O Cristal e o Diamante escrita por AlessaVerona


Capítulo 26
Enfrentando a verdade




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– Fala! – Saphyre pressionava-o.

– Por que nesse tempo todo... – Continuou, procurando impulso para terminar aquela frase. – Não parei mais em pensar em você...– Pegou no rosto de Saphyre. Os olhares se cruzavam como se fosse pela primeira vez que eles se viram. A paixão que Saphyre havia sentido por ele na primeira vez foi reativada. Ambos se desconcertavam, repetindo a mesma cena na qual eles se conheceram. Leiftan se sentia pouco inseguro por não ser correspondido como esperava. Aquela troca de olhares falava por si.

Saphyre ainda se sentia presa. Não conseguia voar após o romance tão intenso e curto de Nevra que foi mal acabado. Sentia medo de se apaixonar outra vez. Era um empecilho para aquele amor ser construído e evoluído.

– Você sentia... Desde aquele dia? – Saphyre dizia fraco e lentamente.

– Pensei que você havia percebido. Eu me sentia enlaçado a você de qualquer maneira, por qualquer circustância que acontecesse. Mas aconteceu o seu envolvimento com Nevra, e depois ele saiu daqui... Vi você fragilizar, sofrer, superar por cima dessa história toda... Vi você se tornar o que é hoje... Por mais que eu tentasse não gostar de você, no fim das contas acabei de rendendo. – Leiftan se abria, não sentindo mais vergonha do que sentia. Não queria repetir seus erros. Saphyre ficava incrédula, mas sentia aquele amor que Leiftan descrevia.

– Eu... Senti algo parecido. Pensei que fosse comum ter homens simpáticos por aqui... Ter aqueles príncipes que tinha nos contos de fadas... Meti a cara na parede com o Nevra... Porém ainda sinto que, por mais que os fatos vão contra, há algo de errado. É complicado para... – Saphyre tentava explicar.

– Tudo bem, eu entendi... Você quer tentar dizer pra mim que não sente o mesmo por mim, né? Você não vai esquecer o Nevra, não é isso? Me arrependo de ter dito isso pra você. – Leiftan surtou, e saiu do quarto de Saphyre que estava incrédula.

– Leiftan! – Era em vão. Ele havia desaparecido de vez. – Droga. – Completou.

Ela se lembrava da conversa que teve com Valkyon há um ano, quando ajudava-o a passar o gel para ferimentos.

– Ainda bem que nesse mundo existe alguém como o Leiftan! – Disse Valkyon.

– Ele é um bom rapaz. – Respondeu Saphyre, sorrindo. Valkyon via a reação dela pelo reflexo do espelho.

Saphyre sentou-se na cama, relembrando do que Valkyon dizia.

– Sim. Eu acho que ele gosta muito de você... Além do Nevra. Eu acho que você está confusa entre os dois... – Ele dizia

Saphyre sorria ao lembrar que Valkyon sabia de seus sentimentos, porém nunca se sentiu dividida entre os dois. Só agora que o que ele dizia veio à tona. Mas tinha algo que chamou atenção, naquela mesma conversa.

– Lembre-se que pode contar comigo quando estiver confusa. Conheço os dois muito bem, conheço-os como se fossem meus irmãos mais novos. Mas te digo uma coisa: Leiftan ficou estranho demais depois que te viu. Ele te ama, e muito... Tome muito cuidado de não feri-lo. Ele é frágil. E você tome cuidado com as suas escolhas, você pode se dar muito mal. – Disse ele.

Apenas agora Saphyre caía em si. O seu desejo era não ferir ninguém. Sentia culpada por causar aquele transtorno, mas ao mesmo tempo se libertava daquilo.

[...]

– Senti que o Leiftan estava disposto a falar o que sente. – Disse Valkyon para Taiga, que iam até a masmorra para treinar.

– Sim. Ele estava com um olhar tão radiante. Eu espero que ele consiga se acertar com ela. Sofrer calado realmente é algo muito ruim. Ela confusa, entre a força e a fraqueza... Foi difícil entender ela. – Taiga disse, se sentindo enroscada pela história.

– Lembro que quando a Saphyre estava me ajudando a passar o gel nas minhas costas, eu disse pra ela ter cuidado com o Leiftan, que ele é frágil quando ama alguém... Engraçado que eu lembro disso como se fosse ontem – Disse ele, se lembrando do mesmo momento que Saphyre estava a lembrar.

– Mas ela tá muito mudada. – Disse Taiga, um pouco incomoda ao saber que ele e Saphyre compartilhavam segredos e conselhos.

– Pra mim, a Saphyre não mudou como muita gente pensa. Ela sai de um mundo, desamparada, contra todos para não se casar com o cara idiota lá, conhece a gente, o Nevra que é muito decidido abraçou-a de um jeito muito acolhedor. Qual mulher que não deseja um homem como o Nevra se apresentava? – Valkyon fazia a retrospectiva da vida de sua amiga.

– Eu não. – Taiga respondeu cabisbaixa. Valkyon parou para Taiga e sorriu.

