Olhos de Cobra escrita por Laura Salmon


Capítulo 26
Capítulo 25 - Karina


Notas iniciais do capítulo

Estou tão feliz por cada palavra de carinho e incentivo que recebo de vocês! Gostaria de agradecer excepcionalmente à Aírla Baixinha, Ames que é tributo como eu e à Bruna que me deixaram recomendações tão bonitas que só não chorei porque comecei a sorrir sem parar. Por isso deixo aqui mais um capítulo. Amo vocês! Cobrina para sempre!



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― E alguém daqui vai participar? ― Perguntei a Duca. Ele estava terminando de guardar alguns equipamentos quando sacudiu a cabeça negativamente. ― Por que o Gael não inscreveu ninguém? Por que eu não soube disso?

― Porque é um campeonato de grande porte. Ninguém aqui está muito apto a competir. Perdemos um lutador importante quando o Wallace foi pra Khan.

― Vou convencê-lo a voltar.

― É mais complicado do que você imagina, Karina. ― Os lábios de Duca se arrastaram pela força que ele fez ao carregar alguns pesos. ― Wallace entrou em uma cilada do doutor Heideguer. ― Suspirei. ― Como tá o seu pé?

― Bom.

Dei uma olhada para baixo. Já havia passado uma semana desde o acidente. Naquele sábado eu me sentia ótima. Ainda havia uma mancha arroxeada ali horrível, mas eu estava começando a gostar dela. Era um sinal do que eu compartilhava com Cobra.

― Não vou pra Ribalta direto. ― Duca informou. ― Falei com a sua irmã e disse a ela que queria ver algumas lutas desse campeonato. ― Duca deixou uma risada escapar. ― Vestida de galinha ela nem fez questão da minha presença na estreia.

―Duca. O Cobra vai lutar hoje?

― Provavelmente.

Dei uma olhada para as escadas. Levei a mão ao bolso me esquecendo que ainda estava sem o celular. Eu havia prometido a Pedro que iria na estreia dele em um papel principal na Ribalta. Mas um campeonato importantíssimo estava me fazendo mudar de ideia.

― Você não tem a grade de lutas? ― Voltei-me para Duca. ― Só para eu saber se dá pra ir até lá e voltar para pegar um pedaço da peça.

― Você e o Cobra se aproximaram muito, não é? ― Duca me entregou o celular.

Ignorei aquele tipo de comentário. As lutas de Cobra seriam as primeiras, mas eu perderia mais da metade da peça.

― Você pode me esperar? Vou falar com o Pê e vou com você lá pro campeonato.

Ele assentiu. Subi as escadas de forma tão enérgica que me surpreendi por não estar mais sentindo dor na perna. Encontrei Pedro com a cara pintada e orelhas de cachorro no meio dos bastidores. Aquela figura me fazia querer rir a qualquer momento. Ele se virou assim que me viu.

― Esquentadinha! Você chegou cedo! Eu nem preguei o meu rabo ainda.

Seus lábios pressionaram os meus. O afastei.

― Vai me sujar de maquiagem. Preciso dizer uma coisa. ― Pedro esperou. ― Vou com o Duca assistir uma parte do campeonato.

― Ah não!

― Eu volto antes da peça acabar. E virei amanhã. Eu prometo.

― Vai atrás do Cobra, machinho? ― Jade apareceu totalmente deslumbrante. Revirei os olhos. ― Tomara que aquele vagabundo quebre a cara. Você sabe que ele não ganha nenhuma luta sem o amuleto da sorte dele. Que no caso sou eu. Que no caso estarei aqui brilhando como a gata.

Jade estava insuportável desde que voltara de São Paulo sem Henrique. Segundo Bianca, o pai dele não gostara nenhum pouco do envolvimento do filho com a gata dos saltimbancos e ele nem voltou para o Rio. Ignorei-a, voltando meus olhos para Pedro. Segurei em suas orelhas.

― Eu não iria se não fosse importante. Cobra me deu força quando precisei. Quero dar uma moral pra ele agora.

― Só uma moral! ― Pedro colocou uma tiara de orelhinhas em mim. ― E tem que prometer que vai voltar pra gente brincar de cão e gato.

― Combinado. ― Sorri.

Não soube dizer se estava sorrindo de expectativa por poder ver o campeonato ou por poder torcer por Cobra. Encontrei Duca no carro, parado em frente à academia e nós seguimos para a arena na qual estava acontecendo o evento. Mas o trânsito não ajudava.

― Pega um atalho, Duca!

― Não dá pra voltar, Karina. ― Demos uma olhada para trás. ― Além do evento ser internacional, parece que aconteceu um acidente ali na frente.

― Ainda está muito longe?

