Sob minha proteção escrita por Cary Monteiro


Capítulo 1
Zelo


Notas iniciais do capítulo

O Doutor visita Clara para levá-la para viajar e percebe que ela está doente.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/600404/chapter/1

Era quarta-feira de novo. O Doutor pulou de sua poltrona e desceu as escadas de dois em dois degraus, quase caindo no final por tamanha ansiedade que sentia. Era quarta, era dia de viajar no tempo e espaço com sua fiel companheira Clara Oswin Oswald. O Doutor começou a teclar e dançar os dedos sobre o console de controle da TARDIS, a nave respondeu alegremente ao receber as coordenadas que já sabia de cor: o quarto da garota impossível.

A TARDIS mal se materializava no quarto de Clara quando teve sua porta aberta pelo Doutor. Ele brotou a cabeça para fora, procurando pela humana, mas não havia sinal dela. Ele levantou o braço e observou seu relógio humano, (Clara tinha dado um a ele depois das dezenas de vezes que foi acordada no meio da madrugada) ela já devia ter chegado do Coal Hill a essa hora... O Doutor se jogou no sofá da sala, imaginando o que poderia ter atrasado Clara. Uma invasão alienígena iminente? Não, ela o ligaria de imediato, não o deixaria de fora de algo tão divertido quanto chutar bundas de aliens que não foram convidados a descer no planeta... Talvez os Judoons estejam procurando por bandidos interestelares na Terra? Nah, Clara já teria entregue o arruaceiro aos homens-rinocerontes mais rápido do que dizer “blo mo co jo”... O que então teria feito Clara se atrasar justo numa quarta-feira? O barulho da chave rodando na porta de entrada logo responderia ao Doutor.

– Está atrasada! – Ele manifestou, num misto de revolta e animação a Clara assim que ela adentrou no apartamento. Ela trancou a porta e respondeu com um grunido que nem a TARDIS seria capaz de traduzir. O Doutor finalmente encarou-a, ela levava no braço algumas sacolas, possivelmente de comida pré cozida, Clara era péssima cozinhando e com certeza comia melhor em suas viagens com o Doutor, ele pensou. Ela largou as sacolas na mesa e observou o Doutor sentado ali no sofá com um olhar irritado sem dizer uma única palavra. Ela andou até ele, tirou os sapatos e deitou no sofá ao seu lado, pondo os pés descalços no colo do Doutor. – Clara, hoje é quarta! – Ela respondeu afundando o rosto na almofada e grunindo um pouco mais.

– Eu não quero sair hoje, volta amanhã. – Ela finalmente falou de forma abafada por conta da cara enfiada na almofada. O Doutor tirou os pés dela de seu colo e levantou rapidamente.

– Nem pensar, quintas-feiras são exatamente iguais as terças-feiras. Só outro dia de semana para te encher de expectativas pelo dia que vem depois, e nada de interessante acaba acontecendo nesse meio tempo. Vamos viajar hoje!

– Vou viajar para o mundo dos sonhos, boa noite! – A voz abafada respondeu de novo com uma fungada de nariz no final. Aquilo deixou o Doutor um tanto preocupado. Ele levantou o dedo indicador lentamente até alcançar a testa de Clara e quando a tocou, ele retirou o dedo fora como se tivesse tocado em água fervente.

– Você está queimando em febre! - Ele puxou a chave de fenda sônica do bolso do paletó e começou a escanear sua amiga. – O que poderia estar havendo? Um vírus mortal do planeta Obleron? Um parasita da galáxia de Scouteran? Nós estivemos lá na semana passada! E... Não, é só um resfriado. – Ele terminou a frase com certa tristeza nas palavras. – Tem razão, Clara. Não iremos viajar hoje. Um espirro seu poderia exterminar uma espécie inteira. Resfriado é uma infecção letal para certas espécies. Não entendo como pode ser inofensivo para animais tão primitivos como humanos... – Ele guardou a chave sônica de volta no bolso, deu meia volta e correu para a TARDIS. Clara que estava meio acordada ainda, ouviu o ronco de saída da nave e não sabia se sentia felicidade ou angústia pelo Doutor tê-la deixado sozinha.

