Noah aparece cabisbaixo seguido por Maya.

— Nós vamos para a floresta agora! - Ele diz para Jana.

— Não sei se é uma boa ideia... Devíamos esperar o Gerwin. - Diz Maya.

— Não quero perder um minuto ao lado do meu pai.

Maya revira os olhos.

— Seu burro! Se formos a pé vamos demorar dois dias, mas de carro são só oito horas.

Só a Maya mesmo pra xingar seu irmão numa situação dessas. Noah parece pensar sobre o que ela diz.

— Tudo bem... Vamos aproveitar pra comprar remédios para os dois enquanto ele não chega.

— Tenho certeza que eles não vão aceitar. Nossos pais não ligaram de termos vindo para a cidade, mas com certeza não vão aceitar um tratamento humano.

— Você tem razão.

Matthew sai do banheiro e todos ficamos preocupados pensando se ele ouviu alguma coisa. Ele não parecia confuso nem estar escondendo algo.

— Vocês voltaram. Estava esperando pra desejar melhoras para os pais dos dois. - Diz Matthew para Maya e Noah. - E se um dia vocês voltarem para Stonebridge, vou ficar feliz se forem me visitar.

— Com certeza, cara. - Diz Noah.

Maya fica apenas olhando para o nada, aos poucos seus olhos começam a ficar marejados e ela chora. Matthew a abraça, mas nem isso abafa o som dos seus soluços.

— O que foi? - Ele pergunta.

— Eu estou com saudade dos meus pais, medo de perdê-los e raiva de mim por ficar tanto tempo longe deles. - Responde Maya entre soluços.

— Maya, olha pra mim! - Diz Noah firme, mas dava para perceber que ele se sentia desconfortável com a situação. Maya levanta a cabeça e olha seu irmão com os olhos vermelhos. - Sabe qual foi a última vez que você chorou? - Maya balança a cabeça. - Eu lembro muito bem. Você tinha seis anos e estava com seu primeiro dente mole e eu como um bom irmão mais velho tirei ele com tudo. Mas você chorou... Chorou... Só parou quando o nosso pai disse que você estava desperdiçando lágrimas e que quando você estivesse feliz não teria mais nenhuma.

Maya revira os olhos rindo.

— Só o nosso pai pra dizer algo tão bobo assim.

— Eu sei, se fosse a mãe ela teria te pegado no colo e feito você dormir rapidinho... Agora faz o favor e guarde suas lágrimas para os momentos felizes!

Maya esfrega os olhos várias vezes.

— Você é igualzinho ao nosso pai. - Diz Maya sorrindo.

— Preciso ir agora, antes que o pai da Zoe chegue. - Diz Matthew, ele segura Maya pelos ombros. - Tem certeza que vai ficar bem?

— Tenho. Quando Matthew está longe o bastante que não ouço mais seus passos, Noah abre os braços e diz:

— Não se preocupe você está em boas mãos.

— Não preciso do seu cuidado.

— Por que você abraça o Matthew e não seu irmãozinho?

— Menos Noah, bem menos.

— Então vai ser assim? Você vai me desprezar? - Maya apenas respira fundo e segue para os seu quarto. - Pessoal não se preocupem, ela está bem.

Não consigo deixar de sorrir. Viro-me para Maddy.

— Me faz um favor, é muito importante.

— Claro.

— Leva a Joy pra sua casa, não quero que meu pai a veja aqui. Depois eu digo que ganhei ela de você.

— E o quê eu falo para os meus pais?

— A verdade. Que é meu, mas os pais da Maya e do Noah estão doentes e que não posso levar um filhotinho de cachorro para o meio da floresta.

— Isso é meio louco.

— Eu sei, mas é preciso.

— Tudo bem.

Vou até o quarto de Maya procurá-la.

— Vai querer levar alguma coisa? - Pergunto.

— Tenho uma mala bem grande que cabe todas as roupas que você tem agora.

— Não, obrigada... Mas eu acho que um pouco de xampu não fará mal a ninguém.

— Papel higiênico é sempre bom. - Diz Jana encostada na porta.

— Obrigada. - Responde Maya. Ela sorri, mas seus olhos estão tristes.

— Às vezes eu queria ser humana. Olho espantada para Maya. Para alguém que não gostava nem de ter humanos perto, querer ser um, era um grande avanço.

— Não diga isso! - Fala Jana.

— Fala sério! Se morássemos na cidade, talvez só tivesse que me preocupar com meus pais doentes quando meus filhos já estivessem grandes. Meus pais não vão ver seus netos crescer! Pra falar a verdade só conheço a Elizabeth que viu o neto crescer, a maioria morre quando eles têm três ou dois anos... Quando Matthew me falou sobre a sua vó fiquei espantada por ela estar viva e ele me disse que isso era comum. Agora me responda: me diga um wolfblood que viu seu neto fazer 19 anos?

Jana fica em silêncio.

— Acho que vou fazer suco de maracujá...

— Não preciso me acalmar! - Esbraveja Maya.

Maya acabou de passar pelas duas primeiras etapas da perda no mesmo dia: a tristeza e a raiva.

***

Quando meu pai chega ele percebe que o clima não está nada bom.

— O que aconteceu? Vocês estão tão cabisbaixos. - Ele fala.

— Os pais da Maya e do Noah estão doentes. - Respondo.

— Os dois? - Meu pai pergunta. Ethan concorda. - Não acredito... Os dois eram tão fortes.

— Eles já tinham pegado uma pneumonia outra vez, mas agora Jana disse que ninguém sabe o que é. - Diz Ethan.

— Jana esteve aqui?

— Ela ainda está aqui. - Respondo.

— Vou falar com os dois irmãos, então.

Meu pai sai da sala e some andando pelo corredor.

— A Maya era bem ligada aos pais, né? - Pergunto.

— Sim. Ela e a mãe viviam juntas, eram inseparáveis. Mas por que a pergunta?

— É que a Maya esta tão abalada com essa história toda, enquanto o Noah parece não se preocupar tanto. - Ethan evita olhar nos meus olhos. - O que foi? - Nada... - Vai me fala.

— É uma coisa que a Maya me contou.

— Me conta por favor, eu quero ajudá-la.

— Tudo bem... Depois que a mãe da Maya sarou da pneumonia, ela disse que não sabia se aguentaria ficar doente outra vez. É por isso que ela está tão preocupada com tudo isso e o Noah não.

— Ele não sabe disso?

— Não.