Evil Ways escrita por Moonlight


Capítulo 28
Deixando a janela um pouco aberta




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— Ah meu deus, olhe só pra você! — Cinna pegou delicadamente na mão esquerda da moça, fazendo-a dar um giro completo naquele vestido de seda verde. — Eu não acredito que você caiu na de Finnick Odair! — Annie Cresta riu com a cara ofendida de Finnick, enquanto Cinna não fazia questão nenhuma de desmentir nada. Logo depois, brincou: — Perdão Finnick.

Eu que não acredito que Finnick Odair caiu na minha. — Ela piscou para Cinna. — Eu sou uma megera, ele nem me conhece ainda.

Você é do tipo que pega a senha das redes sociais? Contrata detetive pra perseguir? — Cinna sussurrou com a moça, como se Peeta Mellark, Effie Trinket e Finnick Odair não estivessem na mesma circulo social, em pé ao lado de ambos.

— Pior. — Ela arregalou os olhos, demorando a segredar. — Eu pego o telefone dele. — Annie piscou para Finnick e sorriu, de uma maneira que só ele pode entender. Incrível. Há quanto tempo ele estava encantado com Annie Cresta? Há quanto tempo estavam juntos? Um mês? Finnick poderia se casar com ela ali mesmo, com aquele vestido verde, em plena formatura de Peeta.

Olha só para ela! Era somente o que Finnick pensava, enquanto a segurava pelas laterais do rosto e lhe beijava.

E essa frase era exatamente a mesma coisa que Effie em relação à Peeta naquela noite. “Olha só para você!”. Seu orgulho para com o filho crescia pelos poros de sua pele e flutuavam em seus cabelos loiros e cuidadosamente soltos num penteado de estrela. Seus lábios puxavam a si mesmo para os cantos, formando sorrisos involuntários, os mesmos que a acompanhou pelos primeiros anos de Peeta quando tudo o que ele fazia quebrava a rotina. Effie se pegava admirando carinhosamente o filho quando este ainda ria das gracinhas de Cinna com Finnick e sua nova namorada.

— Own, brincadeiras a parte, nós adoramos você, Annie. — Cinna falou. — Esperamos muito que você seja a destinada a ter paciência com Finnick Odair.

— Sério Cinna, o que foi que eu te fiz? — Finnick perguntou, forçando uma cara indignada.

— Você nasceu hétero. — Ele falou. — E 20 anos depois de mim.

— Oh Cinna, meu coração sempre será seu. Meus lábios são de Annie, mas meu coração sempre será seu. — Finnick brincou. Ao conhecer Peeta, Finnick ganhara junto no pacote o estilista da mãe do melhor amigo. Peeta lhe dizia que ele era a única referencia masculina por perto, e embora gay, isso não o fazia menos homem. Finnick aprendeu a admirar ambos por isso.

Enquanto Cinna e Finnick trocavam caricias e tapas – com direito as melhores frases de impacto que Annie Cresta dava – Effie e Peeta conversavam em particular, mesmo estando a um metro de distância de toda a cena.

— Então... Annie Cresta, certo? — Effie olhava para a moça, que dava as gargalhadas mais agradáveis do mundo enquanto via seu namorado ser o mais bem humorado dos meninos-homem. — Como eles se conheceram?

— Finnick foi me visitar no Libertas e a encontrou lá. Ela é uma paciente, com uma história muito delicada. Frequentava a clinica diariamente, embora recentemente suas visitas tenham sido menos frequentes.

Bem, desde as coisas deram certo para Annie e Finnick,Annie passou a ver cada vez menos a fachada do Libertas. As horas que costumava dedicar as consultas eram quase permanentemente trocadas por passeios agradáveis com Finnick. Seu coração estava bom, e sua cabeça também, e embora o ato ainda lhe deixe um pouco insegura, estar com Finnick e permitir amá-lo era o melhor tratamento.

— Das vezes que a vejo, Annie anda com esse ar leve e brilho no olhar. Finnick também. — Peeta segredou. — Ele ainda é aquele moleque engraçado que me diz absurdos, mas ao se tratar de seu futuro e dela, Finnick se torna mais Finnick. Mais bondoso. Ele tá com o mesmo brilho no olhar que Annie tem, e não só na presença dela, mas em todo lugar, até pra jogar videogame. — Peeta sorriu, prestes a saborear a próxima frase que diria. — Igual você e o Plutarch.

