O dia estava movimentado. Os cidadãos e os visitantes da capital há muito não se alegravam tanto para um evento. O concurso de Miss Lorena era esperado por todos menos pela garota que planejava como se livrar de tudo aquilo.

— Não adianta, Kath. Isso é obrigatório.

— Mas, Cassie, por que eu preciso fazer isso? Eu sei que tem alguma coisa por trás disso.

—  Sim, tem. Precisamos encontrar uma pessoa, e segundo Benedict essa é a única forma de reunir todas as jovens da capital, ele acha que mulheres gostam de competir uma com as outras.

Katherine bufou.

— Essa pessoa não sou eu. Você sabe disso não é.

— Eu sei Kath, mas Benedict costuma ser atento a detalhes. Ele sabe que eu tenho uma prima nessa faixa etária, e eu não quero dar motivos para ele duvidar de mim.

Katherine saiu pisando forte. Era ela que eles estavam procurando por isso ela não daria essa chance a eles, acha-la de uma maneira tão idiota. Quem eles achavam que era ela? Justice Martin?  Theodora Flein ?  Qualquer mulher fútil da capital?  Ela não daria esse gosto a Benedict.

O concurso seria amanhã, então ela colocou a máscara de gata  novamente, pelo jeito ela não conseguiria se livrar dessa sina , esperou um tempo até que todos dormissem e   saiu pela noite tentando pensar em uma maneira de fugir de tudo isso.

§

Ele estava animado. Benedict realmente estava ansioso. Tudo já estava quase pronto e sua aprovação com o rei estava nas alturas.

— Você teve uma boa ideia Benedict, além de encontrar a pessoa que você procuram, isso servirá para distrair e divertir as pessoas. – O rei havia dito.

— Sim vossa majestade, o evento será um sucesso.

— Eu sei que será, Benedict. Tem que ser.

Com essas palavras Benedict se empenhou mais e se esforçou até a exaustão.  Naquela noite ele dormia em um dos hotéis perto do castelo.

Ele ouviu um estralo na janela do seu quarto. Duas batidas fortes e precisas. Seu coração acelerou. Ele se levantou em um pulo e se protegeu com o travesseiro.

— Seja quem for, eu recomendo ir embora. Eu estou armado! – Ele disse escondendo o rosto no travesseiro.

— Não me faça rir.  Você vai me atacar com um travesseiro de plumas? – Falou a silueta a ele.

— Essas plumas são perigosas!

A silueta se aproximou mais. E ele pode perceber que se tratava de uma mulher.  Assim ele se ajeitou.

— Uma dama? O que uma dama faz invadindo o meu quarto?  Sei que sou irresistível, mas...

A silhueta explodiu em rir.

— Benedict me disseram que você era egocêntrico, mas ninguém nunca me contou em como você é ridículo.

— Ridículo?  Ele se ajeitou — Então você sabe o meu nome.

— Eu não lido com coincidências. Agora quero que você se aproxime e olhe para mim.

Ele fez. Aos poucos a silhueta foi tomando forma, era um corpo pequeno e magro escondido sob uma grossa capa. A máscara de gato era inconfundível.

— Gata! – Seus olhos brilharam em constatar

— Eu mesma. Agora pare com toda essa coisa.

— Parar? Com o que?

— O concurso, claro.

— Ah, isso já chegou aos seus ouvidos. – Ele disse feliz.

— Sim. Eu só estou dando um aviso. Você não me encontrará lá amanhã, mas eu tenho uma previsão ruim para esse evento.

— Previsão? Eu não entendo bem a sua magia, então não posso dizer se você está blefando ou não.

— Eu blefando? – A gata riu.

— Sim, soube que é uma excelente jogadora, eu não me surpreenderia se tudo isso fosse uma mentira. – Benedict suspira - Eu sei que você não quer ser descoberta, mas estamos fazendo isso por um bem maior. Por isso eu te peço, hoje, aqui. Nos ajude a salvar Lorena.

Katherine olha para ele com um pouco de pena. Ele está dizendo a verdade, essa é a única coisa que ela tem certeza por parte  dele. Mas ela não poderia fazer isso, seria muito pior se ela os ajudasse.

— Você não quer minha ajuda. Pode ter certeza disso. Eu sou uma bomba ambulante, qualquer alteração de humor pode ser catastrófico. E essa máscara que me ajuda a impedir tudo isso.

