Olhos de Cobra escrita por Laura Salmon


Capítulo 41
Capítulo 40 - Cobra


Notas iniciais do capítulo

Reta final! Temos mais dois capítulos depois desse e é o fim! Segurem em minha mão porque meu coração está ficando pequenininho de saudade, já!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/600337/chapter/41

Se havia algo mais bonito do que ver Karina lutando freneticamente era vê-la na cama dormindo. Ela ficava linda sob a bonita luz pálida do amanhecer, os cabelos espalhando-se dourados no travesseiro, seus dedos segurando os lençóis da minha cama. O lugar ao qual ela pertenceria enquanto eu vivesse.

Enquanto ela lutava comigo na academia do pai, não conseguia parar de pensar no quanto eu ficava feliz de vê-la acordar quase sempre que podia. Quando ela conseguia escapar no meio da noite e fugir para o QG.

Karina acordava de um modo diferente. Com olhos sonhadores e contentes. Duas joias azuis embaçadas de sono, carregando um sorriso suave no rosto. Como se estivesse grata por ter conseguido seguir por outro caminho. O nosso caminho.

Ela tentou me acertar no queixo, mas me esquivei, atingindo-a por baixo e a erguendo em um dos meus ombros.

― Golpe baixo! ― Ela gritou, debatendo-se. ― Você está desclassificado!

― Foco! ― Gael gritou. ― Coloca ela no chão. Seu chute está ruim, Cobra.

― Vamos lá, Cobreloa. ― Karina abriu os braços. ― Você sabe que pode chutar melhor do que isso.

Passei a mão pela testa, empurrando os cabelos para trás. Karina usava uma bandana vermelha para prender sua franja. A deixava ainda mais linda. Pequenos detalhes que pareciam imensos diante dos meus olhos.

Fui para cima dela. Karina estava cada vez mais rápida. Ela conseguia deter quaisquer movimentos meus, mas eu também podia interromper qualquer menção de ataque dela.

― Mais cinco minutos e você vai lutar comigo, Cobra. ― Gael foi se afastando. ― Parece que já decoraram o jeito um do outro.

Dei uma olhada rápida pela academia. Não havia aula na Ribalta. Duca estava dando aula longe de onde estávamos. Karina avançou. Segurei o pulso dela, virando seu braço e seu corpo, prendendo-a pela cintura e ofegando em sua nuca. Ela riu.

― Isso já está muito batido.

― Vou falar com ele. ― Não resisti em acariciar as linhas suaves de seu rosto.

― Falar o que com quem?

― Com seu pai. ― Karina empurrou a minha perna, usando a minha força contra mim e se livrando do meu cerco. ― Preciso dizer a ele que estou apaixonado...

― Parou! ― Gael gritou saindo do aquário. ― Vai levar umas porradas minhas agora, Cobreloa! Karina, flexão. Não pare até eu nocautear esse preguiçoso aqui.

Ela franziu o cenho com medo que eu começasse a gritar a plenos pulmões sobre nós dois. Balancei a cabeça negativamente. Gael se apoiou nas cordas e nos analisou.

― Qual é a de vocês? Já tô sacando que tem alguma coisa aí.

― Não tem nada, mestre. ― Recuei.

― É, pai. ― Karina começou a tirar as ataduras.― Nada.

Gael apertou o vinco entre as sobrancelhas. Antes que ele pudesse subir ali e me forçar a confessar, uma legião de pessoas vestidas com roupas escuras e engravatadas invadiu a academia. Todos nós nos voltamos para aquelas pessoas. Elas vieram caminhando diretamente para o mestre.

― Karina Duarte?

Olhei rapidamente para Karina. Ela me devolveu o olhar apreensivo.

― Da parte de quem? ― Gael cruzou os braços, impedindo que eles avançassem ainda mais.

― Da parte de uma equipe de investigação.

― O que eu fiz dessa vez? ― Karina ergueu os braços. ― Ainda é por causa da Jade? Claro! Ela disse que não ia ficar daquele jeito, que ia ter volta.

― Senhorita temos um mandado para realizar alguns exames.

― Ei! ― Gael gritou. ― Que palhaçada é essa? Que tipo de mandado? Que exame?

