É a festa de aniversário da Bianca. Eu já devia esperar uma festa grandiosa. Exagerada como ela. Mas ainda não estava prepara para ir até a Ribalta festejar mais um ano de vida da irmã que me traíra e sorrir para pessoas que mentiram para mim. Ainda é difícil aceitar. Às vezes, quando piso na academia, quando meu pai Gael me sorri e Duca joga ataduras para mim, é como se as coisas tivessem voltado ao normal.

Mas aquele buraco está lá. Aquele vazio buraco negro que me suga toda vez que vejo Pedro.

Se apaixonar é algo engraçado. Você pode começar com algumas brigas até sentir uma forte atração física e uma vontade de nunca mais sair de perto daquela pessoa. E lá estão vocês. Se beijando. Se entregando pela primeira vez. Achando erroneamente que aquele infinito amor será o primeiro e o último.

Pedro foi o meu primeiro. Mas raramente, quando o vejo subindo as escadas para a Ribalta e às vezes ele ergue aquelas sobrancelhas tão expressivas e acena, eu quase posso ter certeza de que ele jamais será o meu último amor.

Eu não quero mais amar.

Nunca mais.

É por isso que ir ao aniversário da Bianca é tão difícil. As pessoas a amam. Haverá pessoas que se amam. Mas não haverá uma só alma viva que me ame. E eu poderia pensar no mestre Gael, mas naquele momento seus olhos estarão voltados para a filha predileta. Ele me amará. Mas não como amará Bianca naquelas extensas horas em que ela será, mais uma vez, uma princesa.

―Já escolheu o seu vestido? ― Ela entrou repentinamente no quarto que dividíamos. Estava radiante.

― Você só pode tá me zuando, né, Bianca?

― Credo, Ka! ― Ela abriu o guarda-roupa. ― Você pode ir vestida como quiser. Eu só tava brincando. Às vezes você me olha de um jeito como se ainda não tivesse me perdoado pelos meus erros do passado.

Bianca podia ser um pouco sem noção, mas se havia algo que ela sabia era ler as pessoas, profundamente. Eu jurei para mim mesma, quando finalmente descobri que Lobão não era o meu pai e decidi voltar para casa, que aqueles meses em que eu passara na Khan, tivesse me feito perdoar todos pelas mentiras. Mas perdoar não significava confiar. E confiança sempre traz consigo um pouco de amor. Eu não conseguia amá-los. Eu só convivia normalmente com cada um deles e seguia em frente.

― Não é nada disso, Bianca. ― Fechei o caderno. ― Só não estou num bom humor hoje.

― Você não tá de bom humor nunca. Desde...

― Se você ousar falar que eu só era feliz com Pedro vou deixar o seu olho tão roxo que você terá que comprar três quilos de maquiagem para cobrir.

Minha irmã ergueu os braços, na defensiva.

― Eu sou feliz. Em alguns momentos. Não o tempo todo. ― Me justifiquei. ― Vou estar feliz quando você soprar aquelas trinta e três velinhas hoje.

― Trinta e três! Karina! ― Ela finalmente riu, ganhando um sorriso meu. ― Preciso de uma opinião. Você acha que devo usar o cabelo soltou ou preso?

― Você usa o cabelo solto o tempo todo. ― Fiz uma careta. ― Eu sei lá!

― Vou fazer um coque com trança! Isso!

Bianca saiu do quarto, chamando por Bete. Ouvi quando ela reclamou que Bianca estava tomando tempo demais. Que ela precisava terminar várias coisas para o aniversário.

Suspirei, pegando o celular. Eu poderia ir ao cinema. Sozinha. Já vinha fazendo aquilo algumas vezes. Mas eu estava tentando parecer bem. Se eu não fosse à festa de Bianca eles começariam a fazer perguntas. Iria ser um pesadelo. Pedro se sentiria importante demais, acharia que com certeza era por sua causa. Eu não queria que as coisas desandassem, não quando ele parecia estar tão bem seguindo em frente.

Seguir em frente me levava ao caminho daquele aniversário. Suspirei outra vez, procurando por aquele contato. Talvez, só talvez, a noite pudesse ser um pouquinho melhor se eu tivesse uma boa companhia.

O problema é que a pessoa em mente não havia sido convidada.

E Bianca ia ficar uma fera quando visse meu acompanhante lá.