— Nós a ajudaremos. Temos outros parecidos com você.

— Como a viciada em jogos e a montanha de músculos?  Não obrigada. Eu já  estou indo, e fica o aviso. Cancele amanhã. Eu não estou brincando quando eu disse que uma tragédia vai acontecer.

— Então, esperaremos você para nos salvar. – Benedict disse no fim.

Katherine foi embora rapidamente. Ela não queria ser vista. Aquele Benedict era mais burro e teimoso do que ela pensava. Agora ela teria que dar um jeito de não ser reconhecida.  Uma pessoa chamou a sua atenção no caminho para casa.  Uma espécie de bom pressentimento o fez observar o rapaz que apertava o passo nos becos escuros.  

§

Por um tempo Justice esqueceu a sua mãe. Ela estava animada para o concurso, mesmo sabendo a sua verdadeira finalidade , ela o ganharia mesmo assim.

— O que acha Raíssa?

Era o trigésimo vestido que ela experimentava e Raíssa já estava caindo de sono.

— Esse também ficou lindo Jus. – Ela disse enquanto bocejava.

— Lindo não é o suficiente. Acho que azul não é a minha cor. – Justice examinava o vestido com cuidado. Ela iria ganhar, Theodora não conseguiria nem acompanha-la.

Theodora Flein,  a vagabunda mais traiçoeira de toda a capital, como dizia Justice. Antes amigas, as duas cresceram juntas. Cursaram a academia como irmãs, mas quando atingiram a maturidade para gostar de meninos, Theodora foi a primeira a ter um namorado escondido.  O que animou Justice, ela também queria ter um namorado, ela era tão bonita quanto Theodora, o que ela não esperava era que Theodora terminou com o namorado para ficar com o garoto que Justice gostava. Isso a enfureceu de uma forma absurda e assim elas terminaram a amizade para declararem-se inimigas.   Os pais de Theodora  também eram condes  e isso atiçava a rivalidade entre elas.

Justice sabia que Theodora participaria desse concurso, e ela não a deixaria em paz caso ganhasse.  Por isso ela tinha que usar tudo o que tinha para ganhar, mesmo que isso significasse usar magia.

— Só mais alguns e eu prometo que vamos dormir Raíssa.  – Raissa suspirou em desaprovação ao ouvir isso.

§

Allen estava voltando para a pensão em que estava hospedado com a sua mãe, já era tarde e ele havia ficado conversando com Hyun até tarde. Ele queria saber o que havia ocorrido no submundo, ou mesmo como chegar lá, mas Hyun não  se lembrava de nada, por isso ficaram jogando conversa fora até aquele horário.  Para um monge desmiolado, Hyun era uma boa pessoa e falava muito. Allen praticamente só ouviu enquanto ele se gabava de sua antiga vida.

As ruas estavam escuras, já passava da meia noite. A lua estava quase cheia, mas o seu brilho não conseguia atravessar as paredes daquelas construções. 

Allen não se preocupava com as pessoas mal encaradas do caminho. Bêbados e jogadores faziam um pouco de algazarra nos becos escuros, mexendo com que passasse. Esse tipo de gente estava proibida de se aproximar do castelo amanhã.  O rei queria mostrar a imponência e prosperidade da capital com esse concurso. Allen achava desnecessário, seja quem for essa tal gata, era impossível que ela participasse amanhã. O lado bom é que ele veria muitas mulheres bonitas.

Um miado em um dos becos fez um calafrio cortar as sua costas.  Isso não é nada. Ele pensava.  Allen tinha um medo bem peculiar, um pavor que o perseguia desde a infância.  Outro miado o fez ficar alerta, ele não queria ter que cruzar com esse tipo de animal.  Gatos, Allen tinha medo de qualquer espécie de felino.

Faltava pouco para chegar a pensão. Ele acelerou os passos conforme os miados aumentavam.

Seu rosto suava frio.

— Você – Ele ouviu alguém o chamando.

Ufa, ele pensou. Uma pessoa eu posso enfrentar.

Ao virar ele viu a máscara e seu coração parou por um momento.  Mas assim que ele conseguiu respirar ele lembrou.

— O que você quer? – Ele perguntou.

— Eu? Eu só quero conversar, talvez você possa impedir a tragédia que acontecerá amanhã, já que você como eu e os outros somos farinha do mesmo saco.