Sentimentos Ocultos escrita por Coffee


Capítulo 3
III. Quando minha alma cruzou com a sua


Notas iniciais do capítulo

Sim, demorou mas finalmente estou trazendo o último capítulo para vocês. Quero agradecer pelos comentários maravilhosos! Sei que demorei, mas eu não queria escrever qualquer coisa nesse último capítulo, e finalmente consegui fazer algo como queria. Espero que gostem, boa leitura!



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SENTIMENTOS OCULTOS

Escrita por Coffee

III. Quando minha alma cruzou com a sua

Fugaku não se lembra ao certo quando começou a observá-la. Não pense nele como um maníaco, ele apenas a assiste com a pureza típica das crianças que eram. Admira sua calma, sua beleza e a felicidade que ela espalha por aí.

Quando cresce o suficiente toda aquela admiração e reverência se transforma em algo a mais, embora ele não saiba definir o quê. É um homem duro, sério e imponente, ou ao menos é isso que ele precisa ser.

Será o próximo líder do clã, e isso o assusta (embora nunca admita).

Às vezes ele acha que preferia ter nascido um camponês, tê-la conhecido na mudança de estação, casado e tido uma vida plena, longe de complicações e longe do peso de pertencer e administrar aquele clã.

Eles são, de certo modo, sombrios. Isso o faz pensar se ela é realmente uma Uchiha, porque ela é leve, descontraída e amorosa. E o principal: ela demonstra esse amor, para os seus sérios pais, para seus colegas de academia, para suas amigas mais íntimas.

Mikoto tem um brilho próprio. Uma luz que o deixa encantado.

Quando se encontram na comemoração de troca de cargo ninja dele, não sabe o que fazer. Ela está sozinha, encostada em um muro, tão bonita que o deixa sem fôlego. Ela tem uma força, uma beleza tão natural que milhares de mulheres, se esforçando, não chegariam nem aos pés dela.

Ela sorri para ele e seu coração rebate no peito. Tem uma quentura que ele sentiu poucas vezes na vida ou talvez nunca tenha sentido.

O sorriso dela o aquece.

Ele a chama para beber qualquer coisa como uma desculpa de passar mais tempo ao lado dela. Não quer que aquele momento acabe, tem tantas coisas que gostaria de falar para ela, demonstrar sua admiração, mas as palavras ficam todas entaladas na sua garganta.

Quando ela vai embora, uma parte dele parece quebrar ao vê-la se distanciar. Ele continua na pose indiferente, ri de uma coisa qualquer que um companheiro diz, mas tudo que se passa na sua cabeça é ela. Só ela.

Naquele momento toma uma decisão.

Iria pedi-la em casamento para seus pais. Tem quase certeza que eles não vão recusar, ele é um homem de porte, será o próximo líder do clã, mas ainda sim se sente inseguro como um adolescente (ainda o era, um pouco).

Não quer que ela seja obrigada a se casar com ele. Apesar dos costumes do clã em que os pais escolhem o marido para a filha, ele só quer usar isso como desculpa de passar mais tempo com ela, talvez fazê-la sentir algo a mais por ele, como ele sentia por ela.

Queria conhecê-la melhor, mas sabia que sem um compromisso firmado, nunca conseguiria.

Depois, se ela não quisesse casar com ele, apesar de já sentir dor só de pensar nisso, ele a livraria do compromisso, deixando-a seguir com sua vida.

Mas ele tinha que tentar.

Como imaginava, o pedido foi aceito. Ela não estava em casa, mas seus pais haviam marcado um jantar com ele em nome dela para se conhecerem melhor. A ansiedade o consumiu imediatamente.

O jantar correu com uma dúzia de olhares furtivos e meio sorrisos embaraçados. No final da noite ela o acompanha até a porta, em impulso ele aproxima seu corpo do dela e cola seus lábios, não mais que um leve roçar, mas que o deixa com as pernas bambas e os pensamentos caóticos.

Depois ele se vira, sem nem ao menos de despedir e sai de perto dela antes que perca o controle.

Alguns encontros se seguem, embaraçados, tímidos, conhecedores.

Ele descobre seus gostos, seus interesses, descobre o que a faz sorrir, o que a faz ficar com as bochechas coradas. Algum tempo depois, então, vem o casamento.

