Pelo corredor escuro da mansão de Spencer, eu caminhava, não tinha iluminação alguma, todo o ambiente estava dominado pelo breu. Só o que iluminava o caminho era a luz do luar, que entrava pelas frestas das janelas enormes de vidro.

O cheiro de podridão reinava por toda a mansão, ainda não se sabia exatamente como humanos se tornaram aquelas coisas, mas sabíamos que era contagioso.

...Se ao menos os Alphas tivessem algum meio de comunicação...

Pensei. Com minha bareta em punhos, abri uma porta arqueada feita de vidro.

Ao entrar na pequena sala, caminhei até uma escrivaninha, lá encontrei diversos papéis que julguei serem muito importantes, talvez eles pudessem nos informar sobre o que realmente aconteceu aqui.

Guardei a papelada junto com o minicomputador que Trent me entregou e vasculhei o resto da pequena sala.

A sala não era muito grande, mas também não era muito pequena. Ela tinha o tamanho ideal para um escritório residencial. Mas seu tamanho não subjugava o luxo contido nos móveis de madeira maciça, poltronas de couro puro e paredes de um tom azulado que contrastavam com as prateleiras de livros espalhadas pelo ambiente.

Tudo estava tão calado, me pergunto se os bravos e os alphas estão bem e se eles se encontraram. Prestes a deixar o local, ouço um barulho. Paços. Alguém estava se aproximando, talvez fossem os zumbis em busca de carne fresca.

Sem medo algum eu giro a maçaneta lentamente, com a bareta apontada para fora, passei meus olhos pelo lado de fora, mas não podia se ver nada, a não ser a escuridão.

Abri mais um pouco a porta, novamente percorrendo meus olhos pelo corredor escuro e estreito. Ao avistar uma sombra, coloquei meu indicador no gatilho prestes a atirar, mas algo me parou, na verdade foi um cheiro amadeirado misturado com cidra e bamboo.

– Chris? – Questionei receosa, ainda com a arma apontada para a sombra.

– Jill? – A voz rouca e suave ecoou pelo lugar, trazendo paz em meu coração.

Abri a porta completamente e corri até Chris, abraçando-o com força. – Eu estava tão preocupada com você, Wesker pediu para que nos separarmos e procurá-lo. – Expliquei a atual situação dos Alphas para Chris, o mesmo mantinha um semblante aflito e preocupado.

– Que bom que nada aconteceu com você. – Sua voz se pronunciou tão serena e aliviada. – Você não faz ideia do que seria de mim, caso alguma coisa acontecesse com você. – Chris deu aquele sorriso meigo de canto como sempre fazia.

Meu coração se aqueceu com tal preocupação e zelo por minha segurança. Chris era um homem perfeito, mas preguiçoso, no entanto esse era seu único defeito. Conforme os dias se passavam, meu coração antes triste se enchia de vida com a presença do Chris. Para mim, ver o sorriso perfeito e sincero dele pelo menos uma vez ao dia era necessário. Pois assim, meu coração se sentia mais feliz.

– Você chegou a enfrentar uma daquelas coisas? - Questionou Chris. Cortando minha linha de raciocínio.

– Sim, matei uns três ou quatro, mas ainda assim, ainda tem milhares deles vagando por ai. – Respondi serenamente. Eu não sentia mais temores ali, afinal ele estava comigo e isso era o que bastava.

– Eu sei, além daqueles corpos vagando por ai, ainda tem os cachorros e provavelmente mais criaturas perigosas nos observando por ai. – Falou ele, seu tom era preocupado.

– Quero sair logo daqui. Não vejo a hora de ir para casa simplesmente esquecer tudo. - Comentei cansada.

– Até de mim? – Questionou Chris. Seus lábios estavam tão próximos do meu ouvido.

Meu corpo estremeceu com o contato tão próximo. Nunca havíamos nos dado liberdade para tal contato, mas devo admitir, Chris mexia comigo, na verdade ele rondava meus pensamentos, dos mais puros até os mais pervertidos.

– Como assim? – Perguntei inocentemente.

– Eu não sou mais criança, não sou mais um garoto do colegial, então serei direto. Jill, eu desde o primeiro dia em que te vi, meu coração se aqueceu; os dias com você, além de agradáveis e divertidos, me fazem ver um futuro que há muito tempo queria torná-lo realidade. – Chris, desajeitado como sempre, colocou sua mão livre dentro de seu colete e começou a revirá-lo, então após longos minutos de procura, o meu companheiro de time retira de dentro de seu bolso uma caixinha preta de veludo. – Sei que convivemos pouco um ao lado do outro, mas com o pouco de convivência que tivemos, eu finalmente aceitei que você é a mulher ideal para ser minha esposa. – Chris abriu a caixinha, relevando um anel de prata com pedras de diamantes, não era algo muito luxuoso, mas isso não importava.

Ainda sem jeito com o pedido inusitado de Chris, fitei a caixinha com o anel, seu pedido não foi de modo tradicional, mas fora feito com muito carinho e amor. – Eu aceito. – Respondi por fim, selando nossos lábios em um beijo que selaria nossas vidas por toda a eternidade.

– Isso é um sonho em pleno pesadelo. – Comentei entre os selinhos.

– Você me encontrou em um pesadelo, e foi assim que acordei. – Disse Chris ofegante. – Você é a luz que iluminou meu mundo obscuro, você é um lindo e doce sonho que chegou de repente e eliminou meus pesadelos, você é minha preciosa e querida amiga, confidente, e futura esposa, Jill Valentine. – Após dizer isso, Chris desfez o abraço e pegou sua arma que tinha caído. – Agora vamos, pois depois que acabarmos aqui, temos a vida toda pela frente para aproveitarmos nosso momento.

Dei um sorriso malicioso e logo me pronunciei. – Eu vou cobrar.

– Pode me cobrar, estarei esperando. – Após nos recompormos, Chris e eu voltamos nosso trajeto pela mansão à procura de nossos amigos.

E nesse lugar, em meio a todo o caos, zumbis e amigos desaparecidos, Chris me encontrou e me tornou a mulher mais feliz desse mundo.