— Vira essa boca pra lá, Peeta! — Effie resmungou verdadeiramente irritada.

Na terça feira, dia da reunião mensal, Plutarch aparecera na empresa. Effie tinha dispensado sua secretária grávida Octavia, e sua mais nova queridinha Johanna Mason também havia deixado o local de trabalho. Effie estava sozinha em sua sala quando ele entrou, declarando sinceras palavras de amor e demonstrando toda sua idolatria em relação a ela. Depois disso, a beijou como se não houvesse amanhã.

Foi aí que Effie enlouqueceu.

Ela deu um grito de independência e praticamente cuspiu a letra de I Want to Break Free do Queen na cara de Plutarch.

Eu quero ser livre das suas mentiras, você é tão autossuficiente, eu não preciso de você!

Não era de seu feitio ser enrolada ou iludida, e lá estava Plutarch outra vez, com seus fios loiros misturados com os brancos, seus olhos verdes claros desafiadores, seus quilinhos a mais que ainda o deixavam charmoso e seu sorriso que não poderia ser descrito de qualquer outra forma que não fosse molha calcinhas. Effie amava Plutarch, amou mesmo, desde o dia um, mas seu ódio por ele foi tomando espaço em cada vez que ele dava uma de Plutarch Heavensbee e simplesmente agia como se outras pessoas não fossem afetadas por suas decisões egoístas.

De certa forma, Effie estava destinada a Haymitch, cujo ódio se formou desde o dia um – aquele maldito jantar dois dias antes de ser beijada por Plutarch, concluindo assim a pior semana dos últimos tempos. Effie odiava Haymitch, odiava mesmo, desde o dia um, mas seu amor por ele foi tomando espaço em cada vez que ele dava uma de Haymitch Abernathy e, embora detestável e alcoolizado em alguma parte do tempo, acertava em pontos cruciais e se tornava cada vez mais doce e adorável e aos olhos de Effie – e porque não admitir, ele estava mesmo se esforçando por ela.

Effie achou que seria difícil para ela quebrar a barreira de nojo que criou com Haymitch naquela única noite, mas o cara só precisou de um almoço para consertar as coisas. Haymitch era astuto, tinha um grande poder de persuasão e, mesmo que não soubesse, ele era boa pinta.

— O encanto se quebrou? — Peeta perguntou sobre Plutarch.

— Eu o odeio. — Ela afirmou, ainda irritada. — Espero não encontrá-lo até a próxima encarnação. — Assim como Peeta, Effie abusou do sorrisinho e da sensação de veneno escorrer por sua boca. Tal qual seu filho, que puxou essa característica dela mesmo, Effie umedeceu os lábios com a língua antes de proferir. — Falando em ódio, encarnação etc, seu pai te disse se ele vem?

Peeta desfez seu sorrisinho ao ver o dela. Odiava esses jogos.

— Sim, ele vem. — Peeta afirmou, sem interesse em continuar o assunto.

— E a Furacão de Nebraska? — Furacão de Nebraska foi a única forma da qual Peeta se referiu a Katniss com sua mãe. Ultimamente não a tratava como tal furacão – em vista que Katniss acalmara suas palavras e dava sorrisos condescendentes de vez em quando – mas ele simplesmente reparou que não havia atualizado seu estado de flertes com a Everdeen.

— Ela vem também. Junto com a Johanna Mason.

— Johanna Mason? — Os claros olhos de Effie se arregalaram. “É Katniss! Katniss Everdeen é o nome dela.” Johanna disse, naquela reunião há quase duas semanas. Inicialmente o nome não lhe parecia familiar, e agora Effie se sentia mais do que tola por ter deixado o nome da paquera do seu filho passar assim. Katniss Everdeen. Johanna Mason. — Oh Peeta, eu conheço ela!

— Claro que sim, ela trabalha pra você. — Peeta falou, sem muita importância, mesmo lembrando-se da reação engraçada e assustadora de Johanna ao encontrá-lo no elevador.

