All Out War escrita por Filho de Kivi


Capítulo 25
Greatest Hits – Part B: Something to Fear


Notas iniciais do capítulo

Não direi muito mais...

Boa leitura!



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O veículo estacionara exatamente no local indicado por Glenn. Rick e o batedor foram os primeiros a descer, seguidos por Carl que os ajudara a verificar o perímetro ao redor do posto de gasolina. Após alguns minutos de ronda, os rapazes concluíram que aquele realmente era um local seguro, afastado das entradas de Washington, onde as aglomerações de errantes eram assustadoramente gigantescas.

A pequena loja de conveniências não tinha nada a lhes oferecer. As portas escancaradas estavam tomadas por cacos de vidro e pedaços de reboco, literalmente arrancados das paredes. Em meio às prateleiras tombadas, restaram apenas embalagens de doces, garrafas vazias de refrigerantes e diversas latinhas de cerveja, espalhadas ao bel prazer.

O odor não era nada agradável. Alguns cadáveres decompostos, errantes exterminados por outros visitantes, exalavam o típico cheiro pútrido de carne morta. Além disso, urina e fezes também podiam ser identificadas, jorradas nas paredes e depositadas em baldes, no interior da lojinha. Sinal de que alguém ficara ali por um curto período de tempo.

Com sua arma em punho, Glenn subira no teto da van, preparando-se para o seu turno de vigília. Mesmo que não tivesse se candidatado, sabia que precisava cumprir aquela tarefa, pois com toda a certeza, não conseguiria dormir naquela noite. Totalmente alerta, o asiático só conseguia reverberar em sua cabeça os pensamentos futuristas que lhe tomaram conta desde que decidira se mudar para o Alto do Morro.

— Sem sono?

Rick aproximara-se do descendente de coreanos, batendo de leve na lateral do furgão, chamando a atenção do parceiro. Glenn voltou o olhar para aquele que o indagara, respondendo com um sorriso.

— Totalmente... Tava aqui pensando em como serão as coisas no Hill Top... Estou bastante ansioso, tipo, nessa manhã eu já vou estar lá... É um recomeço, entende? Isso me trás uma sensação boa... Me sinto mais esperançoso!

O xerife sorriu de volta, percebera o quanto o amigo estava contente, e o quanto aquela mudança estava lhe fazendo bem.

— Vou sentir muita saudade de vocês! – Confessou Grimes – Mas fico feliz por você e Maggie... E é claro, pelo filhote que ainda virá!

Glenn retirou o boné, arrumando os bagunçados cabelos.

— Ainda é estranho... Pensar a respeito de tudo isso, no bebê... Eu não paro de pensar no futuro Rick... Quero muito dar uma vida sossegada a Maggie e a Sophia... Sossegada e segura!

O xerife balançou a cabeça positivamente, mantendo as mesmas feições amistosas.

— E você vai conseguir! O Hill Top é um ótimo lugar para recomeçar... Tenho certeza que dará tudo certo!

Os dois seguiram se olhando por poucos segundos. A cumplicidade entre os amigos era monstruosa, verdadeiramente um torcia pela felicidade do outro.

— Vou tentar dormir um pouco... Me acorde daqui a duas horas e trocaremos de turno!

Glenn meneou a cabeça afirmativamente. O xerife então se encaminhou para o interior do furgão, deixando que o asiático prosseguisse com o seu turno de vigília. Novamente o batedor estava sozinho, ainda tentando controlar o mar de bons fluidos que se misturavam a grande ansiedade dentro do seu peito.

Olhando para o céu, tomado pelas nuvens que transformavam a noite em um breu quase que total, Glenn novamente viu um filme passar em sua cabeça. As diversas lembranças que guardava em seu coração, seriam levadas consigo para onde fosse. Nenhuma das pessoas das quais se despedira em Alexandria poderiam ser esquecidas. Não depois de tudo pelo qual passaram.

Não depois de tudo o que tiveram que superar.

...

Glenn não se sentia daquela maneira há muito tempo. Na verdade, não acreditava mais que pudesse vivenciar algo tão intenso como o que passara na última noite. Sua primeira noite com ela... Sua primeira vez com Maggie.

