Os Caminhos de Mary Magdalene escrita por Jessica Lewis


Capítulo 1
ㅤㅤㅤ❝Capítulo I




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Quando vivemos em meio a sociedade dando valor apenas aos seus eventos e acontecimentos, não percebemos quão preto e branco nossa vida se torna. Às vezes basta esquecer um pouco tudo e todos, e nos dar um tempo a sós para enxergamos a beleza das cores que a vida nos oferece.

Enquanto muitos viviam em seu estreito mundo preto e branco, Mary Magdalene mergulhava todos os dias em seu incrível e colorido universo. A jovem moça com seus recentes 17 anos, possuía os cabelos tão dourados quanto um campo de trigo, e a pele alva dando destaque aos seus belos e incomuns olhos violetas. Era a filha mais nova do Conde De Bouvié, um dos homens mais respeitados de Sun Village. Seus dois irmãos mais velhos já haviam se casado: Andrew, o herdeiro da família, havia se casado há três anos e para a alegria de todos, tivera dois saudáveis e lindos filhos. Melissa, a filha do meio, casara há um ano e esperava seu primeiro filho com um cavalheiro encantador.

Por outro lado, a filha caçula não estava muito ansiosa para se casar. Embora muito simpáticos, os cavalheiros da vila não haviam lhe chamado a atenção de uma forma romântica, mas ela sabia muito bem que isto pouco importaria se seus pais encontrassem um pretendente para ela, e sua única opção seria aceitar a escolha.

— Onde esteve desta vez, minha filha? — Perguntou Georgiana, a senhora da casa e mãe dos três filhos.

— Estive nos campos de tulipas. Oh, mamãe, são tão belas! — Mary  ainda sentia-se eufórica.

— Meu bem, será que preciso lembrá-la de que não pode simplesmente sair sem uma acompanhante? — Disse a mãe ao escovar os cabelos da filha, tirando uma ou duas folhinhas que estavam presas entre os fios. — Agora com seus 17 anos, precisa comportar-se como uma verdadeira dama, de que outra maneira os cavalheiros lhe enxergarão como uma boa companheira?

Mary abriu a boca para falar algo, mas simplesmente a fechou e deixou os ombros caírem ao pronunciar um baixo e obediente:

— Sim, minha mãe.

— Senhorita Cecília está no salão de músicas para começarem as aulas de piano. — Informou a mulher após terminar de escovar os cabelos da filha e amarrá-los suavemente com uma fita vermelha.

— Irei encontrá-la. Poderia pedir que levem um lanche para nós? Estou faminta, não comi nada desde cedo.

Georgiana acenou com a cabeça e deixou que a jovem saísse do quarto. Esta que caminhou em passos lentos pelo longo corredor com paredes de madeira. Logo chegou a escadaria principal, que ficava exatamente em frente à porta de entrada da grande casa, e notou a porta aberta e dois cocheiros que traziam malas para dentro da residência.

Os olhos de Mary se estreitaram. Segurando as saias do vestido desceu os degraus com urgência, até alcançar o arco de entrada e entender o que estava acontecendo.

— Andrew! — Gritou alegremente ao perceber o irmão descendo da carruagem. Um grande sorriso se formou em seus lábios e automaticamente seus pés a levaram até o rapaz, pulando em seus braços fortes em um abraço apertado e familiar.

— Mary, como você está grande! — Observou Andrew após conseguir se afastar um pouco do abraço da irmã.

— E você mais bonito a cada ano, meu querido irmão! — Disse ela enquanto arrumava seu vestido. De fato estava, o homem tinha um corpo forte e sua postura era impecável, seus cabelos eram ondulados e quase do mesmo tom dourado do de Mary, assim como os pelos de seu bigode. — O que está fazendo aqui? Pensei que não o veria tão cedo.

— Mamãe nos convidou para ficarmos por alguns dias aqui na casa, até o grande baile acontecer.

— O grande baile? Que baile?

— Opa, acho que acabei falando demais. — Ele colocou a mão sobre a boca. — De qualquer forma, esqueça que eu disse isso, e em hipótese alguma cite sobre bailes quando conversar com nossa mãe.

— Como se eu fosse esquecer!

De dentro da carruagem ouviram um suave pigarro, e logo depois duas pequenas cabeças idênticas surgiram pela porta aberta do transporte.