— Peeta, você ao menos reparou que você nunca mencionou Johanna Mason pra mim? — Effie perguntou. — Você falou da briga, da Katniss, do seu pai. Nunca dela.

— Sério? — Ele perguntou, fazendo uma careta. — Uau! Johanna tem razão: O mundo é mesmo uma bolinha de gude.

Às vezes da vontade de quebrar a bolinha, jogar no fundo do poço ou enfiar no nariz melequento de uma criança melequenta.” Pensou Peeta. Realmente, Johanna Mason era imprevisível.

***

— Argh Haymitch, eu queria enfiar uma bolinha de gude no seu nariz. — grunhiu Johanna. — Queria ter o prazer de cortar todos os dedos da sua mão. Se você tivesse um quintal, eu colocaria fogo nele!

Johanna estava procurando alguma forma de colocar seu corpo magro naquele vestido tubo preto enquanto encaixava os saltos vermelhos nos pés. A porta de ambos os apartamentos estava escancarada e Haymitch circulava dentre eles, gritando ordens para que Katniss e Johanna se apressassem. "Mais 5 minutos, ou eu deixo vocês aqui!" Ele gesticulava em meio a stress. Katniss usava um vestido vermelho que tinha uma aparência de chamas nas bordas. Ele estava tão descontente quanto Johanna, se não mais frustrada.

Haymitch a fez desistir do processo, meio a suas desculpas esfarrapadas, e não teve nem a capacidade de falar com Peeta, como era o prometido. Embora nenhumas de suas adoráveis docinhos tenham reparado, Haymitch também estava frustrado. As meninas deveriam estar prontas, o táxi deveria estar parado na porta do prédio há 5 minutos e Peeta deveria saber a verdade, aquela altura.

— Ainda não acredito que disse a ele que iríamos à formatura dele. — Katniss resmungou, passando ao lado de Haymitch para sair do banheiro e ir para seu quarto, onde Johanna ainda gritava ofensas para Haymitch, para o vestido e para o destino.

— Pois é, eu também não acredito que disse isso. — Haymitch revidou, num tom ofensivo e irônico. — Mas eu disse. Não está sendo fácil pra Johanna, que vai ser obrigada a encontrar Effie Trinket fora do trabalho. Não vai ser fácil pra Effie, que me odeia. Não vai ser fácil pra mim, que sei que Snow estará me observando naquele momento. E provavelmente, não será nada fácil pra Peeta lidar com tudo isso, mas pelo menos ele terá você lá, se você der mole. Não vai ser fácil pra ninguém, mas quem de nós vai ser o primeiro a parar de resmungar e aceitar que tá sendo terrível uns pros outros?

Katniss engoliu sua língua em silêncio.

— Peeta vai gostar de me ter lá? — Ela perguntou, na defensiva.

— Essa foi a única parte da história que você escutou, docinho? — Haymitch riu malicioso.

Johanna abandonou seu quarto jogando restos de um vestido preto rasgado no sofá, usando um vestido marrom liso que ia até seus pés. Os sapatos eram verdes, assim como seus brincos, um colar e a maquiagem que destacava os olhos da mesma cor – e se havia algo que Johanna gostava era de moda, mesmo que de uma maneira diferente do resto das garotas. Afinal, ela tinha um moletom laranja fluorescente, se lembram? – Ela saiu do quarto com os braços abertos num gesto “que tal?”, um sorriso vitorioso na cara e um brilho perigoso nos olhos.

— Você está linda. — Haymitch elogiou rendido.

— Uma árvore muito bonita, Johanna Mason. — Katniss concluiu, dando um sorrisinho.

— Ah é? E você, Garota em Chamas, já está pronta? Não com essa cara nem com esse cabelo! Vem cá. — Johanna a puxou pelo braço em direção ao quarto.

— Vocês têm cinco minutos! — Haymitch gritou.

