EPDV Leah.

 

 

 

O vento gélido batia em meu rosto conforme eu aumentava a velocidade. Não sentia frio; a mistura de adrenalina somada aos meus densos pêlos me protegia dessa sensação. Cada vez que eu me lembrava do que fiz, sentia arrepiar todo meu corpo lupino. Apaixonar-me era algo totalmente fora de cogitação. Ainda mais me apaixonar por um vampiro! Mas já estava feito, não tinha mais como voltar atrás. Eu havia encontrado minha metade, minha alma gêmea. E agora, sozinha, eu precisava proteger o que restou desse amor.

 

O ar noturno começava a pesar nos meus pulmões. Aparentemente minha fuga deu certo, eu não conseguia mais sentir o cheiro de meu perseguidor. Resolvi mudar para minha forma humana e seguir o longo caminho de volta para casa. Casa... será que eles me perdoarão? Será que minha mãe, meu irmão me receberão de volta depois de tudo que fiz? Depois de ter deixado que aqueles desgraçados matassem Sam e Emily? E os outros? Jake, Paul, Embry...

 

Apesar da escuridão, meus olhos já acostumados com esse tipo de situação, vislumbram a velha cabana de Sue. Nesse momento, pela primeira vez desde que aceitei o meu destino, o sentimento de nostalgia tomou conta de meu coração. A cabana significava muita coisa para a minha família, mas eu sempre a odiei. Lembrei-me da minha infância. Onde meu irmão brincava e eu ficava sentada olhando com desprezo a cena, na mesma posição em que me encontra neste momento...

 

Voltando ao presente, eu percebo que há algo de diferente na imagem que vejo agora. Um vulto gigantesco se encontra ao lado da cabana. Percebendo de cara o que era aquilo, cheguei à conclusão que definitivamente não existia mais escapatória. O confronto ocorrerá, quer eu queira, quer não. Finalmente chegou o dia em que terei que suplicar por minha redenção.

 

Antes que pudesse ter qualquer reação, o vulto dá alguns passos em minha direção, saindo das sombras. Sua pelugem escura começa a brilhar como se a mais brilhante lua cheia estivesse no céu embora a nevasca não tenha diminuído.

 

- Seth?

 

- Leah? Você voltou! – disse o menino que eu mal podia reconhecer, ainda se recuperando da reversão de sua forma.

 

- Você cresceu moleque... – senti uma lagrima quente escorrer pelo meu rosto.

 

- Oh! Leah!!!

 

Alto no céu, raios cortavam as nuvens. Trovões eclodiam e um vendaval incessante fez com que a paisagem se tornasse caótica. 

 

 

 

...

 

 

 

- Foi você que pediu nossa ajuda para trazê-la aqui. Então você lida com ela!

 

- O que você espera que eu faça Paul?

 

- Eu não sei! Tente ganhar a confiança dela novamente, para começar...

 

- E como você sugere que eu faça isso?

 

- Não era você que sempre a defendeu e insistia para que nós não a julgássemos pelo o que aconteceu?

 

Eu ouvi um suspiro e em seguida a porta do quarto em que eu estava se abriu ligeiramente. Deitei-me novamente e fingi ainda estar dormindo.

 

- Leah, você está acordada?

 

- Sim. Agora estou né? - eu disse fingindo um bocejo.

 

- Como você está se sentindo? - ele perguntou ansiosamente.

 

- Eu me sinto como se eu tivesse sido nocauteada, atropelada por um trem. O que aconteceu comigo?

 

- Você desmaiou em frente a sua casa... Seth me chamou... e eles... bem, nós estávamos preocupados com você.

 

Estranho... estou certa de que ele estava fora de si. Jake nunca falava todo cheio de frescura daquele jeito. Bem, pelo menos comigo não...

 

A única coisa que preocupava era se eu realmente havia conseguido despistar aquele sangue sugas desgraçado.

 

- Sim, estou melhor agora. Vocês não rastrearam ninguém? Não tinha ninguém atrás de mim?

 

- Não. Por quê? Deveria?

 

- Ahnn... não. Acho que não – Jake me olhou desconfiado e eu tentei disfarçar - Foi tão estranho! Um minuto eu estava me sentindo muito bem e, em seguida, só me lembro que tudo ficou escuro.

 

- Humm... você gostaria de um pouco de ar fresco?

 

- Sim, eu acho que é exatamente o que eu preciso - eu disse me pondo de pé.

 

- Aqui está uma muda de roupa para você. Achei que você gostaria de se trocar - ele disse entregando-me um par de jeans e uma camiseta desbotada.

 

Enquanto Jake aguardava do outro lado da porta, eu me trocava e tentava pensar em uma maneira de perguntar como estavam as coisas, Sue, Seth... eu até mesmo senti vontade de perguntar sobre os Cullens e Bella e Angel. Definitivamente havia algo errado comigo... provavelmente era só a ansiedade e o receio das perguntas que ele e todos os outros me fariam. Quando eu saí com as roupas novas, Jake sorriu para mim.

