Colorful escrita por Isabelle


Capítulo 5
Capítulo 4 - Noah


Notas iniciais do capítulo

Agora, segure-se firme
Para este passeio de montanha russa
E se você está me amando
Só me dê mais um beijo
Porque você não viu nada ainda
— Avril Lavigne



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Os tiros estralavam contra os alvos, e meu corpo era impulsionado para trás. Conseguia lembrar claramente da primeira vez que tinha feito aquilo, fora numa época de termino de namoro, no ensino médio. Meu amigo me levara para extravasar a raiva e me senti tão melhor, como se a raiva tivesse sumido. Isso foi a primeira coisa que me fez tornar policial.

Agora havia virado um habito de nervosisFmo. Toda vez em que me preocupava com algo ou ficava com raiva, minha primeira coisa a se fazer era ir a sala de tiros, e ficar atirando. Aquilo tirava um peso da alma. Fazia você se sentir menos estressado e mais de bem com tudo, mesmo sendo uma atividade bem forte.

Elliot chegou usando uma blusa amarela com uma bermuda branca com florzinhas vermelhas. Seus cabelos eram loiros com várias sardas pelo corpo, e usando aquela roupa era impossível ter uma imagem séria de policial. Meu riso foi abafado pelo som de tiro que estourara contra o centro do alvo, e eu coloquei a arma no suporte para encará-lo profundamente.

Eu e ele havíamos entrado na academia ao mesmo tempo, viramos grandes amigos em cerca de dois dias por ele ter um senso de humor que mais ninguém conseguia ter ali dentro. Elliot era do tipo desengonçado, que mal sai com garotas, mas bem la no fundo tinha seu estilo, um estilo engraçado, e carismático.

― Elliot, o Havaí ligou e quer suas roupas de volta. ― Tirei os óculos de proteção e sorri.

― Pare de invejar o meu estilo. ― Ela fez um pose que me fez reparar que seus chinelos eram amarelos florescentes.

― Você é uma desonra, no mundo dos policiais, e da moda.

― Você inveja meu estilo livre e sensual. ― Ele disse e sorriu de lado encostando na cabine. ― Mas enfim, Ellie disse que te viu com uma garota num restaurante um dia desses.

― Ah, deve ter sido com a Sally. ― Eu revirei os olhos e coloquei os óculos de novo. Fazia cerca de três dias que eu ligava para ela, e o telefone só caia na caixa de mensagem. Tentei manter contato de alguma maneira, mas ninguém aparecia quando chamava em sua casa, então ela realmente havia se fechado para mim.

― E qual é a sua e a dessa Sally? ― Ele perguntou focado. ― Você gosta dela?

― Não. ― Dei um tiro que acertou bem ao meio da face do alvo.

― Você quer lamber ela? ― Ele perguntou e eu sorri.

― Ela é minha amiga, e faz dias que não conversa comigo, e isso é diferente, porque eu nunca tive uma amiga mulher. ― Eu coloquei a arma novamente no suporte.

― Então você não quer possuir o corpo dela?

― Claro que eu quero, você já viu aquela garota? ― Eu delineei seu corpo em um desenho invisível e assoviei.

Ele deu uma risada e passou a mão no cabelo.

― E ela está te ignorando então?

― Não sei o que está acontecendo. ― Eu tirei os óculos e fui me retirando da sala. ― Ela é confusa, estranha e misteriosa. É como se tivesse um pedaço da vida dela que ela escondesse de todos. É estressante.

― Faz quanto tempo que se conhecem? ― Ele perguntou quando comecei a pegar a arma e outros acessórios que ia precisar para o turno daquela noite.

― Quase dois meses, não é muita coisa. ― Eu dei de ombros pegando a chave do carro, pois aquela noite seria meu turno. ― Sabe, é só frustrante não ter nenhuma notícia dela. ― Disse e sai andando com ele me seguindo.

Lembrei daquele dia na cafeteria o quanto ela parecia assustada, mas ela não me deixava saber o motivo, não me deixava entendê-la.

― Então ela deve ter os motivos dela cara, ou só esta fazendo uma de difícil para você conseguir abrir as portas desse coraçãozinho.

