The Swan Sisters Saga escrita por miaNKZW


Capítulo 78
Capítulo 26 - Viagem Astral??




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Eu me lembro de acordar com o barulho de algo que me lembrou o toque de um telefone, abri os olhos e ouvi vozes que pareciam vir de longe. Fiquei tentando dormir outra vez porque nunca tinha me sentido tão cansada. Fiquei deitada, mas escutava tudo ao meu redor.

Eu não estava conseguindo voltar a dormir, apesar de ainda sentir uma leve sonolência, estava desperta. Eu estava deitada de bruços e com os olhos fechados, quando senti todo o meu corpo ficar duro como pedra, senti uma agonia muito grande e tentei mudar de posição, mas não consegui. Quanto mais eu tentava me mexer e não conseguia, a sensação ruim e a agonia pioravam. Tentei gritar e parecia que o som ao invés de sair, ficava preso na minha garganta. Nem tem como descrever a sensação, foi estranho demais.

De repente senti alguém se deitar em cima de mim e pressionar minha cabeça contra o travesseiro. Nem se eu pudesse conseguiria abrir os olhos, fiquei morrendo de medo. Daí parece que a "coisa" ficou estática em cima de mim, parou de pressionar minha cabeça e só apoiou a mão no meu rosto, eu senti como se alguém colocasse o rosto perto do meu e comecei a ouvir um sussurro no meu ouvido, eu não consegui entender nada do que dizia. A "coisa" parou de sussurrar, me deu um beijo no rosto e saiu de cima de mim. Foi uma sensação muito ruim, o beijo parecia ter sido dado com deboche, é como se dissesse: "Está vendo só, eu consegui chegar perto de você".

Cheguei a pensar que tinha morrido e que ainda estava presa ao corpo, ou talvez, que estivesse sendo possuída por algum demônio e perdendo o controle do meu próprio corpo.

Eu entrei em desespero e comecei a fazer muita força, tentando esticar meu corpo de uma vez para ver se eu me soltava, e de repente eu consegui, me virei, bati os braços na parede, chutei a ponta da cama, mas ainda não fui capaz de me livrei daquilo... Fiquei muito impressionada, eu não podia acreditar no que estava acontecendo.

Respirei fundo e tentei me acalmar, tentei parar de pensar o que poderia estar causando aquela estranha paralisia e, me concentrei em minha respiração. Inspirei e expirei lentamente, tentando sentir o ar preenchendo meus pulmões. Então, no momento dos zumbidos e vozes desconexas, chiados e vibrações eu relaxei, me mantive concentrada em me manter ali, sem despertar meu corpo e tentar liberar meu espírito... Eu forçava para sair do corpo, mas eu não consegui de primeira, quando eu estava prestes a sair alguma coisa me trazia de volta... mas enfim, me concentrei mais e quando percebi eu estava no teto do meu quarto, e eu não pude acreditar...

Eu estava me vendo dormindo, porém estava escuro, não estava vendo muito bem, decidi me aproximar e fixei o olhar em meu próprio rosto inerte na cama, mas ele ficou embaçado, como se alguma coisa me impedisse de ver. Nesse momento eu escutei alguém batendo na porta do quarto. Lembro-me de ter tentado mover minha boca, pedir ajuda ou algo assim, olhei para baixo de novo e não percebi nenhum movimento em meu corpo e, também não havia voz.

A porta se abriu e Dorian entrou caminhando devagar, tentando não fazer barulho, pois obviamente, ele achava que eu ainda estava dormindo. Ele se aproximou da cama e se sentou na cadeira ao lado dela, seus olhos tristes e semi cerrados transmitiam tanto pesar e preocupação que eu me emocionei, tentei de novo mover meus lábios para consolá-lo, mas o esforço foi em vão. Lá de cima onde eu estava, ou melhor, onde meu espírito estava, eu pude ver quando Dorian pegou minha mão, acariciou levemente e então a beijou com muito carinho. Eu não senti nada e, continuei ali, observando e admirando a figura de Dorian.

