Céu & Mar escrita por Luh Castellan


Capítulo 18
A Festa - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Me perdoem pela demora imensa! Agradeço por todos os comentários ♥
Boa leitura.
PS: Capítulo não revisado, então me avisem de qualquer erro.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/596795/chapter/18

Thalia

Eu estava deitada de costas na cama de baixo do meu beliche, encarando as grades de madeira da cama de cima. Desde o dia anterior eu não havia parado de pensar nas palavras de Nico e em como elas faziam sentido. Um lado de mim ainda era tomado pelo ciúme e indignação de ter sido traída, junto com a raiva de Percy. Mas o outro lado, este que crescia mais a cada minuto, estava arrependido por não ter ouvido suas explicações antes e com muito medo de nunca mais vê-lo, tendo em vista que sairemos daqui ainda em hostilidade.

As outras garotas andavam pelo quarto apressadamente, arrumando cabelos, calçando sapatos e provando roupas para o grande Luau de Encerramento. Eu sabia que muita coisa estava em jogo relacionado à essa festa, mas mesmo assim (e talvez por causa disso) eu estava sem um pingo de vontade de ir. Como se ignorar o problema fizesse com que ele desaparecesse.

Annabeth saiu do banheiro com uma toalha em volta do corpo, como um vestido, e outra nos cabelos. Juníper mal deixou a loira sair e já mergulhou no banheiro, com uma toalha, secador e kit de maquiagem, fechando a porta atrás de si. Ao me ver largada na cama Annie lançou-me um olhar de reprovação.

– Não acredito que ainda está desse jeito – Franziu o cenho, caminhando na minha direção.

– Eu não vou – Afirmei, esgotada. – Não estou com vontade.

– Quem disse? E todo aquele papo de aproveitar os momentos, curtir enquanto ainda temos tempo...?

Eu ainda não havia contado à ela sobre a conversa que eu tivera com Nico, no dia anterior.

– Se você quiser, amanhã pode voltar à sua bad, nuvem de desânimo e et cetera, mas não hoje, por favor! – Ela me pediu com aqueles gigantes olhos cinzentos, parecendo o gatinho do Shrek.

Soltei um suspiro.

– Tudo bem, eu vou.

Ela deu pulinhos e bateu palmas de animação.

– Ótimo! Agora levanta esse traseiro daí e trate de ir ficar linda – Annabeth começou a me puxar da cama. – E mostrar a Percy Jackson o que ele perdeu.

A menção daquele nome foi a injeção de ânimo que me faltava. Me levantei, relutante. Eu ainda tinha assuntos pendentes a tratar com aquele garoto.

Encarei melancolicamente a porta fechada do banheiro. Juníper não sairia dali tão cedo. Eu teria que me virar no banheiro comunitário para meninas, a poucos chalés de distância. Eba.

Peguei uma roupa qualquer e uma toalha, antes de ir encarar os chuveiros enferrujados e o chão escorregadio.

***

Deixei a água banhar meu corpo lentamente, lavando minhas preocupações. O banho não foi tão ruim quanto o esperado, visto que haviam cabines separadas para cada chuveiro e o banheiro em si estava desocupado. Quando terminei, enrolei-me na toalha e abri a porta da cabine. Tudo parecia exatamente como antes: A bancada de pedra com várias pias e um enorme espelho, as privadas e o comprido banco de alvenaria que ficava no centro do banheiro. Exceto por um detalhe: minhas roupas não estavam em lugar nenhum.

O desespero tomou conta de mim. Procurei no chão, sobre a pia e dentro de cada cabine, sem sucesso. Quando finalmente resolvi olhar nas privadas, tive uma surpresa. Lá estavam minha blusa preferida do Nirvana e meus shorts pretos, num bolo molhado e pegajoso, dentro de uma delas.

– O que diabos... – Comecei a murmurar para mim mesma, quando percebi um pedaço de papel dobrado no chão.

Visivelmente confusa, desdobrei o papel e vi o que estava escrito, numa caligrafia grotesca:

A vingança tarda mas nunca falha.

Achou que eu iria me esquecer de você e deixar toda aquela humilhação passar tão facilmente? Isso é uma pequena amostra do que acontece quando alguém tenta me fazer de trouxa, Grace.

La Rue.