As garotas levaram 35 minutos para ficarem prontas. O que fez Peeta pensar que eles haviam desistido e Effie quase dar um suspiro de felicidade quando o trio, nada discreto, atravessou a porta do salão e andaram em direção ao circulo social que estava ali, ainda zombando de Finnick. Johanna Mason, sexy feito uma deusa. Haymitch Abernathy, com seus cabelos loiros indo em direção ao queixo, um rockstar preso num terno, pronto para ter seu nome no Rock n Roll Hall of Fame. E Katniss Everdeen: A Garotas em Chamas.

Peeta soube, bem ali, que mais do que a cor tempestade das Iris dos olhos de Katniss, sua maneira de dirigir-lhe o tal olhar poderia ser sua salvação ou sua ruína.

— Perdoe o atraso Peeta, Johanna não é das mais rápidas ao se arrumar. — Haymitch soltou logo após abraçar o filho. Logo após Haymitch deu um leve, educado e constrangedor aperto de mãos e um “boa noite” para Effie Trinket, que fez um esforço descomunal para receber. Finnick foi o próximo, que correu para os braços do pai do amigo, provocando risadas para acabar com o clima pesado entre os progenitores de Peeta.

— Eu sou muito pontual nos meus compromissos, Haymitch. — Johanna retribuiu simpática e bem humorada o comentário anterior do velho, mesmo que por dentro gritasse de raiva por ter sido usada de desculpa. Ela deu uma piscadela para Effie, e foi cumprimentá-la próximo a Annie e Cinna. — Culpem a Katniss. Se não fosse por mim, ainda seria uma moça do interior.

— Vocês são tão adoráveis... — Disse Katniss, se referindo a Haymitch e Johanna. Peeta riu, de verdade, principalmente pelo tempo de convívio com os três, e Finnick também achou o cansaço de Katniss com os amigos algo engraçado. — Eu poderia dizer que foi o táxi, mas realmente me atrasei. Perdoe-me Peeta.

— Já está perdoada. — Ele respondeu, cumprimentando-a logo em seguida. — Bem, acho que é o momento de apresentações aqui. — Peeta prosseguiu. — Mãe, aparentemente você já conhece Haymitch e Johanna. Essa aqui é a corajosa mulher que se põe dentre eles, Katniss Everdeen.

Katniss esticou timidamente sua mão até Effie Trinket, sua quase futura chefa, quando sentiu um solavanco puxar seu braço e, quando notou, já tinha os de Effie Trinket ao redor de si.

Peeta assistiu a cena um pouco perplexo, e logo depois constrangido com o olhar que todos – menos Annie Cresta, que não estava alheia à situação ‘primeiro abraço das futuras sogra-nora’ – lhe davam.

— Ok, bem... Esse é Cinna Kani, melhor amigo de minha mãe e melhor estilista desse país. — Peeta o apresentou para o trio que acabava de chegar à festa. — E vocês lembram-se da Annie, certo?

A noite do qual eles deveria se lembrar de Annie Cresta foi uma noite difícil. Peeta havia revelado a verdade chocante para Haymitch, e Johanna e Katniss se viram abandonadas numa noite onde um plano brilhante fora traçado: O processo.

Que Haymitch havia cancelado.

Mas a mente maliciosa de Johanna e a atenção máxima de Katniss não deixaram escapar os detalhes principais da moça, nem naquele momento nem mesmo na noite do aniversário: Ruiva, linda, e simpática. Haymitch, que já ouvira Finnick falar muito de Annie, a reconheceu desde que pôs o olho nela pela segunda vez. Bom saber que estavam juntos.

— Todos apresentados, ótimo. Se não nos conhecemos agora, iremos memorizar os nomes um do outro na mesa maravilhosa que Peeta nos reservou. — Disse Cinna, empurrando Effie para seu lado.

A mesa do Buffet de formatura de Peeta era redonda, feita de mármore, embora os panos brancos, dourados e tom de vinho estivessem o cobrindo. Tinham talheres de prata, copos com delicados lencinhos dentro, taças e guardanapos. Johanna guardou para si a vontade de tomar a taça na mão e fazer brincadeiras com seu desejo impulsivo a álcool ou caçoar dos diversos porres de Haymitch na frente das pessoas – algo comum entre eles. Às vezes, até Haymitch ria das piadas dela – mas Effie Trinket, sua chefa, estava ali, e ela teria que ser comportada. Mesmo que Effie tenha feito a piada do desejo de álcool minutos depois, mais elegante e discretamente.

