Olhos de Cobra escrita por Laura Salmon


Capítulo 28
Capítulo 27 - Karina


Notas iniciais do capítulo

Princesa Bra, obrigada pela recomendação! Vocês são como presentes na minha vida. Por isso digo que SIM COBRINA VOLTOU! Segurem esses forninhos, porque está acontecendo novamente. Nada como uma turbulência para unir esses dois marrentos novamente.

O que estou ouvindo nesse capítulo? Slipknot - Snuff
Ouve comigo, sinta Cobrina!



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― Pedro eu não vou deixar o Cobra sozinho. ― Parei, cruzando os braços antes de sair do QG.

Jade e Pedro se viraram. Os olhos dela faiscavam de ironia. Os de Pedro tentavam demonstrar paciência.

― Mas ele quer ficar sozinho! ― Ele conseguiu pegar minha mão.

― Não força a barra. ― Puxei de volta.

― Olha aqui, Maria Macho. Você é que está forçando a barra. Se o Cobra precisasse de ajuda eu o ajudaria. ― Jade se meteu na conversa. ― Mas ele praticamente expulsou todo mundo de lá.

― Não vamos ter um Déjà vu. ― Andei de costas, segurando a porta do QG. ― Eu tomo minhas próprias decisões. E dessa vez eu vou ficar com ele. ― Pedro abriu a boca, mas ergui o dedo primeiro. ― Podem derrubar essa porta se quiserem, mas eu sei exatamente do que o Cobra precisa. Eu também sou uma lutadora. Sei onde dói. E não é só na costela quebrada. É no orgulho. Nas expectativas destruídas. Nos sonhos.

Jade revirou os olhos ainda maquiados pela peça e saiu pisando duro. Ela nuna ia entender nada daquilo. Pedro contorceu o rosto. Mas não esperei que ele reclamasse. Fechei a porta do QG e a passos silenciosos sumi na escuridão antes que ele tentasse me fazer não passar a noite ali.

Parei no meio do caminho refletindo sobre como as vontades de Pedro já não eram a minha prioridade. Eu estava errada. Deveria tentar fazê-lo o mais feliz possível. Mas ele também não estava se esforçando para me deixar feliz. Ou eu é que não estava feliz com nada. Pedro parecia tentar. Até ficamos um tempo muito longo sozinhos, mas não consegui seguir adiante com aqueles beijos. As coisas poderiam ter esquentado, mas eu estava fria. A Esquentadinha estava Congeladinha. Simplesmente saí correndo. Era a minha outra metade lutando contra a que eu escolhera ser.

E foi a metade lutadora que renascera em mim depois de tudo que ouviu o choro baixinho de Cobra. Caminhei apressada de volta ao seu quarto. Era a segunda vez na vida que eu o via chorando. A primeira foi quando quase morri. Por isso parecia tão desesperador. Não era só uma luta para ele. Era a chance de sua liberdade.

Quando cheguei ao quarto, metade de seu corpo estava para fora da cama. A mão sobre os olhos. O pescoço esticado enquanto sua cabeça pendia.

― Ei, ei! ― Sentei-me na cama, colocando a cabeça dele no meu colo.

― Ah, não Ka.

― Ah não, Cobra. ― Ironizei, afastando a mão dele dos olhos machucados. Passei meus dedos por ali com cuidado para não ferir ainda mais o seu rosto, apenas para afastar as lágrimas duras e enraivecidas. ― Não fica assim, Cobra. Você lutou até não poder mais.

― Tô fora da Khan. ― Ele esfregou o rosto com raiva. Tive que segurar seus pulsos para que não se machucasse ainda mais. ― Karina você é muito teimosa. Devia ter ido com Pedro.

― Você não me conhece, né? Claro que eu não iria.

― A Karina que namora o Pedro iria.

Ficamos em silêncio. Fitei o rosto ferido de Cobra. Os olhos dele jaziam fechados. Ele respirava com dificuldade, mas não estava mais chorando nem querendo se punir. Os lábios dele estavam inchados e vermelhos. Alguns pontos que sangraram antes ficaram arroxeados e protuberantes.

― Se te consola... ― Apertei os olhos, me arrependendo daquelas palavras que eu ia dizer. Meu rosto todo queimava. ― Você ficou lindo todo arrebentado.

Suas pálpebras se mexeram. Ele abriu os olhos diretamente para mim. Pela primeira vez consegui entender o que eles queriam dizer. Me queriam. A mão de Cobra subiu até a minha nuca com dificuldade, mas ele não forçou o meu pescoço, apenas dançou os dedos pelos meus cabelos.

― Qual das Karinas você quer ser agora?

Entreabri os lábios, mas não soube o que dizer. Quando eu estava com Pedro era fácil, como se eu já soubesse o que fazer. Mas era como se houvêssemos rompido nosso laço para sempre e estivéssemos sobrevivendo através de pequenas ligações de um barbante fino. Mas talvez, com o tempo, conseguíssemos dar nós mais firmes.

