Percy

Um dia voltarei a ver aqueles olhos.

É tudo que eu mais quero nesse momento. Ver aquele sorriso emoldurando seu rosto, ver seus longos cabelos loiros e contemplá-la até não poder mais.

Mas existe um “pequeno” problema: Não sei seu nome, sua idade e nem onde mora. Eu sei que estou parecendo um maníaco sexual, mas nunca me senti assim por nenhuma garota. Clichê pode até ser, mas não tenho medo de admitir. Bem, posso até ter medo de admitir isso em frente à algumas pessoas, mas falando comigo mesmo não vejo problema.

A viagem com meu digníssimo pai foi puro tédio. Uma semana em Londres indo atrás do meu pai por má vontade. Sua frase “Quero passar um tempo com você filho” foi em vão. Isso foi mais uma desculpa dele para trabalhar e não se sentir culpado.

Meu telefone toca e me tira dos meus pensamentos.

Olho o visor e vejo quem é: Luke.

– Fala garotão!

– O que você quer Luke?

– Calma! Só ia perguntar como foi sua viagem.

– Foi uma merda! Não foi exatamente uma viagem.

– Como assim, cara?

– Foi mais uma desculpa do meu pai. Só foi à Londres por negócios.

– Cara. Sinto muito!

– Não sinta. Mas, e aí? Algum novato?

– Uma loira muito linda! Ela é enigmática. Não fala com ninguém. Mas foi seu olhar que me encantou!

– Parece que tem alguém apaixonado!

– Não vou me apaixonar por ninguém idiota! Você sabe esse é meu lema!

– Não parece!

– Pare de rir idiota! Ela é um desafio, e você sabe como eu amo um desafio.

– Boa sorte garanhão!

– Valeu cara! Quando você vem?

– Amanhã estarei aí. Verei essa tal novata enigmática!

– Ela já é minha, procure outra! Tchau!

Então desligou o telefone na minha cara.

Luke não engana ninguém, sei que já se encantou pela garota e vai se decepcionar mais uma vez. A primeira foi Thalia, com quem passou um ano namorando, mas acabou sendo magoado por ela. Thalia sempre gostou de Luke, mas como um amigo. A segunda foi Alicia Jones, sempre a achei uma menina sem conteúdo, mas na visão de Luke ela era uma menina doce e meiga. Sendo decepcionado mais uma vez, criou o lema: “Se apaixonar por alguém é crime”.

Já me apaixonei muitas vezes, na verdade, não posso dizer que foi paixão verdadeira, está mais para amor platônico. A primeira “paixão” da minha vida foi uma garotinha loira. Na infância eu costumava sair para brincar em um parque em frente ao apartamento onde moro. Todo dia às 16h00min, uma menina loira saia do prédio à frente para também brincar no parquinho, não tive coragem de perguntar ao menos seu nome. Ficava observando-a de longe e ate hoje penso nela. Pode até parecer bobo, mas é um amor que considero puro e bonito.

(...)

Acordar cedo deveria ser crime. Não estou brincando, falo absolutamente sério. Pergunto-me como os velhos conseguem acordar cedo sem ficar irritados. Preciso de algumas aulas com eles. Mas por outro lado, estou ansioso em ir a escola. Irei ver a tal loira misteriosa.

São 6h50min da manhã e eu saio cambaleante da minha cama em direção ao banheiro. Fico um bom tempo embaixo do chuveiro, pensando e refletindo comigo mesmo. Tive um sonho particularmente estranho e belo. Chovia e o céu estava em um tom cinza bonito, me lembrava dos olhos dela. Quando sai do chuveiro eram 7h30min e percebi que me atrasaria então me troquei rapidamente e peguei uma maçã para ir comendo no caminho.

Já dentro do meu carro, coloquei para tocar uma música calma e lenta. Aproveitei para pensar mais e mais, pensando principalmente em olhos cinza. Merda! Acho que estou apaixonado e eu não sei quem ela é! O que eu faço?! Tudo nessa cidade me lembra-a, tudo é cinza em Nova Iorque.

Meu cérebro estava ligado no automático, pois não percebo que já tinha estacionado. Desço do carro ignorando os olhares das pessoas, estou perdido em meus pensamentos para se importar. Somente quero esquecer, mas eu não consigo e fico pensando até esbarrar com Luke.

– Terra chamando Percy! – brinca Luke.

– Hey! – digo enquanto lhe dou um abraço de amigo. – Cara que saudade dessa escola!

– Bem-vindo novamente! – saúda – Você, seu sortudo, está na minha sala! E para minha sorte a loira também está!

Sorrio.

– Parece que está apaixonado Luke Castellan! – irrito-o de brincadeira.

– Ah, qual é?! Você conhece meu lema! – reforça.

O sinal soa no corredor e um aglomerado de gente vai em direção as suas respectivas salas. Enquanto ando com Luke em direção a nossa sala, reconheço alguns rostos. Alicia e seu irmão Edward estão juntos conversando em um grupo de pessoas que eu não conheço. Leo Valdez tentando conquistar Reyna e Thalia encostada em seu armário revirando os olhos para Nico. Parece que os dois estão acertando algo. Sorrio com esse pensamento.

– Que sorrisinho é esse? – pergunta Luke.

– Nada!

Trato de responder rápido, pois sei que ainda tem sentimentos por sua antiga namorada. Ele ignora minha súbita resposta e segue andando. Até que ele para bruscamente. Seu olhar parece assustado, mas um sorrisinho bobo aparece em seus lábios.

– O que foi? – pergunto.

– Olha só para ela, tão linda! – suspira admirado.

Olho na mesma direção de Luke e vejo uma garota alta com cabelos loiros caindo em cachos sobre suas costas. O seu cabelo não é estranho, já o vi em algum lugar.

– Por que não vai até lá? – encorajo.

Luke pondera por um instante, mas decide ir. Como não quero segurar vela sigo até a sala que é um pouco antes de onde a loira misteriosa está.

Sento na ultima cadeira da fileira ao lado da porta e mais uma vez estou pensando. Pessoas e mais pessoas vão chegando e se acomodando. Até que alguém bate em minha cabeça.

– Ai – murmuro.

– Acorda peixe fora d’água! – murmura uma voz feminina e eu reconheço.

Thalia!

– Olha quem fala cara de pinheiro! – retruco.

Sua cara se fecha um pouco, mas eu sei que ela está sorrindo internamente.

– Não tem graça – finge irritamento.

– Tem sim! – insisto e ganho uma tapa. – Ai!

– Bem feito! – Thalia dá o seu melhor sorriso de vitória e vira-se para frente.

Percebo que Luke entra na sala com a loira. Os dois estão em uma conversa calorosa, mas ainda não vi o rosto da garota.

Percebo uma inquietação de Thalia na minha frente. É como se ela estivesse preocupada com algo.

– O que foi? – sussurro.

Ela vira e me fala.

– Não gosto dela com o Luke! – confessa – Ela é muito inocente.

Franzo a testa.

– Como assim? – pergunto sem entender.

– Você não sabe o que Luke é capaz de fazer. – se abraça como se aquilo doesse.

Luke fala algo para a menina na sua frente e segue em direção a mim. Então tenho uma surpresa que faz meu coração parar, a tal loira misteriosa se vira e encontra meus olhos. Cinzas como um céu nublado. Minha boca está aberta em um “o” perfeito.

– Não acredito!