― Senhor, procure se acalmar. ― Uma das mulheres retirou os óculos escuros. Ela tinha traços orientais como os de Roberta. ― Fomos informados de que sua filha recebeu um soro para tratamento de picada de cobra na Ilha Grande. Precisamos fazer alguns testes. Fomos mandados pela Força de Inteligência Britânica. É de suma importância para nossas investigações. Só precisamos de um pouco de sangue. Vocês poderão acompanhar tudo.

Karina avançou, segurando a minha mão.

― Eles me deram remédio também. ― Tentei assumir o controle. ― Podem fazer os testes comigo.

― Ótimo saber disso. ― O homem barbudo continuou. ― Faça o teste nele também.

― Ninguém vai fazer teste nenhum aqui. ― Gael gritou.

― Ótimo, senhor. Não queremos nenhum tipo de violência. Vamos enviar autoridades brasileiras para entrar em um acordo.

― Faz muito tempo isso. ― Argumentei. ― Qualquer coisa que tenha estado nesse soro que deram a ela já passou.

― Karina Duarte? ― A mulher me ignorou. ― Você não tem sentido nenhum efeito colateral? Felicidade excessiva, relaxamento, formigamento nos dedos, confusão mental ou calafrios noturnos?

Olhei para Karina rapidamente, engolindo em seco.

― O que isso significa? ― Perguntei.

― Estamos investigando o possível contrabando de um soro que faz as pessoas terem alucinação da felicidade. ― Engoli em seco. Aquela felicidade que eu estava sentindo não poderia ser mentira. ― Você tem sentido esses sintomas, garoto?

Todos eles, pensei.

― Eu não sei responder a essa pergunta.

― Eles injetaram esse soro em você também?

― Não. Eles me deram um remédio. Porque eu havia consumido veneno acidentalmente.

― Não há nenhuma hipótese de você ter algo no sangue. O que estamos procurando é injetável.

― Isso pode fazer mal à Karina? ― Gael olhou para a filha, relativamente escondida atrás de mim.

― Não sabemos, senhor. Acreditamos que eles não lhe deram uma quantidade tão grande. Afinal ela realmente recebeu soro antiofídico. Só precisávamos saber se ele estava adulterado. Quer nos dizer o que está sentindo, Karina?

― Eu me sinto ótima! ― Ela estendeu a mão. ― Quanto de sangue precisam?

― Uma picadinha no seu dedo.

― Você não precisa fazer isso, Karina. ― Segurei o braço dela. Mas ela me olhou com medo. Eu sabia o que estava pensando. Ela estivera imaginando se tudo que estava sentindo por mim era efeito de uma droga. Soltei-a.

A mulher se aproximou e espetou o dedo de Karina. Um pouquinho de sangue foi colhido. Me aproximei para olhar. Havia um equipamento tecnológico nas mãos de um dos homens. Eles depositaram o sangue dela ali e imediatamente um painel surgiu. Estávamos todos perplexos.

― Níveis muito altos de serotonina, endorfina, dopamina e ocitocina.

― Ela é uma atleta. ― Tentei argumentar, embora não soubesse exatamente o que eram todas aquelas coisas. ― Corpo em movimento, felicidade, adrenalina...

Silêncio. Os outros alunos vieram se aproximando. Ninguém estava entendendo nada.

― Você está grávida?

― Que? ― Karina, Gael e eu falamos em uníssono. ― Não!

A explicação do porque havíamos falado juntos era óbvia. Levei a mão ao rosto. Não havia possibilidade nenhuma de Karina estar grávida. Porque havíamos nos cuidado. E havíamos tido uma única noite e dois momentos. Não era possível. Mas os olhos fuzilante de Gael me mostravam que eu estava ferrado mesmo que ela não estivesse grávida.

― Ah, foi um equívoco. ― Nós três soltamos o ar dos pulmões. A mulher voltou-se para um dos caras. ― Não há nada grudado na estrutura do DNA.

― Talvez ela não tenha recebido o soro.

Eles voltaram os olhos para nós. A mulher sorriu.

― Desculpe o incômodo, Karina. Agradeço a boa vontade com a nossa equipe. ― Ela retirou a placa com o sangue de Karina e entregou ao mestre. ― Não ficamos com material genético de ninguém.

E do mesmo jeito que entraram, eles saíram. Karina soltou a minha mão. Então me lembrei que eu tinha um novo assunto a resolver com o mestre. E não seria fácil.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!