Mas não havia um tempo em que não existisse o Cobra e eu não podia ignorar o que ele causava em mim. Quando estávamos juntos era como estar presos em uma corrente ardente que queimava. Algo que mexia com o meu imaginário. Que me levava além do romance de menina e me fazia querer ser mais do que a lutadora durona.

― Cobra. ― Sussurrei, me abaixando um pouco. Consequentemente minha boca ficou perto demais da dele. ― Depois dessa semana, eu sei com toda certeza que você trouxe vida a coisas que eu nem sabia que havia dentro de mim.

A mão dele deslizou por entre meus cabelos, causando uma sensação de expectativa sem igual. As palavras fluíam de forma natural enquanto eu falava. Era a transcrição dos meus sentimentos.

― Você pegou a minha alma suja e machucada e a limpou e cuidou dela.

― Ka. ― Ele sussurrou. Seus lábios roçaram de leve nos meus. ― Você fez exatamente isso com a minha alma.

Sua mão desceu pela minha nuca, ombro e braço, deixando aquele rastro doloroso e alucinógeno, como um veneno do qual eu não queria escapar. Nossas mãos se tocaram em um choque de energia que passava pelas pontas dos nossos dedos ao se entrelaçarem. Meu coração parecia de papel, se contorcendo amassado dentro do meu peito, flutuando leve enquanto nossos olhos conversavam.

― Sabe o que mais dói? ― Fiz que não com a cabeça. ― Ver um pedaço da minha costela em outro cara.

Uma risada escapou dos meus lábios. Cobra sorriu de forma dolorosa.

― Você não conhece aquela frase clichê? O que é seu sempre volta pra você.

― Você voltou?

― Eu tô aqui agora, não tô?

Nossos lábios pareciam flertar antes do beijo, com toques leves e provocantes. Cobra entreabriu a boca, umedecendo meu lábio superior. Deixei um suspiro escapar ao abrir um pouco mais a boca e ter um vislumbre de sua língua invadindo a junção de seus lábios. Nossos queixos se roçaram. Tombei a cabeça para o lado. O beijo pareceu se transformar de simples batidas de asas de borboletas para a fúria de um dragão em chamas. Quente, cheio de garras e forte. Eu não podia mais fingir que não existia amor entre nós. Não podia ignorar o animal que ganhava vida dentro de mim quando nos beijávamos.

Cobra emitiu uma espécie de gemido quando impulsionou o rosto contra o meu. A combustão consumia nosso oxigênio. A mão dele, segurando a minha, pousada sobre seu coração, me deixava sentir sua pulsação tão acelerada quanto a minha. Pausamos o beijo para inspirar profundamente, mas ele capturou a minha boca novamente, se apoiando com dificuldade no outro braço e erguendo o tronco. Seu corpo protestava por causa dos hematomas das lutas. No entanto, o desejo eminente saiu vencedor.

O meu corpo protestava de forma contrária. Exigia que ele não parasse de me tocar. Minha mão furtivamente escorregou para seus cabelos, encaixando meus dedos ali, nos fios curtos e macios. A língua de Cobra acariciou minha boca e a onda de calor que atravessou o meu corpo causava uma sensação única de estar sendo incinerada por dentro e por fora.

O beijo foi ficando mais lento enquanto algo dentro de mim gritava para que aquilo nunca terminasse. Mas assim que nossas bocas se separaram e nossos pulmões procuraram por socorro, Cobra encostou a testa dele na minha. Mantive os olhos fechados. Ele levou a minha mão, atada à sua, até a altura do meu rosto e conseguiu acariciar minha bochecha com seu polegar.

― Eu consigo entender agora. ― Sussurrei. ― O meu passado foi embora. Não posso tentar repeti-lo. Não quero. Eu quero seguir com você.

― Não sou um bom caminho.

― É um ótimo companheiro de trilha. ― Ouvi seu sorriso se expandindo com um suspiro. ― Mas eu preciso terminar com o Pê. Da forma correta agora. De um jeito que não fiquemos fazendo jogos. Que possamos seguir em frente.

― Ka. ― Abri os olhos. Cobra firmou o meu rosto com a mão. ― Eu não quero que você se arrependa. Eu não tenho tempo nem destino. Você não pode apostar as suas fichas em alguém como eu.

― Cobra. Eu aprendi uma coisa muito importante. Confiar primeiro no próprio coração. Confio na dúvida na minha cabeça. Confio nas coisas deixadas para trás. Mas confio nas surpresas pela frente. Não tenta me afastar.

― Não vou.

O modo como ele sussurrou fez um sorriso começar a surgir do fundo do meu coração. Só não conseguiu alcançar os lábios porque a boca de Cobra chegou primeiro. Dominando-me novamente, o lutador ferido conseguia me nocautear. E eu não estava nem um pouco preocupada.


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