Ela está linda. As bochechas coradas, as vestes matrimoniais. Mesmo com a campina lotada parece haver apenas os dois.

Ele, ela, os lírios e o amor deles.

O dia a dia segue bem, eles se amam quase todos os dias, são companheiros não só de carne quanto de alma. Compartilham tudo que podem, e ainda sim, respeitam os momentos necessários de silêncios um do outro.

E então vem Itachi.

Um embrulho pequeno, depositado em seus braços. Ele chora, mas se acalma após um balance.

Tão lindo.

Tão parecido comigo...

Fugaku fica encantado. Ali, em seus braços ele segura uma parte de si e de Mikoto. Um pedaço deles.

A chegada de Itachi apenas melhora tudo. Ele passa o dia trabalhando correndo, louco para chegar a casa e ter um tempo com seu filho. Ver seus primeiros passos, suas primeiras palavras, seus primeiros amores.

É uma criança tão inteligente... Tão destemida.

Mas então vêm os problemas no clã. Uma conversa com o conselho, algumas palavras furtivas, a constatação do golpe.

Aquilo o atinge como um soco no estômago.

É o líder do clã e aquilo precisa ser feito. É o voto da maioria. Não tem escolha.

E, junto com aquelas notícias, vem outra: ele terá outro filho.

Outro bebê no meio daquele caos que virou seu clã, que virou sua vida.

A felicidade o consome ainda assim. Sabe que dará o seu melhor para criar aquela criança, para protegê-la de todo o mal, de toda a escuridão que recai sobre aquele clã.

Sasuke é um bebê diferente de Itachi. É ainda menor, frágil e dependente. Ele o segura nos braços com medo, medo de macular toda aquela ingenuidade. Medo de consumi-lo com as trevas que a cada dia infestam mais e mais o clã e consequentemente, ele.

Todo esse medo faz com que ele seja mais duro com o filho mais novo.

Desculpe Sasuke...

Ele é mais rígido porque Sasuke é doce, frágil, e ele precisa que ele seja forte para suportar esse mundo cheio de maldades e ódios.

Não é por mal, é apenas uma tentativa de protegê-lo, mas que acaba o afastando ainda mais de seu filho e de sua esposa.

Em certo momento ele descobre que é um homem cheio de erros. Cheio de escolhas erradas, mal feitas, que em um momento ou outro acabarão levando todos para um buraco.

Não... Tinha que ter um jeito de salvar pelo menos seus filhos.

Se pudesse, salvaria Mikoto também, mas ele sabe que eles são um só. Duas partes de uma mesma alma, e, viver sem o outro seria um sacrilégio.

Quando descobre o plano dos conselheiros da Vila, com Itachi envolvido, ele não faz nada para parar o mais velho. Apenas conta para Mikoto em uma noite chuvosa depois de terem feito amor.

Naquela noite ela chora nos seus braços. Não por medo do que aconteceria com ela, mas sim com medo de como suas crianças viveriam nesse mundo terrível.

Chega o dia, ele sabe.

Trabalha a manhã toda, concentrado, tentando pensar o mínimo possível no que acontecerá mais tarde. E então vai para casa. Sasuke está na escola e Itachi não aparece para o almoço.

Mikoto faz uma travessa de sua comida favorita. Carne de porco assada e arroz temperado.

Eles comem conversando calmamente como se nada estivesse acontecendo. Depois eles vão para o quarto e fazem amor como se fosse à última vez (e eles sabiam que realmente era). Sua esposa chora em seus braços, abrindo sua fragilidade somente para ele, e ele a acolhe, acalenta suas dúvidas e seus medos.

Vai ficar tudo bem. Eles são fortes.

É o que diz para ela e para si mesmo.

Ela argumenta, concorda que Itachi é forte, mas teme por Sasuke, tão pequeno, tão inocente...

Ele é na verdade o mais forte de todos nós.

Não diz isso, fica entalado na sua garganta após perceber que nunca disse algo assim para o próprio filho. Ele não dúvida do potencial da criança mais nova, mas nunca externou esse sentimento, nunca deixou que ele soubesse.

E isso foi apenas mais um de seus erros.

Talvez deixar uma carta?...

Sabe que é uma ideia ridícula. Isso só daria mais trabalho para as investigações policiais mais tarde e mais dor para seus filhos.