O que pareceu ser uma eternidade para Clara, na verdade foram apenas cinco minutos onde a TARDIS apareceu novamente toda barulhenta com o Doutor saindo dela as pressas. Ele sentou na ponta do sofá e cutucou a garota.

– Clara, eu lhe trouxe algo, vamos, coma isto e se sentirá melhor. – Clara mal virara o corpo para olhar o que o Doutor havia lhe trazido e levara uma colherada na boca, com o pior remédio que já havia tomado em toda a sua vida. Ela levantou abruptamente direto para o banheiro e vomitou todo o conteúdo na privada. O Doutor a seguiu, as sobrancelhas envergadas, a mão no queixo. – Interessante, achei que isto funcionaria em humanos.

– O que diabos foi que você me deu?! – Clara perguntou irritadiça, limpando o beiço no braço e respirando forte por conta da atividade forçada.

– Gosma das costas da grande besta de Troerus. Ouvi dizer que curava resfriado em segundos. – A resposta fez com que Clara se enojasse e vomitasse de novo, dessa vez o seu almoço. – Hey! Foi difícil de conseguir! Não faça isso!

Um pouco depois, Clara empurrou o Doutor para fora do banheiro, trancou a porta e tomou um banho gelado. Aquilo ao menos abaixou um pouco sua febre e tudo o que ela queria agora era a sua cama. Ela fungou o nariz enquanto vestia o pijama e ouvia uma voz escocêsa abafada dizer do outro lado da porta um “se tivesse engolido a gosma já estaria curada”.

Ela abriu a porta sem encara o Doutor, que estava encostado na parede do corredor e simplesmente andou até a sua cama.

– Eu precisei escovar os dentes sete vezes, espero que esteja feliz. – Ela comentou enquanto levantava a colcha para poder se deitar.

– Eu estaria se você tivesse engolido a gosma, pois estaria curada e já estaríamos de volta na TARDIS indo conhecer o Confúcio. – Clara não respondeu, estava se concentrando em dormir com ou sem senhores do tempo na porta do seu quarto. O Doutor soltou um muxoxo e sumiu no corredor. Clara não estava conseguindo dormir por conta do nariz entupido, mas estava feliz pela paz que havia se espalhado por sua casa. Até um barulhão acontecer vindo da cozinha. Clara respirou fundo e com certa dificuldade levantou da cama. O que o Doutor estava aprontando agora? Ela chegou na cozinha e encontrou um senhor do tempo caído ao chão, cheio de panelas em cima, uma enclusive em sua cabeça tampando-lhe a visão.

– O que diabos...

– Olhe a boca, garota! – Ele reclamou enquanto levantava lentamente, fazendo mais barulho ainda ao deixar as panelas cairem para os lados.

– O que pensa que está fazendo? Eu já disse que não vou viajar hoje, eu estou doente. Vai embora. Eu só quero descansar sem ter nenhum alienígena maluco bagunçando minha casa. Será que dá?

– Dormir não vai te fazer melhorar. É claro, vai lhe arranjar um pouco de energia para combater o vírus e tudo mais, mas não vai te curar! – o Doutor levantou e ficou olhando para as panelas, como se estivesse julgando-as. Clara deu alguns passos para mais perto dele e tirou a panela de sua cabeça, ele pegou-a de volta no mesmo instante. – Ah! Esta irá servir muito bem. – Ele levou a panela para a pia e a encheu de água pela metade.

– Doutor, o que está aprontando?

– O que acha que estou fazendo? Cozinhando, é lógico!

– Você? Cozinhando? Desde quando?

– Dois mil anos e você pensa que nesse meio tempo eu não aprendi a cozinhar?

– Não foi isso que eu perguntei, é só que...