A jovem e sonhadora filha do fazendeiro lhe conquistara com sua forte personalidade, sua espontaneidade, e a maneira muito bem determinada de enxergar o mundo. O novo mundo. Diferentemente de seu pai e seus irmãos que, ainda alienados em sua falta de compreensão sobre todo o caos que tomara conta da terra, insistiam em não enxergar a verdade dos fatos, a herdeira de Hershel Greene acompanhava uma maré diferente.

Tomada pela tristeza dos últimos acontecimentos, após perder tantas pessoas queridas, Maggie entregara-se a paixão que lhe tomara conta de repente, arrebatadora. Não havia nada o que perder, não nas atuais circunstâncias, por isso os dois queriam se jogar de cabeça, de uma única vez, aproveitando a pouca bonança que a nova era havia lhes proporcionado.

Agarrado ao belo corpo de Greene, o asiático torcia para que o tempo parasse, para que nunca mais precisasse deixá-la. E ele sabia que sua amada também compartilhava dos mesmos sentimentos.

A porta do quarto sendo aberta de forma abrupta encerrara o torpor em que Glenn encontrava-se mergulhado, trazendo-o a realidade rapidamente. Avançando sobre o quarto, visivelmente furioso, o velho Hershel parecia não acreditar no que estava vendo. A imagem do recém-chegado, nu sobre sua filha, sob o teto de sua casa, um dia após a morte de seus filhos. Era demais para ele.

Era até compreensível a sua reação.

— Maggie... – Os olhos do idoso arregalaram-se – Que merda vocês estão fazendo?

Acordando em um pulo, Maggie Greene cobriu-se parcialmente com o lençol, assustada, sem reação.

— Desculpe senhor... – Glenn também tentava cobrir-se – Eu e sua filha, nós...

O velho Greene não estava disposto a considerar nenhum dos argumentos do asiático.

— Cala a boca, moleque! – O olhar furioso do homem direcionou-se para a filha – Não fazem nem vinte e quatro horas que Lacey, Arnold e Shawn morreram, e você já está fazendo isso? Você me dá nojo Maggie!

Lágrimas começaram a escorrer pelo rosto da filha daquele que bradava. Ela não se calaria, seu sangue parecia ferver.

— Eu e Glenn nos amamos pai! – Vociferou a garota – E não há nada que você possa fazer para mudar isso! Já tenho dezenove anos... Tenho idade o suficiente para fazer aquilo que quiser!

O idoso a admirava com espanto.

— Ele dormiu aqui essa noite porque eu pedi! Eu... Eu precisava de alguém aqui comigo, principalmente após a morte de Lacey... Não conseguiria ficar sozinha!

Sem dizer uma palavra, mas ainda visivelmente furioso, Hershel Greene saíra do quarto, marcando os passos pesados sobre o chão de madeira, fechando a porta com violência assim que deixara o recinto.

Estava feito. O enlace entre os dois agora era oficial. A atitude de Maggie despertara uma luz no interior do asiático, algo que ele não esperava encontrar em meio à tamanha destruição.

...

Um sorriso brotara em seu rosto.

E infelizmente, aquele seria o último da noite.

Fora tudo muito rápido, não havia como se defender, não havia como fazer nada. Glenn só percebera o perigo quando seu pescoço já estava enlaçado. Puxado como um animal, sentiu-se ser arrastado pelo teto da van, antes de cair de costas sobre o asfalto gelado.

A cabeça batera com tudo sobre o duro solo, a respiração falha por conta do enforcamento, lhe causara náuseas. Esticando os olhos, conseguira enxergar algumas botas negras a seu redor, assim como as portas do furgão, sendo violentamente arrombadas pelos invasores.

— Uma coisa é vigiar aqueles bonecos de carne... – Uma grave voz vinda do grupo que lhe subjugara, começara a reverberar de forma calma – Eles são muito burros, não sabem ficar quietos... Diferentemente dos humanos... Não é mesmo rapazes?

O homem com metade do rosto queimado, o mesmo que Rick permitira que vivesse quando aquele grupo de milicianos os atacara na estrada, apontava agora uma balestra em direção ao rosto do asiático, que ainda tentava se livrar da corda que o apertava o pescoço. Junto com o motoqueiro, Glenn conseguira avistar pelo menos vinte homens, todos fortemente armados.

— Mike... – O algoz voltara a falar – Trás os embrulhos e... Vá chamar o Negan!

Glenn vira Rick tentando lutar com um dos sujeitos, mas logo sendo cercado por pelo menos três, que passaram a desferir diversos chutes contra o xerife, que dobrara o corpo em dor, sendo posteriormente dominado por seus agressores.

