Evil Ways escrita por Moonlight


Capítulo 31
Dois dos Sortudos


Notas iniciais do capítulo

PARABÉNS! UHU! HOJE É O SEU DIA, QUE DIA MAIS FELIZZZ

To aqui correndo tentando postar antes da meia noite. São 23h30 ainda para mim nesse exato momento. Hoje, 21/02, Evil Ways faz um ano de fic. É uma honra todos que já comentaram, todos que não comentaram e todos que recomendaram. Um ano de enrolação até esse momento (sim, significa que chegamos no APOGEU). Eu até ia adiar, MAS não pude. É pra vocês. Eu sei que é chato cobrar as vezes, (inclusive nas que fico decepcionada), mas é só coisa de autora insegura.

Está aqui, o futuro capítulo favorito de vocês.

UM ANO DE EVIL WAYSSSSSS



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/596503/chapter/31

 

— 63 de cintura amiga. Não mudou nadinha.

A fita métrica branca foi cuidadosamente guardada no bolso na calça jeans clara de Cinna, enquanto Effie colocava um roupão para cobrir seu corpo seminu, apenas protegido por um lingerie da Victoria Secrets. Ela amarrou num nó a faixa do roupão na cintura e seguiu Cinna até a sua mesinha de café da manhã. Aquela mesa, pequena e de vidro, dava um clima "casa e conforto" ao ateliê de Cinna. Geralmente, ele oferecia guloseimas as suas clientes enquanto fofocavam e planejavam os vestidos. E quando estava sozinho, era ali que desenhava toda uma coleção, estação por estação.

Effie sentou-se a mesinha de vidro, cruzou as pernas e serviu-se de um mini pão de queijo brasileiro.

— Você já decidiu o que vai fazer de mim? — Ela perguntou, engolindo a comida com auxilio de um gole de café com leite.

— Como já dizia Hollywood, azul é a cor mais quente, mana. — Cinna falou. — Acho que devemos explorar a cor, aproveitar sua pele e trabalhar nisso. Quando será a cerimônia?

— Daqui a dois meses. — Trinket respondeu, sem agregar muita importância.

A cerimônia do qual se referiam era a premiação de melhores empresários, microempresários e empreendedores de Nova York. Todos os anos, as melhores empresas eram indicadas, E Effie tinha nas estantes de casa ao menos cinco dos prêmios de “Melhor Empresária do Ano”. Naquele ano de 2015, ela não esperava muito ganhar algo – já que os resultados de sua empresa em 2014 não foram o esperado – mas estava contente em ser novamente cogitada.

— Quem irá com você na premiação esse ano? — Cinna perguntou.

— Você. — Effie respondeu, olhando-o. Depois de não ver expressão alguma despontar do rosto de Cinna, tornou a falar. — Não?! Você tem ido comigo desde que eu e aquele-lá terminarmos.

— Nossa, que mágoa pra falar de Plutarch! — Cinna apontou em tom irônico. — Eu achei que você já tinha superado ele com o seu novo melhor amigo. — Alfinetou.

Desde o almoço com Haymitch, Effie vem tendo debates internos. E como a maioria deles são um pouco paranoicos, ela só confia a Cinna desvendá-los. Mas aparentemente não foi a melhor ideia contar todos os detalhes a ele, incluindo os pensamentos sórdidos, de modo que toda vez que o nome de Haymitch é mencionado sem a presença de Peeta, um sorriso malicioso e as mais pérvias acusações são feitas por Cinna. Effie, meio sem graça, só se limita a dizer que agora eles se resolveram em questão as desavenças e estão somente em harmonia. Numa das vezes de desespero frente às acusações, Effie usou a palavra "amigo" para se referir ao pai de seu filho. Cinna claro, não deixaria o deslize passar em branco.

— Eu nem ao menos sei de quem você está falando. — Ela falou em tom inocente, colocando mais leite e café numa xícara branca.