— Não podemos conversar com essas coisas vazias. — Effie sorria, segurando uma das taças nas mãos. Todos deram risinhos condescendentes, até mesmo Haymitch deu um rápido e guardou para si e, quando Effie mostrava seus lindos dentes brancos, ela levantava a taça para Katniss Everdeen.

Do outro lado da mesa, Katniss Everdeen lhe dirigiu um sorriso de lábios grudados, e depois fingiu que os cumprimentos de Effie simplesmente não eram para ela. Poderiam ser para Peeta, que estada do seu lado direito conversando com Haymitch, que ocupava a cadeira do outro lado do rapaz loiro, seguida de Johanna e então Effie. Ou para o homem ao seu lado, Cinna, se estava correta. Ao lado dele, Finnick Odair ainda fazia piadinhas, mas simplesmente perdeu a vontade de interagir tanto com o grupo quando sua linda namorada, Annie Cresta, resolvia falar. Era adorável para ele somente a observar, e Katniss também gostaria de conhecer a moça, que parecia muito gentil aos olhos dela.

— Então, Katniss. — Effie começou. — Johanna me contou que você é advogada.

Claro. Johanna havia dito na última reunião mensal da empresa da Trinket que Katniss era advogada perfeita para a confiança de Effie, que provavelmente planejava um golpe de estado na própria companhia.

— Sim, eu trabalho atualmente no escritório Raphen&Eriksen. — Katniss respondeu, um tanto acanhada.

— E você quer continuar trabalhando lá? — Effie perguntou, colocando sua máscara de empresária. Palavras no imperativo, olhos desafiadores, tom desafiador.

— Effiezinha, pelo amor de deus, não é hora para isso. — Cinna barrou-a, sorrindo. Effie demorou a tirar os olhos da Everdeen, porque naquele momento a garota muito lhe interessava. Não só por negócios, mas... Não podia evitar pensar que talvez, ela poderia ser o membro de sua família a herdar sua empresa. Peeta não poderia escolher melhor.

— Isso, Cinna tem razão. — Peeta falou, concordando. Ele estava um pouco fora do assunto, já que olhava Katniss falar com devoção. — Você Annie, trabalha com o que?

— Ah, eu trabalho como professora de crianças de 2 à 4 anos numa creche no centro. — Annie respondeu, sem muita empolgação.

Ela estava com toda sua atenção voltada para Finnick, que lhe sussurrava informações para que ela ficasse a par de toda a curiosa situação que Peeta, Effie, Katniss e Haymitch se encontravam. Annie passou a entender os olhares e as palavras cuidadosamente planejadas de Effie sobre Katniss, e o porquê seu médico Dr. Mellark parecia tão incomodado. Tal qual Finnick e Cinna, Annie também passou a achar engraçado, porque para ela tudo aquilo não era nada realmente difícil de resolver. Annie deu um gole em sua água com gás e passou a ser uma expectadora tão maliciosa quanto Johanna.

— Awn, isso é tão maravilhoso! — Effie falou, encantada. — É definitivamente a melhor idade.

O brilho nos olhos de Effie foram quase totalmente apagados quando sua futura nora se pronunciou, dizendo:

— Ah, como você tem coragem. — Katniss cuspiu. — Eu tenho uma irmã mais nova, e fui babá por um tempo. Desde então tenho trauma com bebês. Nunca terei filhos.

— Sério? Sempre quis ter um só. E tenho Peeta. — Effie sorriu para o filho. — Eu não acho que eu conseguiria enxergar minha vida sem meu filho.

— Johanna vive dizendo isso. — Katniss sorriu, olhando para a amiga. O que lhe parecia estranho, saber que a mais doce das mulheres como Johanna tinha um espírito materno tão grande e Katniss, que daria tudo por sua irmã mais nova, não quisesse ter bebê algum. — Ela vai ter uns 3, com toda certeza. — Continuou, em relação a Johanna.