Okay, agora eu estava mais confusa do que antes. Que motivos Clarisse teria para fazer tal coisa comigo? Repassei na minha mente todas as vezes que encontrei-a e se eu havia feito algo contra ela. Acabei me lembrando do episódio do pó de mico, que parecia ter ocorrido séculos atrás. Pelo visto, Clarisse era uma pessoa que guardava rancor. E eu tive o azar de ela ter escolhido justamente aquele momento para descontar sua vingancinha infantil.

Olhei uma última vez para as roupas arruinadas dentro da privada, antes de jogar o maldito bilhete lá dentro e dar as costas. Sentei-me no banco de pedra, tentando achar uma solução. Chorar e abraçar os joelhos em posição fetal não era uma opção.

Não havia como salvar as roupas, isso era um fato. Mas eu também não poderia simplesmente sair desfilando só de toalha pelo caminho até meu quarto. Suspirei e encarei os azulejos encardidos do chão, pensando que definitivamente o universo conspirava contra mim.

Não sei se foi presente dos deuses, mas justamente quando eu estava pensando em me arriscar e sair com meu modelito de toalha, uma garota entrou no banheiro puxando uma mala cor de rosa. Era Silena Beauregard.

– Não se pode mais trocar de roupa naquele chalé! – Ela resmungava para si mesma.

Soltei um suspiro de alívio. Ela finalmente pareceu notar a minha presença.

– Olá, Thalia – Cumprimentou, enquanto arrastava a mala para perto da bancada de espelhos. – O que faz aqui?

– Estava tomando banho e.... Enfim, é uma longa história. E você? O que faz aqui?

– Ora, o chalé onze está um inferno! Um mar de roupas, utensílios para maquiagem e uma nuvem de fumaça de secador tomaram conta do quarto – Balançou a cabeça em desaprovação. – Então vim me arrumar aqui. E, como sou um poço de indecisão, trouxe logo todo o meu guarda roupa.

A garota abriu a mala cor de rosa, revelando uma grande variedade em vestuário e maquiagem. Fechei os olhos e agradeci silenciosamente. Eu estava salva.

– Então, Silena... Preciso de um favorzinho seu – Comecei, um pouco envergonhada.

Depois que expliquei-lhe toda a situação, ela topou me ajudar, com bastante entusiasmo, até. Logo, eu estava de pé, somente de roupa de baixo, com fileiras de blusas, shorts e vestidos à minha frente.

Torci o nariz para um vestido pink colado, cheio de babados e dispensei um macacão florido que ia até a altura dos meus joelhos. Segundo Silena, a ocasião pedia looks mais leves, com rendas, estampas florais e cores claras, exatamente tudo o que eu não gostava.

Depois de muito provar e rejeitar roupas coloridas, acabei vestindo um short preto de cintura alta, e uma t-shirt cropped cinza, com o símbolo do reggae. A blusa deixou uma faixa de pele da minha barriga à mostra, o que detestei, mas era a minha melhor opção. Já a outra garota escolheu um vestido longo, branco com estampa de flores tropicais, que lhe caiu bem.

Relutante, deixei-a fazer minha maquiagem e cabelo. No final, me surpreendi com o que vi no espelho. Seja lá o que ela fez no meu rosto, fez sumir todas as marcas e imperfeições, além de realçar meus olhos azuis elétricos e turbinar meus lábios num batom vermelho-sangue. Meus fios negros estavam soltos num ondulado despojado, com uma pequena trança que formava-se na lateral da minha cabeça para depois perder-se entre as mechas.

Silena riu da minha expressão maravilhada.

– E aí? Gostou?

Ela estava um pouco diferente, com os cabelos castanhos trançados folgadamente com delicadas flores.

– Se eu gostei?! Eu adorei! Você fez um milagre em mim – Respondi, ainda admirando o reflexo.

Peguei emprestado uma sandália gladiador dela e arrumamos toda a bagunça, antes de deixarmos o banheiro. Agradeci muitas e muitas vezes, mas mesmo assim eu sentia que ainda não era o suficiente. Silena apenas sorriu e afirmou que foi um prazer.

Conforme eu vencia a distância até a praia, onde aconteceria o luau, o pânico começou a instaurar-se dentro de mim. A simples ideia de ter que confrontar Percy e olhar dentro daqueles seus imensos olhos verdes fazia minhas pernas tremerem. Talvez ele nem fosse à festa, pensei, tentando enganar a mim mesma.