— Dissimulada mesmo né, Effie? — Cinna segurou a gargalhada. — Quer que eu cite o nome do amado?

Effie revirou os olhos.

— Cinna, se não for me ajudar na minha vida, então não atrapalhe, por favor.

— Mas eu quero ajudar! —Cinna sorriu histérico. — Fala, qual foi a última vez que vocês dois conversaram?

— Foi no almoço de duas semanas atrás. — Effie colocou um pedaço de pão na boca e falou, ainda mastigando. — No restaurante francês.

— Sério Effizinha? — Cinna arregalou os olhos. — Porque não conversam mais?

— Nós somos como um casal divorciado. — Effie explicou. — Temos só a Peeta como ponte. E uma vez que ele está bem – inclusive quase namorando – e nós não nos odiamos mais, não temos muitos motivos para conversar.

— Cria um assunto. Inventa qualquer coisa, mulher! Diz que tem que conversar sobre a doença de pele do Peeta. Ou fala que ele esqueceu alguma coisa no restaurante. — Cinna sugeria com um pouco de bom humor. — Porque não liga pra ele com essa sua voz sexy e fala "Então, você já decidiu o que vai fazer de mim?”.

— Primeiro de tudo, Peeta não tem doença de pele. É uma mancha de nascença do lado Texano da família dele. — Ela informou. — Segundo: as coisas não funcionam assim, Cinna.

— Como não? Sempre funcionou pra você, Effie. Você nunca mediu esforços quando queria sexo e nunca sentiu problema em assumir atração por alguém. Você só ia lá e dava seu jeito até conseguir o boy.

— Mas agora é diferente. — Effie declarou, dando ponto final a história. Mas o olhar que Cinna lançou a ela era um daqueles que ele só lançava quando queria que ela desse uma explicação, ou chegasse a uma conclusão por si própria. Era quase como revirar os olhos, mas ainda mantendo-se olhando para ela. — Ele é o pai do Peeta! — Effie anunciou como se anunciasse o oitavo pecado capital.

— E? — Cinna despreza. — Effie meu amor, você e o Haymitch nem nunca se tocaram! Você dormiu com Plutarch no mesmo dia que o conheceu e só tomou duas semanas para se apaixonar loucamente por ele, enquanto hoje você desperdiça duas semanas simplesmente desprezando a existência de Haymitch. Ele é um homem jeitoso, Effie!

Cinna tinha total razão, embora Effie não quisesse admitir. Quando era mais nova, sempre tomava a frente dos seus relacionamentos, desde quando descobriu como conseguir um. De alguma forma, suas paixonites sempre eram correspondidas. Effie adorava estar no topo dos seus relacionamentos – em todos os sentidos – e as vezes sentia aquele fraco gostoso quando achava alguém que a dominasse e tomasse a frente de vez em quando. Plutarch fazia isso. Ditava, sem ser abusivo. Abria espaço, até demais às vezes. Perdeu o encanto. Num todo, Effie achou que Plutarch a ensinaria algo que ela ainda não sabia: Como amar no mesmo nível. Nunca a mais ou a menos. Como andar os mesmos passos ao mesmo tempo sem acelerar o outro ou correr para alcançá-lo e Effie aprendeu que amor era imperfeito demais para ser testado por tantas vezes.

— Meu relacionamento com o Plutarch foi muito rápido e nem um pouco programado, você sabe disso. Ele não era ele de verdade comigo, e eu nunca era totalmente verdadeira com ele — Ela falou, tentando controlando o mau humor. — Talvez seja por isso que Plutarch e eu demos tão errado, não vê?

— Errado? — Cinna perguntou num tom acusador e paciente. — Vocês ficaram juntos por cinco anos. Eu não sei que tipo de relacionamento dá errado durante cinco anos. Vocês terminaram, claro, mas é porque todo relacionamento tem seu fim. Agora, no teu caso, a questão é: o que tem de tão errado em querer Haymitch?

