Vamos sobre ao pé da linha de comboio pois somos todos péssimos em orientação. Caleb e Susan vão lá a atrás a arrastarem-se mutuamente, enquanto que eu e Tris vamos muito mais à frente, eu em cima dos carris tentando fazer equilibrismo.

Sei que estamos todos muito cansados de andar mas tentamos disfarçar ao máximo, afinal não podemos simplesmente dar-nos ao luxo de fazer uma única paragem ao ponto de estarmos sujeitos a ser apanhados pelos eruditos.

Ao fundo consigo ouvir o rugir do comboio e, passado pouco tempo avistar o seu brilho metálico.

– Ai vem ele – avisa Tris -Acho que devíamos saltar para dentro dele.

– Mesmo que seja conduzido por eruditos? - pergunta Caleb.

– Se os eruditos estivessem a conduzir o comboio, teriam ido nele até ao complexo dos cordiais para nos procurarem – aponto – Acho que vale a pena correr o risco. Poderemos esconder-nos na cidade. Aqui estamos só à espera de sermos encontrados.

Sei que se estivermos na cidade podíamos ter mais hipóteses de ser alimentados, vestidos e bem tratados se formos ter com os sem- fação, embora me recuse a ir ter com a minha mãe, não quero vê-la, não agora.

Saimos da linha do comboio. Caleb diz a Susan o que tem ela de fazer se quiser apanhar o comboio como deve de ser.

O primeiro vagão aproxima-se e Tris começa a correr a toda a velocidade para lá ela entra mas as perna ficam de fora, logo de seguida Caleb entra empurrando Susan e puxando Tris para dentro. Eu corro até a pega na porta do comboio e iço-me para dentro.

Olho para Tris mas ela ela olha para mim, olha para a frente dela com um olhar meio surpreendido meio assustado. Olho nessa direção e quase dou um salto de surpresa, o comboio está cheio de gente.

A gente da minha mãe.

Os sem-fação.

*

Durante um segundo todos sustemos a respiração e faz-se um silencio abismal dentro do comboio. Um rapaz sem-fação avança pelo meio dos seus companheiros, traz na mão um pistola e assim que chega perto de nós aponta-a para mim.

Todos os sem-fação estão armados, mesmo que as armas sejam simples paus com pregos espetados.

– Nunca vi cordiais com armas – diz uma sem-fação de faca empunhada.

– Eles não são Cordiais- diz o rapaz que tem a arma apontada para mim, quando fala reconheço-o, é Edward ,um iniciado reprovado por ter ficado sem um olho devido a um ataque noturno.- são intrépidos.

– Olá, Edward – diz Tris numa voz segura.

Ele olha para ela e responde mas não desvia a arma.

– Seja lá o que forem, têm de sair deste comboio se querem ficar vivos – diz a mulher da faca.

– Por favor – diz Susan , ela está quase a chorar o que me dá vontade de atirá-la do comboio fora – estamos a fugir… e os outros estão mortos e eu… - começa mesmo a chorar e eu tento conter-me.

– Estamos a fugir dos eruditos - “ sim, Caleb ótima ideia contar o nosso plano de fuga a pessoas que nos estão a APONTAR ARMAS” tento não lhe gritar isto, e ele continua – Se tivermos de sair, ser-lhes-à mais fácil encontrarem-nos. Por isso agradecíamos que nos deixassem viajar convosco para a cidade.

– Ah, sim? E alguma vez fizeram alguma coisa por nós?

Caleb fica sem fala (devia ser a primeira vez), por isso Tris fala:

– Eu ajudei-te quando mais ninguém o fez, lembras-te?

Eu não sei do que está ela a falar mas sinto uma estúpida pontada de ciumes.

– Tu, talvez… mas e os outros? Nem por isso.

Bolas, eles estão mesmo deperminados a mandar-nos fora do comboio, vou ter que recorrer aquilo a que não queria MESMO NADA recorer.

Dou um paço em frente de modo a mostrar confiança em mim próprio. E depois falo sabendo que logo que o disser me vou sentir arrependido.

– O meu nome é Tobias Eaton – digo – E não acho que queiras empurrar-me lá para fora.

Mal digo o meu nome toda a gente do vagão baixa as suas armas.

– Eaton? A sério? Tenho de confessar que não estava à espera desta. - diz Edward -

Muito bem, podem vir. Mas quando chegarmos à cidade têm de acompanhar-nos. Conheço uma pessoa que anda à tua procura, Tobias Eaton.

Era isto que eu receava.

*

Eu e Tris sentamo-nos os dois à porta do vagão com as pernas para fora.

– Sabes quem anda à tua procura? -pergunta-me

Aceno que sim com a cabeça.

– Quem é, então?

Respiro fundo e digo simplesmente:

– É difícil de explicar. Tenho de contar-te muitas coisas.

Ela encosta-se a mim eu eu passo o meu braço pelos seus ombros para a ter mais perto de mim, para poder sentir o seu calor.

–Pois também eu – sussurra ela