― Ela sabe que não vai conseguir isso. ― Olhei para a rua vazia de carros. As vezes me surpreendia com o tráfico de carros em Uberlândia. ― Ela é minha amiga, e quero que as coisas continuem nessa.

― Talvez ela só precise de um tempo, mas o que fez ela se afastar? Você fez algo? ― Ele perguntou encostando no poste de luz que já tinha uma faísca breve iluminando a rua.

― Não sei, acho que não teve nada a ver comigo, é só que… ― Meu celular começou a tocar uma música muito alta e eu o peguei.

O número era de minha mãe e eu não queria atender, eu sabia sobre o que ela queria falar. Estava cansada de ouvi-la falar sobre Carla e como nós dois deveríamos estar juntos, e que na minha festa de aniversário, quando eu voltasse para casa nós dois podíamos nos reencontrar.

Apertei o botão de atender mesmo assim e escutei sua voz estridente.

― Adivinha quem vem para o seu aniversário? ― Ela disse toda empolgada, como se eu realmente não soubesse.

― Olá mãe, tudo ótimo comigo, obrigada por perguntar, e com a senhora? ― Eu disse no tom mais cínico possível. ― Aqui em Uberlandiense? Vai tudo ótimo, a faculdade está linda e acho que posso ser promovido.

Elliot sufocou uma risada e depois se despediu levemente, entrando novamente. Era a vez dele essa semana de ficar na delegacia.

― Oh, meu bem, eu já sei que você está solteiro, e disponível. ― Ela disse como se eu fosse um forever alone. ― E a Carla voltou esse mês dos Estados Unidos, e ela está deslumbrante.

Um dos principais motivos para minha mãe querer que eu ficasse com Carla, é que ela sabia que isso acabaria me fazendo voltar para casa, e essa é a última coisa que eu precisava naquele momento. Desde a adolescência meu sonho era sair de casa, e ultrapassar os limites da minha mãe, e agora tinha conseguido isso, não ia deixar que ela controlasse minha vida.

― Você pode desistir? ― Eu entrei na camionete. ― Desista, porque eu não vou ficar com a Carla.

― Vocês já ficaram quando você morava aqui, e ela sempre foi uma boa menina, vocês só tiveram aquele desentendimento no colegial. ― Quando ela se tornou possessiva e sufocante. Mas mesmo sempre formaram um lindo casal.

― Mãe, estou em turno da noite, tenho pouco tempo para ir para casa jantar e voltar para o trabalho.

― Viu? ― Ela disse cínica. ― Com Carla não teria essas preocupações, estaria perto de nós...

― Também te amo, tchau. ― Apertei o botão de desligar.

Encostei a cabeça no banco do carro e coloquei a chave dando ignição no carro, precisei respirar profundamente para manter minha cabeça no lugar e não sentir como se fosse explodir a qualquer momento.

Tentei ir pelo caminho mais longo para casa, para tentar respirar um pouco, mas estava sentindo minha mãe controlar minha vida novamente. Devagar eu sabia que se não tomasse cuidado, ia acabar como meu irmão, tendo uma vida medíocre na empresa de meu pai, casado com uma pessoa que ele nem suportava.

O nome dela era Alice, ela era ruiva dos olhos verdes, tinha sido seu amor de colegial, seu amor para sempre. Ambos tinham combinado tudo. O futuro dos dois, onde morariam ou fazer faculdade, mas Augusto, deixou nossos pais controlar a sua vida. Ele deixou a menina. A única menina que eu realmente já havia visto ele se prender, e deixou ela sair de sua vida. Na minha família a palavra amor não tinha significado.

O prédio gigante estava escondido por trás de algumas árvores recém-plantadas, e ao entrar eu mal encarei a moça nova que trabalhava na recepção, me jogando no elevador. O espelho estava refletindo a figura que deveria me representar, e eu forcei um sorriso para não parecer tão cansado. A porta se abriu na cobertura e eu me joguei para fora encarando uma figura parada na minha porta.