O que tem de tão errado em querer Haymitch? Ele era o pai do seu filho, embora tecnicamente isso não seja errado – muito pelo contrário. Ele foi bem babaca no primeiro encontro dos dois, mas consertou muito bem na formatura. E no almoço, parecia ser até legal. O que havia de tão errado em querê-lo?

— O que tem de errado? — Ela repetiu a pergunta acrescentando um tom revoltado. — Eu, Haymitch e Peeta não somos uma família. Temos o relacionamento mais estranho do mundo. Quem te garante que Haymitch me quer? E se sim, o que faríamos se trepassemos  e nos odiássemos novamente? Se todo relacionamento termina – como você mesmo disse — porque começar um com quem vou ter que ver pelo resto da minha vida?

— Porque é para isso que relacionamentos servem – sempre superar o último que foi deixado. Peeta e Katniss também terão que se ver o resto da vida, mas não pensam nisso. Pensam em fazer dar certo pelo resto da vida.

— Peeta e Katniss são jovens. — Effie cuspiu as palavras. — Jovens são burros.

— Effie meu amor, se por acaso você e HayHay der errado, supera! — Cinna disparou, já irritado. — Como dois bons adultos superam e bola pra frente.

— Assim como você e seu ex-marido se superaram um ao outro? — Effie lançou a frase no auge e fim de sua irritação. Ela abaixou a cabeça, olhando para suas mãos, e se preparou para fechar os ouvidos a resposta de Cinna. Mas essa demorou a vir.

E quando veio, chegou numa calmaria disfarçada.

Isso... — Cinna apontou o dedo indicador para Effie, simbolizando o que ela acabara de dizer. — Isso magoou de verdade. Eu só quis te ajudar, Effie.

Mais silêncio se acumulou no ateliê. A história de Cinna casado durou dois meses apenas. Era ano de 1997, e Cinna era apaixonado pelo marido, o modelo Danny, quando foi traído por ele com um cara mais novo, modelo da marca concorrente. Foram duas adagas apunhalando no mesmo lugar.

— Cinna, eu... — Effie começou.

— Tudo bem, Effie. — Cinna cortou, seco. — Eu vou pegar o tecido azul pra você ver seu vestido. — E foi assim que ele levantou-se e saiu do ateliê.

Effie ficou lá, sentada com o café com leite já frio na mão e uma cara contrariada. Ela não tinha intenção de deixar Cinna magoado, mas todo aquele papo de que relacionamentos terminam e servem para superar outros relacionamentos havia deixado-a emburrada. E triste também. Por um momento ou dois, achou que ninguém nunca iria aparecer para superar Plutarch. Por outro lado, outra frase assombrava sua cabeça: O que tem de tão errado em querer Haymitch?

Era isso. Acabou. Effie estava cansada de se desgraçar. Queria a Effie independente e segura de volta.

Ela se levantou e foi até o sofá de couro próximo a janela, onde pegou seu telefone dentro da bolsa dourada. Com os dedos ágeis, abriu a agenda do celular e foi até a letra H. Haymitch. Agora, era só apertar ligar. Só ligar. O que tem de tão errado, afinal?

— Alô? Haymitch? — Effie sorriu nervosa, agradecendo por não ser uma chamada por videoconferência. — É Effie. Sim, estou bem. Escuta, eu queria te perguntar: Qual é seu lugar favorito em Nova York?

***

— E aqui está o Rodeo West — Haymitch falou, apontando para o local, antes de abrir a porta para Effie entrar primeiro. Depois se surpreendeu com o primeiro gesto de gentileza e velho cavalheirismo feito há meses.

Era tarde quando recebera a ligação de Effie. Ele estava na transição de uma aula para a outra, e depois de combinar sair com Effie novamente, deixou a turma do 3° ano D livre por uma aula todinha. Ele estava realmente contente.