– Vou precisar de igredientes frescos, Clara, mantenha o fogo baixo, eu já volto! – Ele saiu correndo de volta para a TARDIS. Já que estava na cozinha e não conseguia pegar no sono, Clara resolveu fazer um chá, talvez ajudasse. Ela sentia que a febre ainda estava lá lhe incomodando. Uma tonteira lhe alcançou fazendo seus joelhos fraquejarem e quando ela pensou que desmaiaria, o Doutor lhe abraçou por trás com uma das mãos, segurando-a pela cintura. – Hey, hey, senta ali e fique quieta enquanto eu preparo sua janta. E é uma ordem! – Ele a soltou encostada na mesinha da pequena cozinha. Clara percebeu que na outra mão o Doutor levava algumas sacolas cheias de produtos.

– Que água é essa aqui? – Ele perguntou ao ver uma leiteira esquentando ao lado de sua panela de água fervendo.

– Eu só queria um chá... – Clara choramingou, botando a mão na testa.

– Chá? Não, não... Você precisa de uma gemada. Se a galinha que eu trouxe ainda estivesse viva, ah... Agora entendo porque eu devo uma galinha ao Casanova...

– Você roubou uma galinha?

– Detalhes. E foi um empréstimo. Você está prestes a comer a melhor canja da sua vida! – O Doutor tirou o paletó, encostou-o numa cadeira e arregaçou as mangas da camisa. Clara não conseguia lembrar a última vez que havia visto o Doutor sem o paletó, talvez nunca tivesse visto, não esta regeneração. Observou os braços dele, não tão magrelos como imaginava, e depois o colete, preto na frente e escarlate atrás. Devia admitir que esse Doutor sabia se vestir e parecer elegante mesmo cozinhando, mas nunca diria isso a ele.

– Doutor, por que está fazendo isso tudo? – Clara quis saber.

– Porque eu, uh... Deixe-me medir sua temperatura! – Ele retirou a chave sônica do bolso do casaco e apontou para Clara, que não tirou os olhos do Doutor, esperando pela resposta que nunca veio. – Trinta e oito e meio? Clara, vá tomar outra ducha agora mesmo e acalmar esses seus anticorpos! Quando acabar a canja estará pronta.

– Mas eu acabei de tomar um banho! – Clara reclamou. O Doutor levantou-a à força da cadeira e a empurrou gentilmente para fora da cozinha.

– Pare de choramingar e vá logo. – Ele terminou e lhe deu as costas, voltando a cortar alguns legumes. Clara cedeu e foi na direção do banheiro, espirrando algumas vezes no caminho.

Ela sabia que não devia ter molhado a cabeça, mas estava tão absorta em pensamentos debaixo da ducha que nem havia percebido até que as mechas de seu cabelo descessem por seus ombros. Isso tudo não era nem um pouco do feitio do Doutor e Clara não conseguia entender porque ele não tinha simplesmente ido embora e a deixado em paz. Por quê ele estaria fazendo canja de galinha roubada para ela tão tarde da noite. Ela respirou fundo e fechou a torneira. A ducha havia baixado novamente sua febre, o que lhe deu um pouco de energia para secar o cabelo no secador antes de sair de novo. Ao abrir a porta ela pode sentir o aroma da sopa vindo da cozinha, o que lhe abriu o apetite. Ela sentiu-se hipnotizada pelo cheiro dos temperos e andou até lá, sendo barrada pelo Doutor logo na entrada.

– Vá se sentar à mesa, não tem nada para ver aqui.

– Mas o cheiro está tão bom!

– E o gosto está melhor ainda, agora vá se sentar. – Clara estava cheia das ordens do Doutor, mas estava cansada demais para discutir e cedeu aos pedidos dele mais uma vez. De forma obediente, sentou-se à mesa esperando pela comida. Ela estava quase pegando no sono quando ele se aproximou com o prato bem cheio de canja, vestido com seu paletó outra vez ele tirou de lá sua colher de prata e a entregou para Clara. Ela deu a primeira colherada para experimentar, com medo de que tivesse o mesmo gosto terrível da gosma das costas da besta de, ela nem quis saber de onde e se surpreendeu em perceber que estava deliciosa. Ela passou a comer sem cerimônias, por conta de uma fome que ela nem sabia que estava sentindo. O Doutor sentou-se a frente dela, bebericando a sopa numa velocidade normal, não se importando nem um pouco com a ausência da educação da garota. Quando ela estava perto do fim o Doutor lhe deu um guardanapo, preocupado que ela fosse limpar a boca no pijama caso não o fizesse.

