enquanto seu corpo vinha de encontro ao meu, e depois disso eu só senti uma dor na cabeça.

.

— Ela apareceu do nada, como um fantasma. Ela apenas... apareceu — ouvi as palavras perto de mim, não estava conseguindo abrir os olhos, estava completamente grogue, devia ser efeito da pancada na cabeça.

Me contorci com os olhos fechados, mas não consegui me movimentar. Abri meus olhos em um susto, deparando com as minhas mãos e pés atados. Eu poderia dizer que estava atada da cabeça aos pés, mas isso seria um exagero.

— Ela fez eu perder meu jogo — ouvi Liam dizer em um resmungo.

Notei que estava perto demais, e logo comecei a forçar as cordas, e isso doía mais. Só agora havia percebido a dor alucinante nos meus pulsos e canelas, aquilo ardia tanto, e parecia que a cada movimento que fazia, mais a dor aparecia. Eu gritava, mas meu grito quase não saia, percebi que estava com uma fita na minha boca. Lágrimas começaram a sair dos meus olhos, eu estava apavorada, eu estava desesperada, apenas ouvia meus resmungos em socorro, grata por não ouvir mais ninguém por perto. Eu estou totalmente indefesa agora.

— Não adianta querer sair, foram molhadas em wolfsbane.

Chorei ainda mais, eu sabia o que aquilo era, e sabia o que causava. Eu tinha dúvidas se merecia isso ou não, mas eu só queria voltar para o meu tio.

Levantei o olhar e deparei-me com um rapaz mais velho que eu, tinha barba e um rosto agressivo, parecia que se apreciava vendo eu naquela situação. Tentei parecer forte, que não me importava com a dor. Mas não conseguia, as lágrimas continuavam a sair. Ele tirou a fita da minha boca sem nenhuma delicadeza.

— Por favor, não me mate — sussurrei, perdida. Jogando toda a minha força para o alto e mostrando a menina indefesa e insegura que eu era. Eu não queria deixar meu tio vivendo sozinho...

— Ela não fez nada, deixe ela sair — ouvi Kira falando, distante. Me assustei, não acredito que ela estava nisso também, comecei a chorar mais ainda. Fui traída.

— Kira? — Perguntei.

Ela apareceu na minha visão, totalmente descabelada e com uma expressão nada boa, me olhando com dó. Mas pena era a coisa que eu menos queria vindo dela.

— Desculpe, Miriana, eu não queria isso pra você.

Olhei para ela com raiva, ignorando totalmente a dor nessa vez, o ódio me consumiu, e queria ter certeza que ela estivesse vendo isso.

— Eu não acredito em você — cuspi.

Kira me olhou assustada, e entendeu o que estava acontecendo ali. O homem que estava na minha frente se afastou, deixando apenas eu e Kira. A face assustada dela não estava mais ali, e então ela me olhou calmamente, e se aproximou. Olhei para ela confusa, até que ouvi o som de uma corda sendo cortada. A corda que estava prendendo minha mão esquerda. E depois disso, meus movimentos não estavam mais limitados, eu estava livre.

— Eu realmente sinto muito — sussurrou Kira, enquanto eu ainda estava na cadeira recuperando-me.

Sorri em agradecimento. E esse era o meu problema, eu não conseguia guardar rancor por muito tempo. Kira suspirou aliviada.

Permiti olhar para onde estava presa, e aquilo parecia uma galeria, um galpão, estava totalmente escura, apenas inundada na luz da lua.

— Eu preciso sair daqui — avisei Kira.

Ela assentiu e começou a me guiar até a saída que eu não sabia onde era, estava caminhando por um corredor escuro, descemos uma escada, e deparei-me com todas as pessoas que eu pensava serem meus amigos encarando algo em cima de uma mesa. Olhei para Kira, me sentindo traída de novo, tratei de me afastar dela, e como estava fraca, caí de joelhos no chão.

Com o barulho dos meus joelhos batendo no chão frio, senti todos olhando para mim. Eu estava me sentindo uma formiga agora.

Levantei meu olhar do chão assustada, olhando todos que estavam na minha frente, apenas não conhecia um, o homem que tirou a fita da minha boca. Mas um olhar me chamou atenção, o de Scott, ele estava confuso, e pude notar o arrependimento na sua face. Isso me fez soltar uma risada fraca, cheia de dor.

— Você está arrependido por prender uma menina indefesa em um galpão, Scott?

Tentei focar todo o meu olhar no garoto, e por enquanto estava conseguindo. Ele me olhou surpreso, talvez pelas minhas palavras, mas logo franziu o cenho. Aproximei-me da mesa cambaleante, e quando enfim cheguei, botei minhas mãos nela em procura de apoio, fazendo os que estavam ao meu lado se distanciarem, uma distância segura. Mal sabia eles que eu não iria fazer nada.