Retiradas à força do interior do veículo, Susie, Carl, Maggie e Sophia, também tiveram os braços amarrados, apesar da tentativa de enfrentamento, principalmente partida de Carl, que após levar alguns socos, acabara cedendo aos homens. Os insanos sujeitos davam risadas enquanto não perdiam a oportunidade de passar as mãos de forma maliciosa sobre os seios e pernas das duas mulheres, causando ainda mais revolta no asiático, que debatia-se, tentando se livrar das cordas que o prendia. Nem mesmo Sophia escapava dos abusos.

— Talvez você mate alguns de nós... – O homem com a enorme cicatriz abaixara-se na direção de Glenn, segurando o queixo do batedor e erguendo o seu rosto – Mas eu não faria isso se fosse você...

O rosto de Glenn fora guiado para uma imagem com a qual ele não queria se deparar. Dezenas de homens montados em motos, além de alguns sobre a caçamba de um pequeno caminhão, cercavam o seu grupo, que agora encontrava-se totalmente indefeso. Exibindo facas, machados, serras elétricas e até mesmo tacos de baseball, os Salvadores pareciam querer mostrar toda a sua força bélica, exibindo o quanto eram poderosos.

Não havia nada que Glenn pudesse fazer.

— Ih, neném...

Uma debochada voz se fizera ouvir, chamando a atenção de todos os presentes. Dando espaço para aquele que se pronunciara, os milicianos passaram a se afastar, abrindo caminho para um corpulento homem que caminhava a passos lentos, em direção aos reféns.

Vestindo um negro casaco de couro, que se contrastava com o seu cabelo igualmente negro, mantido raspado rente ao couro cabeludo, o homem de ombros largos e rosto limpo, deixando claro os seus mais de quarenta anos, dirigia-se até os sobreviventes de Alexandria com uma calma incomum. Nas enormes mãos trazia um taco de baseball, ornamentado com arame farpado, enrolado em toda a extremidade da arma, deixando apenas o cabo livre.

O meio sorriso largo se fazia presente em seus finos lábios, acompanhados por um rústico queixo quadrado, muito bem marcado por um pequeno sinal.

— Já fez pipi nas calças? – O homem estacionou em frente à Grimes – Ah, garoto, se não, sei que está bem perto... Logo, logo essa será a cidade do xixi nas calças!

A forma irônica como aquele homem se portava, fazia com que o sangue de Glenn fervesse ainda mais em suas veias, consumindo-o por inteiro.

— Qual desses putos é o líder? – Indagou o homem, dirigindo-se a seu imediato.

O que portava a marca no rosto apontara sua balestra pra Grimes.

— É esse cara aqui! – Exclamou – O nome dele é Rick!

Agachando-se em frente ao xerife, o debochado líder dos Salvadores prosseguia sorrindo.

— Olá Rick! Acho que ainda não fomos apresentados... Meu nome é Negan, e eu preciso confessar uma coisa a você... Eu não gostei nada de você ter matado uma caralhada dos meus homens!

Grimes não o encarava, parecia concentrado, como se ainda tentasse encontrar uma solução, uma saída.

— E também não gostei nada do recadinho que você me mandou de volta... Não foi legal, sabe? Não foi nem um pouco legal...

Negan ergueu-se, modificando suas feições. O homem agora parecia raivoso, até mesmo o seu tom de voz passara a ser mais grave.

— Você não tem a porra da ideia de como aquilo não foi legal, seu filho da puta fodido! – Negan passara a girar o seu taco no ar, como um pêndulo – Mas logo, logo você vai perceber a porra do erro que cometeu... Você não imagina o quão fodido está, maneta!

O líder os Salvadores passara a caminhar de um lado a outro, gesticulando bastante com o seu taco de baseball.

— Veja bem, Rick... Não importa o quanto você tente, não há como foder com a nova ordem mundial... E a nova ordem mundial é assim, irei explicar a vocês... Até mesmo se você for a porra de um retardado, que pode até ser o seu caso, tenho certeza que irá compreender...

Glenn olhou momentaneamente para Maggie, que já exibia os seus marcantes olhos amendoados tomados por lágrimas. O asiático sentira um enorme aperto no peito. A impotência era a pior das sensações.