— No dia que conheci Peeta, eu o trouxe aqui e acabei arrumando confusão, mas suponho que ele se lembre desse lugar. — Haymitch comentou. —Também já trouxe Katniss aqui, e considerando o quanto ela bebeu, talvez não se lembre muito bem daqui.

O Rodeo West era um bar country no meio da cidade. Sua fachada tinha uma decoração que lembrava arenas de rodeio, um enorme letreiro em neon que anunciava seu nome e as clássicas portas de madeira do velho oeste. Por dentro, mesas de madeira pequenas, piso preto e branco e chapéus de cowboy, armas falsas, diversas fivelas nas paredes, berrantes e discos de country faziam parte da decoração.

— Então seu lugar favorito em Nova York é um bar country? — Effie olhava curiosa. — Eu não estou nem um pouco surpresa.

— Olha, o seu lugar favorito na cidade é um restaurante francês. — Haymitch apontou ácido. — Isso é que não é nem um pouco surpreendente.

— Sério? Então me deixa adivinhar coisas sobre você: Você toca violão? — Effie perguntou, divertida.

— Não muito. — Haymitch confessou, guiando-a até a uma mesa de dois lugares próximo ao balcão. Era a primeira vez que ele se sentava em uma mesa no Rodeo West.

— Tudo bem, você pode até não tocar violão, mas sabem cinco acordes essenciais pra tocar todas as músicas do Bob Dylan. — Effie concluiu, vitoriosa antes mesmo de ter a confirmação. Haymitch riu, sem negar a informação, dando a Effie um ar mais satisfatório ainda. — Oh, Haymitch! Você não é nem um pouco surpreendente. Você é o Jeff Brigdes em Coração Louco*.

— Uma ofensa seguida de um elogio? Estou grato. — Haymitch admitiu. — Geralmente Johanna e Katniss não fazem elogios.

— Elas devem ter razão, elas moram com você.

— Viu? — Haymitch apontou, rindo de escárnio. — Aí está. Sem elogios.

Haymitch levantou-se da mesa para ir até o balcão pedir algumas bebidas para começar o esquenta da noite. Tinha uma dessas bandas modernas que misturavam Folk, mas tinham roupas de lenhador rockstar e barbas enormes ruivas no palco naquele dia. Ele voltou a mesa com uma porção de limões com sal e uma garrafa de tequila.

— Tequila? — Effie perguntou. — A influência mexicana nos Texanos... Nada surpreendente. Clássico. — Effie ainda zombava, divertindo-se muito provocando-o. 

— Certo, eu sou um clássico americano. — Haymitch sentou-se a mesa, pousando a garrafa no centro. — 42 anos, desprovido de dinheiro, solteirão. Sou um clássico... — Haymitch deu uma pausa na frase para fazer força em abrir a garrafa. — Texano. Mas você é um clássico americano também.

Haymitch despejou o líquido nos dois copos que trouxe e colocou um deles frente a Effie, antes de encará-la e tornar a falar.

— Solteira, rica, sempre jovem, milionária. — Observou. — Você realizou o sonho americano. Todas as garotas de 22 anos por aí querem atualmente ser você.

— Quando eu tinha 22 anos eu só queria ser como toda mulher de 44. — Ela falou sincera. — Uma casa com um filho e tudo correndo bem. Sem nada a mais ou a menos. — As mãos de Effie, pintadas num esmalte exageradamente Pink agarrou um dos limões. Em poucos segundos, Effie havia chupado a fruta coberta de sal e virado sua primeira dose de tequila, como uma velha conhecedora da arte.

Talvez Haymitch tenha se apaixonado ali.

— O que você queria ser com 22 anos? — Ela perguntou, enchendo o próprio copo outra vez.