Os organizadores do acampamento não deixaram a desejar no quesito decoração. Na praia haviam mesas recheadas de doces, frutas lindamente organizadas, coquetéis e drinks com canudos de guarda sol, entre outras guloseimas. Cadeiras de madeira, espreguiçadeiras e esteiras de palha com almofadas também se faziam presentes, como espaços para pessoas sentarem e conversarem. No centro de tudo erguia-se um grande deque de madeira, que supus ser a pista de dança, adornado com flores. Tochas no estilo havaiano iluminavam o ambiente em volta do deque e em toda a área da praia. Além disso, uma grande fogueira tinha seu espaço, rodeada de troncos, puffs e mais almofadas.

Algumas pessoas já ocupavam o ambiente, sentadas em grupos ou dançando ao som de uma música eletrônica qualquer. Silena tinha razão. Vestidos e saias longas, rendas e estampas era o que predominava nas roupas das garotas. Mas, principalmente, flores. Por. Toda. Parte. Nas roupas, nos cabelos e na decoração. Pintadas, desenhadas, de plástico e de verdade.

Avistei Annabeth num grupo mais afastado, sentada em almofadas perto da fogueira. Ela também me viu e acenou para que eu me juntasse a eles. Naquela parte, a música das caixas de som não era tão alta, o que Lee Fletcher aproveitou para preencher o ambiente com o som de seu violão.

Minha prima analisou-me e fez um gesto de aprovação. Ela estava linda com sua blusa sem mangas jeans desbotado, sob uma saia de estampa tie dye. Seus longos cachos loiros estavam soltos, presos somente por uma flor atrás da sua orelha. Ótimo, mais flores.

Juntei-me a eles. Annie estendeu-me um copo com um canudo de guarda-chuva.

– Quer?

Minha garganta estava seca. Acabei aceitando. Tinha um gosto cítrico, talvez um coquetel de laranja. Consegui notar o sabor do álcool, sutil, mas marcante.

– Pensei que bebidas alcoólicas fossem proibidas - Observei. – Não sabia que eles serviam nos coquetéis.

Ela deu de ombros e piscou.

– Os campistas dão seu jeito.

Com o tempo, a praia foi enchendo-se de pessoas. Rostos amigos, conhecidos e até desconhecidos, mas nada de Percy Jackson.

Eu deveria estar com aparência bem mal-humorada, pois a loirinha franziu o cenho para mim e disse:

– Desfaz essa cara de enterro. Você está linda e a festa está incrível! Não vai ficar assim só porque “certas pessoas” não estão aqui.

Bufei.

– Não estou assim por causa dele – Menti. – E essa cara é a única que eu tenho.

– Aham... – Ela não acreditou nem um pouco. – Vamos agitar isso. Venha.

Ela me arrastou para a pista de dança. Estava tocando Animals, do Maroon 5. De início, eu estava meio parada, mas aos poucos fui deixando a música, o álcool e o clima me contagiarem. As músicas foram mudando e minha agitação aumentando. Dancei com Annabeth, numa rodinha entre amigos e até com desconhecidos.

Quando dei por mim, estava numa espécie de “dança sexy” com um cara de traços asiáticos que eu só conhecia de vista. Ele era elegantemente magro e alto, possuía cabelos pretos brilhantes que ficavam caindo-lhes sobre o olho esquerdo. Seu nome era Nakamura, ou algo assim. Só lembro-me que o rapaz movia-se com destreza, ritmo e sensualidade. Tentei acompanha-lo como podia.

Em certo momento, a música deu uma pausa. Eu podia sentir sua respiração quente causando arrepios no meu pescoço. Ele colocou uma das mãos na minha nuca e eu me deixei levar. Ele era bonito, afinal. Eu estava solteira. Não havia mal nenhum nisso.

Foi então que o vi. De camisa xadrez e bermudas. Lindo. De. Morrer. E ainda por cima, olhando fixamente para mim.

Me vi esquivando-me do beijo de Nakamura. É só um beijo, repeti na minha mente, mas meu corpo não obedeceu. Os apertados olhos escuros do rapaz me encararam de forma confusa, mas minha cabeça estava em outros olhos, conhecidos olhos verde-mar, mais especificamente.

Murmurei uma desculpa qualquer para o asiático e escapei. Eu precisava dar o fora dali, para longe daquela gente, das flores e de Percy Jackson. Uma estranha sensação semelhante a claustrofobia (tch, eu estava em um local aberto) tomou conta de mim. Meu coração acelerou e eu respirava loucamente em busca de ar. Meus olhos vaguearam em volta desesperadamente, em busca de um refúgio e fixaram-se na floresta.