— Não, eu decidi que vou ter cinco. — Johanna interrompeu, tomando um pequeno gole da taça de espumante cheia a sua frente. — Vou espalhar retrato de todos eles. E todos serão lindos, e as pessoas falarão como meus genes são ótimos.

— Não posso imaginar você e sua simpatia sendo rodeada por cinco crianças. — Haymitch brincou, sorrindo para Johanna. Ele estava tendo seu tempo de ouro: A felicidade em sentir orgulho de Peeta era só o começo. Haymitch também tinha o prazer de ver a relação de seu filho e sua afilhada desenrolar mais um passo, enquanto seu amigo Finnick e a doce Annie Cresta esbanjavam uma sintonia de mil anos. Haymitch também tinha sede em deixar Johanna sem graça na frente de sua própria chefa – não queria fazê-la perder o emprego ou coisa assim, só queria algo para se divertir. Além do mais, a chefa é a mulher que o odeia, então pensou que talvez fosse divertido vê-la acumular mais sentimentos por ele.

Pena que não era os que ele queria, obviamente.

— Eu tenho um lado de mim que é extremamente simpático, Haymitch! — Johanna gritou com um sorriso de escárnio enquanto fingia-se ofendida. — Você só não sabe por que eu tenho motivos para ser simpática com crianças, e não com você.

Pouco a pouco, as pessoas na mesa emitiram uma risada. Haymitch foi o primeiro, seguido de Katniss, que conhecia esses velhos diálogos em provocações de Haymitch e Johanna. Finnick foi o próximo, que achava Johanna hilária desde o primeiro momento que ouviu falar dela – a vizinha não prostituta. Annie acompanhou-o, e dirigiu um olhar de aprovação a Johanna, que aceitou de bom grado. Effie e Cinna estouraram juntos, logo em seguida, e Effie teve um gosto a mais por saber que Johanna colocara Haymitch em seu lugar. Peeta foi o último, mas emitiu a mais deliciosa das gargalhadas, que fez Katniss olhar para o ele com olhos cheios de brilho.

— Estão ouvindo essa música? — Johanna cortou os risos, fazendo todos prestarem atenção em “Don’t Stop Till Get Enough”, do Michael Jackson. — Essa é minha deixa. Preciso ir dançar!

— Eu te acompanho linda! — Cinna levantou-se, pegando na mão de Johanna e levando-a até a enorme pista de dança que ficava a metros a esquerda da mesa da turma. Finnick e Annie e timidamente Katniss e Peeta se levantaram para acompanhar os outros. Então, Effie odiou todos os seus amigos, especialmente Cinna, a se ver ainda sentada na mesa com uma única companhia: Haymitch Imbecil Abernathy.

— Você pode ir dançar, se quiser. — Effie ouviu uma voz vinda do outro lado da mesa. — Eu não vou te julgar.

Haymitch Abernathy mantinha um sorriso que Effie não sabia do que era. De todos os motivos imagináveis, ela jamais iria descobrir que Haymitch ria da cara vermelha de ódio e desconforto que Effie não conseguia esconder. Ele achava não só engraçado, mas um pouco bonito também. Droga. Era o segundo pensamento legal que ele tinha sobre aquela mulher na mesma noite. Deus coloque juízo na sua cabeça.

— Eu não danço. — Effie respondeu desinteressada, olhando para seu celular. — Não com esses sapatos. — Ela sussurrou para si, fazendo Haymitch ouvir acidentalmente.

— Então os tire. — Haymitch sugeriu.

— Eu não quero dançar. — Effie tirou os olhos do Candy Crush e os direcionou, terrivelmente mal humorada, para Haymitch. — Vá em frente você. Pegue um copo de qualquer coisa e se joga.

— Infelizmente, eu não posso. — Ele retrucou. — Machuquei meu tornozelo.

— É, Peeta me disse.