– É... Eu sou justamente o contrário. Eu não gosto que as pessoas sofram por amor... Amor não faz ninguém sofrer. – Disse, fazendo Taiga corar. –Saphyre tomou esta dose e não quis mais se envolver com ninguém, e por isso que ela se blindou daquele jeito. Mas no fundo, no fundo, o seu coração é do Nevra ainda. Gosto muito da magrelinha, não queria vê-la desse jeito. Por isso eu torço muito para o Leiftan e ela formarem um casal. – Continuou com o assunto, pois estava a começar a ficar sem graça.

– Tomara mesmo. Mas há algo que me intriga. E se o Nevra... – Taiga questionou, mas não conseguia falar o resto.

– Voltar? Por acaso aquele idiota do Reyd voltou? Não voltou. Nevra não vai voltar! Se ele voltar eu meto ele na porrada! – Valkyon cerrou os punhos, muito revoltado. – Odeio gente traíra! Façam de tudo, me dê um golpe de espada, me arranque até as pernas, mas não tolero traição! – Se irritava mais ainda.

– Calma! – Disse Taiga. Mariana que era uma das novas membras se assustava com a fúria dele.

– Uau. – Murmurou. Arregalou seus olhos castanhos, que realçavam os fios louros amarelados de seus cabelos.

– O que foi, hein? E você, não vai com o Ezarel não? – Taiga disse muito irritada.

– Ai! Como você é grossa! – Saiu batendo os pés.

– Você não viu o pior! – Taiga ameaçava em avançar nela, mas ela passou a dar passos mais largos e rápidos.

– Mas quanta fúria – Disse Mariana muito pálida.

– E aí, Loura. Trouxe a planta que lhe pedi? – Perguntou Ezarel, sem paciência.

– Trouxe sim. – Disse. Ela tirou uma folha do seu bolso, de seu grande casaco azul ciano.

– Você não aprende mesmo! Quantas vezes eu tenho que lhe dizer! Volta lá e traga o que me pediu. – Ezarel se irritava com a jovem, que saia correndo de medo para executar novamente a sua tarefa. Saphyre aparecia, fazendo Ezarel se sentir bem.

– Saphyre. – Ezarel disse sorrindo perverso.

– Oi. – Respondeu seco.

– Tá tristinha? Parece que chorou. – Respondeu, passando a mão no rosto dela.

– Tá tudo bem. – Respondeu após suspirar. Era um tormento ter que trocar palavras com ele. – Eu preciso falar com você, eu posso? – Saphyre procurava o encarar de maneira mais séria.

– Você pode tudo... – Ezarel respondeu olhando para ela de cima a baixo. – Entre. – Ezarel deu passagem para ela entrar na sala de alquimia. – Olha, eu fico muito surpreso por você me procurar. Eu ainda não tive tempo de dizer, mas... Quando se sentir triste, eu posso... – Ezarel chegava por trás de Saphyre. – Fazer você esquecer o Nevra. – Saphyre virou-se para ele, com um pouco de medo.

– Você não tem jeito mesmo. – Respondeu seco.

– Você anda bem irritadinha. Te garanto que se você passar uma noite na minha cama e comigo, você vai esbanjar sorriso o dia inteiro. – Ezarel demonstrava ser mais descarado. Saphyre se arrependia de ter procurado por ele, ao menos procurá-lo sozinha.

– Eu preciso falar sobre Nevra. – Saphyre cortava aquele assunto. Ezarel sabia do que se tratava.

[...]

– Leiftan, estávamos te esperando. – Disse Miiko, mas ela e Kero perceberam o quanto ele estava diferente.

– Cadê a Saphyre? – Kero perguntou.

– Sei lá. – Leiftan se sentia muito incomodado.

– Nossa, da água para o vinho você está desse jeito. O que foi? – Kero se preocupava com seu amigo.

– Estou sem cabeça pra isso agora... Me desculpe. – Leiftan se sentava no sofá.

– Nossa, a conversa entre vocês foi tão ruim? – Kero acertava em cheio. Leiftan olhou para ele e Miiko.

– Vai ser difícil ela tirar o Nevra da cabeça dela. – Disse. Miiko logo entendia o que estava acontecendo

– Espera... – Disse Miiko, tentando processar as informações. – Você gosta mesmo da Saphyre, isso? – Perguntou surpresa, se aproximando ainda mais dele.

– Desde que ela veio até nós, sim. – Kero respondia por ele.

– Eu nunca falava isso pra ninguém... – Leiftan desabafou. – Eu no começo perdia o controle mais aos poucos eu conseguia esconder mais ainda o que eu sentia. – Completou um tanto chateado com a sua paixão.

– Meu deus do céu, Leiftan. Corra atrás! – Miiko encorajava-o.

– Corri... E o que eu escuto em troca? Entrelinhas ela diz que não vai esquecer aquele cara. – Leiftan respirava fundo, muito impaciente.

– Deixou ela em choque, ela não esperava que você a amava em segredo. – Disse Kero, tentando consolá-lo

– Ela sabia sim, eu posso sentir. – Leiftan retrucava.