Primeiro encarei Lydia, ela ergueu o olhar pra mim também, e vi pena em seus olhos, assim como Malia e Kira, tentei ignorar. Depois olhei para Stiles, que tinha se aproximado de mim hoje, parecia ser um garoto tão inteligente e que não seria capaz disso, estava errada. Encarei Isaac, que fitava o chão, provavelmente envergonhado pela decisão que teve. E enfim olhei Liam, que estava com o queixo erguido, impassível ao primeiro olhar, mas quando se olhava de novo atentamente, eu podia notar sua inquietude, seu olhar vacilante para mim.

Funguei meu nariz que estava completamente entupido por causa do choro, e acariciei meus pulsos, deixando claro o que haviam feito comigo. Desde o acidente com os meus pais, a raiva não tinha me consumido novamente, mas eu estava com medo que isso acontecesse agora.

Olhei para o centro da mesa e encarei um arquivo com o meu nome aberto, todas minhas informações. Sorri fraco, ali não tinha nada demais.

— Por que vocês fizeram isso comigo? — Perguntei em um sussurro.

— Desculpe, Miriana. Pensei que você tivesse alguma coisa a ver com Kate — disse Scott.

Fitei-o ele com certo desdém, mas entendia. Eu também queria saber sobre Kate, mas eu tinha certeza que não conseguiria fazer uma coisa dessas.

— Você apareceu do nada no vestiário, pensamos que você era uma caçadora ou algo do tipo — falou Isaac dessa vez.

Ignorei suas palavras, olhando indiferente para Scott.

— Eu quero saber sobre Kate, também — disse simplesmente.

Scott assentiu, e eu fiquei aliviada por ele não falar mais nada, mas não demonstrei.

— Foi difícil matar o alfa? — Perguntei para Scott, depois de algum tempo em um silêncio horroroso.

— O que? — Scott perguntou, ambíguo. Mas logo pareceu entender. — Eu não matei ninguém para ser alfa, Miriana. Eu sou um alfa genuíno.

Um alfa genuíno? Meu tio nunca me falou nada sobre isso, curiosa, decidi perguntar mais:

— O que é um alfa genuíno?

— Quer dizer que eu não precisei matar ninguém para ser um alfa.

Meu olhar nele vacilou, me tornei fraca novamente, isso estava se tornando cada vez mais difícil. Scott era um alfa genuíno, nunca havia matado ninguém para conseguir o poder, ao contrário de mim; matei por nada, matei sem a intenção. Ele continuava sendo mais inocente que eu, mesmo tendo me sequestrado. Eu não duvidei das suas palavras, ele não tinha por que mentir.

— Vocês são lobisomens também? — Perguntei para todos.

Kira que estava atrás de mim se manifestou, indo ao lado de Scott que estava na minha frente.

— Eu sou uma kitsune — disse ela, e depois mostrou seus olhos. Eram alaranjados, e de algum modo me fez lembrar de Parrish, mas ignorei aquilo por enquanto. Parece que com a revelação de Kira, todos acordaram, e um por um, começaram a se apresentar.

— Uma banshee — revelou Lydia dessa vez. — E eu sinto muito, Miriana.

Assenti com as suas palavras e olhei para Isaac, não precisava perguntar o que ele era, mas ele franziu a boca, provavelmente com falta de coragem para dizer as mesmas coisas que Lydia.

Olhei para Malia dessa vez, ela parecia tão inofensiva com o jeito bobo de ser, ela olhou para mim e entendeu o recado.

— Um werecoyote — disse ela mostrando os olhos azuis, eu não sabia que tipo de ser sobrenatural isso, mas maneei a cabeça em concordância mesmo assim.

— Liam?

O garoto estava distraído, me olhou e mostrou os olhos amarelos, logo entendi, um beta também. Voltei a fila e olhei para Stiles dessa vez, e alguma coisa me dizia que ele não era algo muito bom, olhei com mais atenção e ele parecia ser algo poderoso, escondido detrás da máscara de menino irônico e bom moço, ele estremeceu

— Um humano — disse ele envergonhado.

— O que?! — Perguntei em alto e bom som, acho que não entendi direito, um vinco formou-se sobre minha sobrancelha imediatamente.

— Quer dizer... Eu fui possuído por um espírito maligno que se alimenta de dor e ódio, horrível, mas fora isso... — Ele disse rapidamente, e se não fosse a situação que me encontrava, eu daria uma risada.

Olhei para o homem alto e que não tinha uma cara boa, a barba que não estava feita há dias deixava ele com um ar assustador, e pelas pequenas vezes que o olhei, ele sempre estava com uma carranca formada, seu olhar era duro e severo sobre mim, e não estava vacilando como os outros, não estava procurando nenhuma forma de se desculpar pelo ocorrido.

— E o que você é? — Decidi perguntar já que ele não se pronunciava. Mas o homem olhou para mim mais uma vez e afastou-se da mesa sem olhar para trás, acho que ele não havia gostado de mim, e uma empatia por ele cresceu no meu corpo.

— E o que você é? — Perguntou Scott para mim, tirando do meu devaneio.

— Filha de caçadores — disse, não deixando de falar a verdade.

— E onde eles estão? — Perguntou Liam assustado, provavelmente nunca havia topado com um pela sua cara.

— Mortos — falei simplesmente. Mortos por mim