— Prontos? – Negan prosseguia em sua oratória – Pois bem... Ou vocês me dão as suas coisas, ou eu mato vocês! Você trabalha pra mim agora, se conseguir algo, você dá pra mim! Essa é a lei, é assim que as coisas são!

O homem respirara profundamente.

— Sei que pode ser difícil de aceitar, mas você parece ser um cara esperto, sei que irá compreender! – Rick bufava em ódio, Negan prosseguiu – Você comanda um grupo, constrói algo, acha que está em segurança... Eu sei muito bem como é... Mas a grande questão é essa, você não está seguro! – O homem parou momentaneamente, como se acabasse de lembrar-se de algo – Por exemplo... Mike, traga os embrulhos e o fujão!

Assim que fora solicitado o capanga deslocou-se para um dos veículos do grupo, trazendo em mãos dois grandes sacos de pano, entregando ambos a Negan. Além disso, o miliciano também trouxera consigo mais um prisioneiro, um homem que apesar das mãos e pés amarrados, e a cabeça coberta por um saco de papel, movimentava-se de um lado a outro, tentando livrar-se das cordas que o prendia.

— Quem diria que esse sujeito estaria seguro? – Negan apontou para o outro refém – Nós seguimos vocês Rick, descobrimos onde você se esconde... Mas algo acabou chamando nossa atenção hoje pela manhã, antes de vocês deixarem o lugar...

— Encontramos dois sujeitos perseguindo um de seus moradores... E sabe qual a parte mais estranha de tudo isso? – O homem fingia estar surpreso, irritando ainda mais Rick e seu grupo – Os perseguidores também eram moradores do seu cafofo... Claro, como eu prezo sempre pela segurança e o bem comum, tratei de ajudar esse pobre sujeito!

O líder dos Salvadores abriu os dois sacos, despejando o seu conteúdo sobre o asfalto, a poucos centímetros de Grimes. O coração de Glenn praticamente saltara pela garganta assim que atestara do que se tratava. Seu estômago revirou-se, por pouco não vomitou ali mesmo.

As cabeças decepadas de Heath e Abraham, já zumbificadas, movimentavam as mandíbulas de cima a baixo, uniformemente, mordiscando o ar, clamando por um pedaço de carne. Rick abaixou a cabeça, sem ação alguma.

Negan dirigiu-se ao sujeito com o rosto coberto, retirando o saco de papel. Goodwin fora revelado, amordaçado, totalmente absorto ao se deparar com a imagem da esposa feita refém.

— Eu sou um cara bom, Rick maneta! Eu sou um homem bom pra caralho! – Prosseguiu Negan, sempre expansivo – Eu salvei esse seu amigo, livrei ele da morte, pois pelo que percebi, o bigodudo e o negão aí estavam a fim de foder legal com a vida dele!

O insano homem fizera uma breve pausa.

— Não vai me agradecer? Porra, Rick, você não vai me agradecer? – O homem abrira os braços, como se realmente aguardasse por uma manifestação do xerife – Bom, talvez esse cara não seja tão seu amigo assim... Levem ele! – Assim que sinalizara, Mike, o capanga, retirara Goodwin, levando-o de volta para o carro – É como diz aquele ditado... Como é mesmo a porra do ditado? Ah, sim... O inimigo do meu inimigo é meu amigo! Ou qualquer porra parecida...

Glenn não conseguia tirar os olhos dos crânios de seus amigos. Abraham e Heath estavam mortos, mutilados, transformados em penosas criaturas. Seus olhos marejaram, ele não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Não podia ser real... Ele não merecia que fosse real.

— Acho que você já conseguiu entender que está ferrado, não é Rick? – O maníaco parecia sentir prazer em causar terror em seus prisioneiros – Vocês vão ficar ainda mais ferrados se não me derem as suas coisas!

Ninguém se pronunciava, nem mesmo Rick parecia ter forças para interpor-se. O seu mundo estava desmoronando em suas mãos, e nem mesmo se tentasse, poderia impedir o que ainda estava por vir. A culpa nos olhos de Grimes estava nítida, seus orbes mantinham-se fixamente nas cabeças decepadas de seus dois fiéis escudeiros.

— O nosso acordo será o seguinte... Quero metade das suas coisas. Se for muito pra você, simplesmente crie, encontre, roube mais até conseguirem! É assim que vocês vivem agora, quanto mais vocês me contrariarem, mais sofrerão as consequências!