Na tarde que Haymitch torceu o tornozelo, ele estava prestes a sentir dores piores. Aconteceu numa sexta-feira, três dias depois da adorável visita de Snow. Ele havia ligado para Peeta, certo em sua cabeça que iria convidá-lo para almoçar e então contaria toda a verdade sobre como ele era um irresponsável que estava prestes a processá-lo pelas costas e que, ainda sim, precisava do dinheiro dele. Entretanto Peeta também parecia nervoso na ligação, e driblando totalmente as intenções de almoço, convidou o pai para uma partida de basquete no mesmo ginásio que sempre frequentavam. Haymitch, por sua vez, não achou de todo ruim: Era realmente legal vestir seu velho uniforme gastado, comprar um engradado de Gatorade e treinar cestas livres enquanto conversava qualquer coisa com Peeta. O que daria errado nisso?

Naquela tarde, Haymitch saiu de seu horário de almoço da escola e seguiu em uma caminhada até o ginásio. Encontrou Peeta errando três lances seguidos, e fez alguma piada que o filho não fez questão de rir, distraído demais com qualquer outra coisa em sua cabeça. Haymitch o cumprimentou com um abraço, se posicionou ao seu lado e preparava em sua mente como começar tal assunto. E quando achou, quando estava prestes a soltar a primeira palavra, Peeta adiantou-se primeiro.

— Eu quero muito que você vá a minha formatura. — Haymitch lançou a bola logo após a frase e acertou a cesta. Mas ele não viu o lance: Ele viu Peeta, e consequentemente, viu a si mesmo.

Johanna e Katniss comentaram uma vez o quanto odiava o fato de Haymitch guardar um segredo consigo. Ele não se concentrava em mais nada, não falava com ninguém e, quando falava, soltava tudo como um furacão. Ele sempre tremia, sempre ignorava o que quer que as pessoas ao redor fizessem. Por isso que Haymitch não notou o quão tenso Peeta estava, nem ao menos Peeta notou o quão tenso Haymitch estava: Porque essa era provavelmente uma das primeiras características psicológicas que Peeta herdara do pai.

— Eu sei que não esteve presente. Sei que é um pouco hipócrita te convidar, e agradecer o meu pai no discurso de formando. Mas é importante para mim. — Haymitch era tão detestável assim quando estava em guerra com sua cabeça? Deus, como Johanna e Katniss suportaram isso?

— É claro, garoto. Estarei lá. — Haymitch sorriu ao ver o sorriso sincero de seu filho. Ele era um homem bem formado, e Haymitch teve duvidas de que, caso ele tivesse criado Peeta, se ele seria o mesmo homem que estava ali na sua frente.

Peeta lhe abraçou. Haymitch soltou uma nova piadinha e um desafio em relação às cestas de basquete. Pegou uma das bolas laranja e fez gracinhas, dando voltas em si mesmo, driblando adversários invisíveis e passando a bola por entre suas pernas até dar um pequeno pulo necessário para ter impulso e acertar uma cesta de três pontos.

Bem, ele acertou a cesta. Mas pousou o pé esquerdo de mau jeito no chão, causando uma pequena lesão e o uso de bengala por uma semana.

— Peeta é superprotetor. — Haymitch falou. — principalmente de uns tempos pra cá. Depois dessa coisa do basquete, nós jogamos uma ou duas partidas nessa semana. E ele me olha preocupado cada vez que corro ou pulo. Me deixa ganhar em cada lance e cada roubada de bola. Às vezes, até erra as cestas de propósito.

Effie tirou os olhos perigosos de Haymitch e substituiu por um olhar surpreso.

— Ah sim, esse é Peeta. — Effie concordou, tentando conter um sorrisinho. O fato é que ouvir outra pessoa falar do seu filho de uma maneira tão devota é tão satisfatório quanto você apurar essas coisas sobre ele por si mesma. — Ele é assim desde sempre.

O silêncio permaneceu na mesa. Effie olhava para Haymitch avaliando-o, e ele apenas queria que ela continuasse a falar, porque ouvir sua voz orgulhosa era algo com que se deliciar. Effie continuou.

— Uma vez ele estava balançando alto demais no balanço, e eu preocupada sai correndo para que ele parasse quando eu mesma caí e ralei o joelho. Peeta desceu correndo e chorando, ficou do meu lado, limpando meu joelho com sua blusa, dizendo que ia ficar tudo bem. Ele achou que eu ia morrer ou coisa assim. Ele tinha seis anos! — Effie permitiu-se gargalhar com vontade, lembrando-se da história que costumava contar em suas palestras.