Os olhos meio castanhos e esverdeados focavam nele com um pouco de desconfiança, e ela usava um vestido meio largo mostrando que ela estava arrumada para alguma coisa. Seu cabelo estava preso em um coque e ela estava tentando ficar séria. Suas bochechas eram tão redondinhas que me faziam querer apertar, e não levá-la a sério.

― Está me esperando há quanto tempo? ― Eu coloquei a chave na porta, mas ela pois um braço me impedindo de entrar. ― Qual é a dessa vez?

― Eu contratei uma nova babá, e ela é uma ótima babá, Noah, e se você respirar o mesmo ar que ela, eu corto isso que você tem entre as coxas e dou para um cachorro comer. ― Os olhos dela pareciam querer saltar do rosto.

― Seria estranho um cachorro comendo minhas partes intimas. ― Eu fiz cara de nojo.

― Você entendeu? ― Ela puxou meu uniforme para mais perto.

― Sim, comandante Celeste, eu entendi. ― Eu disse tentando não rir e a porta do apartamento da frente, o dela se abriu.

― Deu o recado, Cely? ― Will, o esposo de Cely, perguntou.

Os dois moravam ali a mais tempo que eu, e pareciam ter uma longa historia juntas. Celeste e o Will tinham se conhecido no conservatório que Will costumava trabalhar, isso antes dele e Celeste terem uma filha, e ele começar a se apresentar em alguns lugares para ganhar dinheiro, ele era bem reconhecido por essa nossa região. Ela e o Will bancavam todo os misteriosos, e eu sabia do fundo do meu coração que o relacionamento deles tinha sido difícil. Will realmente não parecia muito daquelas pessoas que levavam a vida a sério.

― Sua esposa devia fazer o cara dos jogos mortais, ela faz bem o estilo sabe? ― Eu disse tentando passar para entrar no meu apartamento.

― Nona. ― Uma pequena criança saiu do apartamento. Os olhos azuis brilhantes como o do pai, e os cabelos escuros como os da mãe, ela usava um vestidinho rosado. ― Nona.

― Fala, minha pequena. ― Eu a peguei no colo e ela apertou o meu nariz. ― Tio Nona, adoraria brincar, mas ele está no turno da noite hoje, então se me dão licença.

― Sem babá? ― Cely exclamou feliz, como se tivesse tirando um peso do peito.

― Não se engane, uma hora ou outra ela vai me conhecer, e você sabe que ela vai acabar do lado de cá, no meu sofá. ― Eu sorri de lado. ― Ainda não entendi porque não chamou a Charlie, não vou dar em cima dela mais.

― Charlie está enrolada em um drama pessoal, além de que eu poderia muito bem chamar outra pessoa.

― Mas você confia na Charlie. 

― O importante é que hoje você tem seu turno. 

― Muito comovido. ― Fechei a porta do meu apartamento, deixando-a reclamando como eu era imprudente com Will. 

Olhei para o apartamento simples. A cozinha era do lado esquerdo, com uma parede separando-a da sala. Havia uma escada que levava aos dois quartos mais a sala na parte de cima. E embaixo ainda havia um banheiro. O apartamento estava todo bagunçado pela falta de tempo que eu estava tendo para arrumar, além do excesso de preguiça que me consumia.

Tirei a minha roupa, sem me importar em ficar pelado no meu próprio apartamento, e me locomovi para o banheiro. Deixei a água me consumir por alguns instantes, antes que meu celular começasse a tocar revelando que faltavam vinte minutos para eu chegar a minha rua monótona.

Fechei os olhos e me lembrei da noite em que havia conhecido Sally. Por que diabos aquela menina ainda ficava voltando aos meus pensamentos? Eu realmente precisava de alguém para me ajudar a superar aquela amizade sem sucesso.

Sai do banheiro, e peguei meu telefone, minha lista de contatos possuía o número de algumas garotas, algumas com quem eu já tinha saio, outras que não, era difícil me lembrar, mas arriscar nunca era demais.

Liguei para uma tal de Carolaine e ela topou sair comigo aquela noite, após o turno, no caso a meia noite. Eu já sabia que seria muito mais que somente um encontro casual, então levei outra roupa para me encontrar com ela logo em seguida.