Não sei quanto tempo se passou, a noção de tempo me parecia muito surreal naquele momento, mas comecei a ouvir as vozes de novo e elas pareciam mais fortes dessa vez. A curiosidade me tomou e para minha surpresa descobri que podia mover meu espírito. Me senti como se estivesse flutuando no ar, a necessidade de conhecer os donos daquelas vozes me guiava sem que eu tivesse que fazer qualquer esforço. Cheguei até a pequena sala da casa de Paul e, inicialmente, pensei em permanecer escondida e ficar espiando do cantinho da parede. Reconheci a maioria dos rostos presentes ali, Paul, Ian, Liam, Simon, os anciões Quill e Embry, Travis, Eli, Noah, Bernard, Ashton e Josh, porém havia dois homens que eu jamais tinha visto antes. Um era bem alto, pele bronzeada, muito bonito com seus 28 anos, de cabelos escuros levemente cacheados e profundos olhos castanhos, o que mais chamava a atenção nele definitivamente era seu olhar penetrante e sério. E o outro tinha estatura mediana, este parecia mais relaxado, fisionomia inteligente, bem barbeado, tinha os cabelos lisos num lindo tom de dourado, seus olhos cor de âmbar transmitiam calma e segurança. Ambos os homens aparentavam estar na casa dos trinta anos, no máximo, mas havia alguma coisa na maneira que eles se postavam, gesticulavam e falavam, que passava sensação de estar diante de dois anciões, tão velhos quanto o Conselho Quilleute. Talvez, a palavra correta para descrevê-los não seria “velhos”, mas antigos. Os dois homens desconhecidos pareciam tão antigos quanto sábios.

_ Não podemos nos precipitar... de qualquer forma, isso não parece certo. – murmurou o mais baixo dos homens e sua voz cristalina tintirilhou em meus ouvidos como se fossem sinos – Devemos ser mais cautelosos. – ele continuou calmamente e a perplexidade que sua voz me causara parecia se alastrar por todo o recinto, pois todos se calaram para ouvir o que ele tinha a dizer - ainda não temos informações suficientes para agir...

_ E de que mais informações precisamos além daquelas na carta, Carlisle? – Ian interrompeu ríspido como sempre – Só pode ser um embuste... uma armadilha.

_ Bem, - Paul se pronunciou – pela experiência que nosso breve encontro nos proporcionou, posso dizer que os Garous não mediriam esforços para se vingar...  – ele levantou o rosto e seu olhar cruzou com o dos anciões Quill e Embry, houve um momento de silêncio e Paul continuou - de nós...

_ Talvez... – disse pensativo o tal Carlisle.

_ Mas é obvio que ela foi enviada para nos atingir, como uma isca! – Ian, novamente, interrompeu erguendo os braços nervosamente e iniciando uma discussão – Eu tenho certeza! Eu sempre disse, tem alguma coisa estranha nela.

Os ânimos se exaltaram na reunião e todos começaram a falar de uma vez, mas uma pessoa continuava calada. O homem sério estava sentado perto da janela, seus dedos sob o queixo enfatizam o semblante pensativo em seu rosto.

_ Theodore? O que você pensa disso? – chamou Carlisle.

“Theodore? Oh, Meu Deus! É Theodore! O Theodore de tia Maggie! Meu salvador!” sem pensar duas vezes eu corri até ele, precisava tocá-lo, dizer tudo que Jean havia feito comigo, o risco que tia Maggie e Jonas corriam por ter me ajudado a fugir... eu precisava ver o rosto que tanto sonhei em encontrar, o rosto que era minha única esperança de continuar viva. Não senti meus pés, eu simplesmente flutuei até ele e me joguei esperando encontrar os braços que me salvariam. Mas o que aconteceu em seguida estava acima de qualquer expectativa que eu jamais imaginaria, eu e qualquer outra pessoa normal. Eu atravessei, literalmente atravessei o corpo de Theodore como se ele nem estivesse ali, e fui de encontro ao chão. Não posso me dizer que doeu, pois não senti nada. Procurei por Theodore novamente e, ele não havia se movido nem um centímetro. Aquilo foi estranho, para se dizer o mínimo. Ninguém podia me ver... eu estava invisível, se é que eu realmente estava presente. Antes que a peculiaridade da estranha situação atingisse meu cérebro, decidi testar as singulares habilidades que este estado me proporcionava. Comecei caminhando cuidadosamente por entre os membros da reunião, toquei de leve o ombro de Paul, o topo da cabeça de Ashton que estava sentado no chão sob seus pés e não houve reação. “Bem, talvez eu possa aproveitar a situação e desfrutar um pouco mais do momento...”, me aproximei de Ian e lhe dei um leve tapa na nuca, ele não se moveu, então decidi liberar todo o mal estar que ele me causara desde que cheguei aqui e soltei meu braço com um belo soco em seu queixo. Nada. “Não é nada pessoal, Ian... só pra desestressar...” eu ri. Brinquei de “bater” em Ian por mais um tempo e continuei com os testes; procurei por Josh e o encontrei quietinho sentado no canto do velho sofá, ele observava toda a discussão sem dizer nenhuma palavra, encolhido protegendo o gesso que envolvia seu pequeno braço juvenil. “Oh, Josh!” o instinto maternal me tomou e eu corri em sua direção, tentei tocar seu rosto e lhe dizer que não precisava ficar com medo, mas ele não podia me ver, muito menos me ouvir. Eu quis chorar e senti as lágrimas chegando quando uma voz grave reverberou pela sala.