— Eu acho... — Haymitch pensava. Ainda olhava um pouco pras unhas enormes e estranhas, para a mulher que pronunciava francês fluentemente em um restaurante e que acabara de se tornar uma versão rica de Rita, a garota da camiseta molhada de 1995. — Eu acho que com 22 anos eu queria ser o que Peeta é agora com 22. Ou 23 anos, no caso dele. Vida nas linhas, responsável, bem sucedido.  Com uma namorada legal.

— Katniss é maravilhosa. — Effie comentou, sorrindo. — Eu a adorei. Johanna vai levá-la na minha empresa para uma entrevista, preciso de novos advogados. E bem... Peeta está louco por ela.

Haymitch concordou. Contou a ela a vez que teve de afastar a sustos um rapaz da faculdade de Katniss que se tornara obcecado por ela, um tal de Shane. Effie contou a ele a história da Sabrina, a garota que deixava um banner por dia na portaria do prédio deles, e que acreditou totalmente quando Effie se apresentou como “esposa grávida de Peeta” para expulsá-la.

— Incesto outra vez! Nós sempre voltamos nesse assunto. — Haymitch gargalhou, enchendo o seu copo e o de Effie pela quarta vez.

A partir daí, eles jogaram conversa fora. Muita.

 Effie contou a Haymitch um pouco mais sobre sua família curta, especialmente em como seus pais a ajudaram a criar Peeta. Contou que nunca teve uma babá, porque Abraham Mellark trabalhava para que a esposa pudesse criar seus filhos, e em como sua mãe, Fúlvia, sofreu abortos duas vezes antes de desistir de ter outros bebês. Effie era, de fato, um milagre da natureza. Graças a Deus, pensou Haymitch.

A banda de lenhadores roqueiros com barbas laranja começou minutos depois. Effie levantou-se e ofereceu pagar a segunda garrafa de tequila da noite em menos de uma hora da compra da primeira. Haymitch explicou um pouco sobre seu sistema de aulas de sociologia, e eles tiveram uma conversa muito inteligente sobre Capitalismo e negócios. Embora um pouco mais bêbado que o comum, Haymitch lembra-se do momento mais brilhante da noite e que, depois de algum tempo, poderia ser considerado o momento mais brilhante da sua vida.

Foi depois de ir ao banheiro. Ele terminava de secar as mãos nas calças – um gesto surpreendente de higiene num bar. O que uma mulher não faz...  – e se dirigia a mesa quando tropeçou nos próprios pés e forçou-se a parar. Então ele encontrou Effie.

Seus olhos estavam fechados, e ela mexia a cabeça para os lados, suavemente e lentamente, cotovelos na mesa. Os lábios se mexiam, formando a frase “Vemos o que nos tornamos: dois dos sortudos*” que saia da música calma da banda. Haymitch tinha encontrado Effie. Como se a procurasse, ou ao menos a esperasse pela vida toda. Ele a encontrou. Finalmente. 

Talvez Haymitch tenha se apaixonado ali.

Ele esperou a música terminar e Effie abrir os olhos para nunca quebrar a bolha de calmaria que ela  tinha criado para si mesma. Foi necessário mais uma garrafa e meia de tequila para Effie pedir arrego, e Haymitch se ver obrigado a pagar a conta e ir embora. Ela ainda conseguia andar, o que era surpreendente para si mesma depois de beber tanto.

— A banda era legal. — Ela sussurrou depois de sair do bar, caminhando ao lado de Haymitch pelas ruas a procura de um ponto de táxi próximo.

Não estava frio. Alguns ventos sopravam, inofensivamente, naquela noite. Effie segurava o par de saltos pretos nas mãos, e Haymitch decidiu que seria melhor segurá-la pela cintura para evitar que ela caísse. Ela, por sua vez, passou o braço pelo ombro dele.

— Effie. — Chamou Haymitch, ainda andando. 

