Nathan conta sua historia para Carlisle, mas não cita nome algum.  Assim consegue convencer Carlisle em ajudá-lo e deixa Angel sob seus cuidados enquanto parte em busca de Theodore e alguma solução que possa reparar todos os problemas que havia causado. Carlisle acreditando estar em divida com Nathan aceita sua proposta e promete protegê-la. Carlisle vai ao encontro de Angel. 

  

 

Ainda estava escuro quando acordei. Ainda devia ser noite. A mesma noite em que Nathan me colocara na cama e me cobrira – lembro-me de suas palavras doces me pedindo para descansar e um suave beijo em minha testa, como ele costumava fazer quando eu era criança.

Eu havia desmaiado ainda no carro. Tudo que me lembrava era de ter visto um velho hotel à beira da estrada e de ouvir Nathan me dizendo que faríamos uma parada. Eu ainda estava confusa demais e não conseguia decidir se realmente estava acordada ou se ainda sonhava. Aquelas estranhas imagens de enormes feras disformes e raivosas me perseguindo por uma floresta escura e desconhecida enquanto procurava por Nathan, ainda pareciam muito reais para mim. Abri meus olhos e instintivamente vasculhei o insípido quarto de hotel em que nós havíamos nos hospedado. Nenhum sinal de Nathan. Um arrepio percorreu minha espinha como se antecipasse o pior. Nathan havia me deixado. Imediatamente, minha mente tentou me acalmar: não, não, ele jamais faria isso! Mas então, onde ele estaria?

Depois de alguns minutos eu finalmente consegui controlar minhas pernas e aos poucos fui retomando o domínio do resto do meu corpo. Ele me respondeu e logo me pus de pé. Procurei por algum bilhete. Qualquer coisa que indicasse que Nathan retornaria em breve, mas não havia nada. Somente algumas poucas roupas velhas que eu havia embalado para a viagem, minha mala e algum dinheiro que estava sobre o criado mudo. O que eu deveria fazer agora? Por onde começar a procurar por meu pai? Onde ele estaria? Por que ele havia me deixado aqui sozinha, sem nenhum recado ou explicação? Imediatamente me lembrei que não conhecia ninguém aqui. Na verdade eu não conhecia ninguém em lugar algum! Tudo o que eu tinha era Nathan e agora ele havia sumido. O que eu faria?

Sozinha e num lugar desconhecido - eu nem sabia que lugar era aquele. Senti minha respiração ficar cada vez mais ofegante. Tudo começou a girar e minhas pernas pareciam não agüentar mais tanta pressão e estavam prestes a desabar quando um toque suave na porta me trouxe de volta. Eu parei. A surpresa me deixou estática. Não poderia ser Nathan! Ele não precisaria bater para entrar! Mas quem poderia ser? Não havia ninguém que soubesse de nossa presença ali. Nathan tivera muito cuidado para não deixar pista alguma durante todo o caminho de nossa viagem, nada que pudesse nos delatar ou indicar qual seria nosso destino. O toque suave novamente e então uma voz:

— Angel?

Oh, Meu Deus! Ele sabe meu nome! Eu não conheço essa voz! Será que Nathan foi descoberto? Será que Nathan está morto e agora seu assassino veio a minha procura?

— Angel? Eu sei que você está aí! – a voz desconhecida me chamou novamente – Não se assuste, por favor. Meu nome é Carlisle Cullen e venho a pedido de Nathan. Angel?

Nathan? O estranho conhecia Nathan? E Nathan pediu que um estranho viesse me procurar? Carlisle Cullen? Meu pai nunca me falou sobre esse homem. Eu nunca havia escutado esse nome antes. Não, não podia ser verdade! Nathan era cuidadoso demais e jamais pediria ajuda a um estranho.

— Ouça minha querida – o estranho disse quando não o respondi – eu entendo que esteja assustada. Mas você precisa me ouvir. Eu tenho aqui uma carta de seu pai e vou passá-la por debaixo da porta. Nathan sabia que você não me ouviria e não confiaria em mim, por isso escreveu essa carta.

Um grande envelope branco apareceu pelo vão da porta. Eu o alcancei e pude reconhecer a caligrafia de Nathan. Estava destina a mim.

— Leia a carta Angel. Eu estarei aqui quando terminar – o estranho mensageiro me afirmou.

