EPDV ANGEL.

“Eu estava andando, em algum lugar que desconheço, tentando achar o caminho de volta pra casa. Andando, andando, andando... Passando por lugares que nunca vi, por pessoas que nunca imaginei que existissem... Tudo normal.  Sons, passos, risadas, música... Continuei andando... lembro que parecia que eu andava há horas, mas estava tudo bem, não senti cansaço algum.

Recordo-me que depois de tanto tempo pra lá e pra cá, passei por um lugar idêntico a pequena venda do Sr. Waltz em New Orleans. Entrei, mas não era o mercadinho. Era estranho... era como se fosse um salão de festas de prédio, mas muito grande. Comecei a ver flores, muitas delas, e não havia ninguém! Continuei andando, e as flores aumentavam... bem no final do imenso corredor de flores havia um caixão. Era um velório. Eu estava num velório, mas não havia ninguém além de mim. Mas não senti medo ou pânico... Pela primeira vez, não era ruim. 

Continuei meu caminho... olhei para o caixão e passei - não vi quem estava lá e nem por um segundo tive a curiosidade de saber quem estava sendo velado. De repente, quando sai daquele recinto, apareceu uma menina. Jovem, tinha no máximo 16 anos. Magriiiiinha. Pele branca, cabelo liso num tom bem avermelhado abaixo do ombro, bem cortadinho. Usava uma blusa vermelha de manga cumprida, uma calça jeans bem escura e sua boca era tão vermelha que parecia batom, mas era outra coisa. A menina colocou a mão na minha frente, estendida, como que se esperando um aperto. Esquivei, mas ela insistiu. Veio atrás e lá estava a mão diante dos meus olhos. Não a apertei. Mas dessa vez perguntei:

- O que é isso?

- Calma – a menina disse tranquilamente, quase feliz - é que agora eu posso apertar a sua mão.

- Como assim?

- É que... bem, eu... eu estou morta, lembra? E eu não podia tocar em ninguém, mas agora eu posso. Eles deixaram. Me dá um abraço?

- Mas... quem é você?

- Oh, Angel! Sou eu! Ivy!!

Eu, sem o menor medo do mundo, abracei a menina. Dei-lhe um abraço muito forte.  E então senti algo se completando dentro de mim, parecia algo como amor, mas eu não sabia quem era aquela garota. Jurava que a conhecia de algum lugar, mas não conseguia me lembrar de onde. E esse nome, Ivy... eu nunca tinha ouvido esse nome antes. Eu a soltei e virei meu rosto para olhar para o seu, mas ela já havia sumido, não havia mais ninguém lá. Eu estava sozinha de novo.”

Despertei subitamente, suada e ofegante, de mais um pesadelo. Novamente aquela menina que me perseguia por tantos anos. Olhei ao meu redor e sem dificuldade reconheci o lugar. Era o antigo quarto de Jake, era a casa de Billy Black. Incrível como mesmo depois de quase sessenta anos tudo parecia exatamente igual. Os mesmos móveis, as mesmas cores e até os mesmos cheiros. Era até um pouco assustador. Mas antes que eu pudesse me perguntar como havia voltado, ouvi a voz de Bella em minha mente.

“Angie? Angie?” ela me chamava “Siga a minha voz...”

E eu o fiz, me levantei e pelo segui o estreito corredor até a saleta, olhei pela porta e vi uma luz brilhante quase me cegando.

_ Saia da luz, Bells! Você sabe como isso irrita meus olhos! – gritei.

_ Venha logo, sua dorminhoca!

Eu corri e abracei minha irmã. Eu nem podia dizer o quanto era bom estarmos juntas.

_ Eu te amo, Angie!

_ Ora, eu também te amo, Bells! Mas por que isso agora?

_ Ivy...

_ Ivy?

_ Ela precisa de nós.

Sem que nenhuma outra palavra fosse dita e de mãos dadas nós seguimos guiadas pelo nosso coração. E tão rápidas quanto o vento nos aproximamos das cavernas que ladeavam o fim da praia de La Push. Escondida entre as rochas escuras havia uma entrada e seu interior parecia mais negro que a noite.

_ É aqui. – Bella afirmou.

_ Ela não está sozinha e está com medo.

_ É, eu sei. Eu também posso sentir.

E urgência encheu meu coração. Eu não sabia o porquê e nem como, mas algo me atraia para dentro daquele lugar e o nome disso era Ivy. E Bella estava tão confusa quanto eu, mas como sempre ela era a voz da minha razão. Eu ficava me perguntando como havia voltado para Forks e onde estavam todos. E Jake? Nate? EJ, Nessie e Edward? E tudo que Bells respondia mentalmente era “Agora não, agora não.”

O caminho era todo irregular, com muitas pedras soltas, pequenos rastros de água que escoavam para o mar tornando tudo extremamente escorregadio. Mas não posso dizer que chegar até o interior fora difícil ou demorado, apenas exigia um pouco mais de atenção. O que realmente foi difícil foi entender a cena que vi quando finalmente chegamos.

Havia uma mulher de cabelos loiros quase brancos, vestido branco, pele branca. Ela era inteira branca e parecia uma imagem fantasmagórica. Ela parecia estar atacando um homem coberto de sangue, aliás, havia sangue por todo lugar. Depois vi mais duas mulheres, um pouco mais a frente. Uma tinha cabelos escuros e emaranhados, estava de pé e gritava “Chega, Katherine! Chega!” enquanto segurava uma jovem pelos cabelos que simplesmente gritava imóvel horrorizada. Cabelos vermelhos...

Ivy – Bells pensou.

Num instante a cena mudou completamente, Ivy levantou sem dar avisos e golpeou a coisa branca com seu próprio corpo. As duas caíram, sem dar chances para Ivy a tal Katherine se recompôs e se preparou para revidar fechando as mãos em punho e ódio em seu olhar. Fúria invadiu meu corpo, um sentimento quase maternal que percorreu minha alma como fogo e me fez queimar.

_ NÃO SE ATREVA, KATHERINE!