_ Maggie não faria isso... – Theodore suspirou pesaroso e balançava a cabeça de um lado para o outro, parecendo não ter tanta certeza do que dizia.

_ O que você disse? – o velho Quill perguntou.

_ Maggie não faria isso! – afirmou, dessa vez.

_ Como você pode ter tanta certeza? – e é claro, Ian se intrometeu – Ela é uma deles e não se esqueça que ela serve a Jean! Ela faria qualquer pelo mestre...

_ Eu também já fui um Garou... mas mantive meus princípios e minha moral, assim como outros que conheci. Maggie não faria isso!

_ Ela é um deles! Estou dizendo, é uma armadilha!

_ Não a julgue assim, rapaz! – Theodore alertou, e havia um leve tom de ameaça em sua voz – Maggie tem seus motivos para permanecer ao lado de Jean e você não tem idéia do quanto ela sofre por isso. Você não a conhece e não sabe o que a motiva, portanto, não se apresse para julgá-la dessa maneira.

Então houve um momento de puro silêncio, todos pareciam ponderar com as palavras de Theodore. Alguns trocavam olhares, outros só abaixaram a cabeça e sem que ninguém esperasse o som de um telefone tocando quebrou a tensão, pondo fim ao clima de indecisão.

Carlisle se afastou do centro da sala, rapidamente passou a mão pelo bolso de sua calça de alfaiataria fina e dele retirou um discreto celular. Sua boca se movia rápido, mas suas palavras saiam distintas e claras.

_ Quando isso aconteceu? – alguns segundos de silêncio mortal e o ar virou pura estática pela expectativa quando seu semblante se fechou – E não há nenhuma reação? E quanto aos fatos que antecederam o evento? – todos concentrados em suas palavras, provavelmente tentando adivinhar o que a voz do outro lado do telefone dizia – E foi assim, de repente? – ninguém naquela saleta se movia e eu percebi que alguns inclusive seguravam a respiração – Entendo... – ele trocou um breve olhar com Theodore e, quase imperceptivelmente moveu a cabeça em afirmação – Talvez, tenhamos encontrado a explicação para... essa situação. Sim, aqui em Forks. Não, não Edward! Ainda é muito cedo para um veredicto, precisamos ponderar os riscos que uma ação como esta acarretariam a elas. Deixe-me conversar com Theodore, retornarei em breve. – então, Carlisle baixou o flip do celular e se virou calmamente, caminhou de volta para o centro da discussão que o esperava, puxou uma cadeira, sentou e ajeitou-se alterando sua fisionomia para o mais sereno rosto que eu já havia visto – As irmãs tiveram um colapso. – informou sem cerimônia e o desespero teve início novamente.

_ Mas... mas... – Paul tentou perguntar, mas as palavras travaram em sua boca.

_ Angel está numa espécie de coma, não responde a nenhum estímulo, parece estar dormindo... pelo que Edward me informou, numa noite Angel se deitou e não acordou mais. – a voz de Carlisle se destacou em meio à confusão – E Bella... bem, ontem pela manhã Bella entrou em um estado catatônico muito profundo, ao que me parece. Mas ela não está dormindo, simplesmente parou, de uma hora para a outra, ficou estática e imóvel como se fosse... como se fosse...