— Na próxima vez que eu e meus rapazes batermos na sua porta, você vai nos deixar entrar... Se nos impedir, se fizer qualquer merda que eu não goste, eu colocarei todo o lugar abaixo! Estamos entendidos?

Negan levou uma das mãos à orelha, fazendo nova pausa, dando espaço para que qualquer um ali se manifestasse.

— Nenhuma resposta? Pois bem... Estamos acertados! – O homem franzira as sobrancelhas, coçando os curtos cabelos – Infelizmente nossa reuniãozinha ainda não acabou... Vocês não acharam que iriam passar por tudo isso sem receber nenhum castigo, não é mesmo? Ponham eles em fila!

De forma bruta, os homens de Negan puxaram Maggie, Carl, Sophia e Susie, colocando-os de joelhos ao lado de Glenn e Rick, que já se encontravam paralelos. O pequeno Jacob, arrancado dos braços da mãe, fora deitado no chão, próximo as pernas de Susie. Chorando copiosamente, o pequenino clamava pelo calor materno, balançando os bracinhos no ar, sem encontrar resposta.

Negan aproximou-se de seus prisioneiros, olhando detalhadamente para cada um deles.

— Quero deixar uma coisa bem clara... Eu não quero matar nenhum de vocês! Quero que vocês trabalhem pra mim, e isso não será possível se vocês forem a porra de uns cadáveres!

O homem prosseguia tranquilamente com o seu discurso.

— Não estou cultivando um jardim... Mas, porra... Vocês mataram uma caralhada dos meus homens! Deixaram apenas o pobre coitado do Dwight pra contar história! – Com o taco, Negan apontara na direção do homem com o rosto queimado – Não posso deixar por isso mesmo... Então, vocês terão que pagar!

Movendo-se discretamente, Glenn conseguira encostar uma das mãos em Maggie, que já chorava copiosamente. Olhando no fundo dos seus olhos, o asiático tentava passar segurança para ela, mostrando-a que apesar de tudo o que estava ocorrendo, ainda havia chance das coisas terminarem bem.

— Bom, para não criar expectativas, direi o que farei com um de vocês, para que as coisas fiquem mais justas entre nós! – Asseverou o líder dos Salvadores – Eu vou dar uma puta porrada fodida na cabeça de um de vocês com o meu bastão – Negan erguera o taco, exibindo sua ferramenta – Dei a ela o carinhoso nome de Lucille! Estão vendo? Tem arame farpado enrolado nela, é legal pra caralho, não é?

O asiático fechara os olhos, respirando fundo, ainda tentando despertar daquele realista pesadelo, que insistia em não ter fim.

— Agora só preciso escolher qual de vocês terá essa honra!

— Mãe...

De forma monossilábica, Sophia ergueu seus marcantes olhos, já totalmente avermelhados pela cachoeira de lágrimas que escorria por seus lacrimais, fitando Maggie que nada conseguira dizer a ela. Nenhum “está tudo bem” seria suficiente para confortar o sofrimento da pobre criança.

— Ora, que momento único! – Negan observava de perto a troca de olhares entre as duas – Meu coraçãozinho está partido! – Debochou – Uma mãe e sua filha, especialmente quando a mãe é do tipo muito gostosa pra ter uma filha dessa idade! Não, sem chances de eu te matar...

O líder dos sequestradores voltara-se agora para Carl.

— E qual a história desse serial killer do futuro? – O homem arregalara os olhos momentaneamente. Carl seguia encarando-o, esforçando-se para não demonstrar medo – Que cara é essa, guri? Pelo menos chore um pouco... Não, não posso te matar antes que sua história termine... Tenho certeza que será interessante pra caralho!

Negan agora parara diante de Glenn, que de cabeça baixa, evitava trocar olhares com o sádico sujeito.

— Você não... Eu posso ser um monte de coisas, mas não quero ser chamado de racista! Não, sem chance, você tá fora da lista!

O homem dirigiu-se para Susie.

Fiu, fiu – Troçou – Tem muitas coisas que gostaria de fazer com você, e te matar está no fim dessa lista – Negan a olhava de forma marota, umedecendo levemente os lábios – Embora continue nela...