Eu abri o envelope. Puxei seu conteúdo espesso e comecei a ler o que seriam as ultimas palavras que meu pai tinha para mim. A primeira pagina era somente um bilhete e o resto pareciam paginas arrancadas de um velho diário, o diário que Nathan mantinha e sempre carregava por todos os lados que andava, eu me lembrei. O bilhete dizia:

 

 

“ANGEL,

Minha amada filha, eu sinto muito por ter que me despedir de você dessa maneira. Mas essa é a única forma de resolver essa situação em que nos meti. Eu não sei se você poderá me perdoar por tudo que lhe fiz, todo o mal que lhe causei e mais. Vergonha e arrependimento são tudo que sinto agora, mas já é tarde demais.

Minha filha, se depois de ler essa carta e descobrir a verdade sobre seu passado, você ainda conseguir me amar de qualquer forma ou se ao menos lhe sobrar um pouco de pena de seu pobre pai, eu lhe suplico Angel, por favor, aceite a ajuda desse homem que lhe entregou esta carta. Ele se chama Carlisle e prometeu cuidar de você.  Não é bem o tipo de proteção que eu desejava para você, mas de alguma forma sei que você estará segura enquanto estiver sob seus cuidados.

Eu preciso que você saiba o quanto você é importante para mim. Eu te amo, minha filha! Sempre te amei! Desde o instante em que te vi até o ultimo dia de minha existência. E essa foi a única razão que me motivou a fazer o que eu fiz com você. Por favor, filha me perdoe.

Eu parto agora porque sei que esse é o melhor caminho para você seguir. Eu sei que você estará mais segura longe de mim. Você deve seguir em frente, SEMPRE! Você deve seguir sua vida sem mim. Sem mais nenhuma interferência por minha parte.

Você será para sempre a razão de tudo para mim.

Eu sinto muito, Angel! Sinto muito por tudo.

Com Amor,

Papai”.

  

Um rio de lagrimas começou a jorrar dos meus olhos me impedindo de continuar a ler. Minhas mãos já não respondiam mais e tremiam tanto que causavam dor. Um vazio imenso tomava conta de mim. Eu estava sozinha. Meu pai havia me abandonado. Eu desisti e me deixei cair sob aquele chão frio e sujo. Eu me encolhi como se estivesse me segurando para me manter inteira. Como se agora meu corpo quisesse se desfazer em mil pedaços.

Tudo que conseguia pensar era “Por quê? Por que Nathan me deixou? O que eu fiz para merecer isso? O que eu fiz de errado?”. Foi quando me lembrei das outras folhas dentro do envelope. Talvez elas pudessem me explicar. Talvez elas pudessem revelar que Nathan não tinha partido de verdade, que essa era apenas uma separação temporária. De alguma forma, eu encontrei forças para alcançar o resto da carta de Nathan e me pus a ler.

Esse era mesmo o diário de Nathan. Eu podia perceber que aquelas páginas haviam sido manuseadas varias e varias vezes e a cor amarelada denunciava que eram bastante antigas. Nelas, Nathan relembrava os dias que anteciparam o meu nascimento. A alegria de reencontrar Renée. E depois sua angustia de não poder ajudá-la. Forks? Nathan já estivera em Forks? E... Charlie? Mas quem é Charlie? Minha mãe era casada e seu marido se chamava Charlie?

Eu sempre soube que Nathan não era meu pai biológico, mas isso nunca teve muita importância para mim. Mas agora meu pai tinha um nome. Meu outro pai se chamava Charlie. E Isabella? O primeiro bebê? Como assim? Eu fui o primeiro bebê de Renée! O único bebê! Eu continuei a ler aquelas palavras como se estivesse descobrindo um novo mundo. Como se elas contivessem o segredo de uma outra vida. Uma vida que deveria ter sido minha.

Eu me perdi no tempo. Eram tantas novas informações que meu cérebro não podia mais suportar. Não conseguia mais assimilar. Tudo aquilo parecia um filme de mau gosto - sem sentido e surreal. A exaustão causada pela tensão dos últimos dias parecia finalmente exercer seu efeito sobre mim. Eu estava tão cansada que já não conseguia mais discernir as letras umas das outras. Tudo estava virando um grande borrão de tinta sobre o papel. Senti meus olhos se fechando. Minha consciência estava desistindo e me puxando para a escuridão. Fria. Profunda. E solitária escuridão.