_ Uma estátua de gelo... – completou o velho Embry. Carlisle não respondeu, ninguém respondeu. Ficaram todos pasmos com a notícia que mais parecia o fim do mundo para eles. Cada membro da estranha reunião ponderava em silêncio, divagando em seus próprios pensamentos. Atônitos, calados e pensativos. - Como isso é possível? – Embry se questionava, em seu rosto o horror estava estampado e o velho ancião me lembrou uma criança perdida procurando pela mãe – Elas... elas são... as irmãs Swan! O que teria tamanha força para nocauteá-las assim?

Theodore e Carlisle estavam em lados opostos da sala, mas eu quase pude ouvir o clique quando seus olhares se conectaram. Os dois recém chegados pareciam se comunicar sem a necessidade de palavras, eu senti um frio percorrendo a espinha quando ambos direcionaram o olhar para o corredor e, sem nenhum sinal caminharam um atrás do outro até a porta do meu quarto.

Quando eles entraram, a expressão de Dorian mudou completamente, ele se levantou e se afastou sem que nenhum dos homens pedisse e entre eles houve apenas uma rápida troca de cumprimentos, em seu rosto havia algo como resignação, medo... e com certeza era mais que respeito. O conselho e o resto dos Quileuttes seguiram os dois estranhos e, o quarto ficou simplesmente lotado com tanta gente, lembro-me ainda de ver Liam e Ashton se acotovelando na janela, já que não havia espaço para eles no lado de dentro.

Sem cerimônia, Carlisle acomodou uma maleta metálica sobre a cômoda ao lado da porta e dela tirou uma enorme seringa. Enquanto isso, Theodore aquecia com suas mãos um estetoscópio e se aproximava da cama. Me encolhi só de antecipar o mal estar que o iminente exame me causaria, mas não senti nada. Nem mesmo quando Theodore forçou meus olhos, abrindo-os com os dedos iluminando com uma lanterna. Eles mediram minha pressão, testaram meus reflexos, ouviram minha pulsação e por fim colheram uma boa quantidade de sangue e, mesmo assim eu não senti nada.

Pouca coisa foi dita, mas flagrei várias trocas de olhares entre os dois. Finalmente, eles terminaram com os exames e testes e rumaram novamente para a saleta. Confesso que ainda estava curiosa para ouvir o que os homens tinham a dizer e estava pronta para segui-los, assim como o resto do “público” presente, mas senti uma exaustão tão repentina, e logo em seguida uma força involuntária me trazendo de volta para meu corpo, foi algo instantâneo, quando menos percebi eu já estava de volta a cama, ainda presa e incapaz de me mover. Meus olhos estavam abertos e me lembro quando Dorian se aproximou para fechá-los, mas antes, ele limpou da pele do meu braço o resquício de sangue que a seringa de Carlisle havia deixado e como se selasse a minúscula ferida, beijou o local suavemente. E a forma com que ele o fez, estranhamente me lembrou aquelas mórbidas cenas de filmes em que cerram os olhos do defunto. Ouvi a voz de Dorian dizendo algumas palavras, mas não pude entender o que dizia e, em menos de cinco minutos eu simplesmente apaguei.

Abri os olhos e lá estava eu no teto de novo, Dorian debruçado sobre meu corpo soluçava silenciosamente e a única coisa que delatava sua dor eram os movimentos pesados de suas costas, subindo e descendo. Tentei levantar os braços para tocá-lo, queria perguntar por que chorava tanto, mas ele não me ouviria, então fiquei quieta, apenas observando-o de cima. Levou um tempo, mas Dorian se acalmou, se recompôs e levantou o rosto, postou um beijo em minha testa e passou os dedos em meu queixo, antes de deixar o quarto. Meu espírito o seguiu sem que eu pedisse e eu o acompanhei quando ele caminhou pelo corredor, passou pela saleta dizendo algo que eu não pude ouvir para Paul e acenou para Ian que ajudava Josh com a lição, sentados na mesa da cozinha. Dorian rumou para a floresta e a atravessou sem pressa, seus passos se arrastavam pelo caminho e ele parecia cansado. Foi então que me dei conta que nunca questionei onde Dorian vivia, não tinha nem idéia de onde ele poderia estar hospedado e isso me motivou a segui-lo por mais um tempo. Chegamos até uma cabana bem rústica e pequena escondida entre as folhagens que pareciam tomar conta do lugar, parecia abandonada e escura. Dorian entrou e foi tirando a jaqueta, jogou-a sobre uma velha mesa de madeira no quanto e depois tirou a camisa. Como sempre, a beleza de seu corpo me tirou o fôlego e fiquei grata por ainda poder vê-lo, eu poderia ficar admirando aquela cena pelo resto da minha vida. Ele foi em direção à cama e se deitou, colocando os dois braços sobre a cabeça e ficou assim, olhando para o teto por um longo tempo. Duas batidas chamaram nossa atenção, Dorian se levantou, se vestiu e atendeu a porta. Era Carlisle.    