― Daquele tipo que não dá pra você sair correndo.

Estávamos na metade do caminho. Não dava para voltar para a Ribalta nem avançar para o ginásio. Bufei, batendo a mão com força no joelho. Odiava ter que esperar. Quando finalmente passamos por um caminhão de sorvete capotado, duas horas depois, torci para que Cobra estivesse na final e que eu ainda conseguisse vê-lo.

Duca tinha razão sobre a grandiosidade do evento. Foi difícil comprar ingressos. Praticamente imploramos. Mas Duca tinha uma credencial da academia do meu pai e eles finalmente decidiram nos liberar.

Havia várias arenas de luta espalhadas ao longo do pátio. Cada uma delas uma categoria diferente. Percorri todo o lugar com os olhos sem sair de perto de Duca. Com aquela credencial ele podia circular por entre os ringues.

― O Lobão tá ali. ― Ele apontou. ― Parece nervoso.

Ele estava cuspindo marimbondo. Corri naquela direção. Lobão estava gritando com a Nat. Ela foi a primeira pessoa a me notar. Seus olhos queriam sorrir, mas sua expressão era de dor e fracasso. Lobão seguiu o olhar dela e colocou aqueles olhos em mim.

― Olha só quem resolveu aparecer! ― Seu sorriso sarcástico me fez parar. ― A filha pródiga. Quem é viva sempre aparece.

― Cadê o Cobra, Nat?

― Ele tá com problemas, Ka.

― Você cala a boca. ― Lobão se virou para Nat e depois me encarou friamente. ― Se quiser assistir a luta do Cobreloa a arquibancada é logo ali. Aproveita e leva esse seu amiguinho imbecil com você. ― Lobão apontou para Duca. ― E é melhor não me contestarem.

― Não sigo suas ordens, Lobão. Nat, o que houve com ele?

― Ele tá ali, Karina. ― Duca puxou o meu braço.

Ignorei as provocações de Lobão e corri para a direção que Duca apontava. Não demorei para encontrar Cobra curvado, apoiado em Luiz, um outro lutador da Khan.

― Chega! Chega disso! ― Ele gritou para o spray que Luiz esguichava em seu abdômen.

Seu rosto estava destruído e ele segurava suas costelas com uma expressão horrível de dor.

― Não consegue nem ficar de pé. ― Luiz o ajudou a se sentar.

― Ganhei a última luta, não ganhei? Não vou perder essa por W.O. Chega de spray.

― Cobra. ― Eles se viraram rapidamente para mim. Cobra gemeu por causa do movimento brusco. ― O que aconteceu?

― O que você acha? O que está fazendo aqui? ― Ele abriu um largo sorriso. ― Ah, Duca! Veio tripudiar da minha situação.

― Não é nada disso Cobra.

― Cobra. ― Interrompi. ― Vim ver você vencer. ― Me aproximei, mas ele gritou antes que eu o tocasse ao se encolher para fugir das minhas mãos. ― Você quebrou as costelas?

― Acho que ele rompeu o baço também. ― Luiz nos informou.

― Como você venceu essa luta? ― Duca pareceu surpreso. No estado em que Cobra estava ele parecia ter sido nocauteado. Fiquei imaginando se o outro lutador ainda estava vivo.

― Você não está lutando Muay Thai! ― Sussurrei, chegando aquela conclusão.

― Vão embora daqui. ― Lobão apareceu. ― Fica de pé Cobreloa. Seu esforço vai ser recompensado. Acabei de falar com um dos olheiros de Miami. Ele quer você no time. Mas você precisa aguentar pelo menos um round.

― Não estão lutando Muay thai! ― Gritei.

― Tira ela daqui, Duca. ― Cobra se levantou, gritando de dor. ― Me ajuda a chegar até o ringue, mestre.

― Isso é ilegal! ― Duca me segurou, me arrastando para trás. Tentei gritar um pouco mais alto. ― Cobra, não faz isso! Cobra!

Mas ele não me ouvia. Lobão o arrastou para o local da luta. Ele mal conseguia ficar de pé. Como daquela vez em que ele enfrentara uma luta ilegal. Só que parecia pior. O outro lutador também parecia machucado, mas continuava dando socos no ar e pulando. Cobra cambaleava. Ele não ia aguentar.

Mas para a minha surpresa ele estava aguentando. Ele estava apanhando e estava aguentando. Os braços de Duca ao redor da minha cintura me impediam de sair correndo. A cada soco e chute que Cobra levava parecia que ele estava se desintegrando. Eu queria entrar lá dentro e acabar com o outro lutador, mas estava presa.

Rezei para que o round acabasse.

Mas o adversário acabou com Cobra primeiro.

E com um baque surdo ele caiu desacordado no chão.


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