Coloquei meu uniforme, e o chapéu que eu achava ridículo usar principalmente por estar a noite, e sai do apartamento. Escutei a voz doce de uma menina do outro lado da porta, mas resolvi não implicar com Cely aquela noite. Ela merecia um encontro em paz com Will.

Entrei na camionete, e me dirigi para a mesma rua de sempre. Ela estava sem um pingo de movimento como sempre, o que me fez quase cochilar ali, mas me ocupei trocando mensagens com a garota daquela noite. A rua continuava impassiva, com alguns carros, os de sempre, passando pela rua e me cumprimentando, e eu fiz a mesma coisa que fiz na primeira noite.

Sai do carro e fui ao outro lado da rua, encarando o topo do hotel. A diferença era que essa noite ele estava tão tranquilo quanto aquelas ruas. Não havia nenhum sinal de Sally, e aquilo estava me angustiando. A falta da sua presença estava me afetando, pois ela havia se tornado uma figura tão presente, as agora ela apenas havia desaparecido, e não me dito nenhum motivo de seu paradeiro.

No fim do turno, me dirigi até o barzinho que havia combinado de me encontrar com a garota e a vi. Ela estava usando um top vermelho colado, com uma calça jeans preta com saltos agulhas. Seus cabelos eram bem curtos com mechas vermelhas, e tinha um sorriso contornado por um batom vermelho. Nós dois conversamos por apenas alguns minutos, e depois o cenário já mudou para meu carro.

Ela estava realmente apressada, então até chegar ao meu apartamento, ela já tinha me feito quase bater o carro (da polícia) duas vezes. Ao estacionar o carro, seu corpo se impulsionou sobre o meu, e começou a me beijar, de um jeito possessivo e carnal, o que me deixou pensando que aquela mulher deveria estar em falta a muito tempo. Seu sutiã fora a primeira coisa a ser tirada, e essa era outra coisa que eu não entendo que meninas conseguem fazer de um jeito tão simples e fácil. Continuamos nos beijando até que sugeri que levássemos aquilo para meu apartamento e ela assentisse.

O elevador pareceu um caminho torturante até o apartamento, e meu corpo já estava estremecendo de vontade daquela mulher, sua boca contra a minha, seu corpo tudo isso parecia ser a única coisa do universo, até eu a ver parada a minha porta nos observando. Ela pareceu de inicio constrangida, mas depois apenas movimentou o olhar para a porta do apartamento de Cely, e fingiu não nos ver.

Afastei Carol do meu corpo, mas a levei para meu apartamento da mesma forma.

— Oi. — Carol mostrou aquele sorriso acompanhado das maçãs do rosto super redondas. — Sou a Carol. — Ela apontou as mãos para Sally como se ela precisasse saber quem ela era.

― Ei, você pode entrar, só vou resolver algumas coisas e já vou. ― Disse e ela sorriu.

― Tudo bem, só não demore. ― Ela jogou um olhar para Sally.

— Então, você meio que sumiu… — Eu coloquei a mão nos meus bolsos.

— É, estava ocupada fazendo uns trabalhos, mas amanhã a gente se fala, você tem visita. — Ela sorriu levemente, senti que ela precisava conversar.

— Posso te levar para casa se quiser. — Sorri de lado.

— Obrigada, Noah, mas não. — Ela soltou eu sorriso franco. — Está tudo bem.

— Passo na sua casa amanhã. — Eu dei uma piscadinha para ela.

— Sua amiga está esperando você, te vejo depois, Noah. — Ela deu de ombros e saiu andando.

Quando fui abrir a porta para entrar, me virei lentamente e gritei.

— Alias, amei esses jeans novos. — Eu soltei uma risada, e ela revirou os olhos. — Eles ficam bem..

— Cala boca, Noah. — Ela riu e entrou no elevador, enquanto eu entrei no apartamento.

Mas o olhar dela não saia da minha cabeça, eu sabia que tinha alguma coisa que ela devia me falar, mas alguma coisa dentro dela estava muito bloqueada, e por enquanto eu não tinha a chave para desvendá-la e ajudá-la.








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Notas finais do capítulo

:3



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