_ Feche a porta atrás de você - disse ele, enquanto acendia uma lamparina e a colocava sobre a mesa.

Carlisle olhou à sua volta, e com uma expressão confusa adentrou sem hesitar. O lugar realmente parecia que não era visitado há anos. Um tapete desbotado, um quadro coberto com um lençol que um dia já fora branco, e uma estante quase vazia eram tudo havia no local, além de uma cadeira, a cama e uma mesa. Dorian Gray acendeu uma vela meio queimada que estava em pé na prateleira da lareira, e então eu pude ver que o lugar todo estava coberto de pó, e que o tapete estava cheio de buracos. Um rato correu por trás de Carlisle. “Obviamente havia um cheiro úmido de mofo,” pensei comigo.

_ Então... eu soube que você acha que só Deus é quem vê a alma, Carlisle? – Carlisle não respondeu – Tire esse lençol, e você verá a minha. – sua voz era fria e cruel.

_ Do que você está falando, Dorian? - murmurou Carlisle, franzindo a testa.

_ Você não vai? Então eu mesmo devo fazê-lo! - disse Dorian, e puxou o velho lençol, rasgando-o em duas partes, e arremessou-o no chão.

Uma exclamação de horror brotou dos lábios de Carlisle quando ele viu na penumbra a coisa horrenda na tela, sorrindo maliciosa para ele. Havia algo em sua expressão que o enchia de desgosto e repugnância. E então me dei conta, Deus do céu! Era próprio rosto de Dorian Gray! Era horrível, mas o que quer que fosse, não tinha ainda desfigurado inteiramente a beleza de Dorian. Havia ainda um pouco de cabelo ralo e algumas manchas vermelhas naqueles lábios sensuais. Os olhos encharcados de sangue mantiveram resquícios do azul original, as curvas nobres de seu nariz também se mantiveram, mas o pescoço era de um cinza plastificado muito estranho e sinistro.  Mas sim, era Dorian Gray mesmo. Mas quem fez isso?  Quem, em plena consciência faria algo tão horrível assim?

Senti como se seu sangue tivesse mudado do fogo para o gelo em um momento.  “O que isso significa? Porque alguém pintaria algo tão medonho?”

Assim como eu, Carlisle parecia incrédulo, sua expressão ainda era de horror, mas estava claro que em sua mente uma idéia monstruosa nascia. Ele aproveitou a vela acesa, e segurou-a próxima a imagem. Ele se virou e olhou para Dorian com os olhos de um homem doente. Sua boca se contraiu, e ressequida parecia incapaz de articular. Ele passou a mão pela testa.

_ O que isso significa? - exclamou, sua voz soava aguda e curiosa em meus ouvidos.

_ Anos atrás, quando eu era um menino, - disse Dorian – conheci algumas pessoas que se dedicaram a mim, me elogiaram, e me ensinaram a ser vaidoso da minha boa aparência. Um dia, um homem me foi apresentado, Lorde Henry, que me explicou a maravilha da juventude. E Lorde Henry me levou até um famoso artista, conhecido por sua habilidade singular de retratar a alma das pessoas. Seu nome era Basil e, bem... Basil insistiu em me retratar. No começo, eu hesitei, mas cedi enfim e, para minha surpresa esse retrato me revelou a maravilha da beleza. Em um momento louco, que eu não sei, até agora, se me arrependo ou não, eu fiz um desejo. Talvez você chamasse isso de uma oração...

_ Eu ainda não sou capaz de entender aonde você quer chegar, Dorian.

_ Esse é o meu retrato!

_ Não! Isso é impossível. O quarto é úmido. Tem mofo na tela. Mesmo que Basil tivesse usado algum mineral venenoso em suas tintas... ainda assim, é impossível!

_ Ah, o que é impossível? - murmurou Dorian, indo em direção até a janela, e inclinou a testa contra o vidro frio

_ Se isso é verdade, se esse quadro é real e amaldiçoado, por que você não o destruiu? Você devia tê-lo destruído!