– Estava deliciosa, Doutor, obrigada! – Clara comentou alegremente. Agora se sentia bem melhor, tudo graças ao seu amigo, o Doutor. Ela percebeu um pequeno rubor por parte dele e não pode deixar de sorrir. – Agora me responde, por que fez isso tudo? – O Doutor encarou-a muito sério e cruzou os braços.

– Achou mesmo que eu deixaria você sozinha e doente? – Era uma pergunta retórica, mas Clara achou que deveria responder mesmo assim.

– Não, eu só pensei que... Eu não queria ser um incômodo. – Ela fungou, observando o prato vazio, incapaz de encarar o Doutor novamente. Ela sentiu a mão dele lhe tocar o queixo e levantá-lo, fazendo com que ela encontrasse com os seus olhos, ora verdes, ora azuis.

– Clara... Você jamais será um incômodo para mim. – ela engoliu em seco. Sentiu seu coração disparar e seu corpo esquentar, não por conta da febre. Odiava quando ele fazia isso , deixando-a confusa. Ela desviou o olhar e ele retornou a mão, sem entender o que se passava na mente de Clara. Um silêncio quase mortal se fez na sala de estar até que o Doutor resolvesse falar novamente. – Clara, agora você pode ir dormir. Está bem alimentada. – Ela afirmou com a cabeça e levantou levando o prato consigo. O Doutor fez o mesmo e pegou o prato da mão dela. – Deixe isso comigo. Vá já para a cama.

– Estou cansada das suas ordens... – Ela queixou-se baixinho.

– É a última de hoje, eu prometo. – Ele sorriu para ela. Clara passou no banheiro para escovar os dentes numa oitava vez e depois foi para a cama, observando a TARDIS já debaixo das cobertas. Sentindo o sono lhe alcançar lentamente. Ela abriu os olhos quando sentiu uma mão lhe afagar os cabelos e fechou-os rapidamente, envergonhada demais para encarar o Doutor. Ele estava agachado ao lado dela e levantou-se, partindo de volta para a TARDIS, sabendo que agora que estava tudo bem com sua companheira.

– Obrigada, por cuidar de mim, Doutor! – Clara exclamou quando o senhor do tempo estava prestes a entrar na cabine. Ele respondeu com um sorriso.

– Amanhã eu volto para lhe buscar para viajarmos ou... Quando você achar melhor de viajarmos. – Ele deu de ombros. – Quando você estiver melhor.

– Já estou melhor graças a você, obrigada. – Ela agradeceu novamente. O Doutor lhe deu uma última olhada antes de entrar na TARDIS e ir embora. Clara não tardou a pegar no sono desta vez, apesar do cansaço por conta do resfriado, seu corpo estava leve como uma pluma e seu coração latejava a cada batida, mas não de forma ruim. O Doutor trazia esse sensação à ela as vezes...

Durante a noite um ronco muito conhecido podia ser ouvido, mas Clara ignorou, achando ser em sonhos e continuando a dormir. O Doutor deixou a TARDIS lentamente, iluminando o chão com sua chave sônica até encontrar uma poltrona que havia no quarto de Clara. Ele sentou-se lá e observou-a pelo resto da noite, incerto de como isso viria a ajudá-la em sua recuperação, mas incapaz de deixar o posto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Uma pessoa no tumblr havia me pedido uma fanfic com esse tema (doutor ou clara ficam doentes e um tem que cuidar do outro), sendo que eu tenho uma pancada de one-shots e ideias whouffaldi pra fazer. Claro que sempre aceito mais ideias e aqui eu vou postando todas elas ao invés de fazer um monte de história separada. Lembrando que possivelmente nenhuma terá a ver com a outra. Obrigada por ler!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sob minha proteção" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.