— Oh, venham aqui meus filhos. Deixe-me apresentá-los à sua jovem tia. — Chamou Andrew, e no mesmo instante as duas crianças desceram da carruagem e ficaram bem ao lado do homem, escondendo-se atrás do pai. — Eles são um pouco tímidos, mas quando se familiarizarem com o local, sugiro que todos tenham muito cuidado.

— Olá! Devem ser Joshua e John, certo? — Disse Mary abaixando-se um pouco para falar com os pequenos que tinham, no máximo, dois anos. Era a primeira vez que estava conhecendo os sobrinhos, pois desde que casara e se mudara, o irmão só dera notícias através de cartas.

— Não sejam mal educados, rapazes. Digam olá a tia Mary.

— Talvez se eu os levar por um passeio na cozinha, e lhes dar uma pequena amostra do delicioso bolo que a madame Leyla faz, eles me digam um "olá". — Sugeriu Mary enquanto fingia estar pensativa.

— Bolo! — Gritaram ambos os garotos em uníssono, saindo instantaneamente de trás do pai.

— Acho que estamos começando a nos entender.

Após comer mais de uma fatia de bolo na cozinha com os gêmeos, Mary os entregou aos seus pais, que já estavam bem acomodados em seus devidos quartos. Foi apenas quando estava saindo que lembrou que deveria estar nas aulas de piano com a senhorita Cecília. Seus pés a levaram rapidamente pelos corredores da casa até chegar à sala de músicas, que estava entreaberta.

A sala era um pouco maior que os quartos da casa. Continha três sofás formando um "U" próximo a grande janela de vidro, que do chão chegava ao teto. Um tapete cobria boa parte do piso de madeira, suas cores e desenhos eram discretos nos tons marrom, preto e um avermelhado. O vento que entrava pelas janelas laterais faziam as cortinas balançarem e roçarem nos quadros pendurados nas paredes ao mesmo tempo em que acariciavam a tampa do piano negro.

A senhorita Cecília era uma jovem professora de piano, apenas dois anos mais velha que Mary. Era alta, com cabelos negros como a noite, olhos castanhos e uma pele parda muito bonita. Sua família não era tão abençoada como a da outra, por isso o Conde a contratou como professora pessoal de sua filha, em troca de ajudar sua família financeiramente.

— Oh, Cecília, me perdoe! — Começou Mary ainda ofegante assim que adentrou a sala. — Acabei me distraindo com a chegada de Andrew e seus filhos, e... Cecília? O que está fazendo?

A moça estava debruçada sobre uma das janelas do cômodo, segurando firmemente um caderninho em uma das mãos, enquanto a outra era usada para evitar que o sol lhe batesse nos olhos.

— Mary! Ora, esqueça o piano por hoje e venha saber das novidades! — Cecília deu pulinhos até chegar perto da amiga e aluna. — Está sabendo o que aconteceu hoje pela madrugada?

— Hmn... Receio que não. — Respondeu a loira desconfiada.

— Três famílias ocuparam as casas do sul da vila! Três! — Ela segurou as mãos da outra e deu mais dois pulinhos com um sorriso radiante estampado no rosto.

— Desculpe-me, Cecy, mas eu realmente não consigo entender o motivo de toda a sua felicidade.

— Por Deus, Mary. Três casas, com três herdeiros! Três oportunidades!

— Como sabe que todas elas têm um herdeiro?

— Papai foi dar as boas vindas aos donos, e eu o ouvi comentar com a mãe sobre eles. Você não está feliz? Eles podem ser boas pessoas. Aliás, um deles agora é dono dos campos de tulipas.

— Oh, não! Os campos de tulipas? Não poderei ir mais visitá-los! — Lamentou Mary franzindo as sobrancelhas.

— Por que não vamos até a cidade saber um pouco mais sobre eles? Ou quem sabe até mesmo esbarramos em um deles! — Disse Cecília dando risadinhas.

— Agora fiquei um pouco curiosa a respeito deles... Está bem. Mas não conte a mamãe que estamos a caminho do centro por este motivo.

— Com toda certeza não irei contar. Vamos?

— Vamos... — Concordou Mary um pouco hesitante, mas toda a animação da amiga lhe fez sorrir enquanto ambas atravessavam a porta da sala de músicas com os braços entrelaçados.


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