_ Eu tentei... acredite em mim, doutor... eu tentei! A verdade é que ele exerce um grande poder sobre mim, ele tem me destruído.

_ Eu não acredito... eu não acredito que isso seja possível!

_ Você não consegue ver o meu rosto nele? - perguntou Dorian, com amargura.

_ Deus! Não! – gritou Carlisle - Isto tem os olhos de um demônio, o rosto de um monstro!

_ É o rosto da minha alma. Cada um de nós tem o céu e o inferno em si, Carlisle. - exclamou Dorian, com um gesto de desespero selvagem.

Carlisle, então se voltou para o retrato, e olhou longamente para ele.

_ Meu Deus! Se é verdade... - ele exclamou - se isso é o que você fez com sua vida, você deve ser ainda pior do que tudo já ouvi sobre você! - ele segurou a luz novamente contra a tela, e examinou-a. A superfície parecia ser muito tranqüila, mas naquele momento estava claro que foi no interior da figura que a imundície havia começado. O quadro era como uma estranha vivificação da leprose dos pecados que aos poucos foram comendo a vida. A decomposição de um cadáver em uma sepultura não era tão terrível. - Meu Deus, Dorian! - não houve resposta, mas eu ouvia Dorian soluçar junto à janela – Reze, Dorian! Vamos rezar... se uma oração de orgulho e vaidade foi atendida... \t\t 

Dorian Gray aproximou-se lentamente e olhou para ele com lágrimas nos olhos esmaecidos.

_ É muito tarde, Carlisle... - ele murmurou.

_ Nunca é tarde demais, Dorian. Vamos tentar... deve existir algo em algum lugar que possa nos ajudar! Você não deve desistir, filho... Deus olha por nós e...

_ Essas palavras não significam nada para mim agora.

_ Silêncio! Não diga isso. Você fez coisas ruins em sua vida, mas todos nós já fizemos... é para isso que existe o arrependimento. Olhe para mim! Olhe para a minha família! Somos vampiros, lobisomens... seres supostamente amaldiçoados e esquecidos por Deus, mas não desistimos! Você... você não...

_ Não existe mais esperança para mim, doutor. E isso é algo que já aprendi a aceitar. - Dorian Gray olhou o quadro, e de repente um sentimento incontrolável de ódio por si mesmo apoderou-se de seu rosto – Quando cheguei a La Push e conheci os Quileuttes, eu ainda acreditava que havia salvação para minha alma. Foi por isso que cheguei aqui, por causa de vocês... por causa das irmãs Swan, achei que elas poderiam me salvar, mas... mas... eu estava enganado.

_ Talvez exista algo que possamos fazer por você, filho...

_ As irmãs caíram! – Dorian gritou e jogou os braços para cima – Caíram! Não existe mais esperança, Carlisle!

_ Não sabemos disso, não podemos ter certeza de nada. – Carlisle tentava consolar – E isso pode ser temporário, vamos conseguir reverter essa situação!

_ Não... não... – Dorian dizia, mais para si mesmo do que para Carlisle – Eu não mereço...

_ O Clã Swan não faz julgamentos, filho. – Carlisle se aproximou de Dorian e passou a mão sobre sua cabeça como um pai consola um filho em desespero – Não é para isso que estamos aqui... e todos merecemos uma segunda chance.

_ Eu não mereço! – Dorian afirmou - Mas não importa mais... eu não me importo mais! – o toque de Carlisle pareceu apaziguar os ânimos de Dorian, ele secou o rosto e lentamente se recompôs - Se elas se recuperarem... se Bella e Angel Swan voltarem, você... você acha que elas poderiam ajudar minha Ivy?

_ Sim. – Carlisle disse caminhando até a saída – Também já pensei nisso... mas ainda é muito cedo para conclusões. Temos que esperar...

_ Existe algo entre elas, eu sei Carlisle... de alguma forma, meu coração me diz que existe uma ligação entre elas... acho... acho... que talvez... talvez se curássemos Ivy, as irmãs...

_ Ainda é cedo, filho... – ele repetiu estendo um dos braços, abrindo a porta e deixando a claridade do dia entrar – Agora, venha... venha comigo, vamos voltar para os Quileuttes e aguardar a chegada das irmãs.

Dorian aceitou o convite de Carlisle com rápido aceno e os dois homens seguiram de volta para a aldeia.


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