Segui até lá. Cruzei o local em que a areia da praia encontrava-se com o solo escuro do bosque. Fui adentrando na floresta, sentindo o ar puro invadir minhas narinas e me afastando do barulho da praia. Por entre os galhos das árvores, observei a lua, majestosamente cheia.

Eu não fazia ideia de onde eu estava ou do quão longe eu me encontrava em relação à praia. Fechei os olhos e senti o cheiro do mato. A sinfonia noturna de grilos invadiu meus ouvidos, bem mais relaxante que a música da festa. Por trás de tudo isso, ouvi o som de passos.

Retesei-me no lugar. O medo veio, sorrateiro, apoderando-se de mim. Prendi a respiração para ouvir com mais atenção. Nada. Eu deveria estar imaginando coisas. A floresta é cheia de animais. Poderia ser um esquilo, ou...

— Ora, ora, o que temos aqui?

Alguém saiu detrás das folhagens, bem na minha frente. Luke Castellan. Annabeth havia comentado que esperava encontrar-se com ele na festa, para conversarem, ou algo assim. Mas eu nunca poderia imaginar o que ele estaria fazendo ali.

– Nunca lhe avisaram que é perigoso perambular pela floresta à noite, Grace? - Aquela voz cínica espalhou-se pelo bosque. À luz do luar, seus cabelos loiros ficavam prateados e seus olhos azuis faiscavam para mim.

Tentei recuar, mas um grande carvalho e intrincadas videiras bloqueavam a passagem. Eu estava encurralada. Ele se aproximou rapidamente e me empurrou contra a árvore. Minha cabeça bateu com força no tronco e uma dor lancinante abalou meu crânio. Suas mãos fortes se fecharam ao redor dos meus pulsos, me deixando sem saída. Tentei me esquivar, mas o loiro era muito forte. Meus pulsos ardiam com a dor, mas ele não afrouxou o aperto.

– Me solte! - Rangi, entre dentes. A proximidade em que estávamos me deixava enojada.

– Vamos lá, Grace! Quantas garotas nesse acampamento não gostariam de estar em seu lugar agora? - Ele sorriu de canto, debochadamente. Ele falava calmamente, como uma cobra rodeando sua presa antes do bote final. Aproximou seu rosto do meu. - Eu e você, sozinhos nessa floresta... Vamos curtir o momento.

– Seu monstro! Annabeth confiou em você... Como você pode fazer isso com ela? - Cuspia as palavras para ele, tão grande era meu nojo e indignação. Meus pulsos ardiam como braseiros. Suor frio escorria da minha nuca.

– Você não percebe? Eu não quero ela, nunca quis. Eu só quero você, e você vai ser minha, custe o que custar! - Consegui notar várias coisas em sua voz: além do cinismo e desejo, lá no fundo havia dor. - Você merece um homem de verdade, não aquele viadinho de olhos verdes.

O sangue subiu à minha cabeça. Forcei meus pulmões e tentei gritar, mas uma de suas mãos cobriu minha boca.

– Não adianta gritar, Grace. Estamos muito longe do acampamento para alguém te escutar. E mesmo que escutassem, esta situação é meio conveniente, não acha? O que você estaria fazendo sozinha, na floresta, a essa hora da noite? Ninguém acreditaria nas suas desculpas.

Aproveitei a oportunidade e esmurrei o peito dele, porém ele era muito mais forte que eu, e agarrou novamente meu pulso. Os socos não fizeram nem cócegas no garoto.

– Eu não quero você! - Tentei parecer firme, mas minha voz tremia. Não consegui mais segurar as lágrimas, que rolavam descontroladas pela minha bochecha.

Ele tentou me beijar, mas trinquei os dentes e permaneci com a boca fechada. Seus lábios asquerosos tocaram minha pele. Empurrou seu corpo contra o meu, nos aproximando ainda mais, se é que isso é possível.

– Oh sim, você quer - Começou a beijar meu pescoço. Uma de suas mãos soltou meu pulso e deslizou para baixo da minha blusa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Finalmeeeenteee a cena do prólogo! E aí? O que acham que vai acontecer? A Thalia vai se salvar ?
Beijooo e até o próximo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Céu & Mar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.