Artigo retirado do site da recém formada em psicologia, Alessandra Albuquerque.

"As fragilidades emocionais de uma pessoa podem se tornar tão intensas a ponto de desenvolver dependência em relação a outra pessoa. Isso é o amor obsessivo. E a pessoa que se torna obsessiva não consegue perceber, ela só acredita que se trata de muito amor. Seu desejo e desespero são tão intensos que se aproximam da dor física.

E pelo que estudei do Caso Estrela, a única forma de explicar tanto amor e ódio, é que ele tinha sim um amor obsessivo por Estrela. Creio eu, que tudo tenha começado quando ele a observava no ônibus. É normal flertar com pessoas, mas não passar dias observando o alvo do flerte. O fato de Lucas escrever páginas e páginas sobre seu amor por Estrela, só prova mais ainda minhas suspeitas. E tem também aquela história que ele discava o número dela várias vezes ao dia. Era extremamente ciumento e protetor. Ou melhor: obsessivo.

Agora, sobre as condições mentais de Estrela, ainda fico em dúvida. Meu palpite é que ela se deixara levar por todo o envolvimento por Lucas. Estrela era insegura, imatura e tímida, que crescera sobre a proteção dos pais. Na primeira oportunidade, ela tratou de fugir de tudo isso. Lucas a seduziu com a liberdade. Foi nesse ponto que o mundo dela desabou. Vejam bem: ela ficou grávida por alguém que a fazia se sentir confusa e ainda mais insegura consigo mesma. É claro que ela não gostaria de conceber a criança.

Isso me leva a acreditar que Estrela deveria ter pensamentos suicidas bem antes disso tudo começar. Poucos sabemos de seu passado, mas e se a mocinha da história já tivera um passado traumático? E se ela, assim como Lucas, não estava se sentindo preparada para a vida? É um caso complexo, é deve ser analisado com cautela, pois seus filhos, irmãos e amigos poderiam estar passando pela mesma coisa."

Desabafo da mãe de Estrela, postado em seu perfil do Facebook poucos dias depois da morte da filha.

"Não fui a melhor mãe do mundo. Sei disso e aceito minhas escolhas. Eu poderia ter lhe dado mais carinho, atenção, conselhos e amor, mas estava muito ocupada com trabalho. Pode parecer um discurso amargo de arrependimento, mas é bem mais que isso. É o coração partido de uma mãe. Às vezes, achamos que tudo está bem, achamos que algumas coisas são só momentos ruins, achamos que a tragédia que aconteceu com o vizinho nunca irá acontecer com você. Infelizmente, a vida não é assim. Somos seres humanos, e a tragédia está a espreita para nos pegar de surpresa. Sei que de nada adianta falar agora, mas eu a amava. Amo. E sinto muito por Lucas."

Data desconhecida. Diário de Lucas.

"Levei Estrela para ver as estrelas ontem à noite. Foi num lugar distante, fora da cidade, longe de todas as luzes ofuscantes. Fizemos uma acampamento improvisado e passamos a noite toda bebendo champanhe. Ela ama champanhe. Depois de um tempo, ficamos apenas observando o céu em puro silencio. Estrela se aconchegou no meu peito, mesmo por cima da camiseta, senti sua respiração. Ela era tão dócil.

Sabia que aquela tranquilidade não duraria muito, até o fim da madrugada estaríamos pelados e suados, satisfeito com o prazer. Sabia também, que no outro dia, brigaríamos por algum motivo idiota. Talvez fosse por eu beber muito, ou por levá-la para algum lugar tosco com meus amigos, ou por brigar com seus pais novamente. Mas depois da briga, Estrela beberia alguma coisa e voltaria a me amar. E tudo ficaria bem novamente, mesmo que por pouco tempo."

E-mail salvo (mas não enviado) para Priscila, na caixa de rascunho de Estrela.

"Minha amiga querida, lembra que falei que Lucas fazia parte de mim? Então, parece que ele faz parte oficialmente, pois carrego um filho dele dentro de mim. Demorei um pouco para perceber, mas agora estou em choque. Não quero ser mãe, não posso ser mãe. Já pensou o que aconteceria se eu virasse uma mãe como a minha? Ou se Lucas, todo protetor, virasse um pai como o meu? Não teríamos uma história sendo repetida? Não quero isso. Quero acabar com o ciclo.

Não faço ideia de como vou contar para Lucas, e nem imagino qual será sua reação. Mas, talvez eu não conte. E se eu simplesmente pedir um tempo, tentar voltar a viver minha vida pacata? E se eu tentasse esquecer Lucas? Ah...tenho tanto medo. E se eu parasse de existir?

Com carinho, Estrela."