Haymitch gostava de ouvir histórias sobre Peeta, e agora que tinha acesso as histórias narradas por Effie, decidira que seria suas favoritas. Finnick já havia lhe contato coisas, mas nunca é o mesmo comparando a que uma mãe tem a dizer sobre o filho. Ela estava apresentando Peeta para Haymitch, pronto para integrá-lo nas novas histórias.

— Quando ele tinha dez, eu tive Pedra nos rins. — Ela continuou a tagarelar. — Oh, eu sofri por ele. Lógico, a pedra doía, mas Peeta não aguentava me ver assim. Aos 14, minha mãe teve que fazer uma cirurgia, e eu sei que ele não sofria só por ser próximo da avó. Peeta sabia que ela estava bem, mas eu morri de preocupação, e ele não aguentava me ver daquele jeito.

— Bom, ele não me disse nada, mas eu sei o nível de desapontado que ele ficou com a gente. — Haymitch falou. — Por isso eu quero pedir desculpas a você. Eu sei que é uma mulher fantástica, que deu a melhor educação para o meu... Nosso... Seu filho, e me deu a chance de conhecê-lo.

Effie reparou que seus instintos não estavam totalmente errados em abrir-se um pouco para Haymitch. Primeiro, ele tinha sido totalmente maduro até então, embora não pudesse lhe dar créditos especiais sobre isso, já que ele era um homem de 42 anos. Depois, Effie notou que tinha 44 e estava ignorando-o por Candy Crush. Ela já tinha superado todo esse lance de tenho-que-dividir-meu-filho-com-um-pai-que-não-pedi, mas relacionar-se com Haymitch seria algo totalmente diferente do que exigido a ela. Não abriria uma porta tão fácil assim para que ele entrasse em sua vida, mas deixou a janela um pouco aberta.

— Eu também peço desculpas por ter sido tão mal educada em te receber na minha casa e discutir assuntos que não convinham a aquele momento.

Haymitch e Effie trocaram olhares que transmitiam a mesma resposta. E era isso. Paz era fácil.

— Você, é... Gostaria de almoçar comigo, algum dia? — Haymitch perguntou. — Eu acho que Peeta vai gostar de saber que nos resolvemos um pouco, certo? Também gostaria de conhecer a mulher que criou o meu filho tão bem.

Effie avaliou. Sua cabeça era uma gaiola de pensamentos livres, que voavam para todos os lados, mas os maiores sempre ocupavam mais espaço e chamavam mais atenção. Bom, ela estava ali mesmo conversando com ele. Porque não num almoço? Talvez, ela pudesse conhecer uma parte que a agradasse. Ou simplesmente o odiaria mais e cortaria contato novamente. De qualquer forma, esse almoço seria uma decisão final para ela.

— Tudo bem. — Ela se rendeu. — Eu também gostaria de saber quem é o pai que cativou Peeta em tão pouco tempo. — Ela sorriu.

— Nós falamos de Peeta como se ele estivesse morto! E ele só está bem ali. — Haymitch riu. Virou-se de costas para Effie com objetivo de apontar a pista de dança e mostrar-lhe Peeta, quando concluiu sua frase com um sorriso malicioso. — Ele está bem ali. Beijando Katniss.


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Notas finais do capítulo

Nossa, eu juro pra vocês que não tinha ideia que tinha 35 acompanhando. E dois comentários por capítulo. Bom saber.

Bem eu sumi porque estava presa com outra fanfic, e no meio do caminho acabei tendo ideia para três fanfics diferentes (duas das quais eu tive que baixar photoshop para treinar fazer capas e uma que já está sendo escrita! hihih)

Gente, tem uns diálogos Hayffie já escritos que olhãããn.....
Vem cá, eu estive aqui desde mockingjay part 2? Eu comentei algo sobre Hayffie?

(SPOILER DE MJAY PART 2)

E aquele beijo? GENTEEEEEEM

Falando em beijos, nunca terminei um capítulo com um diálogo. E eu amei o fim deste! O que acharam? Inclusive vocês que nunca me deram um 'oi'? Vamos lá!