Effie forçou-se a manter os olhos abertos. Não estava em total estado de embriaguez – não. Ela já passou por aquilo antes. Sim, sua forma de andar estava alterada, mas ela já tinha bebido duas garrafas de água de 200 ml e estava se recuperando aos poucos. Se Roger Moore* passasse por ali, ela o reconheceria imediatamente. Se alguém lhe perguntasse todos os detalhes daquela noite, ela certaria perderia os insignificantes, mas se lembraria das conversas, da disputa de tiro ao alvo com os dardos e de Haymitch cantando “Live and Let Die” com perfeição.

— Sim? — Ela respondeu.

Haymitch estava no exato mesmo estado de Effie. Tinha tomado alguns goles das garrafas de água dela, mas estava acostumado com bebidas piores que tequilas para ser nocauteado daquela forma. Ele não estava sóbrio – não, mas também estava em situação muito melhor das que já enfrentou ao longo dos anos. Se ele era o responsável por manter Effie em pleno equilíbrio, significa que não estava no estado deplorável como esteve na vez que Peeta o carregou.

— Nossa cabeça está rodando e estamos quase caindo. — Ele falou. — Sabe qual erro cometeríamos se tivéssemos, quem sabe, 22 anos? Nos beijaríamos.

— Como quase nos beijamos no show do Led Zeppelin? — Ela perguntou, tocando nessa parte da história pela primeira vez. Então ela também queria ter me beijado naquele dia.

O álcool não tira sua habilidade de entender e saber direitinho o que você está fazendo. Ele só anula os sentimentos de culpa, remorso e vergonha. Ou seja, mesmo embriagado, você só faz e fala o que sempre teve vontade de fazer, mas nunca o fez por medo ou insegurança. O álcool não reduz nossa consciência sobre os erros – reduz apenas quanto nós nos importamos em cometer esses erros*.

— Como quase nos beijamos no show do Led Zeppelin. — Haymitch confirmou.

Effie lembrou-se do dia em que disse a Cinna que não deixaria o amor atrapalhar, corromper ou a interromper outra vez. Haymitch lembrou-se de quando concluiu que olhar para a mãe de Peeta era como ouvir How Deep is Your Love do Bee Gees o tempo todo. A ursa maior de Effie continuava em sua clavícula, a mancha da Austrália e Nova Zelândia permanecia na mão direita de Haymitch, e seus pés pararam de se mover depois de alguns passos em silêncio.

Quando era mais novo, Haymitch aprendeu com Big Bill que nunca deveria beijar uma garota a força. Ele deveria pegar na sua mão e aproximar seu rosto ao dela, deixando 90% do caminho andado. Os outros 10% eram da garota.

Naquela noite, quando segurava na cintura de Effie, Haymitch deixou o velho truque de lado. Naquele momento, Haymitch e Effie finalmente aprenderam como era estar no mesmo nível. Nunca a mais ou a menos.

Eles se beijaram um acordo mútuo e silencioso, com uma vontade acumulada há 23 anos.

~

Com certeza não é a primeira vez; espero que não seja a última vez
     Quando todo o trabalho é feito, à luz de um sol poente;
     Vemos o que nos tornamos - dois dos sortudos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*Jeff Brigdes fez um cantor Country em decadência e alcoólatra no filme "Coração Louco" - Crazy Heart. Eu ainda não assisti, mas é a cara de Haymitch.

** Two of the Lucky Ones - uma das tantas músicas que cito, essa é trilha de Zumbilandia (com coff coff Woody Harrelson coff coffff) https://www.letras.mus.br/the-droge-summers-blend/1718574/traducao.html
Essa em especial me ajudou muito a escrever esse capítulo.

*** Roger Moore: Um ator britânico, charme dos anos 70-80, cujo papel mais conhecido é James Bond. Amy Winehouse cita ele na canção 'You Know I'm no Good, e foi por isso que o escolhi.

**** Estudo comprovado em que
o alcool te deixa mais sincero. Trecho tirado desta matéria. http://super.abril.com.br/blogs/cienciamaluca/alcool-realmente-deixa-voce-mais-sincero/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Evil Ways" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.