Dando mais dois passos para o lado, Negan finalmente estacionara frente a frente com Rick, que seguia sem reação, encarando-o com fúria, mas sem forças aparentes para qualquer reação. Com um dos olhos inchados, além de um sangramento em seu supercílio e nariz, o xerife esforçava-se para não demonstrar derrota, apesar de estar claro que o baque fora bastante profundo.

— E você? Acha que sou estúpido a esse ponto? – Negan meneou a cabeça negativamente – Você é praticamente invencível! Pelo amor de Deus, você é a porra de um maneta e ainda assim é líder de toda aquela gente?

Seu amplo sorriso se estendera ainda mais.

— Não vou te transformar em um mártir! A regra do jogo passa justamente pelo oposto disso... Eu quero te desmoralizar na frente deles! Eu vou enfiar o meu pau na sua garganta e fazer você me agradecer por isso! Assim, todos eles caem em sequencia... Simples!

Negan afastara-se alguns passos, abrindo os braços amplamente.

— Que caralho, eu simplesmente não consigo decidir!

Balançando a cabeça em negativa, o louco mandatário parecia decepcionado com o fato de ainda não ter alcançado uma conclusão a respeito de sua vítima. Espalmando uma das mãos sobre os olhos, tapando totalmente sua visão, Negan ergueu seu bastão, direcionando-o aos enfileirados reféns.

— Já sei! – Vociferou, com animação na voz – Vou deixar que Lucille decida por mim...

Apontando o taco de baseball para Carl, que encabeçava a fileira da direita para a esquerda, Negan iniciou uma absurda contagem, movendo o bastão em direção a cada um dos possíveis escolhidos.

Uni... Duni... ... Salamê... Minguê... Um sorvete... Colorê... O escolhido... Foi... Você!

...

— Se eu falar a língua dos homens e dos anjos, mas não tiver amor... Nada serei!

Hershel estava de pé, vestindo o seu empoeirado paletó, que trouxera da fazenda quando se mudara para o presídio encontrado por Rick Grimes, um refúgio que pudera trazer segurança para aqueles pobres diabos, após tanto sofrerem nas estradas.

Com sua bíblia de capa negra nas mãos, o idoso fazendeiro pronunciava tais palavras com alegria, sendo observado por todos os sobreviventes que, alegremente, assistiam a improvisada cerimônia matrimonial em meio ao refeitório da prisão.

— Se eu tiver poderes proféticos e compreender todos os mistérios e todo o conhecimento, e se eu tiver fé capaz de remover montanhas, mas não tiver amor... Nada serei!

Rick segurava a mão direita de Lori, que com sua protuberante barriga de oito meses de gravidez, afagava os bagunçados cabelos de Carl. Na mesa ao lado, Carol e Sophia, acompanhadas por Andrea, Dale, Billy e Ben, assistiam ao cerimonial com emoção nos olhos.

— Sem amor, não sou nada! Se eu der tudo o que possuo e entregar o meu corpo para me vangloriar, mas não tiver amor... Nada ganharei!

Glenn segurava firmemente na mão de Maggie, não conseguindo conter seu nervosismo.

— O amor é paciente, gentil... O amor não é invejoso e nem rude, não impõe sua vontade!

Em outra mesa, Patricia, Michonne e Bill, ao lado de Tyresse, Axel e Alice, admiravam-se com a beleza das palavras pronunciadas por Hershel, no belíssimo texto cunhado pelo fazendeiro.

— O amor suporta todas as coisas... Acredita em todas as coisas... Tem esperança em todas as coisas... Sofre todas as coisas... O amor nunca se esgota! – O idoso sorrira, parecia por demais contente – Acredito que o casal tenha escrito os seus votos...

Glenn abrira um enorme sorriso, voltando-se em direção a noiva.

— Maggie... – Iniciou. Sua voz um tanto trêmula, demonstrava o quanto o asiático estava nervoso – Meu amor... Eu prometo protegê-la, honrá-la, mantendo-a sempre a salvo... E juro amá-la por todo o tempo que me for dado, sempre me esforçando para que nossa história seja perene...

— Glenn... – A jovem também estava emotiva – Hoje é o dia em que celebramos o nosso amor... Prometo compartilhar minha vida com a sua, estando sempre contigo, sejam alegres ou tristes os dias que virão! Me ofereço a você como sua esposa!

Os dois trocaram olhares apaixonados, totalmente tomados pela plena alegria de um dia inesquecível.