É com esse pensamento que eles se levantam, tomam banho juntos, trocam de roupa e observam o tique taque do relógio.

Quando batem dezoito horas da tarde, eles sabem que é hora.

O crepúsculo ilumina a casa, tingindo o chão e os moveis em tons alaranjados. É um fim de dia bonito, afinal.

Beijam-se uma última vez e se encaminham até a sala de estar. O barulho lá fora é de guerra.

Há gritos, choros, barulhos de armas.

— Fugaku.

Mikoto o chama.

— Eu o amo. Eu o amo. Obrigada...

Eles se ajoelham para esperar sua vez. Estão separados por uma distância pequena, mas que ainda sim parece grande demais para os dois. Mas se contentam com isso. Sabia que se estivesse perto demais acabaria tentando salvá-la de algum modo.

E então sentiram o chakra de Itachi por perto.

— Por aqui. Não há armadilhas. Entre.

Ele houve o filho mais velho suspirar assustado.

— Pai. — É a primeira coisa que Itachi diz ao entrar na sala.

— Eu não quero participar de um duelo até a morte com meu filho.

Externa tudo que sente. Realmente não quer. Sua família é importante demais para ele. As três pessoas que ele mais amou em toda a sua vida, e ele se recusa a lutar com qualquer um deles.

— Entendo.

A voz de seu primogênito é dura e fria, ainda sim parece uma criança frágil e dividida.

— Você foi para o outro lado.

— Pai, mãe, eu...

— Nós já sabemos, Itachi.

Mikoto fala pela primeira vez, sua voz sai entrecortada e isso faz com que seu coração acelere. De algum modo ele quer tirá-la de tudo aquilo, protegê-la, mas sabe que a escolha deles já foi feita.

É um sacrifício que precisa ser levado até o fim.

— Itachi, me faça uma última promessa.

A espada se mexe. O filho a segura firme nas mãos.

— Cuide do Sasuke.

Por favor. Cuide do nosso Sasuke.

Minha criança...

Tão doce... Será um grande ninja um dia, mas...

Agora...

Precisa ser cuidado.

O momento de silêncio se perpetua por alguns segundos. E então três passos aproximam o filho dos pais.

— Entendido.

Ele ouve lágrimas pingando no chão de madeira e percebe que a lamina de aço fria treme nas mãos do Uchiha.

— Não tenha medo. Esse é o caminho que você escolheu. Comparado com a sua, nossa dor acabara em instantes.

É o que eu espero...

Minha Mikoto não merece sofrer...

— Nossas filosofias podem ser diferentes, mas estou orgulhoso de você.

Mais pingos de lágrimas são ouvidos e Mikoto consente ao seu lado. Ele sabe o quanto ela está se segurando para ficar silenciosa e não se levantar para abraçar o querido filho.

— Você é mesmo um garoto gentil.

É a última coisa que diz antes de procurar as mãos da esposa. As mãos dela estão frias, mas ela se mantém firme, não chora. Ela não quer demonstrar fraqueza para o filho e fazer com que a missão dele se torne ainda mais difícil.

Eu a amo.

Ele quer dizer, enquanto a espada voa em direção a eles. Será apenas um golpe. Itachi sabe que nenhum deles aguentaria a dor de ver o outro morrer primeiro.

Devem partir juntos. Como viveram a vida toda.

Obrigada por essa vida maravilhosa. Por esses filhos maravilhosos.

Novamente, ele quer dizer. Mas não diz. De algum modo eles sabem. Sabem o amor que sentem e a gratidão que tem um pelo outro mesmo sem externar esse sentimento.

Itachi... Sasuke... Fiquem bem, cresçam e tornem-se os grandes homens que nasceram para ser.

Ele esperava que os filhos fizessem menos escolhas erradas que ele.

A mão da esposa apertou a sua.

O último aperto. Que dizia tantas coisas em um único gesto.

E então a lâmina finalmente chegou. Foi rápido, quase não sentiu a dor.

Os corpos caíram um sobre o outro. Os sangues se misturando.

Juntos. Exatamente como queriam.

E suas almas também.

Entrelaçadas.

Por toda a eternidade.


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Notas finais do capítulo

As últimas falas são do próprio mangá. Quis fazer algo bem fiel e espero ter conseguido.
Obrigada por ler!



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