 

- Você está... ficaram bem em você - ele me cumprimentou.

 

Eu resisti a vontade de bater nele.

 

- Ahnn... Errr... são as roupas! Serviram direitinho.

 

- Ah! São de Angie... foi ela que te mandou... ela usava quando estava grav... – Jake lançou um rápido olhar para minha barriga que se projetava imensa sob a camiseta - então, onde você gostaria de ir? Que tal irmos ver Sue e Seth? Eles estão ansiosos para te ver!

 

- Estão? – eu perguntei hesitante.

 

- Claro! Você é idiota ou que, Leah? – Jake voltava ao seu tom normal, ao Jake que eu conhecia - Eles são sua família! Você bateu com a cabeça, foi?

 

Fiquei em silêncio por todo o caminho até a casa de Sue. Eu olhava para o oceano me perguntando se eles haviam me perdoado.  Será que eles realmente me amavam, mesmo depois de tudo que eu fiz, depois de tudo que eu permiti que acontecesse; e o mais terrível de tudo: será que eles seriam capazes de me perdoar depois de eu ter, covardemente, fugido e me apaixonado por um vampiro?

 

 Não demorou tanto tempo para chegar ao jardim, que ainda tinha um pouco de neve não derretida pelo sol triunfante no céu. Senti meu estômago se contorcendo. Este lugar ainda não tinha perdido a sua magia para mim.

 

- Você está muito quieto hoje - eu ponderei.

 

- Eu estava pensando sobre algumas coisas.

 

- Ah! Tipo?

 

- Esse nome que você chamou por toda a noite. “Johan”. Você quer me contar sobre ele? - seus olhos se estreitaram e ele reagiu como eu pensava que ele reagiria.

 

- Isso é difícil para mim... falar sobre isso.

 

- Por que não tenta? – Jake me pressionou.

 

- Bem, ele é alguém por quem eu me apaixonei. Mas não deu certo...

 

- O que aconteceu entre vocês dois?

 

- Por favor, eu não consigo mais falar sobre isso.

 

- Por quê? Se a mentira está se tornando tão pesada para você! Eu sei Leah! Eu posso ver!

 

- O que você está falando? - olhei para ele e seu rosto endureceu em resposta à expressão no meu rosto. Eu me calei.

 

- O gato comeu sua língua? - ele ridicularizou.

 

- Não, eu só não sei por que você está tão irritado de repente.

 

Ele grunhiu de frustração.

 

- Leah! Pula a baboseira e seja honesta comigo – ele cuspiu.

 

Senti raiva assassina queimar através de mim para o menino que eu pensava ser meu amigo. Eu andei na direção dele e agarrei seus ombros. Visões do que eu queria fazer com ele agora, passaram pela minha mente. Ele se moveu para fora do meu alcance. Eu estava no ponto de ruptura.

 

- O que foi? Me conta Leah! Por que você fez isso com a gente? - ele engasgou.

 

- O que você quer Jake? – eu gritei em reposta.

 

- Eu quero saber por que você fugiu! É o que todo mundo quer saber! – Jake começava a tremer de raiva e percebi que ele também se controlava para não perder as estribeiras – você só estava esperando que “ele” partisse, não é? Ele era a única coisa que te prendia aqui, não era? E depois que Sam partiu, não havia mais nada para você aqui. Nem Sue, nem Seth, nem eu e ninguém importava para você, Leah? Nem mesmo sua família?

 

- Oh! Jake! Eu... – ele tinha entendido tudo errado! Todo mundo tinha entendido tudo errado! - Você não vai gostar muito de mim depois que eu disser o que você quer saber.

 

- Eu já não gosto muito de você depois do que você tem feito para mim e minha família. Talvez você possa se redimir com um pouco de honestidade - ele respirou fundo e esperou com as sobrancelhas levantadas.

 

- Eu não sei por onde começar... - minha voz era pouco mais do que um murmúrio.

 

- Tenta desde o início!

 

- Bem... eu fui embora por que... – era mais difícil assumir minha culpa do que eu havia imaginado – naquele dia... naquele dia amaldiçoado...

 

- Estou ficando velho aqui Leah...

 

- Eu vi que eles se dispersaram e um grupo deles rumou para a casa de Emily! – Jake continuava atônito – eu sabia que eles estavam indo atrás de Emily, Jake! E eu sabia que Sam iria atrás deles... eu podia ter ajudado... eu podia ter evitado... mas... mas eu não fiz nada! – minha visão ficou turva pelas lagrimas de culpa que agora inundavam meus olhos – foi por isso que eu fugi! Por vergonha! Esta feliz agora, Jacob?

 

 - Oh, Leah! Eu não acredito que foi por isso... – Jake me surpreendeu ao me abraçar – Oh, Lily!! – seus olhos brilharam com as lagrimas que ameaçavam surgir e eu pude sentir o carinho que Jake ainda sentia por mim - você realmente é mais burra do que eu imaginava!