— Maggie... – Hershel prosseguira – Você aceita este homem como o seu legítimo esposo, para amá-lo e respeitá-lo, na saúde e na doença, até que a morte os separe?

Greene não hesitara.

— Aceito!

— Glenn, você aceita esta mulher como sua legítima esposa, para amá-la e respeitá-la, na saúde e na doença, até que a morte os separe?

O asiático meneara a cabeça em sinal de positivo, antes de responder verbalmente.

— É claro! Sim, eu aceito!

O idoso então finalizou.

— Então, pelos poderes a mim concedidos, na incomum circunstância em que nos encontramos, e pelo bom Senhor dos céus... Eu os declaro, marido e mulher! Pode beijar a noiva!

Os recém-casados beijaram-se profundamente, arrancando aplausos e assovios da animada plateia. Agora era definitivo, o amor dos dois estava marcado pela eternidade. Glenn e Maggie, destinados um ao outro, destinados a um amor em meio ao caos.

Um amor que apenas a morte poderia separar.

...

O bastão de Negan parara defronte a Maggie, que fora arrastada por Dwight, colocando-a cara a cara com o líder dos Salvadores.

Sophia tentara se levantar, tentara impedir que a mãe fosse levada por seus algozes, mas não havia nada que aquela criança pudesse fazer.

— Maggie! Maggie!

A respiração de Glenn acelerara, o rapaz quase entrara em colapso. Seus batimentos provavelmente já passavam dos cem por minuto, assim como sua pressão arterial, que alcançara picos a níveis hipertensivos. Ele não podia acreditar, não podia aceitar. Olhando para sua amada, atestara que a mesma não demonstrara nenhuma reação, e nem poderia, estava debulhando-se em lágrimas, soluçando. Nem se pudesse conseguiria fazer algo.

— Não, por favor... – Implorara Glenn – Me escolhe, não faça nada com ela... Me mate! Me mate seu filho da puta, mas não faça nada com ela!

Seus gritos desesperados destacavam ainda mais a sua voz trêmula, misturada às lágrimas que escorriam livremente por seu rosto. Ele não podia deixar que aquilo ocorresse, prometera que a manteria a salvo, que daria sua vida por ela. Que daria sua vida pelo bebê que ela esperava.

Não era justo, nada daquilo era minimamente justo. Glenn estava pronto para morrer, se fosse esse o preço a pagar para que sua Maggie pudesse sobreviver, pudesse criar Sophia e a criança por nascer. Estava pronto para partir, estava pronto para deixar esse mundo. Maggie Greene merecia mais do que ele, sobreviver para ver o filho em seu ventre nascer, crescer e se desenvolver com saúde.

— Não faça isso! Você não pode! – Rick também tentara argumentar, tentara inclusive erguer o corpo, mas logo recebera uma joelhada de aviso no plexo, um golpe que o fizera perder o ar.

— Há trinta homens te cercando! – Vociferou Negan – Trinta! Fica com a porra do rabo no chão agora, ou todo mundo morre! – O líder olhara em direção a um de seus homens – Se mais alguém se mexer, arranque o outro olho do guri e dê pra menina comer!

O asiático olhara para o amigo xerife, jogado ao chão, ainda tentando recuperar o fôlego. Rick Grimes estava entregue, pela primeira vez, o policial que os guiara, protegendo-os de tantos males, estava impotente ante algo com o qual nunca haviam se deparado anteriormente, pelo menos, não nessas proporções.

— Eu já falei... Não faça nada com ela! – Bradou novamente Glenn de forma sôfrega – Se você quer se vingar pela morte do seu pessoal, então me mate! Eu estava com o Rick, eu matei pelo menos dois deles... Ela não tem nada com isso... Por Deus, ela está grávida!

Negan parara por um tempo, parecia analisar o pedido desesperado do rapaz asiático.

— Você tem um ponto, aliás, você tem um puta de um ponto... Tudo o que você falou faz muito sentido japa, faz sim!

Glenn respirara fundo, aliviado. Não importava se ele seria a vítima daquela barbárie, em seu interior, o seu coração estava acalentado por saber que Maggie ficaria bem.

— O único problema aqui... – Retomou Negan – É que não fui eu quem escolheu! – O louco homem erguera novamente o seu bastão – Quem escolheu a gatinha aqui foi Lucille, e eu nunca a contrariei... E não será hoje o dia em que eu irei contra uma escolha dela!

