Voltávamos do cinema local quando ouvimos passos na nossa direção. Não passos de pessoas normais, passos do tipo monstro sanguinário. Saquei minha espada e vi que Nico e Annabeth sacaram suas adagas – a dela de bronze com o cabo em ouro e a dele de ferro estígio. Caminhamos em passos leves em direção ao som, Annabeth parecia extremamente concentrada em seu próprio mundo, como se estudasse cada movimento nosso e cada estatística de sobrevivência. Tirei minhas botas a fim de me locomover com mais facilidade e consequentemente lutar melhor, quando as coloquei no chão o barulho despertou totalmente a atenção da fera, que veio ao nosso encontro.

Daquela distância pude ver as presas afiadíssimas da empousa, ela se locomovia com extrema lentidão por causa de suas pernas simetricamente imperfeitas – uma de bode outra de bronze. Num movimento brusco Annabeth lançou-se contra o monstro com uma ferocidade impressionante. Perfurou profundamente a barriga da criatura que se limitou a rir com desdém ao ver o corte se cicatrizar em instantes.

–Como isso é possível? – murmurou Annabeth para si mesma.

Essa foi minha deixa, com um movimento nada elaborado me joguei nas costas do monstro o incapacitando de se mover. A empousa era rápida e ágil. Me jogou para longe em menos de um minutos.

Nico e Annabeth acertavam golpes na criatura, porém nada acontecia. Os ferimentos pareciam fortalecer a empousa.

–Vocês não podem me matar! Estou ligada a força vital da... – sua fala foi interrompida por uma espada enfiada até o cabo no estomago da empousa. A espada não era minha, nem do Nico, muito menos da Annabeth.

Era a espada do Bryan.

Os dois filhos de Hades se encaravam numa frieza mortal. Annabeth e eu trocamos olhares do tipo "O que está acontecendo com esses dois?", mas o momento não durou muito. Logo o monstro estava inteiro novamente.

Como se esperasse o momento, Nico bate o pé no chão e o local em volta da empousa se desintegrou, fazendo-a cair numa passagem só de ida para o meu tão conhecido Tártaro.

–Vocês me devem explicações. Agora – rosnou Bryan.

Fomos em silêncio até o "Segundo Sol" e nos sentamos num canto mais afastado da sala de jogos. Annabeth estava ao lado do Nico - e isso pareceu deixar o Bryan bastante incomodado. Um silêncio mortal se instalou, Nico e eu mantínhamos o olhar fixo no chão, porém Annabeth tinha uma expressão fria no rosto. Um arrepio percorria meu corpo toda vez que ela engrossava seu olhar. Aquilo assustava qualquer um.

–Então, vão me explicar o que estão fazendo aqui ou não?

Soltei involuntariamente e me voltei para Bryan.

–Annabeth e eu fugimos do acampamento.

–Como assim?! – gritaram Bryan e Nico juntos.

Annabeth soltou um baixo risinho e me lançou um olhar cumplice do tipo "isso mesmo amiga, deixe os dois se atrapalharem um pouco".

–Vamos ativar o plano B da missão e destruir Tifão de um jeito lento e doloroso – dei de ombros e relaxei na poltrona confortável.

–Vocês enlouqueceram de vez? Sozinhas? As duas? Querem morrer? – despejou Nico.

–Vou tentar responder tudo em ordem – iniciou Annabeth – Talvez, sim, sim, não – falou ela – Mais alguma pergunta boba?

Nico e Bryan fecharam a cara e bufaram em total indignação.

–Mas a pergunta é: O que você está fazendo fora da ilha da sua namoradinha? - indaguei.

–Vou tentar explicar do começo – falou ele – Vocês sabem que eu fui criado com o meu pai, não é? Então, eu tenho dois irmãos: Nico e Bianca. A gente vivia fazendo "serviços" para Hades e num desses serviços eu fui parar no Acampamento Meio-Sangue. Ouvia profecia e me alistei como membro. Isso vocês já sabem... A questão é, minha força vital esta ligada ao Mundo Inferior e eu não posso passar muito tempo aqui em cima. Se eu não ficasse aquele tempo isolado e fora do "mundo humano" eu seria consumido. Satisfeitas? – disse ele friamente e depois saiu em direção ao seu quarto.

Annabeth fez menção de se levantar, porém continuamos ali em silêncio. Quietos e imóveis. Longos minutos se passaram até que Nico se levantou e em seguida Annabeth se foi também. Como não tinha motivos para ficar ali sozinha eu fui em direção ao meu quarto.

Tomei um banho quente e arrumei rapidamente uma mochila de viagem com os suprimentos oferecidos pelo Segundo Sol. Tinha roupas, cantil de néctar, ambrósia e outras coisas de meio-sangue. Me deitei já de madrugada, porém não tive tempo de dormir. Annabeth já estava e pronta me esperava para que pudéssemos continuar a missão.

–Vamos – disse ela – é hora de partir.

Pegamos nossas coisas e mais uma vez fugimos de tudo.