– Mas o que aconteceu nos últimos meses é diferente. – Disse Miiko, tentando convencê-lo

– Por isso eu acho melhor ela pensar mais um pouco e desapegar ao Nevra. – Disse Kero, completando o que a Miiko disse.

– Eu sinto que ela está aos poucos se desapegando. – Disse Miiko, dando mais força ainda.

– Mas a Taiga viu ela chorar hoje por causa dele! Tá vendo? Como eu vou conseguir o meu espaço se ela não cede? Pra mim já deu. – Leiftan respondeu, deixando Miiko e Kero em silêncio.

– A gente não pode desistir do amor assim! Foi o que aconteceu comigo e com a Miiko. Demorou, mas eu não desisti dela. – Kero contava a sua experiência a favor do possível relacionamento entre ele e Saphyre.

– Pois é. A Saphyre vai cair em si de vez, e aí sim vocês vão dar abertura para este amor. Vai... Tenha força! Vocês estão perto demais, não vai desistir dela assim. Acho que o destino está a seu favor, por isto veio esta sina toda pra cima da Saphyre e de Nevra. Não é pra dar certo, e se desse certo até agora, algo poderia acontecer. – Disse Kero.

– Engraçado que vocês davam a maior força para Saphyre e Nevra... E falavam quase a mesma coisa. – Leiftan refutava.

– Nunca falamos disso. Ficamos felizes pelos dois, apenas isso. E só falamos bem do Nevra pra Saphyre não poder ter dúvidas. E não dissemos mentiras, só que fomos enganados. Tanto nós como ela. – Explicou Miiko. Leiftan ficava pensativo.

[...]

– Como pode? Como... – Saphyre ficava arrasada.

– Pois é... Ele... – Ezarel falava sério.

– Entreguei a minha vida, meu coração, minha alma, pra um cara como aquele? Eu não consigo entender. - Saphyre chorava. Ezarel se sentia atraído pela fraqueza dela.

– Você pode parar de chorar se eu... – Ezarel dizia ao se aproximar dela.

– Por que essas coisas acontecem comigo? – Saphyre tampouco ouvia o que Ezarel dizia, como se ele não existisse.

– Calma,Saphyre. Quer água com algum calmante? – Ele a amparava, tocando nos braços de Saphyre.

– Eu.. Eu.. – Saphyre saia correndo.

– Saphyre, espera. – Ezarel se preocupava, mas ela parecia ser inalcançável.

Leiftan se surpreendia ao vê-la descendo as escadas. Ela estava com a visão totalmente embaçada, mas conseguia com sucesso descer as escadas. Leiftan olhava para trás e passou a persegui-la.

– Saph! - Chamou-a, mas ela sequer ouviu.

Leiftan corria atrás de Saphyre, que abriu a porta de seu quarto com tudo, parando a corrida ao depositar através de suas mãos o peso de seu corpo na comoda. Ela via seu reflexo no espelho, sentia muita raiva de si por ter se deixado levar por aquele amor. Ela se preparava para dar um soco no espelho, mas Leiftan segura os braços da jovem no ato.

– Pare com isso! Você vai se machucar! - Leiftan virava Saphyre para si. Ela abraça-o, derrubando toda a sua fraqueza e sentimentos ruins.

– Você tinha razão. Quase todos tinham. Como eu pude pensar que ele teria algum jeito? – Disse enquanto Leiftan afagava-a, com a sua mão acariciando as costas enquanto a outra dava um leve cafuné.

– Esqueça tudo isso. Pense no que eu te falei. Você ainda não viveu um amor de verdade. - Disse, calculando o momento que poderia agir. Saphyre ergueu a sua cabeça para mirar os olhos verdes dele, que de certa forma dava calma.

– Apaga a minha memória. Altera todas as lembranças que eu tive com o Nevra. - Pedia, surpreendendo-o. Leiftan enxugava as lágrimas dela com as suas mãos. Balançou a cabeça negativamente

– Você não precisa disso. - Leiftan respondeu, dando a entender que daria um passo de vez. Era o fim daquele ciclo de sofrimento. Ele aproveitaria a chance naquele momento. Saphyre respirava ofegante, acalmando aos poucos. Aquela paixão acendia, como a primeira vez que o viu. Ele mirava atenciosamente para aqueles olhos azuis aos prantos.

– Por que não? - Questionou com uma voz fraca.

– Eu não posso fazer isso. É fácil demais, e eu poderia fazer isto há muito tempo se eu quisesse... Saphyre... - Leiftan disse, erguendo a cabeça dela mais ainda. Ele se aproximava aos poucos enquanto clamava pelo nome dela... Ele tentava dizer, mas ficou o completo silêncio. Pegou-a pela nuca, e depositou a sua outra não na cintura dela. Ela se entregava, com os lábios entreabertos, e seu olhar sorria, pois ele podia decifrar. Os narizes se friccionavam, delicadamente.

“Y no me has dado tiempo de disimularte

Que te quiero amar

Que por un beso puedo conquistar el cielo

Y dejar mi vida atrás” – Lu – Por besarte


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