Negan erguera seu taco de baseball, levantando os braços até a altura da cabeça. Olhando para o marido, Maggie movera os lábios delicadamente, sussurrando as palavras que Glenn mais gostava de ouvir. As palavras que estiveram presentes nos bons e maus momentos vividos pelos dois.

“Eu te amo...”.

Descendo com toda a força, Negan desferira um potente golpe com o seu bastão contra o topo da cabeça de Maggie, afundando parte do seu crânio, e jorrando sangue por todo o chão. Com um enorme ferimento aberto, os cabelos manchados de forma uníssona em um tom rubro, e os olhos saltando pra fora das órbitas, Maggie Greene movimentava os lábios, sem conseguir pronunciar som algum.

— Parece que a gatinha aqui quer dizer alguma coisa... – Negan agachou-se brevemente, encarando as feições da mulher grávida – Caralho, eu dei mesmo a porra de uma pancada fodida na cabeça dessa vadia!

O louco gargalhara, sinalizando para o rosto da jovem.

— Os olhos dela pularam pra fora... Que caralho!

Com o corpo dobrado e a cabeça levemente abaixada, a mulher grávida jorrava sangue pela abertura entre os parietais, espirrando a hemorragia de forma pulsante por seu horrendo ferimento. Tomando nova distância, Negan desferira mais um golpe, dessa vez direcionado contra o rosto da futura mãe, que caíra de costas sobre o solo, agora com os lábios e bochechas totalmente rasgados pelo contato com o arame farpado.

Erguendo novamente sua Lucille, o insano líder dos Salvadores completara o seu castigo, desferindo um, dois, três, quatro fulminantes golpes contra a cabeça de Maggie Greene, transformando-a apenas em um emaranhado de sangue e massa encefálica.

— Está tudo mudando... – O brutal homicida voltara a se manifestar, mantendo sua calma quase psicótica – As coisas vão ser diferentes a partir de agora... Vocês estão entrando em um mundo totalmente novo!

Negan dera as costas, começando a caminhar de volta para o caminhão dos Salvadores.

— Não precisava ser igual a um parto dolorido, mas vocês escolheram isso! Só espero que tenham compreendido como as coisas funcionam, e qual o lugar de vocês nesse novo mundo!

O líder dos assassinos fizera uma breve pausa, sinalizando pra que seus homens começassem a se retirar.

— Sejam bem vindos a uma nova realidade! Vocês respondem a mim agora, serão minhas putinhas! – Negan erguera uma das mãos – Iremos buscar a primeira contribuição em uma semana! Adiós!

Atendendo ao sinal de seu chefe, os demais motoqueiros passaram a ligar os seus veículos, acelerando e deixando o local para trás, como se nada demais tivesse ocorrido por ali.

Mantendo-se na mesma posição, sem mover um músculo sequer, Glenn aparentava estar em choque. Ele não gritara mais, não chorara mais. Não dissera nada. Apenas observara atônito tudo o que ocorrera com sua amada, diante dos seus olhos.

O corpo de sua esposa estava a poucos metros de distância, rodeado por um denso e viscoso líquido vermelho. Do belo e delicado rosto que ele acostumara-se a acarinhar, nada sobrara, apenas as lembranças em sua mente. No ventre dela, a barriga protuberante indicava que a vida que ali estava sendo cultivada, acabara de ser interrompida pra sempre.

Uma vida que poderia ter se tornado o símbolo do puro amor que um sentia pelo outro.

Só que nada mais restara.

A esperança havia cessado...


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?

Bom, eu fiz algumas modificações importantes em relação ao material original... Espero que me entendam, pois isso ainda é uma fanfiction, portanto, tomei a liberdade de manter o rumo da história sob o meu controle, até para não se tornar algo tão previsível...

Tivemos a morte de três personagens super importantes, além é claro, da tão esperada aparição do líder dos Salvadores... E aí, acharam legal a introdução do Negan?

Ah, os flashbacks contidos nessas duas partes, correspondem a momentos marcantes das hq’s... Espero que a homenagem tenha ficado a altura!

Eu fiquei muito, muito triste em escrever o que vocês acabaram de ler... Não sei o quanto fora impactante para vocês, mas eu achei os capítulos extremamente pesados!

Espero sinceramente que tenham gostado!

Nos vemos semana que vem, com o primeiro capítulo da segunda temporada de All Out War!

Moi moi!



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